¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, maio 24, 2013
 
EL PAÍS SE RENDE


Sempre tive um certo fascínio pela Europa, antes mesmo de conhecê-la. Para começar, era o distante, o diferente. E o que está longe sempre nos atrai. O que está perto, sempre se pode deixar para ver depois. Além do mais, havia cidades antigas, neve, montanhas e castelos, coisas que não existiam nas longitudes onde nasci. A Europa também estava nos contos de fada de minha infância.

No ginásio, li sobre os feitos de seus habitantes, desde os filósofos gregos até os cientistas mais contemporâneos. Graças à Maria Miranda, professora de francês, Paris sempre esteve presente em minha adolescência. Em minha primeira visita à Notre Dame ou Torre Eiffel, a sensação foi de déjà vu.

Cheguei ao continente pela primeira vez em 1971. Lisboa foi a primeira cidade européia em que pus os pés. Felizmente cheguei de navio, no Eugenio C, desarmado já há mais de duas décadas. Há uma diferença muito grande em chegar de avião e de barco ou trem em uma cidade. Na primeira hipótese, a cidade nos chega de chofre. De trem, ela vai chegando aos poucos, revelando sua arquitetura com aquele vagar inerente à sensualidade. De navio, ela chega muito - mas muito mesmo - lentamente.

Quando avistei aquela ponta do continente, acho que fui tomado de sensação semelhante a de Cabral ao chegar ao Brasil. O marujo tinha suas dúvidas quanto a existência ou não do Brasil e eu, apesar de todas as evidências, tinha algumas em relação à existência da Europa. Que existia, eu sabia. Mas não tinha muitas esperanças de que um dia chegaria lá. O Eugenio se aproximava da terra e eu não conseguia acreditar que dentro de algumas horas estaria pisando em solo europeu. Só acreditaria quando pusesse os pés no chão. Aos poucos, foi surgindo a ponte sobre o Tejo e o navio começou a balançar na desembocadura do rio.

Quando morei na Suécia, nem tinha noção do que era um imigrante. Fui conhecê-los lá. No total, vivi seis anos no continente, em Estocolmo, Paris e Madri. Nas duas primeiras cidades, eu passeava nas madrugadas com a tranquilidade de quem perambulava na noite em Dom Pedrito. Em Madri já foi um pouco diferente. Cheguei lá em 87 e já não era muito saudável flanar pela Gran Via tarde da noite. Lá, a Baixinha foi brutalmente assaltada por árabes, na centralíssima Calle de Etchegaray, a las cinco en punto de la tarde.

Há mais de dez anos, comentei manchete que me surpreendeu no Aftonbladet:

Stockholmarnas farligaste gator

Ou seja, as ruas mais perigosas de Estocolmo. Ora, quando vivi lá, em 71/72, não havia uma única rua perigosa na cidade. Eu vagava de ilha em ilha, nas noites brancas dos hiperbóreos, sem sensação alguma de perigo. Há alguns anos, o Aftonbladet listava mais de cem ruas perigosas. Que ocorrera de lá para cá? A invasão muçulmana. O mesmo diga-se de Paris. Eu morava no 13º e tive uma namorada no 16º. Nas madrugadas, voltava a pé para casa, cortando a cidade em diagonal, sem sensação alguma de perigo. Dava quase duas horas de passeio noite adentro. Hoje, não ousaria fazer o mesmo.

Paris, desde 2005, tem encontro marcado com o vandalismo a cada réveillon. São centenas de carros queimados, sob o olhar impotente da polícia. Em 2011, o alvo dos vândalos foi Londres. Nestes dias, foi a hora e vez de Estocolmo. Já faz quatro dias que bairros periféricos da cidade ardem em chamas, quando grupos de “jovens”, como dizem os jornais, saem às ruas para botar fogo em containers, carros, quebrar vitrines e enfrentar a polícia a pedradas. A Europa não é mais o que foi. Em breve será a vez de Viena, Madri, Roma, Bruxelas. Nos próximos anos, a epidemia fará parte da normalidade do continente. Quem viver, verá.

O que espanta em tudo isso – e há mais de década venho comentando o fato – é que a imprensa evita nominar os “jovens”. Os responsáveis pela violência são invariavelmente árabes e africanos de segunda, terceira e quarta gerações e, o que é mais significativo, árabes e africanos muçulmanos. Em nome do politicamente correto e do multiculturalismo, os jornais se proíbem de dar nome aos bois.

Enquanto no Brasil há juízes pretendendo censurar até mesmo a Internet, na Europa a imprensa toda se censura a si mesma. Ainda ontem comentei a contenção dos jornais e das autoridades suecas, que só falam em “jovens da periferia”. Agora foi a vez da Espanha. Se os espanhóis, há cinco séculos, não hesitaram um segundo em expulsar “los moros” da península, hoje autoridades e jornalistas não ousam sequer nominá-los. Comentando os episódios de Estocolmo, El País escreve:

Husby, donde empezó todo, es una zona de unos 12.000 habitantes en la que el 85% es inmigrante de primera o segunda generación. La chispa que encendió el fuego saltó allí, a 17 kilómetros al noroeste de Estocolmo, el pasado lunes 14. Un vecino de 69 años murió en su apartamento, abatido a tiros por la policía después de haber amenazado a los agentes con un machete. La tensión fue subiendo a lo largo de la semana hasta que el domingo pasado, entre 50 y 60 jóvenes comenzaron a quemar coches y cuando llegó la policía, se enfrentaron con los agentes lanzándoles piedras.

Imigrantes de primeira e segunda gerações. 50 ou 60 jovens. Que imigrantes? Que jovens? A Suécia, desde os anos 60, foi invadida por imigrantes de todos azimutes. Latinos, eslavos, chineses, hindus e, mais tarde, árabes e africanos. Alguém imagina um brasileiro, chileno, chinês ou indiano incendiando carros em Estocolmo? Não dá para imaginar. A violência é obra de negros e árabes muçulmanos. Desarraigados de sua cultura e sem conseguir integrar-se na cultura que os recebe, reagem com a única linguagem que dominam, a da violência.

Até não muito tempo, a Espanha era um baluarte contra o politicamente correto. Árabes sequer eram chamados de árabes, mas de moros. De repente, não mais que de repente, viraram “jovenes”. A Espanha, acompanhando os demais países europeus, acaba de render-se à invasão dos bárbaros.

Sempre considerei El País como um dos melhores jornais da Europa. É triste ver um jornal honesto e combativo tornar-se conivente com a hipocrisia e entregar-se à sanha de ressentidos. O continente que amei está morrendo. E seus últimos bastiões estão entregando seus donjons ao inimigo.