¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, agosto 10, 2011
 
AINDA OS “JOVENS”


A imprensa tem especulado sobre as causas da onda de vandalismo que se espalhou pelo Reino Unido. Segundo Peter Apps, jornalista da Reuters, “jovens sem oportunidades, irados com o sistema e organizando-se com rapidez pelas mídias sociais, os arruaceiros de Londres mostram algumas características semelhantes às dos manifestantes pró-democracia da primavera árabe. Mas, enquanto os protestos do Oriente Médio marcharam na esperança de uma mudança positiva, a violência na Grã-Bretanha tem sido quase niilista, com o foco em saques e na decepção da juventude pobre das áreas urbanas”.

Chega a dar asco esta mania da imprensa de definir os baderneiros simplesmente como jovens. Já estamos além do politicamente correto. Chegamos ao hipocritamente correto. Ainda ontem eu me perguntava: que jovens são esses? A que etnias, culturas ou países pertencem? Serão jovens lourinhos de olhos azuis, de boa cepa britânica, os que estão queimando prédios e saqueando lojas de britânicos? Em verdade, eu vi uma foto com muitos jovens lourinhos de olhos azuis, de boa cepa britânica. Estavam todos armados não de pedras, mas de vassouras. Para limpar as cidades dos estragos feitos pelos africanos.

Segundo minha filha, que estuda em Londres, os jornais britânicos ousam pronunciar a palavra negros e colocam fotos de negros nos jornais. Aqui no Brasil, a palavrinha desapareceu do vocabulário dos jornalistas. Desapareceu junto com uma outra, imigrantes. Pelo que se lê, não há sequer um imigrante nos distúrbios de Londres.

Prossegue Apps: “No mundo em desenvolvimento, as oportunidades de emprego estão aumentando, mas as expectativas crescem mais depressa. Agora, a recessão torna esse desejo ainda mais frustrado. Nas economias que estão envelhecendo, os jovens ainda têm de financiar o aumento das contas sociais. Se o desencanto alimenta os distúrbios ou o crime, os incêndios de Londres sugerem que os protestos podem se tornar mais intensos nos próximos anos. "Os jovens não têm trabalho nem futuro. Pertencem a uma nova geração e não se importam com nada. Fique atento, a revolta está só começando", disse o eletricista Adrian Anthony Burns”.

Os jovens, sempre os jovens. Ora, se a recessão afeta o mercado de trabalho, afeta todos os jovens, indiscriminadamente. É normal que os europeus queiram salvar primeiro os seus. Isso se conseguirem salvá-los. Digamos que eu me chame Smith. Ou Dupont. Ou Svensson. É claro que vou preferir ver meus filhos empregados, mesmo se a falta de oportunidades recair sobre negros e árabes que fogem da miséria de seus países. Primeiro os nacionais. Depois, se sobrar algo, os estrangeiros. Que obrigação tem a Europa de levar a África nas costas?

A Europa abriu suas portas à imigração lá pelos anos 50, 60. A Segunda Guerra havia ceifado muita mão-de-obra. Os países mais desenvolvidos buscavam árabes e africanos para o trabalho braçal, aquele que os europeus preferiam não fazer. O que também é normal. Buscavam não só árabes e africanos, mas também portugueses e espanhóis, que na época eram os primos pobres da Europa. Em meus dias de Paris, jamais vi uma concierge francesa. Pode ser até que existisse. Mas eram invariavelmente portuguesas ou espanholas. Havia também muita gente do Leste europeu. Mas estes tinham primeiro de fugir, arriscando perda de vida ou liberdade, para entrar na Europa de cá.

Portugal e Espanha enriqueceram e muitos dos seus emigrantes voltaram para casa. Nas últimas décadas, a oferta de braços tem superado a demanda. Começaram a surgir os sem-papéis. Entravam ilegalmente na Europa e lá permaneciam, fazendo trabalho clandestino ou vivendo da generosa previdência européia. Mais ainda: contavam com a cumplicidade das esquerdas européias, que sempre defenderam a permanência ilegal dos imigrantes no continente. Até hoje, não passa ano sem que barcos precários tragam centenas de famintos da África, que não hesitam em enfrentar os mares e mesmo a morte para chegar até o Eldorado.

Mas a fonte secou. Ainda há pouco, um ministro francês declarava sua intenção de repatriar 30 mil sem-papéis. A Europa opta pelos seus, mesmo assim dando aos imigrantes uma assistência que jamais teriam em seus países. Pode-se até entender o que tem motivado o vandalismo. Mas imigrante algum pode julgar-se no direito de depredar os países que os acolhem e protegem. Não tenho notícias de nenhum imigrante morrendo de frio ou fome na Europa. Alguma assistência eles sempre recebem. Não têm acesso aos bens da sociedade de consumo? Bem, aí já é querer demais. Na verdade, eles vieram para matar a fome.

Pode-se até entender as razões do vandalismo, dizia. Mais difícil de entender é a hipocrisia dos jornalistas, que se escondem atrás da palavra “jovens” para esconder a verdadeira natureza da violência.

Me escreve Levi Marcos Pereira:

Caro Janer,

Essa mesma alusão a "jovens" que você observou, li num texto do Globo, que dava conta dos distúrbios em Londres. Como se não bastasse a linguagem insuportável e politicamente correta, revelou-se a falta de estilo e de vocabulário do(a) autor(a) do texto, que, não tendo sido capaz de encontrar um sinônimo para "jovens", repetiu o termo umas três ou quatro vezes. Claro que o moço (ou moça, não me lembro e nem desejo lembrar-me) sabia que não faltavam adjetivos aos tais "jovens" (não se trata de falta de estilo, claro), mas, pautado (a) pelas esquerdas, o (a) infeliz - ou militante, sei lá - não teve a honradez de dar nomes aos bois.


Exceto se forem brancos, Levi. Me escreve um outro leitor, o João:

Acabo de ver o primeiro grupo de vândalos de Londres identificado. Um distúrbio no Sudeste, segundo a Globo News, foi causado por um grupo de "jovens brancos" de "extrema direita". Esses, ao contrário de negros, muçulmanos e extremistas de esquerda, podem ser identificados.

Ah, claro que pode, João. O que não pode é identificar como baderneiros os coitadinhos dos imigrantes.