¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, setembro 30, 2012
 
MENSAGEM DO RAMIRO


Prezado Janer:

Antes de qualquer coisa. Sou seu leitor: li sua tese de doutorado; seu Ponche Verde; praticamente, li tudo de seu site nos últimos 3 anos. Considero seu estilo envolvente, sempre aprendo muito. Admiro quando você escreve sobre seus pais, sua terra, seus amigos, seus restaurantes, seus vinhos, sua Espanha, sua França, sua Escandinávia, sua solidão, sua doença terrível, seu ateísmo e, principalmente, admiro o seu amor pela Baixinha, quando é o tempo das azaleias…

Veja (ops!), Janer, o preâmbulo acima poderia assemelhar-se com aqueles outros, mórbidos, que, como você bem sabe, aconteceram sob as botas e as metralhadoras assassinas de Stalin. Porém, certamente, não é o caso. Ainda bem que não há sangue entre nós, somente palavras!

Sobre o seu específico artigo à Folha, numa primeira abordagem, o considero como uma defesa aos direitos humanos. Sem dúvida, é um texto-denúncia. Não vou aqui repeti-lo. Em síntese: trata dos direitos da mulher; dos homossexuais; do direito à livre expressão; do direito de ir e vir; da impossibilidade de se conviver com qualquer tipo de ditadura seja teológica ou secular; enfim, trata de questões fundamentais à continuidade de nossa espécie. Logo é uma reflexão fundamental que devemos considerar, principalmente, nesse nosso tempo tão capenga de Ética e de Moral.

Contudo, qual a principal crítica à sua análise? Ela é estática; é, digamos, uma fotografia – onde não há tempo…; e, em minha opinião, falta a lição de Heráclito, que você bem conhece: o movimento! Ou, numa concepção marxiana, onde está ou ficou a nossa história? O seu texto lembrou-me da situação de jogar uma moeda ao alto e, a partir daí, analisar a face que ficou virada para o Sol. Mas e a outra face e, principalmente, qual é a espessura, a distância entre as faces?

O que está a ocorrer no mundo, na minha visão, é uma crise fundamental do capitalismo. Tal sistema, após a queda do muro de Berlim, qual aquele outro - que você bem conhece! - é inconsistente. A Europa que você ama não existe, e não existirá mais! Não por culpa dos mulçumanos ou dos negros, ou sei lá de quem que está a viver agora no antigo e moribundo continente. A questão essencial é procurar entender dentro do possível o porquê - e superar esse caos.

Creio que não seja aqui necessário lembrar em detalhes (poderia fazê-lo por meio de uma simplíssima consulta ao Google) das atrocidades históricas cometidas pela dita cultura branca cristã construtora da Europa. Só por tópicos: o massacre da cultura alemã na Namíbia; o massacre da cultura espanhola e portuguesa nas Américas; o massacre da cultura inglesa, francesa, holandesa e belga em praticamente todo o continente africano; o massacre da cultura italiana na Etiópia; a solução canibal do Império inglês e da República francesa sob todos os países árabes após a 1ª guerra mundial; a criação do estado de Israel e a questão palestina; o holocausto inglês, na era vitoriana, na Índia; nem vou mencionar as atrocidades da cultura protestante norte-americana em todo esse mundo durante e após o final da 2ª guerra mundial.

Sei, sei, sei, Janer, do holocausto causado pelos países ditos socialistas: a União Soviética de Stalin; a China de Mao; a Cuba de Fidel; o holocausto de Pol Pot, o Khmer Vermelho, no Cambodja; o Vietnam; a ridícula Coreia do Norte e etc., etc.

Percebe, Janer? Estamos a falar da podre MOEDA HUMANA. Não interessa mais falar de Jorge Amado que não teve a coragem de Sábato ou Camus. Não interessa se Chico Buarque fez uma viagem a Cuba. Se Lula apoiou aquele rato que governa o Irã ou aqueles ratos hegemônicos de Israel. O que interessa agora é qual VAI SER A CONTINUIDADE DA FAMÍLIA HUMANA.

Janer, estamos a viver uma atrocidade cruel: jovens (mulçumanos, cristãos, judeus, ateus…) não estão a conseguir trabalho!!!! Isso é maligno, no mais profundo sentido do maligno.

O que fazer (a velha questão de Lenin)? Aproveitar os princípios de gestão de empresas no capitalismo competitivo junto à análise genial de Marx sobre o injusto acúmulo de riqueza? Compreender com o coração o princípio de Deus, que deve estar no mínimo associado à inocência de nossos pequenos filhos? Não sei Janer. Não sei… O que não quero mais é ficar, como na minha infância, medindo com os dedos o tamanho do pau, para concluir: olha o meu é maior que o seu, pois sete dedos é maior que seis; ou em outras palavras: não interessa mais quem matou 100 milhões ou 80 milhões, ou 50 milhões… A questão fundamental é não matar, não banalizar o amor, a vida ou a morte.

Bem, finalizando, Janer: parabéns pelo artigo contraditório; parabéns por continuar corajosamente a escrever; parabéns, afinal, a todos nós!

Ramiro Conceição