¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, fevereiro 25, 2012
 
MÓRMONS ROUBAM
ALMAS DE JUDEUS



O batismo é um rito de passagem adotada por diversas igrejas cristãs. Na Igreja Católica, o batismo é o sacramento através do qual o Sacrifício Pascal de Jesus Cristo se aplica às almas, tornando-as membros da Igreja e abrindo o caminho da salvação eterna.

Há uns sete ou oito anos, alertei meus leitores para uma notícia de vital importância para o gênero humano. Em dezembro de 2005, os teólogos do Vaticano se preparavam para recomendar ao papa Bento XVI o fim da idéia de limbo, o lugar para o qual vão, segundo as crenças católicas, as almas das crianças que morreram sem serem batizadas. Conforme a proposta, essas crianças iriam direto ao paraíso graças à "infinita misericórdia de Deus".

Segundo a doutrina do pecado original - comentei então - todo ser humano nasce com folha corrida. Sem batismo, nada de paraíso. Santo Agostinho considerava que os bebês não batizados iam direto ao inferno, embora tenha ressalvado que seu sofrimento seria de alguma forma mitigado. O Concílio de Cartago, do ano 418, negou a estes bebês a felicidade eterna. A Comissão Teológica Internacional (CTI) - colegiado composto de uma trintena de teólogos católicos - recomendava então abolir a noção de limbo de todo o ensino do catecismo católico. Já em outubro de 2004, Sua Santidade o papa João Paulo II considerava o tema de máxima importância e pedira à CTI que elaborasse "uma maneira mais coerente e ilustrada" de descrever, dentro da ortodoxia católica, o destino dos bebês mortos em inocência.

Mas o problema não é assim tão simples. Para os teólogos, existe um duplo limbo. Primeiro, existe o limbus patrum, para onde vão os justos, como Abraão e Moisés, que viveram antes do Cristo. Segundo, o limbus parvulorum ou limbus infantium, onde ficam os bebês mortos sem batismo. Como carregam a culpa do pecado original mas não cometeram pecados pessoais, não podem ser premiados com o céu nem castigados com o inferno. Perguntei-me na ocasião que aconteceria se a CTI liberasse o paraíso para os ocupantes do limbus parvulorum. Que seria feito do destino dos milhões de almas do limbus patrum? Todos os justos que precederam Cristo passariam a constituir um considerável contingente de sem-paraíso?

Em abril de 2007, a CTI oficializou a nova doutrina. O limbo é mais uma dessas firulas de teólogos, que não existe nos textos primevos do cristianismo. Você pode revirar a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse e não vai encontrar uma só menção a limbo. Este lugar hipotético surge a partir da instituição do batismo. Depois que o João batizou o Cristo às margens do Jordão, este gesto se tornou sacramento obrigatório para todo cristão. Sem batismo, não há salvação. É pelo batismo que o ser humano é redimido do pecado original. E aqui já vai mais uma bíblica contradição: se Cristo nasceu sem o pecado original, por que precisaria de batismo?

O limbo nunca constituiu dogma, era apenas uma posição doutrinária do catolicismo. Ocorre que os papas, a cada vez que tentam espanar a poeira dos séculos do carro da Igreja, criam mais perguntas que respostas. A emenda saiu pior do que o soneto.

Se o batismo não é necessário para a salvação eterna, para que então batismo? Batismo hoje só serve para a Igreja Católica inflar o número de suas ovelhas. Foi batizado segundo o rito católico? Então é católico, não importa se um dia largou a fé ou trocou de religião. Assim sendo, a Igreja de Roma pode gabar-se de contar com aproximadamente 1,2 bilhão de membros, ou seja, mais de um sexto da população mundial e mais de metade de todos os cristãos do planeta.

Alguns portugueses, irritados com a inclusão no ror dos católicos só por terem sido batizados, propuseram o desbatismo. Cada cidadão enviava um requerimento à paróquia onde fora batizado e pedia para desbatizar-se. Se a moda lusa pega, as estatísticas da Santa Madre irão mermar de forma considerável.

Os mórmons fizeram melhor. Para inflar seu rebanho, estão batizando postumamente pessoas que nunca foram batizadas e que a rigor nada têm a ver com a doutrina mórmon. O escândalo surgiu recentemente, quando se descobriu que Anne Frank, a menina judia cujo diário e morte em um campo de concentração nazista fez dela um símbolo do Holocausto, foi batizada postumamente por um membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

A denúncia foi feita por Helen Radkey, um ex-membro da igreja. O ritual foi realizado em um templo mórmon na República Dominicana. Radkey é pesquisadora de Salt Lake City e investiga tais incidentes que violam um pacto de 2010 entre a Igreja Mórmon e os líderes judeus.

Segundo a pesquisadora, Anne Frank - que morreu no campo da morte em Bergen Belsen em 1945 aos 15 anos - foi batizada por procuração, no sábado passado. Mórmons enviaram diferentes versões de seu nome pelo menos uma dúzia de vezes para os rituais vicários e estes foram realizados pelo menos nove vezes, entre 1989 a 1999.

Segundo o The Huffington Post, batismos póstumos mórmons por procuração para as vítimas do Holocausto ou para judeus que não são descendentes diretos dos mórmons continuam acontecendo, apesar da igreja ter prometido parar de utilizar tais práticas.

As negociações entre os mórmons e os líderes judeus levou a um acordo em 1995 em que a igreja pararia com o batismo póstumo de todos os judeus, exceto no caso de ancestrais diretos dos mórmons. Radkey descobriu que alguns mórmons não aderiram ao acordo. Até o nome de Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz, foi recentemente submetido ao site de genealogia alimentado pelos mórmons e consta como “pronto” para o batismo.

É um método engenhoso de inflar estatísticas, que além de infladas, são ornadas com nomes famosos. Os católicos não chegaram a tanto. Incluem em sua fé crianças que da Igreja nada entendem e que jamais foram consultadas se a ela queriam ou não pertencer. É de menino que se torce o pepino.

Acontece que os judeus não gostaram de ver seus heróis seqüestrados para uma fé cristã.