¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, julho 04, 2013
 
AS CONQUISTAS DAS RUAS



Está sendo divertido observar as conquistas da “Revolução” de Junho de 2013, como diria a Veja. Ninguém sabe o que os manifestantes queriam e cada um interpreta o caos a seu modo – escrevia eu há pouco -. Quem disse que as multidões queriam uma Constituinte ou um plebiscito? Só no bestunto da dona Dilma e de seus áulicos. A tentativa da presidente de responder às “ruas” foi tão desastrada que não durou sequer 24 horas. Como também foi desastrada sua emenda ao soneto, a idéia de plebiscito. Daqui a três meses não se fala mais no assunto.

Nem precisava ser profeta para tal afirmação. O governo continua em ritmo tatibitate. Se a presidente desistiu da Constituinte em menos de 24 horas, hoje o vice-presidente, no fim da manhã, disse ser impossível o plebiscito com efeitos para 2014. No início da tarde, disse que não disse o que disse, mas que o plebiscito deve valer para 2014.

Ora, com o prazo mínimo de 70 dias exigido pelo TSE, mais o tempo necessário ao Congresso para encaminhar o plebiscito, mais o tempo para esclarecer o eleitorado, é claro que o mesmo não será realizado antes de 5 de outubro, dead line para que seu resultado seja válido ano que vem. Quer dizer, reformas políticas só pra 2018. O ano ainda está tão longe. Quem sabe a gente deixa disso?

Se mudar de idéia em 24 horas constitui uma performance extraordinária para um presidente, mudar de idéia em duas ou três horas ou menos já é virtuosismo de vices. Versatilidade é virtude que não podemos negar aos detentores do poder. O Arnaldo Jabor é um retardado mental: precisa de 48 horas para desdizer o que disse.

Sem falar que ninguém pensou, durante a “revolução”, em financiamento público dos partidos nem no voto a cabresto, o voto em lista fechada. O PT é que embutiu a consulta no plebiscito, pois será o principal beneficiado com uma resposta positiva. As manifestações, que seriam contra o governo, acabarão beneficiando o PT. Brilhante, o desfecho da “revolução”. Como disse a Veja em capa, foram sete dias que mudaram o país.

Sempre vejo com desconfiança manifestações de multidões que não sabem o que querem e, particularmente, quando são majoritariamente de jovens. Porque jovem nunca sabe o que quer. A turba, cegamente, exigiu a derrubada da PEC 37, sem sequer saber quais são hoje as funções do Ministério Público e quais eram antes de 88. O Congresso, que antes se dispunha a aprová-la, acovardado, dobrou-se à voz das ruas, por 430 votos a 9. Pelo jeito, os senhores deputados tampouco sabiam o que estavam votando. Quem viver verá os efeitos deste oportunismo.

Entre os grandes descalabros do país, a corrupção está longe de ser o maior deles. O absurdo, que a meu ver clama aos céus justiça, é o calote dos precatórios. Sou um dos credores da União, herdei os precatórios de minha mulher. Que morreu sem ver a cor do que lhe era devido. Há milhares de pessoas morrendo, muitos com privações, porque a União e Estados não pagam o que legalmente devem. E os herdeiros pouca ou nenhuma esperança têm de serem pagos. Pelo que vejo, o mesmo acontecerá comigo. Mas a questão não é pessoal, não sou de defender causa própria. Além do mais, estou a salvo da indigência.

Que um ladrão roube, que um assassino mate, isto é normal, faz parte do ofício de ladrão ou assassino. Que um deputado seja corrupto, isto também faz parte da normalidade do mundo. Mas corrupção é tipificada como crime. Pode ser – e assim é – que o deputado ou senador corrupto não seja punido, isto também faz parte da realidade. A lei, com seus inesgotáveis recursos, deixa brechas para os amigos do Poder, e aí estão Maluf, Zé Dirceu, José Genoíno et caterva, livres como passarinhos. E o Genoíno inclusive imbuído de mandato popular no Congresso. Isto faz parte da vida.

O que é difícil de engolir é quando o Estado, reconhecendo que deve ao cidadão, decide que não paga e estamos conversados. Sua decisão é perfeitamente legal. Por lei, o Estado não pode ter bens confiscados para o pagamento de precatórios. É como se seu devedor dissesse: sim, eu te devo, mas perde toda e qualquer esperança porque não pretendo te pagar. Passe bem e obrigado. Saudações aos seus.

Não se trata sequer de impunidade, porque o Estado não está cometendo crime. Está exercendo o direito que lhe é legalmente conferido de ficar com o que é meu, seu, nosso. Isto, a meu ver, é muito mais grave que corrupção. Não vi, nas manifestações dos “jovens”, uma única menção a este calote juridicamente perfeito.

Outra injustiça clamorosa, sacramentada pela Suprema Corte do país, é a aprovação das cotas raciais. Neste país em que um dia uma pessoa valia por seu talento, hoje vale pela cor da pele. Não por acaso, as estatísticas estão atestando um número cada vez maior de negros e índios. Se ser negro ou índio tem vantagens, e para sê-lo basta declarar ser, é claro que neste país, onde a lei que melhor vige é a de Gerson, em breve ser branco será ser minoria. Teremos um empretecimento generalizado, gerado a fórceps.

Se as multidões não sabiam o que era PEC, sabem muito bem o que são cotas. É admitir: ele é negro, vale por dois brancos. Curioso observar que os “jovens”, sedentos de justiça, sequer tenham dedicado uma faixa ou cartaz a esta injustiça flagrante, que vai impregnar o país, em curto prazo, em um mar de ódio racial. Pois um pai branco jamais verá com bons olhos nem abrirá os braços a um outro cidadão que roubará de seu filho o lugar na universidade ou no trabalho só porque é negro.

Outra medida que o país clama, a redução da maioridade penal para acabar com a impunidade de assassinos entre 16 e 18 anos, sequer foi lembrada.

Enquanto isso, o PT e Renan Calheiros se tornaram os legítimos intérpretes da sede de justiça dos “jovens”.