¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, março 31, 2013
 
O FUTURO DE UMA PRINCESA


Em reportagem do correspondente xiita em Teerã, Samy Adghirni, leio na Folha de São Paulo de hoje entrevista com Eliezer Ranieri, brasileiro recrutado pelo Irã para estudar teologia muçulmana em Qom. Elezier casou e teve uma filha, Amirah (princesa), hoje com um ano e cinco meses. Quer garantir para ela uma educação muçulmana. O futuro teólogo, que rejeita a liberdade sexual no Brasil, considera que a brasileira tornou-se uma mulher objeto e diz que sua nova vida no Irã é maravilhosa.

Eliezer converteu-se ao Islã sunita em 2001, na mesquita de Santos. Sete meses atrás, tornou-se muçulmano xiita. Está há dois em Qom. Segundo ele, o problema do Islã no Brasil é a influência wahabita, corrente sunita ultrarradical surgida na Arábia Saudita que inspirou a Al Qaeda de Osama bin Laden. “Os wahabitas propagam uma visão incorreta do Islã, com ideias extremistas e opressão contra outras opções religiosas”.

Não por acaso, o jornalista xiita da Folha, em artigo anterior, já comentava o pacifismo dos xiitas: “Aproveito a sua atenção, caro leitor, para corrigir uma inverdade amplamente difundida no Brasil, pela qual xiitas seriam mais “radicais” que sunitas. Pura bobagem. Xiitas não são e nunca foram mais extremistas que os sunitas. Aliás, hoje o grupo mais violento entre facções islamitas é a Al Qaeda, sunita”.

Como se os xiitas fossem uma facção de carmelitas descalças. Ainda há pouco eu comentava que o correspondente nunca escreveu para seus leitores sobre os milhares de muçulmanos xiitas ensangüentados, que realizam o ritual de autoflagelação com facas, correntes e chicotes com pregos, em que homens e crianças cumprem nas ruas a tradição religiosa da Ashura, que marca o aniversário da morte do imã Hussein, neto do Profeta. Verdade que o Irã tem coibido tais atrocidades, mas não deixa de ser uma prática dos xiitas, esses crentes que “não são e nunca foram mais extremistas que os sunitas”. Imagine então o leitor do que são capazes os sunitas.

O xiismo está na origem do grupo terrorista Hezbollah. A organização se anunciou no Líbano, em outubro de 1983, explodindo um caminhão-bomba dirigido por um militante-suicida contra um quartel da Infantaria de Marinha dos EUA, perto do Aeroporto de Beirute, causando 241 mortes. Pouco tempo depois, um outro caminhão foi lançado contra um quartel das tropas francesas, também em Beirute, deixando 58 vítimas.

Na lista de principais atentados constam: quartel do Exército israelense na cidade de Tiro, no Líbano, em 4 de novembro de 1983 (60 mortos); embaixada da França e EUA no Kwait, em 12 de dezembro de 1983 (7 mortos); anexo da embaixada dos EUA em Beirute, em 21 de setembro de 1984 (23 mortos); embaixada dos EUA em Beirute, em 8 de abril de 1993 (63 mortos.

A organização foi criada por inocentes eclesiásticos xiitas, influenciados pelos ideais do aiatolá Khomeini, e seus membros foram formados e disciplinados por um grupo da Guarda Revolucionária Iraniana. Entre seus objetivos estão: eliminar toda organização de tendência colonialista, julgar os falangistas pelos crimes cometidos e criar um estado muçulmano no Líbano.

Eliezer ganhou uma bolsa de estudos religiosos na universidade Internacional de Qom. “O custo da vida é muito baixo. Minha bolsa mensal equivale a cerca de R$ 100, mas aqui tudo é tão barato”. Como se uma família de três pessoas pudesse subsistir com 50 dólares. Quer criar sua filha “num ambiente islâmico adequado”.

Ou seja, vai afastar uma criança deste país onde a mulher é dona de seu nariz livre para vestir-se, trabalhar como bem entende, para uma teocracia, onde mulheres não podem sair sozinhas às ruas, receberão cuspidas na cara se não usarem o xador. Só podem sair na companhia do marido ou de um parente, têm de obedecer ao marido e não têm chances de trabalhar. Vai furtar a liberdade de uma brasileira, para jogá-la na escravidão.

Para Elezier, no Brasil os valores morais estão invertidos. “Você ensina o certo, mas seu filho sai na rua e vê homem com homem, mulher com mulher, tudo permitido em nome da democracia e da liberdade”. O estudante de teologia sabe o que quer: um país onde os homossexuais são condenados à morte pela forca.

“No Brasil, a pessoa vai para uma balada, fica com alguém, acaba no motel e na semana seguinte faz a mesma coisa com outro parceiro. O sexo antes do casamento cai na banalidade e prejudica a sociedade. Por mais que as feministas digam que não, a mulher brasileira é, sim, um objeto. Poder andar na rua pelada é uma liberdade falsa”.

Como se fosse crime ir a motéis ou ter vários parceiros, e não direito de toda mulher. Como se as brasileiras andassem peladas nas ruas. Mulher não é objeto só em país onde não tem voz nem direitos. Elezier sabe o que quer: um país onde as adúlteras são condenadas à morte por lapidação.

“Além disso, nosso plano é voltar a morar no Brasil dentro de uns dez anos, quando eu estiver formado e apto a mostrar o Islã verdadeiro aos brasileiros”. Ou seja, o Estado iraniano está apostando na expansão no Brasil de uma facção religiosa que já gerou um grupo terrorista no Líbano, com o patrocínio do Irã.

Se está falando do islamismo iraniano, está falando do sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato.

Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que derrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa. O Irã revolucionário resolveu definitivamente essa chaga que aflige as sociedades ocidentais.

“Por mais que eu mostre o caminho certo e queira que ela tenha Deus no seu coraçãozinho, ela é quem vai decidir seu futuro”, diz Eliezer a propósito de sua filha.

Um radioso futuro espera por Amirah.