¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, junho 27, 2012
 
REGIME DOS AIATOLÁS EMPURRA
HOMOSSEXUAIS À PROSTITUIÇÃO



Se há algo que até hoje não entendi, é essa obsessiva preocupação que têm certas culturas em determinar como as pessoas devem se comportar na cama. Se não há violência nem desrespeito ao parceiro, que cada um se divirta como melhor lhe apraz e boa sorte a todos.

A humanidade, de modo geral, não pensa assim. Desde o Antigo Testamento, a sexualidade tem sido preocupação dos legisladores, laicos ou religiosos. Salvo alguns interregnos históricos como as antigas Grécia e Roma, o livre exercício do sexo sempre tem trazido dores de cabeça aos cultores do prazer sem culpa.

Em maio passado, a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA) divulgou em Genebra um relatório sobre a situação da homossexualidade que revela que dez países permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo e 12 admitem a adoção de filhos por parte de casais. O homossexualismo é ilegal em 78 países e punido com pena de morte em cinco. Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Mauritânia e Sudão penalizam a homossexualidade com pena de morte, o que ocorre também em algumas regiões do norte da Nigéria e do sul da Somália.

O que não deixa de ser significativo. Se a prática é duramente penalizada em 78 países – em geral situados na Ásia, África e Oriente Médio - a tentação deve ser dominante em tais geografias. No Ocidente, salvo infames exceções, você deita com quem bem entender e o Estado nada tem a ver com isso. A Europa é a região onde os direitos dos homossexuais são mais atendidos – diz o relatório – enquanto que na América Latina o maior problema é a violência, pois a maioria de países não conta com legislação que proíba a homofobia. A palavrinha teria sido cunhada pelo psicoterapeuta George Weinberg, em 1965.

"Eu inventei a palavra homofobia para expressar que havia um medo de homossexuais. Havia um medo de homossexuais, que parecia estar associada ao medo de contaminação, o medo das coisas para as quais eles lutaram - lar e da família - a desvalorizar. Era um medo religioso e levou a grande brutalidade como o medo sempre faz".

O que só comprova que psicoterapeutas excelem em dizer bobagens. Para começar, não entendo como medo possa ser o móvel da repulsa a homossexuais. Quem tem medo destes senhores? Por outro lado, como tenho afirmado, a construção do neologismo está rotundamente errada. Se o homo grego significa mesmo, e fobia significa medo, homofobia quer dizer o mesmo medo, e não medo a homossexualismo como hoje se pretende. A tal de homofobia, no fundo, é pretexto de ativistas homossexuais para garantirem mais direitos do que os heteros.

Nas Américas, salvo alguma ilhota da América Central, homossexualismo há muito deixou de ser crime. Neste ano da graça, a punição com morte só ocorre no Irã e quatro países árabes. No país dos aiatolás, com uma curiosa peculiaridade. Homossexualismo é proibido e punido com morte. Mas trocar de sexo é inclusive incentivado pelo Estado. A medida foi avalizada pelo revolucionário aiatolá Khomeini.

Não ouse, no Irã contemporâneo, travestir-se. Macho é macho e fêmea é fêmea. Homem não pode usar chador, nem mulher pode usar vestes masculinas. Mas os sábios aiatolás lhe permitem trocar de sexo. Feita a cirurgia, o homem passa a usar chador. (Nada de vestir-se despudoradamente à ocidental, é claro). Mas atenção: não volte a usar vestes masculinas. Trate de renovar o guarda-roupa. Usar suas antigas roupas agora é crime.

Reportagem transmitida ontem no GNT mostrava este aparente paradoxo do regime dos aiatolás. Em verdade, a mudança de sexo não é exatamente uma permissão. E sim uma imposição. Se você, homem, gosta de homem, trate logo de cortar o que o identifica como homem e transforme-se em mulher. Só então poderá ter relações com homens.

Ou vice-versa. Se você é mulher e gosta de mulher, trate de fechar essa fenda obscena e construa um pênis, ainda que discreto. Antes da cirurgia, não ouse desfilar pelas ruas sua futura condição. A menos que porte consigo um documento provando que a cirurgia foi permitida.

Numa sociedade islâmica, tal opção terá suas conseqüências. Quem muda de sexo é expulso da família e obviamente da vida social e do mundo do trabalho. A solução, pelo menos para as recém-mulheres, é a prostituição.

Acontece que, por definição, não há prostituição no Irã. Se o Ocidente ainda debate a questão do sexo pago, coube ao islâmico Irã desatar o nó, apelando também à castidade. Há mais de dez anos, o jornal conservador Afarinesh noticiava que duas agências do governo haviam encontrado a fórmula para resolver o problema. Seriam criadas as chamadas "casas de castidade", onde o cidadão poderia exercitar sua luxúria em ambiente seguro e saudável. De acordo com o artigo, o plano envolvia o uso de forças de segurança, líderes religiosos e do judiciário para administrar as casas.

De acordo com os números oficiais da época, cerca de 300 mil profissionais trabalhavam nas ruas da capital, que tinha então 12 milhões de habitantes. Para o aiatolá Muhammad Moussavi Bojnourdi, as casas de castidade se justificam "pela urgência da situação em nossa sociedade. Se quisermos ser realistas e limparmos a cidade dessas mulheres, precisamos usar o caminho que o islã nos oferece".

Este caminho é o sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato. Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que derrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa.

A mudança de sexo, autorizada pelo Estado, pode parecer à primeira vista uma brecha para os homossexuais em uma teocracia islâmica. Na verdade é uma imposição tirânica dos aiatolás, que empurra todo homossexual à prostituição.

Isto é, ao sigheh. Pois no Irã não existe prostituição.