¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, junho 24, 2013
 
NOSSA PERFEITA IDIOTA TARDIA


Há quem veja virtudes no pronunciamento muito sem graça de dona Dilma, em resposta às “jornadas de junho”, como já foram chamadas por intelectuais que adoram aliterações os protestos deste mês. Ora, para começar, a presidente embutiu uma grossa mentira em sua fala:

“Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação”. Conversa para meninos de passeata dormirem. Ora, de acordo com o Ministério do Esporte, o custo da Copa do Mundo subiu de 25,5 bilhões de reais em abril para 28 bilhões de reais atualmente. O valor total previsto de gasto é de 33 bilhões de reais até 2014. O desmentido vem de casa.

Não bastasse mentir – o que a bem da verdade já não fica mais feio em um presidente da República – dona Dilma, isto é, seu ghostwriter, aproveitou o azo para acenar com a importação dos famosos médicos cubanos, tão rejeitada pela classe médica brasileira e tão almejada pelo PT: “trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS”.

Não bastasse prever uma maõzinha aos camaradas cubanos, vítimas da indigência do socialismo castrista, em seu pronunciamento na TV disse ser a favor da transparência em seu governo, ao mesmo tempo em que proibia a divulgação dos gastos milionários das suas viagens ao exterior. Verdade que recuou deste propósito, com o gesto envergonhado de criança que suja as calças. Agora só serão secretos os gastos com segurança. Que servirão, obviamente, para esconder gastos com mordomias outras.

Pelo menos já não manifestava seu orgulho inicial – e demagógico - pelos jovens que depredavam cidades. Mas ainda via um saldo positivo nas depredações: "Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas".

Veja já via uma “revolução verdadeira” no repúdio ao PT durante as manifestações. “Em 1992, em gesto de desespero, o então presidente Fernando Collor convocou os brasileiros a sair às ruas de verde e amarelo. O povo saiu de preto e ele saiu do palácio do Planalto. (...) Lula mandou os sindicalistas se fingirem de povo e o resultado foi o mesmo. Cascudos nos intrusos e bandeiras queimadas e rasgadas. Os esquerdistas tiveram de ouvir um dos mais elegantes xingamentos da história mundial das manifestações: “Oportunistas, oportunistas”.

Ora, o máximo que parece ter ocorrido é uma queda nas preferências por dona Dilma nas próximas eleições, que eram consideradas favas contadas pela presidente e mesmo pela imprensa. Cá entre nós, se o PT não conseguir emplacar a Presidência ano que vem, não se trata de revolução, mas de simples alternância de poder. Se é que algo muda neste país, quando oposição assume governo.

Temerosa da reação das urnas, e ciente de que seu pronunciamento não só caiu no vazio mas foi também contraproducente, a presidente volta à carga. E propõe, entre outras medidas, uma medida radical, um pacto pela construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular.

Dona Dilma disse que vai propor um plebiscito para decidir pela convocação de uma Constituinte exclusiva para tratar da reforma política no país. Reforma política é a palavrinha mágica de todo demagogo, o “abre-te Sésamo” para a reeleição. Nada de novo sob o sol. No Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, publicado há 13 anos, seus autores já prevêem este recurso usual dos perfeitos idiotas latino-americanos:

“Aos cinquenta anos, depois de ter sido senador e talvez ministro, nosso perfeito idiota começará a pensar em suas opções como candidato presidencial. O economista poderia ser um magnífico ministro de Fazenda seu. Tem a seu lado, além disso, nobres constitucionalistas de seu mesmo signo, professores, tratadistas ilustres, perfeitamente convencidos de que para resolver os problemas do país (insegurança, pobreza, casso administrativo, violência ou narcotráfico) o que se necessita é uma profunda reforma constitucional. Ou uma nova Constituição que consagre por fim novos e nobres direitos: o direito à vida, à educação gratuita e obrigatória, à intimidade, à inocência, à velhice tranqüila, à felicidade eterna. Quatrocentos ou quinhentos artigos com um novo ordenamento jurídico e territorial, e o país ficará como novo. Nosso perfeito idiota é também um sonhador”.

Nossa perfeita idiota está se revelando tardiamente.