¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, maio 10, 2013
 
JUDEUS APEDREJAM MULHERES
QUE REZAM EM VOZ ALTA NO MURO



Leitor me pergunta se eu não sabia que o boato de que o pastor Marcos Gladstone queria a liberação (de que?) para tratar menstruação como se fosse doença era piada de um site humorístico. Claro que sabia. E aqui reside o problema. Por que esta idéia de menstruação soa ridícula quando atribuída ao pastor e é perfeitamente admissível quando endossada por uma comunidade culta e influente? Por que é piada se proferida por um evangélico e não é piada quando professada pelos judeus?

O tal de site humorístico atirou no que viu e acertou no que não viu. Pelo jeito, os autores da piada ignoravam que a suposta piada é quase dogma para os judeus ortodoxos. Tenho denunciado o grande medo dos árabes, a ginecofobia. O medo ancestral da mulher (e de seu vigor sexual?) é o nó górdio que divide Ocidente e Islã e, a meu ver, jamais será superado. Daqui a mil anos o mundo terá mudado. Mas os muçulmanos – que jamais largarão o Corão, ou não seriam muçulmanos – continuarão considerando a mulher abaixo do rabo do camelo. Existem almas ingênuas neste mundo que acham que para todo problema há uma solução. Onde está escrito isso?

Mas nem só árabes têm medo da mulher. A ginecofobia contamina as três religiões ditas abraâmicas, judaísmo, cristianismo e islamismo, cujo elo central é o monoteísmo. Deus nasce na areia, escreve Michel Onfray. Quando estive no Assekrem, na Argélia, cheguei a imaginar que deus, se existisse, deveria estar pairando em meio à nudez e ao silêncio daquelas paragens do Saara. Que o deserto inspira os místicos, sobre isto não há dúvidas, e não foram poucos os anacoretas que o buscaram.

Volto à ginecofobia. No judaísmo, ela fica mais que explicita no asco à mulher alimentado pelos judeus por ocasião da menstruação. O cristianismo não fica atrás e um dia viu em toda mulher uma bruxa em potencial. O procedimento para se saber se uma mulher era bruxa ou não era simples. A mulher era submetida às ordálias, também chamadas de “juízo de Deus”. Atada de mãos e pés, a mulher era jogada num rio. Se conseguia boiar, era óbvio que era bruxa: a água, elemento puro, recusava seu corpo, elemento impuro. E ia para a fogueira. Se morria afogada, maravilha. Não era bruxa. A água, elemento puro, aceitava seu corpo também puro.

Se o cristianismo se civilizou um pouco no contato com as luzes do Ocidente, o mesmo não aconteceu com os judeus, que escolheram como território um gueto no Oriente Médio cercado por inimigos. Verdade que não mais lapidam mulheres, antiga prescrição do Livro. Deixaram para os árabes este ônus. Mas continuam mantendo boa distância das pestilentas.

Isto ficou manifesto nesta semana, quando a ginecofobia judaica chegou a um ponto caricatural. A notícia é do El País. Ao rezar no Muro das Lamentações, as mulheres têm lugar reservado, separado do lugar onde rezam os machos judeus. Há duas semanas, uma sentença de Jerusalém decidiu que as judias podiam rezar no lugar mais sagrado do judaísmo, com as vestes e ritos que desejassem, livres do temor de estar transgredindo a lei. Melhor não rezassem.

As cadeiras voaram – diz El País -. As 400 Mulheres do Muro, como são conhecidas, receberam uma chuva de pedras, copos e garrafas. “Nazistas, voltem à Alemanha”, gritavam os machos. “Pior do que se aqui viessem rezar os muçulmanos”. Os agressores eram jovens ultraortodoxos, com suas eternas vestes de gorro e traje preto, irados com a simples presença das mulheres,cobertas com o talit, manto de oração, e usando as filacterias, caixas de couro com passagens das Torá, que são atadas na cabeça e nos braços. Quando as mulheres começaram a rezar, um estrondo ensurdecedor inundou a praça do Muro.

Foi uma maré de apitos e um rugir de bramidos de ira ultraortodoxa – diz o jornal -. Estes homens estão impedidos pela tradição de ouvir mulheres cantar. E decidiram silenciá-las. A polícia, que até o mês passado havia prendido mulheres por rezar desta forma, desta vez estava no Muro para protegê-las. Criou um perímetro de segurança com valas. Em vão. Dois policiais foram feridos e três pessoas foram presas.

- Como se sentiriam no Vaticano se ali chegassem muçulmanos para rezar? – perguntava Aaron Ess, de 20 anos. Era uma comparação infeliz, pois tanto ele como as mulheres pertencem ao mesmo credo. “De acordo, mas isto não é discriminação. Deixamos que elas façam o que quiserem, mas que o façam em suas casas, que não o façam em público, que não venham provocar”.

Judeus, muçulmanos e cristãos. Quando o assunto é mulher, se borram de medo. Só mudam as moscas.