¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, abril 28, 2013
 
POR UMA PASTORAL
PARA AS NEOBICHAS



Surgiu em São Paulo uma nova igreja, a Igreja Cristã Contemporânea. Segundo os jornais, possui os mesmos rituais de todas as outras: batismos, casamentos, reuniões semanais. Mas se destaca por um motivo especial na pregação da palavra de Deus: ao contrário das igrejas evangélicas tradicionais, dá novas interpretações para trechos bíblicos que as outras costumam usar para condenar a homossexualidade, e prega que "os homossexuais também podem herdar o Reino dos Céus".

Homossexualismo está se tornando um fenômeno religioso. A nova igreja de novo nada tem. Em 2011, surgiu em meu bairro a igreja Cidade de Refúgio, criada por duas pastoras lésbicas evangélicas. Se você é daqueles que um dia sonhou com uma freirinha de hábito, agora há pecado melhor. Pecado multiplicado por três: pastoras, lésbicas e evangélicas.

Mais ainda, militantes. O casal de pastoras, Lanna Holder e Rosania Rocha, encara a Parada Gay como um movimento que deixou de lado o propósito de sua origem: o de lutar pelos direitos dos homossexuais.

“A história da Parada Gay é muito bonita, mas perdeu seu motivo original”, diz Lanna Holder. Para a pastora, há no movimento promiscuidade e uso excessivo de drogas. “A maior concepção dos homossexuais que estão fora da igreja é que, se Deus não me aceita, já estou no inferno e vou acabar com minha vida. Então ele cheira, se prostitui, se droga porque já se sente perdido. A gente quer mostrar o contrário, que eles têm algo maravilhoso para fazer da vida deles. Ser gay não é ser promíscuo.”

Até pode não ser promíscuo, mas o Livro o proíbe. Pelo menos no caso do homossexualismo masculino. No Levítico, lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”. Mas se homossexuais devem ser mortos, há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Os judeus sempre abominaram a penetração no vaso indevido, como diria Tomás de Aquino. Quanto às lésbicas, nada contra.

Está surgindo nestes dias um novo tipo de homossexual, as bichas místicas. Reivindicam o direito a usarem o corpo como bem entenderem, mantendo o espírito preso a superstições milenares. É uma enorme brecha a ser ocupado no lucrativo mercado das crendices. Só há um senão, a Bíblia. Mas isso pode ser contornado. Basta adulterar os textos sagrados. Outro dia, furungando em uma livraria, encontrei uma versão da Bíblia para gays. Pareceu-me algo tão ridículo que nem a olhei. Vou olhar com mais atenção da próxima vez. A pastoral das bichas místicas promete.

O pastor Marcos Gladstone, um dos fundadores da igreja, adotou o jargão usado pelo STF para rasgar a Constituição e sacramentar o casamento de homem com homem e mulher com mulher: homoafetividade. Segundo o pastor, o comprometimento no acolhimento de homoafetivos acontece pela percepção de que eles são marginalizados e condenados a uma vida de opressão e distanciamento dos planos e propósitos do Senhor pela própria comunidade cristã". Ora, leio e releio os textos sagrados, e não neles vejo contemplação nenhuma para os homossexuais.

A Igreja Cristã Contemporânea já possui seis templos no Rio de Janeiro e um em Minas Gerais. Com o de São Paulo são oito. "A meta é fundar mais dez igrejas na capital", disse o pastor Gladstone, que já foi seguidor da Igreja Universal do Reino de Deus por quatro anos, até assumir-se homossexual.

Nas palavras do pastor Gladstone, a Bíblia não condena a homossexualidade, e, sim, os rituais pagãos. Ele defende que algumas traduções do livro sagrado dos cristãos foram feitas de forma "maliciosa", e cita como exemplo Coríntios, 1:6. "Versões preconceituosas traduziram o trecho como 'efeminados e sodomitas não herdarão o Reino dos Céus'; porém, o escrito original do grego diz 'Depravados e pessoas de costumes infames não herdarão o Reino dos Céus'".

Seria interessante que o pastor citasse o original grego. Seja como for, como é que fica a prescrição do Levítico? Nela não há lugar para interpretações. Outra interpretação bíblica atacada pelo pastor é a de que a cidade de Sodoma teria sido destruída por causa dos homossexuais. Segundo o pastor, a Bíblia relata que os sodomitas queriam abusar sexualmente de anjos que passavam pela cidade; e que Ló chegou a oferecer suas filhas aos abusadores para que estes deixassem os anjos em paz. De acordo com o pastor, Ló jamais "ofereceria mulheres a um bando de homossexuais abusadores".

Ora, tal gesto é recorrente na Bíblia, nós o vemos novamente em Juízes. Em Gabaá, o levita de Efraim é hospedado por um ancião. Traz consigo sua concubina e seu servo. Os viajantes se reanimavam, eis que surgem alguns vagabundos da cidade, fazendo tumulto ao redor da casa e, batendo na porta com golpes seguidos, diziam ao velho, dono da casa: "Faze sair o homem que está contigo, para que o conheçamos". Então o dono da casa saiu e lhes disse: "Não, irmãos meus, não façais semelhante mal; já que este homem entrou em minha casa, não façais essa loucura. Aqui estão a minha filha virgem e a concubina do homem; fá-las-ei sair; humilhai-as a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos; porém a este homem não façais tal loucura".

Não quiseram ouvi-lo. Então o levita de Efraim tomou sua concubina e a levou para fora. Eles a conheceram e abusaram dela toda a noite até de manhã e, ao raiar da aurora, deixaram-na”. Ao voltar para casa, o levita pega um cutelo, corta sua concubina em doze pedaços e os remete a todo território de Israel.

Nestes mesmos dias em que a Igreja Cristã Contemporânea instala em São Paulo seu mais novo caça-níqueis, um padre católico decidiu se afastar da Santa Madre, por ter sido repreendido por seu bispo. Roberto Francisco Daniel, mais, conhecido como padre Beto, recebeu um prazo até amanhã, segunda-feira, do bispo diocesano, Dom Caetano Ferrari, para se retratar e confessar o erro cometido em declarações divulgadas na internet. Em um vídeo, o padre admitiu a possibilidade de existir amor entre pessoas do mesmo sexo.

Padre Beto, como Paulo na estrada de Damasco, está molhando o dedinho e erguendo-o aos céus, para ver de onde o vento sopra. O mercado das neobichas – os homoafetivos – é promissor. Segundo o UOL, padre Beto é formado em teologia pela universidade Ludwig-Maxilian de Munique, morou dez anos na Alemanha. Lá também fez doutorado em ética. Suas homílias progressistas lotam missas e criaram uma legião de fãs em Bauru.

Formado em teologia por uma universidade alemã e diz uma bobagem destas:
- Se refletir é um pecado, sempre fui e sempre serei um pecador. Quem disse que um dogma não pode ser discutido? Não consigo ser padre numa instituição que no momento não respeita a liberdade de expressão e reflexão".

Se acha que pode refletir e discutir um dogma, de que lhe valeram os anos de estudo na universidade alemã? Dogma, por definição, não pode ser discutido. Ou será que, ao ordenar-se sacerdote, padre Beto não sabia disto? Dogma é o fim de toda reflexão. Tanto que, quando um concílio se reunia para discutir um dogma, os defensores da versão derrotada davam no pé na hora. De um segundo para outro passavam a ser hereges e se quisessem escapar da fogueira tinham de exilar-se. Ontem, padre Beto anunciou seu "desligamento do exercício dos ministérios sacerdotais", em entrevista coletiva no salão de festas do prédio onde mora. Não seria de espantar que qualquer dia ressurja nos jornais, inaugurando um templo onde proporá uma pastoral para as neobichas.

Dízimo não tem sexo e a messe é farta.