¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, junho 24, 2011
 
EL AVE Y LAS AVUTARDAS


Sevilha, a capital política da Andaluzia, todos conhecemos. Famosa por sua Semana Santa, tem uma das mais esplendorosas catedrais da Europa. Faremos um templo para que os pósteros nos chamem de loucos – disseram seus construtores. Já Marchena, cidadezinha a cerca de 60 quilômetros da capital andaluz, com cerca de 20 mil habitantes, é bem menos conhecida.

Do AVE, também temos notícias. Trem de alta velocidade espanhol, liga – entre outras cidades - Madri, Sevilha, Barcelona e Málaga. Atinge 300 quilômetros por hora e faz Madri-Atocha e Barcelona-Saints em 2h38m. A distância entre Madri e Toledo, que em trem normal se fazia em uma hora, hoje se faz em 25 minutos. Os trens de alta velocidade na Europa são excelentes alternativas a vôos de uma a três horas. De avião você faz Madri-Barcelona em 1h10min. Mas se contar deslocamentos até aeroporto, check in, espera de embarque, vai dar umas quatro ou mais horas. Por outro lado, o AVE sai do centro de uma cidade e o deixa no centro da outra.

Quanto às avutardas, são pequenas aves pernaltas, de uns oito centímetros de longitude da cabeça à cauda, de vôo curto e pesado. Gerou inclusive um adjetivo no espanhol, avutardado, pessoa semelhante ou parecida à avutarda.

Mas que tem a ver o AVE com as avutardas? Em janeiro de 2007, comentei o perigo que os ornitólogos representam para o desenvolvimento de um país. A idéia que temos destes senhores é a de pacatos cidadãos que adoram observar essas maravilhas da natureza, os passarinhos. Até pode ser. Mas sempre é bom desconfiar quando ornitólogos apresentam um pássaro na televisão. Normalmente, há grossa sacanagem de ONGs e ambientalistas atrás disto.

Dito e feito. O AVE quer expandir seu trajeto de Sevilha até Marchena, que se prolongaria até Osuna e Antequera, ao custo de 280 milhões de euros. As obras já foram iniciadas, faltando apenas a instalação das vias e fiação. Aí é que em entram os ornitólogos. Leio hoje no El País que uma certa entidade – Ecologistas em Ação – denunciou no ano passado o projeto por entender que constituíam uma ameaça à Zona Especial Protección para las Aves (ZEPA), em Campiñas de Sevilha, refúgio para espécies como a avutarda, em perigo de extinção na Andaluzia.

Atendendo às reivindicações dos ecologistas, a Comissão Européia, sediada em Bruxelas, quer impedir a construção dos três novos ramais do AVE. Alega “possíveis não-cumprimentos do direito comunitário” sobre a proteção do meio ambiente, das aves silvestres e seus habitats naturais e da flora e fauna silvestres. Segundo a Comissão, a normativa européia obriga que os projetos sejam avaliados de maneira adequada antes de sua aprovação para evitar conseqüências indesejáveis para o meio ambiente.

Os Ecologistas em Ação defendem a idéia de que a linha atravessa durante 16 quilômetros a ZEPA, que entrou em vigor em setembro de 2008. Nesses 16 quilômetros, existiriam 80 0u 90 avutardas. Os perigosos ornitólogos alegam que as aves poderiam colidir com a fiação, com as catenárias ou com a dupla margem de segurança. A direção geral européia de Meio Ambiente decidiu então iniciar um “procedimento de sanção” contra a Espanha”.

Ou seja, em função destes delírios ornitológicos, Bruxelas quer decidir como a Espanha deve administrar seu sistema ferroviário. Ora, existem pelo menos mais cinco zonas avutarderas na Espanha, distribuídas de norte a sul do país. Por 80 aves que habitam uma extensão de 16 quilômetros, os ecochatos querem – e não duvido que consigam – impedir um transporte mais rápido entre três cidades e sabotar um projeto de 280 milhões de euros. Sem falar que consideram as avutardas, além de lentas, míopes. Se não conseguem enxergar fios ou catenárias, provavelmente vivem dando cabeçadas em ramos de árvore.

Se a Espanha ceder, estará pagando cerca de 28 milhões de euros por avutarda. Que mandem as pernaltas para a Galícia, País Basco, Catalunha, Castilla, ora bolas. Para que conheçam novas línguas e novas avutardas. ONGs já engavetaram mais de trezentos projetos de barragens no mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina. Estas organizações estão cometendo crimes contra a humanidade, ao condenar milhões de pessoas a viver longe da água potável e energia elétrica. Os avutardados querem agora privar de bom transporte toda uma região da Andaluzia.

Reproduzo infra a crônica de 2007.