¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, outubro 28, 2010
 
MENSAGEM DO CARLOS


Não sou muito de me jogar confetes, mas um leitor, com quem tomei um vinho há algumas semanas, me envia mail que merece algumas reflexões:

A personalidade humana é composta de infinitas facetas. Muitas delas têm certa harmonia entre si, mas a maioria é independente. Um ateu, por exemplo, dificilmente vai ser supersticioso, porque as duas características são antagônicas.

Mas pode ser honesto ou malfeitor, porque uma coisa não tem nada com a outra, por mais que o Olavo diga o contrário. Os grupos sociais envolvem definições de características em graus mais ou menos abrangentes. Ás vezes a variável que os define é uma só, como o fato de ser gremista ou colorado.

Mas no campo da ideologia ou da religião, o número de variáveis que caracteriza os grupos sociais é maior. Algumas das características não são harmônicas de raiz, mas são agregadas no curso do tempo, a ponto de definir subgrupos homogêneos, que muitas vezes mantêm conflitos entre si por essas limitadas diferenças.

É o caso de grupos conservadores e liberais, por exemplo. Alguns desses grupos acabam definindo um nicho muito complexo de características, e tendem a repelir quem não as aceita todas, mesmo que tenha identidade com a maior parte. Sucede que, então, muitos dos que tem afinidade com esses grupos sacrificam suas singularidades no altar da unidade.

Mas cada homem é uma criatura única, porque somos compostos de um tal número de variáveis, que não somos dois no mundo, tal como acontece com nossos genes. Então, como conciliar a diversidade da pessoa humana com a justa e necessária convivência em grupos sociais?

Com democracia e tolerância, não há outra forma. Mas, por outro lado, exercitando, como faz o Janer, o direito de ser Janer, e não um liberal, ou um socialista , um ateu, um apreciador da cidade ou do campo.

O que diz o Janer é que ele é um pouco ou nada dessas e de muitas outras coisas, como um vinho composto de muitas cepas.Tem algo de Merlot, algo de Cabernet, um toque de Tannat, e não vê por que adaptar seu corte ao gosto de todos, bastando-lhe a obrigação de ser um bom e honesto vinho. Quem não gostar, que não o compre. Tem razão o Janer. Há um certo custo em não abrir mão de certas coisas. Mas é a única maneira de fazer bons vinhos com personalidade.

Os verdadeiros enólogos agradecemos por não ter um só pastiche no mundo para beber.

Salud, Janer!

Carlos