¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, novembro 02, 2013
 
PAPA DE OLHO NO MERCADO


Quando arcebispo hemérito em Buenos Aires, como mancheteou a Globo News (assim mesmo, com H), Jorge Mario Bergoglio disse que, caso se chegasse a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, como finalmente aconteceu após a votação no Senado argentino, em 14 de julho de 2010, haveria direitos humanos violados.

"Está em jogo a sobrevivência da família: papai, mamãe e filhos. Está em jogo a vida de muitas crianças que serão discriminadas de antemão, privando-as do amadurecimento humano que Deus quis que acontecesse com um pai e uma mãe. Está em jogo uma rejeição direta contra a lei de Deus. Não é apenas um projeto legislativo, mas um movimento do Pai da Mentira, que visa confundir e enganar os filhos de Deus".

É Satanás quem está por trás desta lei, como também por trás do projeto que pretende descriminalizar o aborto (o aborto ilegal causa dezenas de mortes de mulheres por ano na Argentina), disse o cardeal. E repetiu que Deus desencadeia guerras para que "Suas" leis sejam impostas.

Se o cardeal Bergoglio achava que Satanás estava por trás da lei argentina, o mesmo parece não acontecer com o papa Francisco. Segundo a agência EFE, o Vaticano acaba de incluir perguntas sobre casamento homossexual e divórcio no questionário enviado às Conferências Episcopais para o documento preparatório da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo de Bispos que será realizada em outubro de 2014.

A bateria de perguntas tem um tópico dedicado exclusivamente aos casamentos homossexuais e à visão que os fiéis católicos têm deles em suas Dioceses e como a Igreja pode abordar estas uniões. “Qual é a atitude das Igrejas locais para o estado como promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo e com as pessoas que as protagonizam? Que atendimento pastoral se pode dar aos que decidiram viver sob este tipo de uniões?”, pergunta o documento.

É a Igreja sondando seus bispos para ver se pode ampliar o rebanho sem causar muitos estragos na instituição. A interdição ao homossexualismo não é dogma. Dogmas só tratam de questões de fé. Ocorre que faz parte da doutrina da Igreja, uma doutrina tão sólida quanto os dogmas. Não seria de espantar que, num esforço insólito de “aggiornamento” – e de ampliação de mercado – a Santa Madre desse o salto inesperado. A pergunta é: que querem os homossexuais com a Igreja? Casar de véu e grinalda?

Em caso de adoções por parte de casais do mesmo sexo, “o que pode ser feito pastoralmente para transmitir a fé?”, prossegue o questionário, que dedica também um tomo à educação das crianças nos chamados “casamentos irregulares” e a forma na qual seus pais se aproximam da Igreja. Também há espaço para “certas situações maritais difíceis”, com separados e divorciados, cuja comunhão será abordada no próximo Sínodo, depois que o papa Francisco mostrou abertura neste assunto, ao destacar a necessidade de estudá-lo e ressaltar a importância de melhorar a atenção espiritual para aqueles que voltaram a casar.

O mercado dos separados e divorciados talvez seja ainda maior que o dos homossexuais. A Bíblia que vá para a lata de lixo da História, desde que se continue crendo na ressurreição do Cristo, na virgindade de Maria e no deus três-em-um.

Ninguém põe perguntas na pauta de um sínodo se não pretende discuti-las. Está pintando na história da Igreja a figura de um papa populista.