¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, outubro 22, 2010
 
AINDA CARMEN


A propósito da última crônica, Antônio Augusto Silveira Escobar me escreve:

Olá

Ernest Newman, em sua História das Grandes Óperas, contesta a tese de que Bizet teria morrido de desgosto após o fracasso da estréia de Carmen. "Se Carmen foi ou não um desastre, depende do significado que damos ao termo. Ela alcançou trinta e cinco representações durante os três meses da temporada de 1875; se depois disso teve pouca aceitação em Paris, tal fato pode ser atribuído a uma série de circunstâncias nada extraordinárias em teatros líricos com as suas mudanças de direção e sortes várias. A despeito das censuras que a obra recebeu por parte de alguns críticos, o público sempre se mostrou interessado por ela". O autor também alega que Bizet já era um homem doente na época e ele já obtivera "mais oportunidades que as proporcionadas pela sorte à maioria dos jovens compositores numa capital onde era feroz a competição."


Ok, Antônio Augusto. Pode ser que tenha me deixado enganar quanto ao morrer de desgosto. Mas Carmen, pelo jeito, não foi bem sucedida em sua estréia. Em Complet Stories of the Great Operas, de Milton Cross, mestre de cerimônias do Metropolitan Opera, lemos:

“Tem sido dito que sua apresentação foi um fracasso tão terrível que Bizet morreu pouco depois da estréia de desapontamento e humilhação. A história é diferente. É verdade que o compositor sucumbiu cerca de três meses após a estréia, mas sua morte foi atribuída a causas físicas agravadas por excesso de trabalho.

“Carmen foi, de fato, moderadamente bem recebida. Paris era, até certo ponto, fria por diversas razões. Não o era no idioma convencionasl operístico da época. O uso de Bizet de melodia continuamente fluente levou os críticos a acusá-lo de wagnerianismo, contra quem havia violento preconceito na Paris daquela época. A ópera também não tinha um final feliz. Além disso, as platéias parisienses disseram que ficaram chocadas com o caráter cigano da própria Carmen.

“Embora retirada do palco da Opéra-Comique, Carmen foi entusiasticamente aclamada em outras capitais européias muitos meses após sua primeira apresentação. Mais tarde, conquistou não apenas o favor de Paris, mas de todo o mundo operístico”.

Ou seja, Paris custou a render-se ao gênio de Bizet.