¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, outubro 29, 2012
 
SOBRE O SENADOR MONOGLOTA


Do leitor Ramiro Conceição, recebo:

Janer,
seu texto sobre Darcy Ribeiro deixou-me “encafifado” (não sei se existe tal termo, o tenho desde a minha infância). Fiquei obviamente preocupado. Fui à rede, e encontrei diversas introduções biográficas sobre senador. O que me chamou a atenção foi que, em praticamente todas as fontes que consultei, realmente, quando da formação de Ribeiro, não aparece CLARAMENTE a escola de sua graduação superior.

O estranho é que, de fato, nunca aparecem o mentor e/ou mentores associados ao início da carreira científica do antropólogo em questão. Tal constatação é singular!; pois por ser pesquisador, facilmente comprovável via meu curriculum Lattes, sei que começamos sempre a engatinhar sob a orientação de alguém que mui admiramos no específico ramo de conhecimento de nosso interesse inicial: é uma lei da vida, magistralmente, relatada na Divina Comédia, quando Dante dá seus primeiros passos em direção ao Inferno sob a tutela de Virgílio. Infelizmente, no caso de Darcy Ribeiro, não consegui saber quem foi a sua referência fundamental em antropologia.

Em minhas pesquisas, descobri que Darcy foi funcionário de um órgão público que, a posteriori, veio a ser a FUNAI. Aí minhas preocupações aumentaram exponencialmente… Vieram-me à lembrança os Villas-Bôas. Não sou antropólogo, mas engenheiro metalurgista, contudo, em todas as aparições públicas dos sertanistas, sempre ficou evidente uma olência: um hálito oriundo das podres cáries da picaretagem.

Vou tentar ser o MAIS CLARO POSSÍVEL, na tentativa de evitar mal-entendidos. Os Villas-Bôas nunca se expressaram em público, pelo menos no que vi, escutei e analisei, tal qual antropólogos verdadeiros; mas, ao contrário, sempre como meros relatores de fatos pitorescos sobre uma cultura pitoresca que, embora IGNORANTES, tiveram acesso via as mamatas costumeiras - do Estado brasileiro.

Embora seja um autodidata em antropologia brasileira, porém, nunca li, salvo engano, algum texto antropológico, gerado sob uma rigorosa metodologia científica, da autoria dos referidos manos - que, certamente, se aposentaram sobre o colchão macio do erário. Aliás, Orlando, o falastrão, sempre me pareceu um bebedor típico de botequim e, por isso, foi incessantemente entrevistado, por exemplo, pela recém falecida Hebe Camargo, nas noites de domingo, na tela da antiga TV Record, na década de 60, quando eu era simplesmente um menino - sob uma terrível ditadura.

Não entrarei em detalhes - mas o “trabalho científico” dos ditos manos só foi possível sob as esporas do Estado Novo: uma “outra branda” que imperou, entre 1937 e 1945, e que prendeu em seus subterrâneos o nosso ÍNTEGRO Graciliano Ramos: pois seres íntegros são receptáculos da inocência, que poderemos chamar de sagrada (pela simples falta de uma melhor nomenclatura).

Precisamos, urgentemente, lavar a HISTÓRIA DO BRASIL!!

Digo tais coisas porque, já na maturidade, li A Vida Sexual dos Selvagens, de Malinowski; este, sim, um verdadeiro texto antropológico sobre a cultura vigente nas ilhas Trobiand, no final dos anos 20 do século próximo passado. Lá estão documentadas cientificamente todas as questões humanas relevantes: a infância, a adolescência, a maturidade, a sexualidade, a política, a religião, o poder, o amor, o trabalho e a morte. Quando Malinowski se apresenta “chocado” por algum costume observado, imediatamente aparece uma reflexão tentando, dentro do possível, manter uma neutralidade ética e moral, que está sempre associada ao olhar limitado do pesquisador. Tal postura, considero fundamental em qualquer trabalho científico.

Dito isso, e voltando ao seu post: é assustador se efetivamente, na história da República brasileira, houve um Reitor com formação secundária.

Janer, peço-lhe encarecidamente que você demonstre, principalmente por ser jornalista, as fontes oficiais que serviram como substrato às suas afirmações críticas sobre a formação acadêmica do senador Darcy Ribeiro.

Afinal, A História do Povo Brasileiro é uma das obras lidas e relidas em praticamente todos os cursos de Ciências Sociais. Creio que tal demonstração será um serviço inestimável à memória de nosso povo, pois não é mais possível, historicamente, ficarmos aquecendo a “sopa” com o famoso tempero brasileiro que “DIZ E NÃO DIZ”. Não é verdade, Janer?

Ramiro Conceição


Prova negativa não existe, Ramiro. Não há fonte alguma sobre a formação universitária do senador monoglota. Sabe-se apenas que cursou a tal de Escola de Sociologia e Política, de São Paulo, que jamais foi reconhecida pelo Ministério de Educação e Cultura. Enfim, neste país não ter formação universitária não depõe contra ninguém. O que não invalida o fato de que Darcy Ribeiro era um vigarista.

Quanto a lavar a história do Brasil, é bom não esfregar muito. Se esfregar, não sobra nada.