¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, abril 24, 2011
 
MOVIMENTO CARIOCA DEFENDE
A LEGALIZAÇÃO DO AMANHECER



Leio que quatro integrantes do movimento Marcha da Maconha foram detidos na madrugada deste sábado por policiais militares do Batalhão de Choque, na esquina das avenidas Mem de Sá e Gomes Freire, na Lapa, no Rio. Os PMs apreenderam 1.200 panfletos, 13 camisas, que eram vendidas pelos jovens, e um banner com o logotipo do evento. Foram autuados por apologia ao uso de drogas.

Como se droga precisasse de apologia no Brasil. O que é bom nunca precisou de apologia. Não se espante o leitor quando afirmo que droga é bom. Claro que é bom. Quando alguém se dispõe a arriscar a própria vida para consumir algo, é claro que esse algo algum prazer há de dar. Não é o caso da maconha, o tabagismo mata muito mais. Aliás, nunca vi alguém morrer por usar maconha.

O problema é o preço que se paga por tais prazeres. O crack está matando com gosto e seu consumo só se expande no país. Surgiu agora algo novo, o tal de oxi, que deriva de oxidado. É uma mistura de cocaína e combustível como querosene ou gasolina e se assemelha ao crack por ser uma pedra branca fumada em cachimbo, que custa mais barato e mata mais rápido. Veio da Bolívia e do Peru e entrou no Brasil pelo Acre.

Segundo especialistas, tem o poder de dependência no primeiro uso, causando efeitos devastadores no organismo humano: doenças no sistema renal, emagrecimento, diarréia, vômitos e até perda de dentes, por conta do processo corrosivo provocado pela presença dos combustíveis na composição do oxi. O uso continuado da droga mata em um ano. Ora, se uma droga tem todos esses efeitos e seu uso só aumenta, só pode ser algo muito bom. Mas não tem gente por aí ingerindo o tal de Santo Daime? Pelo que sei, provoca vômitos e diarréia e prazer nenhum. Há gosto para tudo neste mundo.

Ninguém imagine que faço a apologia das drogas. Quem a fez foram os Beatles e demais roqueiros, sempre recebidos por multidões histéricas no Brasil, sem que a polícia tomasse qualquer providência. Os participantes da tal de Marcha da Maconha, pelo que leio nos jornais, não faziam apologia da canabis. Apenas defendiam sua legalização. Defender a legalização de uma prática é direito de qualquer cidadão. Quem decidirá isto são os legisladores. Mas, como tenho dito, é chover no molhado. A maconha há muito está legalizada no Brasil. Ou alguém viu, nas últimas décadas, alguém ser preso pelo consumo de maconha? Eu não vi.

Sem falar que se for o caso de prender quem advoga a legalização da droga, é bom começar por Fernando Henrique Cardoso, que após deixar a Presidência da República vem defendendo esta causa, nacional e internacionalmente. Ou Carlos Minc, que já foi secretário do Meio Ambiente no Rio e ministro do Meio Ambiente, em substituição a Marina Silva. Como também os governadores Sérgio Cabral e Tarso Genro.

Para o delegado-adjunto da 5ª DP do Rio de Janeiro, Antonio Ferreira Bonfim Filho, o direito brasileiro não permite apologia ao crime. "Eles vão responder em juízo, já que não quiseram prestar depoimento", explicou. Não houve, pelo que leio na imprensa, apologia alguma. Mas sim defesa da legalização, isto é, o caminho correto de reivindicar algo em uma democracia. Pelo jeito, só políticos ilustres podem defendê-la.

Sem jamais ter consumido drogas, faço a defesa de sua legalização. Verdade que certas drogas, como o crack e agora o tal de oxi, talvez devam permanecer na ilegalidade, em função de sua letalidade. Mas há muito veneno em farmácia cuja compra não é proibida. Nossas leis tampouco proíbem que alguém se suicide.

Há quem alegue que maconha permitida igual a maior criminalidade. Na Holanda, o consumo de maconha e de drogas leves, como cogumelos alucinógenos, é feito nas cofee shops, cafés abertos dia e noite... onde é proibido fumar cigarros. Em 2009, o governo anunciou que iria fechar oito prisões. Motivo: os índices de criminalidade não paravam de cair, e os juízes haviam trocado as penas de privação de liberdade pelas de serviços comunitários.

Jamais usei qualquer droga. Nem mesmo tabaco. A bem da verdade, nos distantes anos 70, dei uma ou duas tragadas num baseado. Estava em Estocolmo, em um apartamento de universitários, com 19 brasileiros e três suequinhas. Me passaram o bagulho. Para não bancar o estraga-prazeres, dei uma pitada. Uma das suecas me perguntou:

- Vocês brasileiros só sabem fazer isso?
- Isso o quê?
- Puxar fumo e ficar olhando o próprio umbigo?

Brasileiros, até pode ser, respondi. Mas expliquei que não era muito brasileiro. E convidei as três para meu apartamento, onde tomamos vinho a noite toda até o amanhecer. Noite e amanhecer é modo de dizer. Era verão e as noites eram de uma luz irreal, emanada por um sol paranóico que teimava em não deitar-se.

A maconha era liberada na Suécia e a prefeitura de Estocolmo inclusive financiava bares para a meninada fumar. Tentei entrar em um deles, para ver como é que era. Fui barrado, era maior de idade. O bar era para uso exclusivo de menores. Pelo que sei, a maconha continua liberada. O nível de criminalidade, de lá para cá, aumentou. Mas não pelo consumo de drogas. E sim pela invasão de muçulmanos no país dos Sveas.

Isso de defender a legalização da maconha no Brasil, a meu ver, é bandeira sem causa. Algo como defender a legalização do amanhecer.