¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, abril 23, 2011
 

MUÇULMANOS QUEREM CRIAR
ESTADO DENTRO DO ESTADO



Leio hoje, na Folha de São Paulo, artigo de Roberto Livianu: “Há duas semanas, os franceses vivem sob a batuta de uma lei que trouxe a toda humanidade mais intolerância, segregação e subcidadania. A lei antivéu, que proíbe muçulmanas de cobrir o rosto nas ruas, nasceu impregnada de xenofobia e caráter discriminatório, em movimento estatal não isolado.

“Por isso, a França tem sido palco nos últimos anos de uma série de atos e manifestações intensas de repúdio a posturas estatais antiestrangeiros. E o que causa maior perplexidade é a justificativa que adota o governo francês, no sentido de que a medida vem em defesa do caráter laico do Estado. Cogita-se agora ir além: proibir muçulmanos de orar em espaços públicos”.

Livianu é um jovem doutor em direito pela USP, promotor de Justiça e presidente do Movimento do Ministério Público Democrático. Considera que, no fundo, não há defesa alguma do caráter laico do Estado, que não passa de mero pretexto jurídico-político para agredir e desrespeitar pessoas adeptas de uma determinada religião, ferindo de morte a liberdade de credo. Isto é, Livianu desconhece o que está acontecendo na França e pelo jeito não tem noção alguma do que ocorre no mundo islâmico.

Vamos começar pelas orações nas ruas, que hoje ocorrem em diversos locais na França, particularmente em Paris e Marseille. Em Paris, no bairro árabe da Goutte d'Or, logo abaixo de Montmartre, as mesquitas ficam tão cheias nas sextas que muitos fiéis acabam rezando do lado de fora. Rezar não é o principal problema, mas sim o fato de que as ruas ficam interditadas a carros e transeuntes. Mais ainda, a oração nas ruas é uma provocação aos franceses. Não é que tais rezas reúnam apenas os habitantes do bairro. Ônibus cheios de árabes vêm de outros bairros e cidades vizinhas para ocupar as ruas de Paris. No fundo, uma demonstração de força dos mulás.

E ai de quem ouse enfrentar a turba árabe, invocando seu direito de ir e vir. Os cabeças-de-toalha instituíram uma polícia privada para proteger os crentes. Ou seja, uma religião pretende impor a um Estado laico sua própria polícia. Querem criar um Estado muçulmano dentro do Estado francês. Suponho que isto não seria admitido nem mesmo neste bagunçado país nosso, onde só bandidos têm direito a portar armas.

Vamos ao véus. Os defensores incondicionais do porte de véu pelas muçulmanas em Paris jamais disseram uma palavrinha contra os países em que as mulheres são obrigadas a usar véu, queiram ou não queiram usá-lo. Na Arábia Saudita, por exemplo, nenhuma mulher pode sair às ruas se não usar a abaya, uma capa preta que lhe cobre o corpo todo. Devem também usar um véu que lhes cobre o rosto, deixando apenas os olhos a descoberto. A Arábia Saudita não é exatamente um país, mas um gigantesco poço de petróleo controlado pela família Saud, daí o nome do país. Algo assim como se o Brasil tivesse como nome Sarneylândia, que Alá nos proteja!

As mulheres estrangeiras devem usar pelo menos a abaya, podendo não usar véu. Mas sempre podem ser abordadas por um muttawa – a polícia moral - que as obrigue a cobrir o cabelo. Corre à boca pequena nas redações de jornais a história da mulher de um diplomata brasileiro que foi esbofeteada pela muttawa em um shopping em Riad por ter os cabelos descobertos. O Itamaraty não disse água. Com uma ou outra variante, o mesmo ocorre nos demais países muçulmanos. No Irã, por exemplo, o chador deixa as mulheres com o rosto descoberto, mas cobre o corpo todo.

Há alguns anos, um incêndio irrompeu em uma escola em Meca. Meca é aquela cidade onde milhões de muçulmanos dão sete voltas, a cada ano, em torno a um fragmento de meteorito com 25 cm de comprimento. Na hora da fuga ao incêndio, quinze meninas foram forçadas a voltar para a escola pelos virtuosos policiais promotores da Virtude e Prevenção do Vício, os muttawa. É o que nos conta o jornal Al Iqtisadiya. Motivo: era pecado vê-las sem o véu e a abaya. Morreram calcinadas.

A exigência do véu no mundo muçulmano decorre de um diálogo, no Corão, entre Maomé e seu cunhado Omar. Diz Omar: “Ó, profeta. Diz a tuas mulheres, diz a tuas filhas e às esposas dos crentes que coloquem um véu sobre seu vestido e assim cubram o rosto da forma mais conveniente, de modo que não possam ser reconhecidas e confundidas com as escravas ou mulheres de maus costumes”. A fala do cunhado virou dogma.

Mais ainda: mulher alguma pode sair à rua sem estar acompanhada de um macho. Mas tem de ser um macho da família: pai, marido, irmão ou filho. Se uma mulher chega sozinha a um aeroporto na Arábia Saudita será levada a uma sala especial, de onde só poderá sair quando o macho responsável for buscá-la. E só sairá se estiver coberta por uma abaya.

Mulher solteira não pode estar junta de homem solteiro. Certa vez, em Riad, homens e mulheres ocidentais reuniam-se em um restaurante. Como não eram casados, a reunião foi invadida pela muttawa. Conseguiram continuar a reunião, com uma condição: os homens deveriam ficar de um lado da mesa e as mulheres do outro.

Estes senhores que cobram tolerância da França, jamais pedem reciprocidade do mundo árabe. Em sua argumentação, o promotor de Justiça sofisma: “Ou alguém já ouviu falar de lei proibindo os sacerdotes da igreja católica e de outros credos de usarem suas largas batinas em espaços públicos em prol da segurança pública, em função do risco de ocultarem armamentos?”

Ora, ninguém está sugerindo que as muçulmanas portem armas sob a burka ou nikab. Por outro lado, armas podem ser portadas não apenas nas batinas, mas também em ternos, blusas e mesmo camisas. O que a França discute é a identificação de uma pessoa pelo rosto. Tanto que véus como o chador, que não cobrem o rosto, não são proibidos nas ruas. Fica feio para um promotor sofismar. Aposto que Livianu, doutor pela USP, é petista. As esquerdas são defensoras incondicionais do Islã.

Pode um país proibir uma mulher de portar véu? Penso que pode. Ainda mais quando o uso do véu é imposição masculina. Na Itália, os muçulmanos reivindicam o direito de suas mulheres tirarem fotos veladas para os documentos de identificação. Ora, como identificar alguém que tem o rosto coberto? Como no mundo islâmico mulher não tem identidade alguma, tanto faz como tanto fez. Acontece que no Ocidente uma mulher tem existência própria, vontade própria, direitos, e isto os cabeças-de-toalha não admitem.

Só acho que não será fácil aos franceses interditar o uso do véu. Uma semana após a interdição, um amigo me enviava uma foto de duas muçulmanas cobertas por abayas e nikabs no sofisticado restaurante Fouquet, no Champs Elysées. Dois fantasmas de preto em meio ao colorido de Paris. Se não conseguem interditar o véu no Fouquet, duvido que o consigam na Goutte d’Or, por exemplo. Ou naqueles outros bairros periféricos, infestados de muçulmanos.

Os muçulmanos, dizia, querem criar na Europa um Estado dentro do Estado. O mesmo que pretendiam os cristãos na antiga Roma. Estão conseguindo. Tarde piou a França.