¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, dezembro 09, 2012
 
INSTITUTO MILLENIUM,
UMA FARSA LIBERAL (I)



Em sua página no Facebook, Rodrigo Constantino tece uma série de críticas à revista CartaCapital. Não deixei de dar meu pitaco:

- Totalmente de acordo no que diz respeito à CartaCapital. Mas o Instituto Millenium tampouco é flor que se cheire. E linkei o artigo ao final deste debate, que escrevi em 2010. Rodrigo Constantino - Janer Cristaldo, eu sou do conselho gestor do Instituto Millenium, e acho que aqui vc confunde censura com estratégia de ação. Não é censura um instituto selecionar quais temas quer evitar. É apenas para focar no que interessa mais. Entre os especialistas do instituto, não há nada perto de um consenso entre questões como aborto ou drogas. Foi somente uma decisão estratégica de evitar essas polêmicas, que poderiam desviar o foco. Não é uma farsa por conta disso.

Janer Cristaldo - Com todo apreço que tenho por teu trabalho, isso é censura, Constantino. E censura das mais safadas, daquelas que se camuflam com o rótulo de liberalismo. Como debater o mundo contemporâneo sem abordar temas como aborto, pena de morte, células-tronco embrionárias, eutanásia, suicídio, legalização das drogas, homossexualismo, adoção de crianças por casais homossexuais?

Vejo inclusive um viés catolicão nessa proibição. Todos esses temas constituem quase matéria de dogma para a Santa Madre.

Rodrigo Constantino - Janer, se vc cortar do SEU site comentários, isso é censura? Cuidado para não cair na armadilha dos esquerdistas...

Janer Cristaldo - Eu não corto nenhum comentário de meu site. Para começar, o blog não está aberto a comentários. Por uma razão simples: recebo muita baixaria e não tenho tempo para moderar. Os artigos que publico no Baguete podem ser discutidos, eles têm uma equipe para selecionar baixarias. Mas os temas censurados pelo Millenium não constituem baixaria. São temas vitais de nossa época. Millenium parece demonstrar temor ao contraditório, pois proíbe tanto a defesa como a condenação dos itens em questõ. A política do instituto em muito lembra a atitude inquisitorial do Olavo de Carvalho. O Dostoiévski campineiro agiu como um Torquemada tupiniquim. É responsável pela primeira fogueira digital no Brasil. Apagou todos os artigos - meus e teus, inclusive - com os quais não concordava.

Eduardo Ribeiro - Também não vejo mal algum em cortar esses temas, visto que o que é mais debatido no instituto Millenium são temas de extrema importância como economia e também agrega liberais e conservadores sem consenso a respeito desses temas, como disse o Constantino. Bem diferente da esquerda que possui CARTILHA para seguir, no IMIL não há, apenas uma recomendação de evitar temas que possam causar debates internos que possam enfraquecer a imagem que o instituto visa passar.

Janer Cristaldo - Não é recomendação, meu caro Eduardo. É proibição. E quando discutimos economia, estamos discutindo quais economias possibilitam a democracia e a liberdade de expressão. São temas inter-relacionados. É óbvio que temas como aborto, legalização das drogas ou células-tronco têm muito a ver com a agenda do Fórum Liberdade de Expressão: Cenários, Tendências e Práticas na América Latina

11h - Ameaças à Democracia no Brasil
14h - Restrições à Liberdade de Expressão
16h - Liberdade de Expressão e Estado Democrático de Direito
17h30 - Especial de Encerramento: Democracia e Liberdade de Expressão

Aluizio Couto - Janer Cristaldo, não penso que o que você e o Rodrigo estão discutindo seja um exemplo de censura. Penso que censura é a tentativa de impedir a publicação ou expressão de alguma coisa em todo e qualquer meio. O Millenium optou por não publicar artigos sobre os temas que você queria tratar, mas não te impede de modo algum de publicá-los em outros veículos.

Cristiano Rosa de Carvalho - Concordo plenamente. Como qualquer Think Thank, o IMil pode e deve exercer o direito de direcionar o desenvolvimento e abordagem de temas que considere mais relevantes. Censura é algo imposto, coercitivamente, que casse o direito de expressar a opinião.

Eduardo Ribeiro - Com certeza, posso proibir que certas pessoas entrem em minha casa, por exemplo. Um direito meu. Nada tem a ver com censura.

Janer Cristaldo - Não, Aluizio. Nem falei do que queria tratar e talvez nem tratasse desses assuntos. Apenas fiz uma ressalva: “Não aceito censura a nenhum artigo que pretender publicar no site Millenium. Se houver hipótese de censura, considere-me excluído do Instituto” . Quem especificou os temas que seriam proibidos foi a coordenadora de redes do Instituto. De novo, mais um argumento do astrólogo: que o MSM tinha uma linha editorial e que ele se julgava no direito de não publicar nada que ferisse essa linha editorial. (O gozado é que este argumento não vale para os jornais que dispensaram suas colaborações). Claro que posso publicar em outros veículos. E publico, para isto existe a Internet. Mas com sua atitude inquisitorial, o Millenium está negando o que constitui a melhor virtude da Internet, a liberdade de expressão. Em verdade, está agindo como os jornalões.

Aluizio Couto - Só gostaria de dizer uma coisa: não sou simpático ao fato de certos Think Thanks não publicarem certos artigos por causa de suas conclusões ou direção argumentativa. Por exemplo, vejo com receio um institudo que não publica artigos em defesa do aborto só pelo fato de a conclusão ser ''o aborto é moralmente permissível'' ou pelo fato de o artigo pretender defender o aborto. Acho que o único critério sensato que uma publicação que realmente valoriza a busca pela verdade deve ter é a qualidade do material.

Cristiano Rosa de Carvalho - Sem esquecer que o Imil é uma associação civil, privada, associe-se quem quiser, acompanhe quem quiser, leia quem quiser. Trata-se de uma opção, aliás, ínsita à liberdade de associação. Sou um dos especialistas do Instituto Millenium, já há vários anos, e nunca tive o meu direito de expressão ali cerceado, em qualquer grau que seja, quanto às entrevistas que concedi em seu nome, ou nos artigos e opiniões que publiquei também como seu especialista. Evidentemente, se em algum momento as minhas posições contrastarem com a linha do Imil, eles terão todo o direito de recusar externá-las em seus meios de divulgação, o que não é censura de forma alguma, mas apenas - novamente - liberdade de associação. Ninguém é obrigado a se associar com o que não concorda.

Janer Cristaldo - Exatamente, Cristiano. Censura é algo imposto, coercitivamente, que cassa o direito de expressar a opinião. Claro que ninguém é obrigado a se associar com o que não concorda. Não é isto que está em discussão. O que se discute é que um instituto que empunha a bandeira do liberalismo proíba a discussão de temas que são tabu para a Igreja Católica. No fundo, o Millenium parece ser a outra face do Midiasemmascara.

Lmendes Mendes - Ninguém, realmente, é obrigado a se associar a algo que não goste. Por exemplo: Não suporto CartaCapital. Li ,algumas vezes, e detestei.

Janer Cristaldo - Eu gosto de ler a CartaCapital, Mendes. Adoro ver as esquerdas desesperadas, tentando mostrar que preto é branco e branco é preto. Mino Carta é certamente o mais venal dos jornalistas brasileiros. Um de seus últimos artigos é um ataque ao PT. É bom auscultar estes sinais, constituem um prenúncio de naufrágio.

Lmendes Mendes - Janer, prefiro não ler. Fico irritada além da conta,rsrsrs...

Aluizio Couto - Janer, concordo que a atitude do instituto foi lamentável. Eu também me sentiria pouco a vontade se me dissessem que não posso tratar deste ou daquele assunto. E essa atitude do instituto parece não ser coerente com a pluralidade defendida pelos liberais. Deveria ser óbvio que se quisermos discutir qualquer coisa com real interesse cognitivo, não faz sentido excluir pontos de vista particulares.

Janer Cristaldo - Voilà, Aluizio!

Rhyan Fortuna - Janer, creio que o Rodrigo está defendendo que não existe censura privada. Censura seria apenas algo estritamente estatal.

O Imil é o mais social-democrata dos institutos liberais brasileiros. Se esquerda fica horrorizada com ele, imagina se ver os outros...

Rafael Guedes - O IMIL não é um veículo de comunicação. É um instituto e, como tal, tem direito de dirigir seus debates, obedecendo a normas internas de convivência e cooperação.

Janer Cristaldo - Teu argumento coincide com os do astrólogo, Rafael.

(continua)


A FARSA DO MILLENIUM *

O Instituto Millenium, que pretende ter como missão promover a democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade, promoveu hoje o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão. Participam do encontro vários medíocres como Fernando Gabeira, Arnaldo Jabor e Reinaldo Azevedo, e alguns intelectuais até que respeitáveis, como Demétrio Magnoli, Denis Rosenfield, William Waack e Otavio Frias Filho. Respeitáveis, mas ingênuos. Eis o cardápio dos debates:

9h30 - Painel de Abertura: Liberdade de Expressão: Cenários, Tendências e Práticas na América Latina

11h - Ameaças à Democracia no Brasil
14h - Restrições à Liberdade de Expressão
16h - Liberdade de Expressão e Estado Democrático de Direito
17h30 - Especial de Encerramento: Democracia e Liberdade de Expressão

A agenda é divina. Até parece que o instituto defende a democracia, o Estado democrático de Direito e a liberdade de expressão. No entanto... Em julho do ano passado, fui convidado a escrever no site do instituto. Por que não? Pediram meu currículo, enviei-o. Com uma ressalva: “Não aceito censura a nenhum artigo que pretender publicar no site Millenium. Se houver hipótese de censura, considere-me excluído do Instituto”. Resposta de Anita Lucchesi, coordenadora de redes do Instituto Millenium:

Caro Sr. Janer,

consultei a nossa editora, Cristina Camargo, para que pudesse lhe informar sobre nossa linha editorial, com mais certeza, pois é ela que cuida da publicação dos artigos. Envio-lhe, portanto, a linha editorial do Millenium:

Não publicamos artigos que contenham defesa ou condenação dos seguintes assuntos:

- Aborto
- Pena de morte
- Células-tronco embrionárias
- Eutanásia
- Suicídio
- Legalização das drogas
- Homossexualismo
- Adoção de crianças por casais homossexuais

Se o senhor não se importar com estas colocações, podemos prosseguir, no entanto, se o senhor se sentir "censurado", faça-me saber, podemos conversar sobre outras formas de participação, se for do seu interesse.


Claro que não prossegui. O instituto que pretende defender a liberdade de expressão começa excluindo qualquer hipótese de debate sobre os temas mais candentes da imprensa contemporânea. No mínimo, deve servir de plataforma a algum partido político, provavelmente o PSDB.

E depois enchem a boca falando em democracia e liberdade de expressão. O mais espantoso é que jornalistas, que sempre pretenderam defender a democracia e liberdade de expressão, participem desta farsa.

* 01/03/2010