¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, julho 10, 2011
 
FSP TROCA SEIS
POR MEIA DÚZIA



Em 23 de junho de 2009, fiz uma pergunta para Carlos Eduardo Lins da Silva, então ombudsman da Folha de São Paulo:

Na edição de hoje, na privilegiada página dos editoriais, Fernando de Barros e Silva denuncia a velharia velha dos Sarney e a nova velharia representada pelo lulismo e afirma que o Brasil virou uma espécie de democracia senhorial e Lula se tornou seu maior avalista. E conclui: “Lula e o neopatrimonialismo sindical que ele sustenta levaram isso ao paroxismo. Não importa que seja ladrão, desde que seja meu amigo”.

Sem querer querendo, sem dizer dizendo, Barros e Silva chamou José Sarney de ladrão. Pergunta que se impõe: até quando a Folha de São Paulo manterá como colunista o senador ladrão?


No mesmo dia, recebi uma mensagem gerada automaticamente pela caixa postal de ombudsma@uol.com.br.

Prezado(a) Leitor(a):
Obrigado pela mensagem enviada ao ombudsman da Folha de S.Paulo. Esta é uma resposta automática. Suas observações serão apreciadas e, assim que possível, o (a) senhor (a) receberá resposta.

E mais nada recebi até hoje, quinta-feira. Amanhã é o dia em que Sarney assina sua coluna no jornal. No dia 26 do mesmo mês, escrevi:

FOLHA SEGURA SENADOR LADRÃO

Hoje é sexta-feira. O senador ladrão continua assinando sua coluna na Folha de São Paulo. Olímpico, ignora o lamaçal em que afunda e lamenta a morte de uma menina em Teerã.

"E o símbolo desse protesto passa a ser Neda, uma mulher morta pela milícia fanática dos aiatolás, basiysí. Seu rosto ensanguentado foi mostrado em todo o mundo. Seu sangue sem dúvida vai motivar mais ainda a libertação da mulher iraniana. Isso mostra que nem as mais cruéis tiranias, mesmo as teocráticas, resistem às ideias de liberdade e igualdade".

Que o Senado proteja Sarney entende-se. Canalhas são sempre solidários entre si. Que a Folha o mantenha como colunista é mais difícil de entender. O jornal que denuncia suas corrupções lhe dá sustentação em página nobre. Ao que tudo indica, a Folha não tem o rabo preso com o leitor. Mas com o senador.


Voltei ao assunto no 31 de julho do mesmo ano:

FOLHA CONTINUA
DANDO ESPAÇO A
IMORTAL IMORAL


O Estadão de ontem revelava o acúmulo de salários com aposentadoria do qual se beneficia José Sarney, superando o limite constitucional de R$ 24,5 mil. E superando muito além do imaginável. Segundo o jornal, o senador imortal – e bota imortal nisso! – tem aposentadoria como ex-presidente da República, como ex-governador do Maranhão e ainda uma aposentadoria do Tribunal de Justiça do Maranhão, que poderiam somar algo em torno de R$ 45.000, além de receber mensalmente seu salário como senador, de R$ 16.512. O que dá um simpático salariozinho de 61.512 reais. Por mês. Não é de espantar que o senador sequer tenha notado os 3.800 reais que o Senado lhe pagava a título de auxílio-moradia, apesar de Sarney ter residência em Brasília.

Sessenta mil reais só de salários. Aqui não está computado o que o ilustre acadêmico recebe por fora, em decorrência de suas roubalheiras. Interrogado sobre porque político tão corrupto continua assinando coluna na Folha, o secretário de Redação sempre responde cinicamente que o jornal abriga toda gama de opiniões e que Sarney ainda não foi condenado em juízo por crime algum. Precisa?

Segundo a Secretaria da Redação, "interromper os seus artigos durante o tiroteio político mais intenso que sofria em 2009 poderia ser visto como uma forma de cercear um dos poucos espaços que Sarney tinha para expressar-se livremente".

Assim sendo, porque não dar uma coluna ao Paulo Maluf, ao Romeu Tuma Júnior e outras peças do mesmo jaez? A Folha está perdendo rapidamente credibilidade ao manter como colunista o senador. Isto leva o jornal a um constrangimento: como denunciar como corrupto um de seus colunistas?


Leitores perguntaram ao jornal até quando senador ladrão continuaria assinando sua coluna no jornal. A resposta padrão enviada foi esta: “O pluralismo é um dos pilares do projeto editorial da Folha. A presença de José Sarney como colunista do jornal atende a esse requisito de pluralidade”.

Nesta semana, a Folha dispensou o senador ladrão. Que, na sexta-feira passada, despediu-se, comovido, de seu pedestal: “Agora, neste semestre, completei 20 anos nesta "Sexta-feira, Folha". Minha última coluna, a da semana passada, foi comentário e até manchete de um grande jornal. Deu-me a convicção de que estava viva e lida. Ajudou-me na decisão de parar”.

Qual coluna foi comentário de um grande jornal? Foi a coluna em que o senador louva o mais desastroso plano econômico que o país já sofreu, o plano cruzado: “Nenhum plano despertou tanta paixão: os especuladores de 1986 o odeiam e o povo consumidor não o esquece, pois foi a primeira grande distribuição de renda do Brasil. Eu sabia dos riscos e perigos em fazê-lo, mas tive a coragem de congelar os preços e a taxa de câmbio, entre outras medidas. Abandonei a ortodoxia do FMI e da banca internacional. Enfrentei-os. Derrotei-os, pois o Brasil, a partir dali, nunca mais seria o mesmo - nem o FMI também”.

O ex-presidente medíocre e inepto louva a si mesmo, com a sustentação da Folha, e ainda posa de valente. É delírio típico de detentores do poder que vivem em torres de marfim e só ouvem seus áulicos. Sem falar que é um insulto à inteligência de qualquer leitor que tenha a memória fresca. O puchero foi por demais gordo.

Leitores têm saudado a saída de Sarney da Folha e saudado o jornal por sua decisão. Mas... quais colunistas contratou Octavio Frias para escrever a partir de hoje? Marina Silva, uma ecochata messiãnica, adoradora do próprio ego e deslumbrada com o apoio que tem de certas ONGs internacionais. Marta Suplicy, uma petista conivente com todas as corrupções de seu partido. E Aécio Neves, um mineiro tucano e safado, sempre em cima do muro, que almeja a Presidência do país.

A Folha está apostando em políticos medíocres como colunistas. Políticos que usarão suas colunas para fazer politicagem e louvar as próprias virtudes. É um desserviço ao jornalismo nacional. O jornal, que surgiu com a fama de independente, desde há muito vem se rendendo ao que de pior a política tupiniquim produz. Vai mal, a Folha. Está construindo seu próprio desprestígio.