¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, setembro 15, 2013
 
HOMOSSEXUALISMO:
DE DECADÊNCIA DA
BURGUESIA A BANDEIRA
DAS ESQUERDAS



Em uma aparente guinada à direita, o presidente russo, Vladimir Putin, vem emitindo sinais de apoio a bandeiras ultra-conservadoras, como o reforço da “família russa” - escreve hoje no Estadão o correspondente Andrei Netto -. Assim gays se transformaram, por exemplo, em um dos bodes expiatórios para o decréscimo populacional do país, o mais grave dos problemas demográficos russos.

Nada mais divertido que observar a dança dos conceitos com o correr dos anos. Quando homossexualismo era mal visto, a prática era comportamento da direita, tida então como imoral e pervertida. Diga-se de passagem, costumava ser atribuída aos nazistas.

Os regimes comunistas – que, salvo engano meu, eram de esquerda – tipificavam o homossexualismo como crime e mandavam seus adeptos para a cadeia. Na Rússia, para os gulags. Hoje, homossexualismo virou comportamento eticamente admissível. Logo, ser homossexual é ser de esquerda. Condenar homossexualismo é comportamento da direita conservadora.

A propósito, temos novidade na nomeclatura política. Putin agora é da direita.

Quando Mao Tsé-Tung tomou o poder na China, os homossexuais enfrentaram seu pior período de perseguição na história da China." Apesar de não haver nenhuma lei na República Popular comunista contra a homossexualidade, a polícia regularmente perseguia gays e lésbicas, que eram acusados de vandalismo ou de perturbar a ordem pública.

Na Rússia, a homossexualidade foi tolerada até 1706, quando foi instituída a fogueira para quem quer que fosse descoberto em uma relação homossexual. A prática foi descriminalizada pela Revolução de Outubro de 1917. De início, o Partido Comunista russo legalizou, sob o governo de Lenin, o aborto, o divórcio e a homossexualidade.

Foi nesses dias que surgiu talvez a primeira feminista da qual temos notícia, Alexandra Kollontai publicou, em 1918, A Nova Mulher e a Moral Sexual, obra na qual faz uma crítica “ao problema do amor patrocinado pela burguesia, bem como ao papel da mulher nesta sociedade de acumulação capitalista, como eco do marido, subjugada pela figura masculina, inclusive entre os próprios camaradas revolucionários, os quais, no campo da economia política ensejavam a transformação societária a partir da instauração da ditadura do proletariado, mas, ideologicamente excluíam a construção de uma sociedade que só se tornaria plena rompidas a desigualdade entre os sexos e as noções de propriedade do homem, tanto sobre o físico, como também sobre o “eu” da mulher.”

Foi certamente uma pioneira do que veio a se chamar, algumas décadas mais tarde, amor livre. Mas a festa durou pouco. Sob o governo do ex-seminarista Stalin, houve uma volta à moral czarista. A homossexualidade passou a ser considerada uma doença burguesa, um movimento de direita ou doença do Ocidente.

Segundo a Grande Enciclopédia Soviética, a homossexualidade era contra-revolucionária e uma "manifestação da decadência da burguesia".

Para Nikolai Krylenko, comissário do povo pela justiça, “o homossexualismo é o produto da decadência das classes exploradoras, que não têm nada para fazer. Em uma sociedade democrática fundada sobre princípios sadios, para tais pessoas não há lugar”.

Só com a era Yeltsin o homossexualismo deixou de ser crime. Em Cuba, o mesmo moralismo. Castro reprimiu duramente os homossexuais. Esta perseguição é narrada em Antes que Anochesca, de Reinaldo Arenas - publicado postumamente em 1991 - biografia que vai desde a infância, quando vivia no quarto dos criados de uma tia que era informadora da polícia, à descoberta da homossexualidade e à repressão sobre os homossexuais. Fugitivo da ilha numa balsa, e contaminado pela Aids, Arenas acabou por se exilar nos Estados Unidos, onde se suicidaria em 1990.

Na época, gays e lésbicas foram exonerados de cargos públicos, presos ou enviados a campos de trabalho forçado. A brisa dos séculos sopra tão rápido, que em 2010 Fidel Castro fazia um mea culpa no jornal mexicano, La Jornada:

- Aqueles foram momentos de muita injustiça. É verdade que nós fizemos isso. Estou tentando limitar minha responsabilidade por tudo isso porque, de fato, eu não carrego comigo esse tipo de preconceito.
Questionado sobre se o Partido Comunista ou alguma entidade específica esteve por trás da perseguição, Fidel respondeu:
- Não. Se alguém deve ser responsabilizado por isto, sou eu.

Hoje – leio em reportagem do Estadão - a mídia estatal cubana promove campanhas que denunciam o preconceito contra os homossexuais. Nos últimos anos, o sistema público de saúde cubano realizou operações de mudança de sexo. Mariela, sobrinha de Fidel e filha do atual presidente de Cuba, Raúl Castro, é hoje a principal defensora dos direitos dos homossexuais no país.

Como dizia Mino Carta, este impoluto porta-voz oficioso do PT, ser de esquerda é defender a liberdade e igualdade. Mas se o regime vira ditadura, mesmo tendo partido das melhores intenções, o regime é de extrema-direita. O que nos leva a uma dúvida crucial: seria Stalin de direita?

Seja como for, de prática da burguesia decadente, homossexualismo passou a ser um comportamento de esquerda. É aquilo que os franceses chamam de glissement idéologique. O conceito de esquerda sempre muda, à medida em que se corrompe. A direita é o repositório de todos os males do mundo, inclusive os das esquerdas. Pois quando as esquerdas cometem crimes – ou “erros”, como preferem seus líderes – é que não eram de esquerda, mas de direita.

Trocando em miúdos: ditadura ou opressão de esquerda não existem. Fidel Castro, pelo jeito, era de direita. Só aderiu às esquerdas em 2010, quando se penitenciou pela repressão ao homossexualismo.