¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, fevereiro 23, 2011
 
NOTÍCIAS DO MUNDO CIVILIZADO


Dos Estados Unidos, Ana me escreve:

Janer,

eu moro proximo a Seattle, a cidade mais bonita e uma das mais culturalmente ricas dos Estados Unidos. A cidade de 700 mil habitantes e' servida por uma das melhores companhias de Opera do pais, a Seattle Opera. Somente a titulo de curiosidade e comparacao, vou passar o link para voce ver o que ela oferece: http://www.seattleopera.org/tickets/2011-2012.aspx

Por exemplo, o ingresso mais caro para assistir a temporada de A Flauta Magica, que começa em maio, custa US$208, e agora em fevereiro so restam alguns poucos lugares disponiveis. A sua Carmen este ano sera' interpretada pela georgiana Anita Rachvelishvili. Gostas dela? :) Nunca a assisti, mas ja li coisas nao exatamente elogiosas sobre ela, por isso pergunto tua opiniao.

A producao de O Anel dos Nibelungos, que so sera' exibida em Agosto de 2013, ja foi anunciada e a venda dos ingressos comecara' agora em meados de 2011. A companhia foi inicialmente fundada para divulgar a obra de Richard Wagner, e so depois abriu para operas de outros compositores - dai o esmero com que eles preparam e exibem as obras wagnerianas.

De acordo com informacoes da propria companhia, eles operam com orcamento anual de US$30 milhoes, sem deficit algum nos ultimos 16 anos. Resumindo: Excelente organizacao e administracao, excelentes espetaculos, publico garantido e apaixonado, e retorno a altura do investimento. Acho que essa cadeia de coisas e' o que falta no Brasil.

Abracos pugetsoundicos! :)


Feliz de você, Ana, que vive perto da civilização. Não, não conheço a Rachvelishvili. Mas acabo de me munir, em Paris, de duas outras Carmens, uma encenada pelo Metropolitan Opera Orchestra e interpretada pela Elina Garanča. A outra, das Orchestra of the Royal Opera House, com a Anna Caterina Antonacci. Continuo ainda prestando meu culto à Julia Migenes.

De Levi Marcos Pereira, recebo:

Caro Janer,

Sobre óperas, impossível não mencionar o Metropolitan Opera House, em NY. Assisti recentemente a uma produção da Tosca, com uma americana - Sondra Radvanovsky - no papel título, um excelente Cavaradossi, Marcelo Álvarez, argentino e um genovês, Marco Armiliato, na regência, além de um Scarpia muito bom, Falk Struckmann.

Ingressos pela internet, o que inviabiliza a presença dos cambistas na calçada e a preços civilizados, espetáculo numa segunda-feira de inverno, sendo que durante a mesma semana dois outros títulos em cartaz se revezam com Tosca, Traviata entre elas. Organização impecável e os lugares marcados são obedecidos à risca. Como disse, comprei meus ingressos pela internet. Bastou-me chegar à bilheteria, mencionar meu nome, apresentar um documento que me identificasse e lá estam os cinco bilhetes, com o meu nome impresso. Igualzinho aqui.

Se a situação em São Paulo se apresenta como você diz no texto, nem queira saber como as coisas funcionam no Rio. Minha ex-mulher é soprano do coro do Teatro Municipal e não entrarei nos detalhes que ela me conta, mas é de estarrecer, o que fazem com a cultura neste Pindorama.

De fato, as referências culturais brasileiras são Xuxa, Big Brother e por aí vai.
Abraços de um leitor assíduo.

Levi - Petrópolis – RJ


Pois, meu caro Levi, uma das coisas que adorei no Metropolitan, foi poder comprar ingressos no dia. Ainda não vivíamos os tempos internéticos. E outra foi poder entrar de tênis e jeans, sem sentir-me constrangido. Foi um dos bons momentos de Nova York. Aqui, para assistir um bom espetáculo - quando ocorre - é preciso pistolão.

Do Rodrigo Figueiredo, recebo:

Caro Janer,

já que você voltou ao tema, talvez queira comentar com seus leitores sobre o ciclo de projeções ao vivo em alta definição da Metropolitan Opera de Nova York. Creio que há salas de cinema em São Paulo participando das exibições e, quanto mais público houver, mais provavelmente os cinemas se interessarão em continuar transmitindo. Não sei se passa ao vivo no Brasil, isto é, na data em que está sendo transmitido, normalmente sábado à tarde, ou com retardo de uma semana. A se verificar. No website do MET tem a descrição completa: http://www.metoperafamily.org/metopera/broadcast/hd_events_next.aspx . As projeções têm legendas, não sei se em português.

De modo geral, têm sido boas produções. Observe-se em particular que o MET está produzindo um novo Anel dos Nibelungos de Wagner nesta e na próxima temporada, com ciclos completos das quatro óperas na primavera (do hemisfério norte) de 2013 provavelmente, ano comemorativo dos 200 anos do nascimento do compositor.

Nesta temporada foi apresentado O Ouro do Reno e ainda agora na primavera farão A Valquíria. Elencos, para o padrão que se espera do MET, deixam um pouco a desejar, mas, quem não tem cão... Não vivem mais Kirsten Flagstad, Birgit Nillson, Hans Hotter ou Lauritz Melchior que fizeram as glórias da casa no passado, mas James Levine, apesar dos males que o afligem, continua brilhando com a orquestra impecável.

No que vem pela frente, na próxima semana Susan Graham canta com Placido Domingo em Iphigenie en Tauride, de Gluck. Promete ser bom. O Conde Ory, uma comédia de Rossini, terá Juan Diego Florez no papel principal e Diana Damrau, uma das mais expressivas coloraturas dos nossos dias, em produção nova. O elenco de Il Trovatore é bem atrativo com Marcelo Alvarez fazendo Manrico e Sondra Radvanovsky, uma soprano verdiana em ascensão no momento, fazendo Leonora. Dolora Zajick como Azucena e Dmitri Hvorostovsky como Conde di Luna dispensam comentários.

Para quem nunca escutou uma Lucia di Lammemoor de Donizetti, talvez valha a pena ir escutar Natalie Dessay fazer o papel, desde que não se espere algo similar ao que Joan Sutherland fazia, mas ainda assim bastante bom. Por fim René Fleming fazendo a Condessa em Capriccio, de Richard Strauss, sua última ópera, é a cereja do bolo. René não tem mais o frescor dos anos iniciais, mas, talvez compense em expressividade com o passar dos anos. Para mim que sou aficionado pelas óperas de Strauss e Wagner, a cena final, quando a Condessa medita sozinha sobre a impossibilidade de separar as palavras da música, que é essencialmente o tema da ópera, é uma das passagens mais exuberantes e refinadas do repertório.

Na próxima temporada haverá um Don Giovanni (outubro desse ano). Aparentemente Gerald Finley faz o papel principal.

[]s


Grato pelas dicas, Rodrigo. As repasso aos amantes do bel canto. Wagner - que a bem da verdade pouco conheço - não está entre meus diletos. Muito pesado. Mas gosto não se discute. Profitez-en!