¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, março 27, 2012
 
ISLÃ ESTIMULA
A PRODUÇÃO
DE CENOURAS



Ao contrário do que possam pensar os infiéis, o Islã se liberaliza a passos céleres, pelo menos no que diz respeito aos direitos da mulher e ética sexual. Senão, vejamos. Há pouco mais de um quarto de século, o aiatolá Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini publicava sua tese teológica – um comentário ao Corão – intitulada Valayaté-Faghih, Kachfol-Astar e Towzihol-Masael. Traduzindo, pela ordem: O Reino do Erudito, A Chave dos Mistérios e A Explicação dos Problemas.

Excertos desta obra magna foram traduzidos na França, em 1979, quando o aiatolá pregava a derrubada do xá em Neauphle-le-Château, arredores de Paris, sob o título Principes politiques, philosophiques, sociaux et religieux par l’Ayatollah Khomeyni. A partir desta edição, foi feita uma tradução brasileira, pela Record, nos anos 80, sob o título genérico de O Livro Verde dos Princípios Políticos, Filosóficos, Sociais e Religiosos do Aiatolá Khomeini. Em 1989, eu comentava alguns dos princípios do grande líder muçulmano. Pinço cá e lá algumas reflexões do erudito autor:

O homem que ejaculou após ter tido relações com uma mulher que não é sua e que de novo ejaculou ao ter relações com a legítima esposa, não tem o direito de fazer orações se estiver suado; mas, se primeiro tiver tido relações com a sua mulher legítima e depois com uma mulher ilegítima, poderá fazer as suas orações mesmo se estiver suado.

Por ocasião do coito, se o pênis penetrar na vagina da mulher ou no ânus do homem completamente, ou até o anel da circuncisão, as duas pessoas ficarão impuras, mesmo sendo impúberes, e deverão fazer as suas abluções.

No caso de o homem — que Deus o guarde disso! — fornicar com animal e ejacular, a ablução será necessária.

Durante a menstruação da mulher, é preferível o homem evitar o coito, mesmo que não penetre completamente — ou seja, até o anel da circuncisão — e que não ejacule. É igualmente desaconselhável sodomizá-la.

Dividindo o número de dias da menstruação da mulher por três, o marido que mantiver relações durante os dois primeiros dias deverá pagar o equivalente a 18 nokhod (três gramas) de ouro aos pobres; se tiver relações sexuais durante o terceiro e quarto dias, o eqüivalente a 9 nokhod e, nos dois últimos dias, o eqüivalente a 4½ nokhod.

Mas atenção, leitor: sodomizar uma mulher menstruada não torna necessários esses pagamentos.

Se o homem tiver relações sexuais com a sua mulher durante três períodos menstruais, deverá pagar o eqüivalente em ouro a 31½ nokhod. Caso o preço se tiver alterado entre o momento do coito e o do pagamento, deverá ser tomado como base o preço vigente no dia do pagamento.

De duas maneiras a mulher poderá pertencer legalmente a um homem: pelo casamento contínuo e pelo casamento temporário. No primeiro, não é necessário precisar a duração do casamento. No segundo, deve-se indicar, por exemplo, se a duração será de uma hora, de um dia, de um mês, de um ano ou mais.

Enquanto o homem e a mulher não estiverem casados, não terão o direito de se olhar.

É proibido casar com a mãe, com a irmã ou com a sogra.

O homem que cometeu adultério com a sua tia não deve casar com as filhas dela, isto é, como suas primas-irmãs.

Se o homem que casou com uma prima-irmã cometer adultério com a mãe dela, o casamento não será anulado.

Se o homem sodomizar o filho, o irmão ou o pai de sua esposa após o casamento, este permanece válido.

O marido dever ter relações com a esposa pelo menos uma vez em cada quatro meses.

Se, por motivos médicos, um homem ou uma mulher forem obrigados a olhar as partes genitais de outrem, deverão fazê-lo indiretamente, através de um espelho, salvo em caso de força maior.

É aconselhável ter pressa em casar uma filha púbere. Um dos motivos de regozijo do homem está em que sua filha não tenha as primeiras regras na casa paterna, e sim na casa do marido.

A mulher que tiver nove anos completos ou que ainda não tiver chegado à menopausa deverá esperar três períodos de regras após o divórcio para poder voltar a casar.

Qualquer comércio de objetos de prazer, como os instrumentos musicais, por menores que sejam, é estritamente proibido.

É proibido olhar para uma mulher que não a sua, para um animal ou uma estátua de maneira sensual ou lúbrica.

De lá para cá – pouco mais de um quarto de século -, muitas águas rolaram sob o olhar complacente de Alá e o Islã modernizou-se. A agência France Presse nos trouxe hoje uma alvissareira notícia. Um célebre teólogo islamita marroquino autorizou as mulheres solteiras que se masturbem usando cenouras ou garrafas para evitar que mantenham relações sexuais proibidas fora do casamento.

"O uso de uma cenoura ou uma garrafa está autorizada pelos ulemás (teólogos) e a sharia (lei muçulmana)", confirmou à AFP Abdelbari Zemzemi, um teólogo cujas fatwas geralmente provocam polêmica na imprensa.

Segundo Zemzemi, ex-deputado e presidente de uma associação religiosa de Casablanca, esta autorização "diz respeito a casos excepcionais: mulheres solteiras que não querem manter relações sexuais sem se casar e têm dificuldade de controlar sua libido".

O teólogo considera normal que suas declarações possam causar polêmica "porque a sexualidade é um tema tabu no Marrocos". No entanto, a "sharia evoca esses temas íntimos com muita liberdade e o objetivo é evitar as relações sexuais fora do matrimônio".

Os ventos do liberalismo ocidental começam a soprar sobre o Magreb. A masturbação é proibida pelo Islã, mas tolerada por algumas das escolas. Segundo essas escolas, se uma pessoa está dominada pelo desejo, não consegue controlar seus instintos e teme cair em Zina (pecado), pode recorrer à masturbação para acalmar-se, seguindo o princípio de que "entre dois males, é melhor escolher o menor".

Zemzemi veio para quebrar tabus. Verdade que as sexshops ocidentais há muito suprem este mercado, oferecendo centenas de gadgets eróticos, bem mais eficazes, e não só ao público feminino. Sobre esta oferta, o bom ulemá silencia. Que mais não seja, são objetos produzidos pelo Grande Satã. Melhor cenouras, o que será certamente um grande incentivo à produção hortifrutigranjeira nos oueds marroquinos.

Mas ... cenouras e garrafas são permissíveis apenas a mulheres solteiras. As casadas, que se contentem com os serviços do amo e senhor.

Liberalismo, sim. Mas devagar.