¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, julho 14, 2011
 
PUTAS DA LITERATURA NACIONAL
VÃO GIRAR BOLSINHA NA EUROPA
ÀS CUSTAS DOS CONTRIBUINTES



Em setembro de 1997, na 7ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo (RS), denunciei:

Em junho passado, um quarteto de escritores brasileiros - Rubem Fonseca, Patrícia Mello, João Gilberto Noll e Chico Buarque - desembarcaram em Londres, onde fizeram leituras públicas de suas obras e lançaram livros não só na capital britânica, como também na Escócia e no País de Gales. Em um primeiro momento, poderíamos pensar: "que maravilha, o Reino Unido se interessa por nossa literatura". Nada disso: é o Ministério da Cultura brasileiro que promove tais turismos e financia as traduções dos autores brasileiros. Vejamos estas manchetes, todas da Folha de São Paulo:

BRASILEIROS LANÇAM LIVROS NA GRÃ-BRETANHA
Autores promovem suas obras dentro de projeto patrocinado pelo Ministério da Cultura

RUBEM FONSECA LÊ CONTO EM LONDRES


Segundo Eric Nepomuceno, secretário de Intercâmbio e Projetos Especiais do Ministério da Cultura, "a essa ação do Reino Unido devem ser somadas outras, já em andamento, que compõem o programa de apoio à difusão de nossa literatura no exterior, elaborado pelo Ministério da Cultura. Este programa já tem comprometido o lançamento de pelo menos 42 títulos de literatura contemporânea até 1998 em cinco países, além do programa do escritor-residente em cinco universidades norte-americanas e mesas-redondas em vários países. Acho que é justo solicitar menção a essas iniciativas. Afinal, tudo isto está sendo pago por fundos públicos, geridos por este ministério, e creio que é nosso dever informar devidamente o uso dado a esses recursos".

Ou seja: quem paga o turismo destes escritores, todos amigos do poder, sejam vivos ou mortos, é o contribuinte. Nesta brincadeira, apenas para a tradução dos livros, foram gastos US$ 35 mil, financiados pelo Ministério da Cultura. O governo brasileiro, isto é, o contribuinte brasileiro, também contribui com parte dos custos de viagem. Ou seja, este país cheio de mendigos atirados nas ruas de suas capitais se dá ao luxo de usar dinheiro público para que alguns amigos do rei - ou, dizendo melhor, amigos de Francisco Weffort, o atual ministro da Cultura - editem suas obras na Europa. Mas será que este contribuinte foi consultado na hora de financiar edições e mordomias a estes escritores que nem conhece? A propósito, quem é Patrícia Mello? Alguém conhece quais títulos de vulto esta senhora escreveu para julgar-se capaz de representar a literatura brasileira na Europa?


Evidentemente, não fui convidado para a 8ª jornada. Em meio a meu comunicado, a pró-reitora que me convidara para o encontro, não agüentou-se nos estribos. Se ergueu na platéia e disse, com todas as letras: “Filho da puta!” Eu havia profanado o santo dos santos, onde fica guardada a Arca da Aliança das prostitutas literárias com o Ministério da Cultura. Lá só pode entrar o Sumo Sacerdote, e com uma corda atada ao pé. Se morrer, como ninguém mais pode entrar lá, é puxado para fora. Após minha comunicação, os alunos me cercaram e me abraçaram. Os professores, que me haviam recebido com carinho, tomavam distância de mim como se eu fosse um leproso.

Ao final da sessão, havia um churrasco num CTG para os convidados. Topei. A meio caminho do restaurante, percebi a besteira que havia cometido: não teria ninguém para sentar em minha mesa. Ao chegar lá, alguém ergueu os braços e me saudou alegremente: “Janer, seu subversivo, ainda não estás na cadeia?” Era o prefeito de Passo Fundo, que fora meu colega em Santa Maria. Fui salvo pelo gongo.

De Porto Alegre, Marco Aurélio Antunes me envia esta notícia:

Programa incentiva a publicação de autores brasileiros no Exterior
Iniciativa é tema de debate na Festa Literária de Paraty nesta sexta-feira


O presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, apresenta esta noite, na 9ª Festa Literária de Paraty (Flip), o Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, do Ministério da Cultura. Publicado no Diário Oficial da União, nesta sexta-feira, o programa prevê a aplicação de R$ 12 milhões ao longo dos próximos 10 anos, visando a aumentar o número de livros brasileiros traduzidos e publicados em outros países.

O investimento será progressivo, começando com R$ 1 milhão ainda em 2011 e aumentando a cada ano. Conforme Amorim, trata-se de uma política para internacionalização da literatura brasileira, aproveitando o fato de que vários eventos literários internacionais nos próximos anos terão o Brasil como país homenageado: as feiras de Bogotá, na Colômbia, em 2012, Frankfurt, na Alemanha, em 2013, e Bolonha, na Itália, em 2014.


Nada de novo sob o sol, Marco Aurélio. A putaria continua correndo solta. Quem serão os eleitos? Os amigos do rei, é claro. Chico Buarque, Rubem Fonseca, Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro e prostitutas outras. Provavelmente, irão apresentar suas “obras” em Paris, Roma, Londres. Enquanto as moçoilas giram bolsinha nas metrópoles européias, o contribuinte brasileiro é escorchado em nome da dita internacionalização da literatura brasileira.

O muro de Berlim caiu há mais de duas décadas e o Brasil ainda não se libertou da prática soviética de exportar literatura estatal.