¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, agosto 13, 2010
 
RECÓRTER CHUPIM RIDES AGAIN

Janer

Na edição atual da revista Piauí, número 47, tem uma matéria sobre a internet e as eleições. Chama-se "Pancadaria na rede", enfim, a matéria é sobre como os nossos ilustres candidatos estão usando a internet nas suas respectivas campanhas.

O que me chamou atenção é que na matéria, é citado o Reinaldo Azevedo como a pessoa que criou o termo "apedeuta" para se referir ao nosso presidente, o Lula. Mas, eu tenho visto no teu blog que vc ja usa o termo a um bom tempo. Veja ai, podem estar querendo dar a autoria para outra pessoa. Abraço,

Glaucius Djalma Pereira Junior


Grato, meu caro Glaucius. Mal falei do burro, logo apontou as orelhas. Piauí se engana. A associação de apedeuta a Lula é minha e data de 2002, muito antes de eu ter começado este blog. Em 2004, cunhei a expressão Supremo Apedeuta, por alusão a Supremo Magistrado. Criei-a para que fosse divulgada, e nisto fui bem sucedido. Mas não para que alguém dela se pretendesse autor. O recórter tucano papista além de assumi-la andou criando trocadilhos bobos, como Apedeutakov e Apedeutakoba (Koba era um dos codinomes do Stalin). Como se Lula um dia tivesse sido comunista ou stalinista. Em sua histeria em xingar o PT, o virtuose do cut & paste lhe atribui defeitos que em verdade não tem. Lula é simplesmente oportunista. Nossa sorte é que só foi eleito bem após a queda do Muro e desmoronamento da URSS. Fosse antes, certamente teria aderido à União Soviética. Há mais de quatro anos, em 17 de abril de 2006, escrevi:

O sumo analfabeto, com o apoio da Igreja Católica e da universidade, acabou sendo eleito. No ano mesmo de sua eleição, em crônica intitulada "Eu sou o que sou", publicada no Baguete Diário, jornal eletrônico de Porto Alegre (29/03/2002), pareceu-me oportuno qualificá-lo como apedeuta: "Até hoje as esquerdas são pródigas em contar piadas sobre a falta de cultura de Costa e Silva. Mas Costa e Silva fez Escola Militar, cujo acesso não é para qualquer apedeuta".

Em 19 de agosto do mesmo ano, no mesmo jornal, na crônica intitulada "O neoaparatchik", voltei ao tema: "Existe uma raça de apedeutas que se sentem muito eruditos quando usam proparoxítonas ou quadrissílabos. No debate organizado pela Folha de São Paulo, na segunda feira-passada, ele se superou. Lá pelas tantas, arrotou erudição: 'Entretanto, há coisas a serem feitas concomitantemente'. Embriagado pelo próprio verbo, feliz pelo heptassílabo, perguntou ao interlocutor: 'Gostou do concomitantemente?'"

Em 17 de março de 2003, no artigo "Armadilha para negros", publicado no MSM, escrevi: "O atual presidente da República está longe de ser o primeiro apedeuta a assumir o poder neste país. Câmara e Senado estão repletos de analfabetos jurídicos, que nada entendem da confecção de leis nem sabem sequer distinguir lei maior de lei menor". Na tradução do artigo para o inglês, publicada na revista Brazzil, de Los Angeles, o tradutor teve um feliz achado: First Ignoramus.

Em "Fala, ó metamorfose ambulante", publicado também no MSM, em 20 de setembro de 2004, lá está: "Durante solenidade em Brasília, o Supremo Apedeuta disse que 'o ser humano não tem que ter medo de ser uma eterna metamorfose ambulante', fazendo referência a um dos sublimes autores que embasam sua erudição". Na Brazzil, a expressão foi traduzida como Supreme Ignoramus. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar nos arquivos do MSM, verá que, de 2003 para cá, escrevi pelo menos 21 crônicas, onde uso as expressões apedeuta ou Supremo Apedeuta.

Em suma, para meu prazer, a expressão foi fazendo fortuna na mídia eletrônica. Tanto o Supremo Apedeuta como o Supreme Ignoramus. Nada lisonjeia tanto um jornalista como ver seus achados correndo mundo. Outro dia, lendo ao azar a revista Primeira Leitura, vi que um jornalista tucano chapa-branca a empregava várias vezes. Maravilha, pensei, minha trouvaille já é de conhecimento dos partidos de oposição. Ocorre que, conversando com outros jornalistas, fiquei sabendo que o autor do artigo está reivindicando a autoria da expressão.

Alto lá, senhor Reinaldo Azevedo. Supremo Apedeuta é cria minha, e isto qualquer pesquisa rápida no Google pode comprovar. Use e abuse da expressão, quantas vezes quiser, divulgue-a aos quatro ventos, isto só me faz feliz. Mas não pretenda tê-la criado. Isto é muito feio para um jornalista. Ou, para usarmos uma palavra da moda, é antiético. E não fica bem para o porta-voz de um partido que pretende dar um banho de ética no partido que se dizia dono da ética tomar atitudes assim antiéticas.

O Supremo Apedeuta é meu.