¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, agosto 16, 2012
 
Kashrut, a cozinha que divide:
PODE UM JUDEU COMPRAR PÃO
DE UM PADEIRO NÃO-JUDEU?



Continuando... No início de seu tratado teológico-culinário, o rabino Ezra Dayan considera que “a dieta alimentar judaica não só preserva o corpo e alma do judeu, mas também lhe serve como documento de identidade. A kashrut é algo que une o povo... Ao comer casher, estaremos unindo os integrantes do povo judeu e, quem sabe, aproximando a vinda do Mashiach”.

Que a kashrut apresse a vinda do Messias não é fácil de entender. Mas teria por função a elevação espiritual do ser humano: “aquele que ingere alimentos proibidos, está prejudicando a si mesmo e ao mundo, pois acaba causando estragos em sua alma e no mundo todo, sem levar em conta o fato de ter perdido a oportunidade de se elevar e estar mais próximo de sua meta. Nossos sábios comentam que aquele que ingere alimentos proibidos cria uma crosta em torno de seu coração, isolando-o das boas influências e de bons ensinamentos”.

Ou seja, leitor: eu, tu e todos nós, que não comemos casher, temos uma crosta no coração, prejudicamos a nós e ao mundo, causamos estragos em nossa alma e no mundo todo, estamos afastados das boas influências e de bons ensinamentos. Só pode elevar-se espiritualmente quem é judeu e segue as prescrições da kashrut. Mas se a kashrut une, por outro lado tem o sentido de separar. Continua o bom rabino:

- O pão é o alimento básico do ser humano e assim o foi durante o decorrer da história. Ele também provoca proximidade entre as pessoas, tanto em refeições conjuntas como em seu preparo e aquisição. Nossos sábios temeram que, ao comer o pão dos não-judeus,venhamos a nos juntar a eles e, fatalmente,venhamos a nos casar com suas filhas e, conseqüentemente, praticar idolatria. Portanto, proibiram o pão do não-judeu. Esta proibição foi decretada mesmo sobre o pão de um não-judeu que não tenha filhos ou que não pratica a idolatria.

- Há quem permita, aos ashkenazim, mesmo quando não há padeiro judeu, comprar pão de padeiro não-judeu, contanto que todos seus ingredientes sejam permitidos. Contudo, há quem proíba, se há padeiro judeu.

- Pão caseiro assado por um não-judeu é proibido, mesmo quando não há padeiro judeu, pois o motivo da proibição é evitar casamentos mistos e, se comer o pão dele, acabará comendo toda a refeição com ele, criando assim grande intimidade.

- Se o não-judeu acendeu o fogo e o judeu colocou o pão no forno, ou o judeu acendeu o fogo e o não-judeu colocou o pão no forno, ou se o não-judeu acendeu e colocou o pão e o judeu somente jogou um pedaço de madeira ao fogo, em todos os casos o pão é completamente permitido. Mesmo se tratando de um pão caseiro feito por um não-judeu.

- Se um forno foi usado duas vezes seguidas e, na primeira vez, um judeu jogou ao fogo uma madeira e, na segunda vez, não, se sobraram brasas do primeiro uso ao usá-lo pela segunda vez, este pão será permitido. Porém, se for usado uma terceira vez, já não será permitido, pois as brasas que restam no terceiro uso, já não são mais do primeiro fogo do qual o judeu participou ao usar a madeira. Isto vale para os sefaradim.

Quer dizer, não só não se pode comprar pão de não-judeu, como tampouco consumir pão feito por algum vizinho ou amigo não-judeu. Se é que judeu pode ter amigo não-judeu. No fundo, reserva de mercado. O mesmo acontece com o vinho.