¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, setembro 08, 2011
 
LEITURAS


Quando falo em leitura, seguidamente leitores me pedem sugestões. Há algum tempo, um leitor me perguntava quais livros eu levaria para uma ilha deserta. A pergunta é um tanto ociosa, já que eu jamais pensaria em habitar uma ilha deserta. De qualquer forma, seguem aqui algumas sugestões, completamente aleatórias. Outra seleção poderia ser igualmente importante. Mas estes são os livros que mais prezo. Como considero que sem conhecer história não entendemos nada do homem e do mundo, os ensaios históricos pesarão na minha lista. Mas começo pela poesia.

Antes de tudo, o Martin Fierro, de José Hernández. Estes poemas embalaram minha infância, mas não é por isso que o indico. É poema universal, que toca fundo em homens de todas as latitudes. Verdade que, para entendê-lo, é bom que se conheça o espanhol e mais: o espanhol estropiado do gaúcho argentino, de dois séculos atrás. Quem o conhece é um privilegiado, tem acesso ao mais belo poema que a América latina produziu.

Depois, as Obras Completas, do Pessoa. Considero Pessoa o poeta maior do século passado. “A Tabacaria”, por si só, vale toda obra do poeta. Quando cumpri meu exílio voluntário na Suécia, levei estes dois autores, que me mantiveram à tona. Atenção: Pessoa deve ser lido com vinho.

Não faltaria o Quixote, que há tempos não releio. É uma viagem não só à Espanha, que adoro, mas à Espanha antiga, o que torna a viagem mais fascinante. E já que estamos nesse gênero meio fronteiriço com a poesia, eu juntaria Assim Falava Zaratustra, do Nietzsche. E aí gera um problema, pois não me desagradaria levar mais alguns do alemão, que poderia ser o Anticristo ou O Crepúsculo dos Deuses. Mas não deixe de ler o Ecce Homo, última obra de Nietzsche, antes de mergulhar nas trevas da loucura. Soberbo.

Em matéria de ficção, eu escolheria um romance do século XVIII, As Viagens de Gulliver, esta catilinária contra a estupidez humana, do Swift (que hoje se confunde com literatura infantil). E outro do XX, 1984, do Orwell, a meu ver a obra de ficção mais significativa do século passado.

História: A Cidade Antiga, do Fustel de Coulanges, que nos mostra o mundo pagão, antes de ser contaminado pela peste cristã. E Um Estudo de História, do Toynbee.

Para manter firme minha crença no gênero humano, eu levaria o Fernão de Magalhães, do Stephan Zweig, e Schliemann, História de um Buscador de Ouro, do Emil Ludwig. Recomendo vivamente estes dois. A odisséia do Schliemann, o descobridor de Tróia, é fascinante. E uma biografia do Alexandre, que poderia ser Alexandre, do Paul Faure (ou alguma outra).

E aqui já se foram os dez. Mas, assim aleatoriamente, e de memória, não me desagradaria ainda levar A Cidade na História, do Lewis Munford, um belo estudo da evolução das cidades. Mais O Julgamento de Sócrates, de I. F. Stone, que tem como cerne a tragédia do filósofo, muito mais importante e por isso menos conhecido que o judeu tanso aquele, que sequer sabia o que estava acontecendo em torno a ele.

Levaria pelo menos alguns dos Diálogos, do Platão, para contemplar o nascimento do pensamento ocidental. A História do Cristianismo, de Renan, sete volumes. Se fosse necessário escolher um, eu levaria Marco Aurélio. Mais uma boa História das Religiões, que podia ser a do Mircea Eliade.

Minha lista nada tem de definitivo, foram apenas livros que me tocaram. Outras listas podem ser feitas, e igualmente pertinentes. Mas com estes livros, o leitor já está bem servido.