¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, dezembro 18, 2011
 
FILHO FEIO NÃO TEM PAI


Caro Janer,

Cordiais saudações!

Hoje de manhã li as notícias sobre a morte de Vaclav Havel. Coincidentemente, eu havia comprado ontem o livro 1989 - O ano que mudou o mundo, de Michael Meyer, publicado pela Zahar. Ainda ontem, eu estava buscando resenhas ou opiniões sobre o livro de Meyer, quando me deparei com isto:

Excelente registro histórico do jornalista norte-americano Michael Meyer sobre os acontecimentos que mudaram o mundo em 1989. “1989 – O ano que mudou o mundo” relata os bastidores dos acontecimentos que nossa geração assitiu pela televisão, e talvez não tenha tido, na época, sua total dimensão. Na Polônia, Meyer acompanhou o renascimento do sindicato Solidariedade, cujo líder, Lech Walesa, viria a ser presidente. Na Hungria, o primeiro “furo” na cortina de ferro. Em Praga, Tchecoslováquia, ele esteve com Vaclav Havel, também futuro presidente daquele país quando aconteceu a Revolução de Veludo. Assistiu, ainda, a execução do ditador da Romênia Nicolae Ceausesco. Mas o momento culminante foi a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, que Meyer assistiu do lado leste da fronteira, e se juntou aos alemães que dançavam no alto do Muro da Vergonha.

Os acontecimentos de 1989 deixaram profundas marcas na esquerda de todo o mundo. Muitos lamentaram a “morte do socialismo”, mas outros tantos, como eu, viram naqueles acontecimentos a rebelião de um povo cansado da opressão e da miséria, em um sistema que nada tinha em comum com a idéia generosa do socialismo de Marx, Lênin e Trótsky. Em busca de liberdades democráticas e do fim da penúria econômica, esses povos acreditaram que o capitalismo era o caminho, pois do socialismo só conheceram uma grotesca imitação. O livro de Michael Meyer nos conduz às entranhas desse processo, fornecendo elementos para que cada um chegue às suas próprias conclusões. A mais evidente, contrariando os profetas do capitalismo, é que a história não acabou.


A Luciana Genro, elogiando o livro de Meyer, condenando o regime dos países do leste da Europa antes de 1989, e ao mesmo tempo louvando aquilo que ela chamou de "a idéia generosa do socialismo de Marx, Lênin e Trótsky". Digno de riso.

Pouco depois, li seus dois textos publicados recentemente no blog, sobre o Psol gaúcho querendo mudar nome de rua em Porto Alegre e sobre o Havel. Não resisti em te enviar este e-mail. O "duplipensar orwelliano" dessa gente é de uma regularidade espantosa. Funciona como um bom relógio. Lembrei-me da época em que a esquerda clamava contra o Rubens Ricupero por ter dito que "o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde", e fiquei pensando: nenhum esquerdista iria querer deixar de faturar com as imagens do povo tomando as ruas de Berlim e derrubando o muro em 1989, mas também não iria querer blasfemar contra seus santos "Marxengels" e "Lenitrótisque". Como diz o ditado popular, filho feio não tem pai.

Querem negar que o muro horroroso seja o filhote de Marx e Lênin (como eles mesmos são), e querem assumir a paternidade dos belos eventos de novembro de 1989. Eles fazem questão de esquecer que dentre as imagens mais exibidas na televisão durante aquele período estavam as demolições e destruições de estátuas de Lênin...

Um grande abraço!

Humberto Quaglio