¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, janeiro 27, 2011
 
SOBRE MINHAS VIAGENS,
TEOLOGIA E O VIL METAL



Nunca fui imigrante, caro. Não invadi países pobres da Europa. Pelo contrário, sempre busquei os países ricos. Sem falar que não invadi país nenhum. Na Suécia, onde estudei língua sueca e cinema, entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente. Desta estada, resultou um livro sobre a Suécia – o primeiro a ser escrito por um jornalista brasileiro - e três traduções de autores suecos, inéditos no Brasil.

Na França, fui convidado pelo ministério da Cultura para fazer um doutorado na Université de la Sorbonne Nouvelle. Recebi uma generosa bolsa do governo francês, com duração de quatro anos, coisa que nunca me foi concedida em meu país. Mais ainda: metade de meu aluguel era pago pelo Estado, sem que sequer eu requeresse tal benefício. Era concedido a todo estrangeiro que tivesse família e estivesse em situação legal no país.

Não invadi a Espanha. Recebi bolsa do Instituto de Cooperación Iberoamericana (ICI), para estudar língua e literatura espanholas em Madri. Não invadi a Alemanha. Fui convidado pela Inter Nationes para duas viagens culturais pelo país e, pelo Senado de Berlim, para a cobertura da Berlinale. Não invadi a Tunísia. Fui convidado pela Mairie de Tunis para a cobertura do Festival de Cartago. Na antiga Iugoslávia, fui hóspede de uma adorável macedônia. Muito mais países visitei na Europa. Nunca os invadi. Sempre neles estive a convite ou com meu dinheiro.

Jamais fiz trabalho braçal na Europa. Durante os quatro anos que vivi em Paris, escrevi crônicas diárias para a Cia. Jornalística Caldas Júnior, de Porto Alegre, elaborei minha tese e traduzi quase toda a obra ficcional de Ernesto Sábato. “Limpei” muito prato, é verdade. Nos bons restaurantes de Paris, Berlim, Viena, Roma e Madri, Dubrovnik e Skopje.

O fato de Ratzinger ter manifestado suas condolências às vítimas de abusos sexuais não o exime da comprovada conivência com os crimes de pedofilia. Lula fazia o mesmo. Enquanto denunciava em público a corrupção, em privado afagava sua camarilha de corruptos. Nada de novo sob o sol, como diz o Koelet. Sim, o “famigerado Janer Cristaldo” chama Bento XVI e João Paulo II de defensores de pedófilos. Chama e comprova.

Sim, afirmei que o canibal Jeffrey Dahmer praticou um gesto que está nos fundamentos da cultura cristã. Mais ainda, é exercido diariamente em todos os países do Ocidente.

No Deuteronômio, um dos principais livros da Bíblia, a hipótese é aventada como ameaça: “Então, na angústia do assédio com que o teu inimigo te apertar, irás comer o fruto de teu ventre: a carne dos filhos e filhas que Javé teu Deus te houver dado”. Em Jeremias, enciumado com os cultos a Baal, Javé anuncia os dias em que o vale de Ben-Enom se chamará Vale da Matança: “Eu farei que eles devorem a carne de seus filhos e a carne de suas filhas: eles se devorarão mutuamente na angústia e na necessidade com que os oprimem seus inimigos e aqueles que atentam contra a sua vida”.

Nos cinco poemas das Lamentações, livro atribuído a Jeremias, cujo tema central é a destruição de Jerusalém, volta o tema recorrente: “As mãos de mulheres compassivas fazem cozer seus filhos; eles serviram-lhes de alimento na ruína da filha de meu povo”.

Em Ezequiel, contemporâneo mais jovem de Jeremias, que denuncia a perversidade de Jerusalém e proclama a iminência de seu assédio e destruição, Javé volta a lembrar: “Farei no meio de ti o que nunca fiz e como não tornarei a fazer, isto por causa de todas tuas abominações. Por esta razão os pais devorarão os filhos, no meio de ti, e os filhos devorarão os pais”.

De fato, o canibalismo só ocorre no Segundo Reis. A fome impera durante o cerco de Samaria, quando uma mulher diz à outra: “Entrega teu filho, para que o comamos hoje, que amanhã comeremos o meu”. A primeira mãe cozinha seu filho e o divide com a segunda e, no dia seguinte, lhe pede: “Entrega teu filho para o comermos”. Mas a outra foge ao trato e esconde o filho.

Maldição no Antigo Testamento, no Novo o canibalismo se torna virtude. Durante a Santa Ceia, Cristo oferece seu corpo e seu sangue para que os participantes entrem em contato com o sacrifício, comendo do sacrificado. É o que os católicos romanos chamam de transubstanciação. Todo católico, quando comunga, não está bebendo o vinho ou comendo o pão como símbolos do corpo de Cristo. Está, de fato, bebendo o sangue e comendo a carne do Cristo.

No sacramento do altar, depois da consagração, não há senão o corpo e o sangue de Cristo. A doutrina da igreja Católica é clara. Segundo Santo Ambrósio, “antes da benção há uma espécie que, depois da consagração, se transforma no corpo de Cristo”. Santo Hilário confirma: “sobre a verdade concernente ao corpo e sangue de Cristo, não há lugar para dúvidas. Pois, conforme a afirmação mesma do Senhor e nossa fé, a sua carne é verdadeiramente comida e o seu sangue verdadeiramente bebido. Assim como Cristo é verdadeiramente filho de Deus, assim a carne que recebemos é verdadeiramente carne de Cristo, e a bebida é verdadeiramente seu sangue”.

São Tomás, na Suma Teológica, encerra a discussão, com uma ressalva: “que o corpo e sangue de Cristo estão verdadeiramente no sacramento do altar, não podemos aprendê-lo nem pelos sentidos nem pelo intelecto; mas só pela fé, que se apoia na autoridade divina”.

O Doutor Angélico vê na eucaristia a suprema celebração da amizade: “E porque é próprio por excelência à amizade, conviver com os amigos, Cristo nos prometeu como prêmio sua presença corporal. Por isso ele próprio disse: O que come minha carne e bebe meu sangue, esse fica em mim e eu nele. Logo, este sacramento é o máximo sinal da caridade e o sublevamento de nossa esperança pela união tão familiar de Cristo conosco”. E quem achar que a Eucaristia é um símbolo do corpo e carne de Cristo é herege. Muita gente foi para a fogueira por pensar assim.

O caso de Davi e Jônatas pode admitir interpretações. Mas o rei foi claro: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; muito querido me eras! Maravilhoso me era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres”. E isso que Davi tinha não poucas mulheres. Em II Samuel - 5:13, lemos: “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera, de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas”.

Quando Davi deixa dez concubinas para guardarem sua casa, seu filho Absalão, para afrontar o pai, viola as dez concubinas perante os olhos de todo Israel. Nesta ambiência moral, ser homossexual é o de menos. Não vejo porque tanto escândalo da parte dos católicos quando se atribui ao sábio rei Davi esta atitude. Gesto bem mais imoral e condenável foi Davi ter mandado Urias para a morte. Ainda há quem pretenda defender Davi da inócua fama de ser homossexual, mas faz vistas grossas ao fato de ter mandado assassinar um de seus generais, para ficar com sua mulher, Betsabá.

Sim, saí do Mídia sem Máscara por ter sido censurado. Em função de um artigo sem maiores implicações religiosas, onde eu afirmava que Cristo havia nascido em Nazaré, não em Belém. O pretexto foi esse, mas ao que tudo indica o conflito surgiu de outra crônica, na qual eu discutia a opinião dos teólogos sobre a crucial questão do destino do prepúcio de Cristo, se havia ficado na terra ou subido aos céus. Hoje o MSM, para captar publicidade do Google, divulga sites que negam a divindade do Cristo.

Pecunia non olet. Dinheiro não tem cheiro. Se pagar bem, que mal tem?