¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, julho 29, 2011
 
LOUCO OU TERRORISTA?


A imprensa européia está se perguntando se Anders Behring Breivik, o norueguês que matou quase oitenta pessoas, é louco ou terrorista. A pergunta não é inocente. As esquerdas preferem que não seja louco. Se for louco, não é responsável por seus atos, e assim não podem acusar de xenofobia os europeus que se manifestam contra a imigração e contra o Islã. Se for terrorista, a responsabilidade recai sobre a “extrema direita xenófoba”.

Ora, qual a diferença entre terrorista e louco? Quando um muçulmano se explode achando que com seu gesto terá direito a 70 virgens no paraíso, estamos diante de um terrorista ou de um louco? A distinção me parece ociosa. Estamos diante de um terrorista e louco. Já contei a história de um palestino em Israel, que foi preso antes de conseguir explodir-se. Tinha o pênis envolto em papel higiênico. Queria preservá-lo para as virgens. Alguém duvida que isto seja loucura?

Onde a sanidade? A meu ver, vivemos cercados de loucura. É louco todo homem que crê no que não existe, como deus ou vida eterna. Quando vejo crentes se ajoelhando ante uma potestade inexistente, não tenho dúvidas: estamos diante de um insano. Quem afirma isto não sou eu, mas Paulo, o apóstolo:

Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo. Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem.

Convivemos todos com a loucura. Enquanto não está armada, tudo bem. O problema é o louco com armas. Leio no Nouvel Obs:

“O retrato de um doente mental, assassino glacial, paranóico, crendo estar em guerra, se desenha com a leitura das 1.500 páginas do manifesto 2083, escrito pelo suposto (sic!) autor do duplo ataque sangrento na Noruega. Sem dúvida, os propósitos de Anders Behring Breivik são delirantes e siderantes. Seu advogado aliás anunciou, na terça-feira, que alegaria demência. Uma linha de defesa – a única, sem dúvida – que afasta a noção de terrorismo e da responsabilidade. Chocado pelo massacre que teve lugar na ilha de Utøya, o prefeito de Oslo julgou que o país estava tratando de um louco, de um loser que buscava uma razão de existir”.

E que sabia que no dia seguinte – acrescentaria eu – seria manchete nas primeiras páginas de todos os jornais do mundo. Este narcisismo não pode ser deixado de lado. Um terrorista árabe é mais ou menos anônimo, chame-se Ahmed ou Mahamoud. A expressão terrorista muçulmano nos é familiar. Já terrorista norueguês é algo insólito na imprensa. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que pela primeira vez esta expressão surge nos jornais. Como diz o Nouvel, trata-se de um terrorista de olhos claros, norueguês de souche.

“Estamos portanto diante de um ato terrorista” – afirma François Bernard Huygue, co-autor com Alain Bauer da obra Les terroristes disent toujours ce qui vont faire – “O terrorismo é uma forma de luta política e ideológica que consiste em cometer atentados visando alvos simbólicos. Os terroristas matam idéias, para difundir idéias e em nome de idéias. Em sua lógica – às vezes louca – não se ataca pessoas por razões individuais como em um crime, nem para provocar o máximo de perdas possíveis ao inimigo, como na guerra. Mata-se pessoas para que suas mortes produzam um efeito psicológico e um efeito pedagógico”.

Desconfio que o bestunto de Breivik não chegava a tanto. Que efeito pedagógico pode produzir a matança de oitenta pessoas? Qual a diferença entre terrorista e louco? Alguém ainda lembra da RAF, (Rote Armee Fraktion, em alemão), grupo terrorista dos anos 70, mais conhecido como Grupo Baader-Meinhof? Seus integrantes se autodescreviam como um movimento de guerrilha urbana comunista e anti-imperialista, engajado numa luta armada contra o que definiam como um Estado fascista. Seus manifestos delirantes defendiam uma revolução mundial, bastando para isso explodir alguns alemães.

Esta é a mesma loucura de Che Guevara, Lamarca, Marighella, que achavam que o mundo pode ser transformado com um fuzil. Ora, não são exatamente os fuzis que transformam o mundo. Os cristãos sabiam disto e conseguiram instalar sua loucura urbi et orbi. Verdade que recorreram à tortura e às fogueiras. Mas nem precisavam delas. Quando surgiu a Inquisição, a loucura já era vitoriosa.

Terrorismo ou loucura? Não vejo diferença.