¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, julho 14, 2012
 
O EXPERIMENTO ROSENHAN


Ainda na esteira da discussão sobre terapias, me escreve James Dressler:

Homeopatia... Sabe que ela é baseada na "memória da água"?? Veja http://www.nova-acropole.pt/a_memoria-agua.html . Lá pelas tantas diz: "A memória está bastante provada na eficácia das mesmas (sic) Flores de Bach ou na Homeopatia, dissoluções na água que não tem uma só molécula de (sic) substância original diluída e que mantém suas propriedades terapêuticas".

Ou seja, os caras te vendem água pura como se fosse um remédio, só porque essa água entrou em contato com a substância, por exemplo, misturo paracetamol com a água, depois retiro quimicamente todo paracetamol, mas a água funciona como se ainda tivesse a mesma quantidade paracetamol original!! É muita picaretagem.

Imagina só, e pensar que água que eu bebi ainda pouco passou há algum tempo atrás pela privada de alguém...

Há um documentário no NatGeo ou Discovery, em que um sujeito desafia a associação que representa mundialmente a homeopatia: paga um milhão de dólares se um teste com um certo número de pessoas (não lembro bem, algo como 50), der mais que 50% de melhora com o tratamento homeopático, comparando-se a quem receberia um placebo. Resultado: não deu, a homeopatia perdeu, tudo gravado e auditado pelo canal de televisão. É a maior picaretagem da história e tem até curso de nível superior.


Em 1988, meu caro James, até mesmo a prestigiosa revista científica de língua inglesa, a Nature, caiu neste embuste. Jacques Benveniste, doutor em medicina e diretor de pesquisas do Inserm, na França, foi quem criou a exótica teoria da memória da água. Isto é, a água conservaria na memória as moléculas de base com as quais havia sido colocada anteriormente em contato. A quem interessava o crime? Aos homeopatas, que se regozijaram ao supor que finalmente tinham a prova indiscutível de que a homeopatia era ciência. A memória da água fez longa carreira, mobilizou prêmios Nobel e laboratórios na Europa toda. O sóbrio Le Monde caiu como um patinho recém-emplumado, concedendo várias páginas ao embuste.

Me escreve Fernando Massen:

Sobre os excessos das terapias, psicologias e quejandos, além do excelente O Livro Negro da Psicanálise, temos o famoso "experimento de Rosenhan". Quero dizer, famoso pra quem é do meio, porque descobri há poucos anos junto com o "experimento da prisão de Stanford", entre outras coisas da psicologia.

Desconhecia este experimento, Fernando. Não deve ser por acaso que raramente é citado. Suas conclusões são demolidoras. O leitor me remete a um verbete da Wikipedia. Vamos lá:

O Experimento Rosenhan foi um famoso experimento sobre a validade do diagnóstico psiquiátrico que realizou o psicólogo David Rosenhan em 1972. Os resultados foram publicados na revista Science com o título "On being sane in insane places" ("Sobre estar sadio em lugares insanos").

O estudo de Rosenhan teve duas partes. A primeira usou colaboradores sadios, chamados de "pseudopacientes", os quais simularam alucinações sonoras numa tentativa de obter a admissão em doze hospitais psiquiátricos de cinco estados dos Estados Unidos. A segunda parte consistiu em pedir às instituições psiquiátricas que tentassem detetar os "pseudopacientes". No primeiro caso, nenhum pseudopaciente foi detectado. No segundo, o hospital catalogou de impostores uma grande quantidade de pacientes reais. O estudo é considerado como uma importante crítica ao diagnóstico psiquiátrico.

Rosenhan foi ele mesmo um pseudopaciente. Além dele tinha três psicólogos, um pediatra, um psiquiatra, um pintor e uma dona de casa, sendo cinco homens e três mulheres. Nenhum deles tinha sido considerado com problemas mentais e possuíam um vida bem estabelecida. Os pseudopacientes tentaram internação em doze hospitais diferentes. O único sintoma que os eles podiam nomear era que ouviam vozes, não muito claras, falando "vazio", "oco" e "baque". Imediatamente depois da admissão os pseudopacientes cessaram de simular qualquer sintoma, mas alguns estavam um pouco nervosos durante um curto período porque nenhum deles achava que iria ser internado e pensavam que a sua simulação seria descoberta logo, ficando expostos como fraudadores.

Todos os pseudopacientes foram internados, onze com diagnóstico de esquizofrenia e um com psicose maníaco-depressiva, ficando internados entre 7 e 52 dias, com uma média de 19 dias. Apesar de que as equipes médicas não detectaram a simulação, 35 de 118 pacientes expressaram sua suspeita, alguns enfaticamente: "você não está louco, você é um jornalista ou um professor universitário que está checando o hospital".

Comportamentos normais, como tomar notas, foram catalogados de sintomas da doença. Depois de realizada a primeira fase, uma prestigiosa instituição desafiou Rosenhan a mandar pseudopacientes, assegurando que seriam descobertos. Rosenhan aceitou o desafio. A instituição catalogou 41 pacientes como impostores e 42 como suspeitos, sobre um total de 193 pacientes, mas Rosenhan falou que não tinha mandado nenhum.

Depois de tal experimento, fica difícil afirmar o caráter científico do diagnóstico psiquiátrico. Mês passado, contei como fui submetido a uma junta psiquiátrica, quando universitário. Não por estar doente, mas apenas por ter feito críticas à psicanálise ante um psicanalista que, por eu ter errado de fila na seleção para um emprego, me examinava. Devia submeter-me a uma junta psiquiátrica. Se não aceitava a psicanálise, certamente era um perigoso meliante.

Compareci ao exame. Não consigo esquecer da cena. Três doutores, sentados sempre em cadeiras solenes, me olhavam do alto. Eu, numa cadeirinha de réu. Precisava do emprego, respondi como eles gostavam. Fiquei sem saber se fui condenado ou não pelos Torquemadas. Antes da sentença, consegui emprego em jornal e nem me preocupei mais com o laudo.

Citei há pouco livro que considero um clássico como contestação de certas terapias, Psicanálise, a Mistificação do Século, de Edward R. Pinckney e Cathey Pinckney. Nele, os autores citam um estudo feito na Califórnia, nos anos 60, no qual o Dr. Phillip L. Rosman, de Santa Monica, California, re-examinou 78 mulheres e 37 homens, de nove a 71 anos de idade, os quais haviam sido diagnosticados como neuróticos, psiconeuróticos,histéricos e portadores de outros problemas mentais.

Novo e cuidadoso exame revelou que todos tinham doença física orgânica. Feito o diagnóstico correto, os resultados obtidos foram os seguintes: 45 curados, 36 melhorados, três inalterados e 31 óbitos; 25 mortes resultaram de câncer que passara despercebido! Perguntam-se os autores: se um exame cuidadoso e sem parti-pris houvesse sido feito naquelas 115 pessoas, no princípio da doença, quem sabe quantos daqueles pacientes de câncer poderiam ter sobrevivido?

Segundo os autores, “freqüentemente, as doenças da tireóide se manifestam apenas através de sintomas de comportamento. Manifestações neuróticas podem ser resultantes apenas de escassez ou excesso de tireoide. Neste caso, a ingestão diária de alguns comprimidos, de baixo preço, poderia restabelecer a normalidade quase que instantânea em alguém parece padecer de doença mental. Compare esse tipo de tratamento com anos e anos de dispendioso repouso em divã, na tentativa de descobrir alguma frustração sexual infantil.

“Mas as doenças da tireóide não são as únicas que provocam sintomas semelhantes aos da neurose. Os pacientes com câncer do pulmão manifestam, freqüentemente, marcantes reações de hostilidade. Doenças infecciosas, inflamações pélvicas e até mesmo arteriais, podem produzir aqueles mesmos sintomas atribuídos pelos psicanalistas a problemas sexuais não solucionados, iniciados na infância. O que contradiz a doutrina freudiana é o fato de que, uma vez feito o diagnóstico orgânico e realizado o tratamento, ocorre o desaparecimento imediato de toda manifestação neurótica”.

Ou seja, a vigarice é universal. E ingênuos é o que não falta para cair em tais potocas.