¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, novembro 26, 2011
 
LONGO É O CAMINHO


Comentei em abril passado, quando Dona Dilma elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as compras no exterior com cartão de crédito de 2,38% para 6,38%. A medida teve como objetivo conter o consumo. Os gastos de brasileiros no exterior cresceram muito no ano passado em função da valorização do real frente ao dólar. A despesa bruta com cartão de crédito em 2010 foi de US$ 10,17 bilhões. Em 2009, tinha sido de US$ 5,59 bilhões, segundo os dados do Banco Central.

Quando a economia internacional oferece uma janela de conforto aos brasileiros, o governo tenta fechá-la. O Brasil está caro? Tribute-se então o brasileiro que descobriu que França, Espanha ou Itália são países mais amigáveis do que o próprio Brasil na hora de viajar, comprar, comer e beber. A medida da presidente em pouco ou nada difere das leis da época da ditadura militar, que tornaram proibitivas as viagens ao Exterior. O governo quer conter o consumo... no estrangeiro. Aqui, a indústria oferece carros a serem pagos em cinco anos.

Em verdade, a medida não conteve consumo algum, pois viagens e compras no Exterior continuam sendo mais baratas do que aqui. No fundo, só serve para escorchar ainda mais o já escorchado contribuinte brasileiro. É o reflexo automático do bracinho de dona Dilma – remember Dr. Strangelove – que quer proteger, no melhor estilo comunista, a inepta indústria tupiniquim.

Ontem - leio nos jornais - a presidente Dilma Rousseff previu que a crise européia não terminará antes de pelo menos dois anos, mas insistiu que o Brasil não pode temer o período difícil da economia mundial. "Não temos que nos atemorizar diante da crise, não podemos parar de produzir, de consumir. Vamos continuar investindo e apostar na inovação tecnológica", afirmou a presidente em discurso durante inauguração de novas unidades do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), na zona portuária no Rio.

Em abril, o governo aumentou o IOF para conter o consumo. Sete meses depois, afirma que para enfrentar a crise é preciso consumir. Dona Dilma oscila qual caniço ao vento. Em um mesmo ano, afirma uma coisa como também seu contrário.

Sem ser consumista, sempre fui um incondicional defensor do consumo, esta instituição tão caluniada por esquerdistas e igrejeiros. Há mais de dez anos, falei sobre uma véspera de Natal de meu passado. Quem não esteve numa tarde de um 24 de dezembro em Madri, não tem idéia do que seja consumo compulsivo. Na Puerta del Sol e arredores, os madrilenhos corriam como formigas tontas fugindo de um temporal, em busca do que comprar.

Entravam desesperados na Preciados e Corte Inglés e delas saíam, os braços estocando mercadorias como se esperassem o fim dos tempos. Em meio àquela turba ensandecida, uns gatos pingados católicos, envoltos em pelerines, condenavam o consumo e o capitalismo.

Ali estavam os inimigos da humanidade. Em sua insensatez, estavam pedindo desemprego e miséria para o último camponês nos confins da Espanha, que vendia seus queijos, chouriços ou vinho para a satisfação dos espanhóis. Consumo, por estúpido que seja, é sinônimo de emprego. A gula dos madrilenhos sustentava os criadores de suínos, os produtores de queijos, vinicultores, comerciantes e transportadores da Espanha toda, da mesma forma que a gula do parisiense sustenta criadores de ganso até mesmo na Hungria. Qualquer objeto besta de consumo, seja uma caneta mais sofisticada ou um brinquedinho bobo, significa horas de trabalho e salário na outra ponta do mercado. Isto, os igrejeiros que protestavam na Puerta del Sol contra os hábitos natalinos dos madrilenhos pareciam não entender.

Dona Dilma, pelo que sei, era marxista e até hoje dela não ouvi declaração alguma de que tenha renunciado à antiga filosofia. Só posso então concluir que ainda seja marxista. Como boa parte dos marxistas contemporâneos, terá tido formação católica. De onde se pode deduzir sua ojeriza ao consumo, compartilhada tanto por marxistas como católicos.

Terá se convertido ao bom e saudável capitalismo? É o que deduzo de sua recomendação para consumir. Longo é o caminho de um comunista até o entendimento.