¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, março 09, 2012
 
DEKASSEGUIS E TRANSNACIONAIS


De um leitor, recebo:


Prezado Janer:

O termo "Dekasseguis" foi inspirado na palavra 出稼ぎ ou na tradução livre, sair para juntar dinheiro. Se olharmos para o termo usado pelo ponto de vista dos jornalistas, seriam "Brasileiros que vão trabalhar no Japão".

Aí está o problema. Nem todos os brasileiros que vieram para o Japão sabiam "juntar dinheiro". No início da década de 90, a intenção era trabalhar no arquipélago pois os salários eram maiores. Mas os motivos, na maioria dos casos, não era a busca por algo e sim a escapatória. Pois enfrentávamos dificuldades no Brasil na época.

Sair do país com o objetivo de crescer na carreira, estudar ou enriquecer a cultura é um motivo nobre para a sociedade. Sair para trabalhar em serviços braçais não é. Porém, no mundo capitalista, o dinheiro tem muito "valor" para a sociedade e até o início do ano 2000, muitos "Dekasseguis" conseguiram "juntar dinheiro" e realizar sonhos materiais no Brasil. Compraram carros e casas.

Alguns empreenderam, sem se dedicar ao estudo da mesma forma que trabalharam na terra do sol nascente. E voltaram ao Japão para reiniciar suas vidas. Outros tantos, devido ao "jet lag espiritual" talvez, não perceberam que o Brasil continuou progredindo enquanto o mesmo vivia do outro lado do mundo. A internet ainda não era "moda" entre os "Transnacionais" daqui.

A partir de 2005, depois de um estudo do BID e uma parceria com o SEBRAE, foi criado o projeto "Dekassegui Empreendedor" para preencher a lacuna que existia na parte educacional das pessoas que "juntaram dinheiro" mas não sabiam como gerir seus negócios.

O problema aí é que esse estudo foi baseado no valor das remessas dos "dekasseguis" ao Brasil e uma pesquisa antiga sobre os motivos do envio. Números e vontades que podem se alterar a qualquer movimento no mercado mundial.

E foi o que começou a acontecer já no início do ano 2000, as variações cambiais e a infra-estrutura da comunidade brasileira no Japão, fizeram com que muitos dos que enviavam dinheiro para sustentar as famílias no Brasil, resolvessem trazê-los para o arquipélago. O que poucos perceberam, pois pesquisadores não são pagos para viver a vida dos pesquisados.

Essa infra-estrutura em partes, foi uma demanda iniciada pelos próprios "transnacionais" que pagavam caro pela "Saudade" do Brasil nos anos 90. Assim, surgiram as "Quitandas" de produtos alimentícios e também importadores de roupas e alimentos. Como a carga horária diária era desgastante, os jovens procuravam diversão nos finais de semana, o que fez surgir baladas somente para brasileiros. E depois dos encontros, a formação de casais.

Como a comunidade de japoneses no Brasil, sempre foi muito rígida em relação aos relacionamentos dos filhos. A "oportunidade" de ser livre no Japão, fez com que muitos desses casais não tivesse mais o "freio" dos pais no Brasil.
Com isso, vieram os filhos.

Devido ao tão falado "Ijime" ou "Bullyng" escolar na sociedade japonesa, surgiram escolas brasileiras para educar os filhos dos "Transnacionais" e a partir desta geração, os psicólogos estão tendo problemas para encontrar soluções.

Se uma pessoa solteira vai para um outro país "juntar dinheiro" e voltar, o ideal é não ter filhos, pois não há como conseguir educar uma criança (incluindo subsídios governamentais) e sustentar um lar "familiar".

Se uma pessoa que enviava dinheiro para sustentar a família no Brasil resolve trazer todos ao Japão, ela não é mais um "Dekassegui", pode se tornar um imigrante, caso decida "fincar raízes" no país. Porém, se ela ainda deseja voltar ao Brasil, essa pessoa é um "transnacional" e seus filhos também.

Pois bem, os "transnacionais" tem esse problema em questão. Não decidiram em qual país pretendem viver. O principal fator é o trabalho, pois desde o início, vieram com essa intenção. Porém, não deram o devido valor ao estudo e o tempo passou. 20 anos, 10 anos, 5 anos, não há como voltar atrás e o mundo mudou.

A "Síndrome do Regresso" talvez seja uma forma de encontrar a resposta para a pergunta de muitos que resolveram buscar o valor do dinheiro ou do trabalho braçal em outros países. Porém, o problema é muito maior. São cerca de 3 milhões de brasileiros no exterior, que experimentaram valores culturais e econômicos e que muitos não aceitam viver sem, na volta ao Brasil.

Se todos olhassem pelo mesmo prisma que Janer Cristaldo, que decidiu abrir mão desses valores para viver fazendo o que gosta, talvez muitos não precisassem de "Gigolôs" para definir o que eles próprios poderiam decidir para suas vidas.

Dino Slender