¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, agosto 30, 2011
 
BERLIM JÁ ESTÁ EM CHAMAS?


Já. No início deste mês, comentei o vandalismo que assolou Londres e outras cidades do Reino Unido. Segundo o Time Magazine, nunca tantos incêndios devastaram Londres tão intensamente ao mesmo tempo desde a Segunda Guerra Mundial. A bagunça toda foi provocada por imigrantes, em geral africanos e muçulmanos, que vivem a custas do Estado. Jornais, particularmente os brasileiros, insistiram em mostrar que havia também alguns branquelas de olhos azuis envolvidos nos saques.

Ora, sempre há quem pegue carona em distúrbios. O que não muda os dados da questão. Foram majoritariamente os imigrantes que devastaram as cidades. E ninguém saqueou porque estava com fome. Foram direto aos eletrônicos, computadores, televisores, iPads, iPhones e primícias outras da dita sociedade de consumo. A propósito, é curiosa esta expressão. Dá a idéia de que há uma alternativa, outra sociedade desejável que não a de consumo. Desejável, não há. Havia uma louvada pelos utópicos, mas já esboroou-se. Imigrantes não querem socialismo. Querem consumo. Se antes chegavam à Europa perguntando por trabalho, hoje chegam perguntando por seus direitos.

Fácil ser profeta nestes dias que correm. Em meus blogs, eu escrevia: “O vandalismo está virando rotina em Paris e tem data marcada, o réveillon. Os imigrantes daquela ilha vizinha à Europa parecem ter gostado da idéia. É evidente que tais incêndios, saques e depredações vão se repetir nos próximos anos. Não só na Inglaterra, como também na Suécia, Alemanha, Holanda e Itália, onde estes conflitos se acirram. É só esperar para ver”.

Não foi preciso esperar muito. Centenas de carros estão sendo queimados em Berlim. Leio na imprensa que, desde o começo do ano, mais de 500 carros já foram queimados na cidade. A situação se agravou há cerca de 15 dias, e especialistas acreditam que a intensidade dos ataques foi influenciada pela ação de vândalos na Inglaterra.

Segundo a chefe de polícia de Berlim, Margarete Koppers, os carros incendiados nesta nova etapa seriam um ato simbólico. “Até 2009, o crime era atribuído a ativistas de extrema esquerda que protestavam contra a especulação imobiliária. E eram queimados carros de luxo de fábricas geralmente alemãs, como Mercedes-Benz, Volkswagen e BMW. Os criminosos atuais continuam atacando em sua maioria carros alemães, mas a política parece não ser mais o motivo. Nos últimos dias, os carros queimados não são de luxo e a maioria dos ataques ocorreu em vários bairros da cidade, desde os de classe operária até os de classe média alta”.

Berlim – falo da antiga Berlim ocidental – sempre foi uma das mais aprazíveis capitais européias. Antes do comunismo, constituía, com Paris e Moscou, os três pólos culturais mais importantes do continente. Com a construção do Muro, mesmo ilhada em meio à miséria, barbárie e ditaduras, manteve seu prestígio intelectual. O Senado de Berlim era pródigo na subvenção a festivais, exposições e mesmo auxílios sociais a quem lá quisesse viver. Era uma cidade para velhos e jovens que não estavam muito interessados em competir naquele mercado cruel que existia além da fronteiras da ilha. Em suma, uma bolha paradisíaca para quem gostava de vida, incrustada em inferno comunista.

As esquerdas adoravam Berlim. Era um de seus bunkers diletos. Protegidas pelo bem-estar da social-democracia alemã, louvavam as virtudes do regime do outro lado do Muro. Mas só atravessavam o Checkpoint Charlie ou a estação Friedrichstraße para um rápido turismo de um dia do outro lado. Viver no paraíso socialista, nem pensar.

Verdade que Pablo Neruda andou escrevendo:

Berlim ocidental; tu és a pústula
sobre o rosto antigo da Europa
as velhas raposas nazis
escorregam sobre as mucosidades
de tuas sujas ruas arqui-iluminadas
Coca-cola e anti-semitismo
correm abundantemente
sobre teus excrementos e tuas ruínas
Na cidade maldita
filha do crocodilo Truman...


Mas Neruda era pago para isso. Stalin não podia perdoar ao Ocidente o fato de ter perdido Berlim. É preciso ser muito canalha para escrever “tuas sujas ruas arqui-iluminadas”. Berlim sempre foi esplendorosa. Com a queda do Muro, integrou a Oriental e demoliu boa parte da arquitetura hedionda comunista. O espaço ocupado pelo Muro foi tomado por prédios modernosos e a cidade retomou sua vocação de esplendor.

Hoje, duas décadas após a queda do Muro, Berlim – que era um oásis de tranqüilidade - foi de repente tomada por vândalos. O incêndio de carros também chegou a outras cidades. Na semana passada, automóveis foram queimados em Dusseldorf, Hamburgo, Chemnitz, Colônia, Munique e Marburg. Carrinhos de bebê vêm sendo incendiados. Desde o fim do ano passado, 50 casos foram registrados. Nesses ataques, já houve três mortes: as de um casal e um bebê.

As autoridades alegam não ser possível identificar os responsáveis pelos incêndios. Ora, contem outra. Uma polícia que derrotou nos anos 70 os terroristas da RAF – também conhecida como Grupo Baader Meinhof – não consegue agora identificar quem incendiou 500 carros. Fossem dez ou vinte carros, até poderiam passar despercebidos. Mas cinco centenas?

É claro que ninguém quer dar nome aos bois. E esses bois certamente não são de boa cepa germânica. Que interesse teria um alemão em queimar o carro de outro alemão? Tais incêndios denotam ressentimento. E obviamente foram motivados pelos distúrbios de Paris e Londres.

Estocolmo, Copenhague, Amsterdã, Bruxelas, Roma, não perdem por esperar.