¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, agosto 18, 2011
 
ESQUERDAS QUEREM CANONIZAR
TERRORISTA CARLOS MARIGHELLA



Comentei, há dois dias, o filme Diário de uma Busca, no qual Flávia Castro faz de seu pai, um celerado pós-64, um herói das esquerdas. Hoje, a Folha de São Paulo anuncia um novo embuste:

Um dia, faz 40 anos, eu estava indo com meu pai para a escola e ele disse: 'Vou te contar um segredo: seu tio Carlos é o Carlos Marighella'. Assim começa o documentário Marighella, de Isa Grinspum Ferraz, com estréia prevista para outubro. Em uma hora e 40 minutos, Marighella desfia a trajetória do ícone da esquerda brasileira que acabou baleado e morto dentro de um Fusca em 1969, em São Paulo.

Segundo Morris Kachani, meio século da história do país pode ser contado a partir dos acontecimentos em sua vida: a gênese do comunismo baiano, mulato, do qual Jorge Amado era partidário; o conflito entre integralistas e comunistas; a legalização do Partidão; a clandestinidade; a frustração com Stálin; o golpe militar e, por fim, a luta armada. O terno titio da história é um dos tantos terroristas que pegaram em armas para transformar o Brasil em uma republiqueta soviética.

Mas o que torna Marighella único é o olhar íntimo que só quem era de dentro da família seria capaz de documentar: "Tio Carlos era casado com tia Clara. Eles estavam sempre aparecendo e desaparecendo de casa. Era carinhoso, brincalhão, escrevia poemas pra gente. Nunca tinha associado o rosto dele aos cartazes de 'Procura-se' espalhados pela cidade", continua a voz em off da própria Isa, que assina direção e roteiro do filme.

Há horas as esquerdas vêm tentando canonizar o santo homem. Em 2008, o grupo gaúcho Oi Nóis Aqui Traveiz encenava, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, a peça O Amargo Santo da Purificação. Quem é o amargo santo da purificação? Nada menos que o assassino e terrorista baiano Carlos Marighella. Na época, Beth Néspoli, repórter de um jornal que se pretende defensor da democracia e do Estado de direito, o Estadão, fazia a apologia do terrorismo:

Numa das cenas, informações importantes chegam em versos cantados ao som do berimbau numa roda de capoeira da qual Marighella participa, uma de suas paixões, fica-se sabendo então, assim como o carnaval. Nessa fase jovem, a interpretação de Pedro De Camillis humaniza Marighella e faz dele um personagem de forte empatia. Paulo Flores interpreta o político maduro, já engajado na luta armada. O humor popular e picaresco dá o tom no momento do encontro amoroso entre Marighella e sua mulher Clara, vivida por Tânia Farias.

Em novembro de 2009, coube à Folha de São Paulo fazer o hagiológio do terrorista. Em sua coluna, Mônica Bergamo noticiava as homenagens que seriam prestadas por sua família nos quarenta anos de sua morte.

Às 11 horas, Clara Charf, companheira de Marighella, seu filho, Carlos Augusto, e a neta, Maria Marighella, vão distribuir flores e ler um manifesto na altura do número 806 da alameda Casa Branca, onde ele foi morto em emboscada preparada pelos órgãos de repressão. Às 19 horas, a Câmara concederá a ele o título de cidadão paulistano. No próximo dia 7, será aberta a exposição "Marighella Vive", no Memorial da Resistência de São Paulo, com fotos, documentos, cartas e poemas do líder guerrilheiro.

Sobre o “documentário”, anunciado para outubro, declara Isa Grinspum, não por acaso socióloga formada pela USP, a maior e mais antiga escola de comunistas no Brasil: "A idéia é desfazer o preconceito que até pouco tempo atrás havia contra meu tio. Era um nome amaldiçoado, sinônimo de horror. Além da vida clandestina e do ciclo de prisões e torturas, procuramos mostrar também o poeta, estudioso, amante de samba, praia e futebol, e acima de tudo o grande homem de idéias que ele foi".

Que bonitinho! Marighella era então um poeta, estudioso, amante de samba, praia e futebol, e acima de tudo um grande homem de idéias. Desde há muito, filmes de ficção vêm sendo chamados de documentários. Abaixo, reproduzo alguns preceitos do evangelho do santo homem. Que encontrei inclusive traduzido ao sueco nos anos 70 - Liten handbok för stadsgerilla -, quando vivia em Estocolmo.