¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

sábado, janeiro 14, 2012
 
DEIXE COMO ESTÁ PARA
VER COMO É QUE FICA



A piadinha é antiga. Consta que, certo dia, a Prefeitura de São Paulo decidiu chamar um especialista britânico em trânsito, para solucionar o da cidade. O homem veio, estudou o problema e convocou a imprensa para dar seu veredito. Os jornalistas se reuniram num dos prédios mais altos da cidade, de onde poderiam observar o caos todo. O especialista foi sucinto:

- Só há uma solução: deixem tudo como está.

Me ocorre esta anedota ao observar os esforços inúteis da Polícia Militar nos dez primeiros dias de operação na cracolândia. Segundo o Estadão, o comando da corporação decidiu mudar a estratégia de ação na região. Como resultado, mais de 200 consumidores voltaram no fim da tarde de ontem a se aglomerar na Rua Helvétia, a 50 metros do local que concentrava usuários antes do começo da operação. Dezenas fumavam crack ao ar livre. E tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes.

O comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, disse que, ao contrário do que vinha ocorrendo nos primeiros dias de operação, ontem a ordem era não intervir nos aglomerados, mesmo quando estivessem bloqueando a rua. Segundo ele, como as ruas da cracolândia são estreitas e de pouco movimento, não há necessidade de intervenção urgente. "Ali é diferente das Marginais, por exemplo, onde a polícia não pode deixar de atuar se fecharem o trânsito."

O que me lembra outra piada do genial filme de Robert Altman, MASH. O comandante de um hospital militar americano na Coréia viaja por alguns dias e o hospital vira um caos. Em sua volta, um oficial se apressa em desculpar-se.

- Era inevitável? – pergunta o comandante.
- Era.
- Bom, então tudo bem.

Se não havia necessidade de intervenção, por que intervir? Enfim, há uma mudança notável na cracolândia de dezembro passado e a deste janeiro. Se em dezembro os craqueiros fumavam sem quem os vigiasse, agora fumam sob o olhar atento de quase trezentos policiais. De braços cruzados.

- A tolerância da PM com os aglomerados acabou desinibindo o consumo – continua a reportagem – . Com dezenas de pessoas consumindo crack, sem o apoio do Policiamento de Choque e sem autorização para dar tiros de borracha e usar bombas de efeito moral, não havia policial que se arriscasse a entrar no meio dos dependentes à noite para fazer cessar o consumo. "Sabe como eu me senti quando vim trabalhar? Algemada", afirmou uma policial ao Estado, reclamando dos limites impostos pelo comando.

Ou seja, as autoridades jogaram a toalha. Se a polícia não pode prender quem fuma crack, pode-se fumar na frente da polícia. O governo está agindo como formigas tontas. Leio hoje, nos jornais, que a posse de um grama de crack (o que daria para três pedras) será considerado tráfico. Mas, como adverte um advogado, é preciso que o portador manifeste a intenção de vendê-las. Digamos que um policial pergunte a um craqueiro se ele pretende vender seu grama. Claro que ele dirá que não. Logo, não pode ser preso.

Em meio a isso, malucos da Defensoria Pública estão distribuindo cartilhas na cracolândia com os direitos dos craqueiros. Entre eles, o de ir e vir... e deitar. Há alguns anos, um desses vagabundos deitou-se transversalmente na rua de meu prédio, impedindo a passagem de qualquer transeunte. Dei-lhe um chute nas costelas, gesto que até hoje não me perdoa uma amiga que é assistente social. Ele levantou-se indignado:

- A constituição me garante o direito de ir e vir.

Eu estava tratando com um conhecedor da lei magna. Conhecedor mas não muito.

- O de ir e vir – respondi – tudo bem. Mas não o de deitar. Vai andando.

É espantoso, mas há grupos de direitos humanos defendendo a permanência daquele lixo humano na cracolândia. Está programada para hoje, às quatro da tarde, na rua Helvétia esquina com a Dino Bueno – a uns quinze minutos a pé aqui de casa – um churrasco em defesa da “gente diferenciada”, novo eufemismo para drogados. Entendo que seja financiado pelo tráfico. Pois só a traficantes interessa a manutenção da cracolândia.

Como a imprensa não pode ficar repetindo um sambinha de uma nota só, mais algumas semanas e não se falará mais no assunto. Os traficantes continuarão traficando e os drogados continuarão se drogando, sob o terno olhar da polícia.

Só há uma solução: deixar tudo como está.