¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 14, 2014
 
TORQUEMADA TROPICAL PROMOVEU
1ª FOGUEIRA DIGITAL NO BRASIL



Prezado Sr. Janer,

o tal jornalista Sebastião Nery não é aquele que defendia com unhas e dentes o então Presidente Collor ao qual vivia grudado?

Sócrates era filósofo? Em que faculdade se formou? Será que eu perdi o decreto que obriga os filósofos a terem diploma específico? Não vamos confundir "professor de filosofia" (comentador da obra alheia) com filósofo. Aliás, quem seria um genuíno filósofo brasileiro? (não vale citar o Millôr).

Tenho lido com certa frequência o que escreve o Olavo. Não encontrei até agora racismo algum em suas opiniões. Quanto à verdadeira filosofia é melhor seguir a máxima de um "grande filósofo brasileiro" formado, como ele mesmo dizia, na Universidade do Meyer.

É de Millôr Fernandes a frase: "Livre pensar é só pensar.

Grande abraço e seu blog é muito bom. Visito-o todos os dias.

Antonio Carlos Mascaro,

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Meu caro Mascaro:

hoje até o Lula é amiguinho do Collor. Sarney também, a quem Collor chamava de marajá. Por que condenar logo o Nery? Ele pelo menos nunca traiu o amigo.

De fato, Sócrates não se formou, como tampouco Platão ou Aristóteles, como também praticamente todos os filósofos de lá para cá. Mas está tramitando na Câmara um Projeto de Lei do deputado Giovani Cherini (PDT-RS), que regulamenta o exercício da profissão de filósofo em todo o País. Em 2012 estava tramitando em regime conclusivo e tinhas boas chances de ser aprovado pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público, e de Constituição e Justiça.

Se aprovado, iria imediatamente ao Senado – sem que o plenário se manifestasse. Se foi, não sei. Não ouvi falar mais sobre o assunto. Se passar, tanto Platão como Aristóteles, Kant como Descartes, não poderiam reivindicar a condição de filósofo neste país incrível. Filósofo, só com carteirinha de filósofo.

Mas o melhor vem agora. Lê-se no projeto: “De acordo com a proposta, órgãos públicos da administração direta e indireta ou entidades privadas, quando encarregados de projetos socioeconômicos em nível global, regional ou setorial, deverão manter filósofos legalmente habilitados em seu quadro de pessoal ou em regime de contrato para prestação de serviços”. O texto estabelece que só poderão exercer a profissão os bacharéis em Filosofia. Ou seja, se um Estado quer construir uma ponte, um aeroporto, uma ferrovia, uma estrada, que empregue antes de mais nada um filósofo legalmente habilitado para dar palpites sobre a obra.

Sempre entendi como filósofo o homem que desenvolve um sistema filosófico. Que traz alguma resposta às questões que as épocas impõem. Se não trouxer resposta alguma, é mero solipsista. Filósofos, para mim, são Platão, Aristóteles, Hume, Bergson, Descartes, Kant, Hegel. Nietzsche, eu o situo mais como poeta.

Marx nunca foi filósofo, como pretendem os marxistas. Era jornalista e economista. Hoje, filósofo é qualquer professorzinho de filosofia. A filosofia estilhaçou-se em mil pedaços e hoje duvido que alguém saiba definir, com precisão, em que consiste a filosofia. Pelo que vejo, filósofo é qualquer acadêmico que fala de maneira obscura sobre o homem e o mundo. O Brasil está cheio deles, todo santo dia surge nos jornais alguém se intitulando filósofo.

Em meus dias de Florianópolis, li uma ementa do curso de Filosofia da UFSC: História da Filosofia Catarinense. Sou um desinformado. Em nem sabia que existiam filósofos em Santa Catarina, quando na verdade já existia, pujante e fecunda, uma história da filosofia catarinense. A UFSC, se alguém não a conhece, é aquela universidade que conferiu um título de Dr. Honoris Causa a Fidel Ruz Castro. Dr. Fidel, portanto.

Mas Nery levanta outro lebre, está sim pertinente:

2. Em que Universidade Olavo estudou Filosofia, para ensinar filosofia em Universidade?

3. O Ministério da Educação permite ser professor sem diploma?

Isso tem nome: falsidade ideológica. E está no Código Penal – conclui o jornalista.

Ser filósofo não exige diploma. Ser professor de Filosofia são outros quinhentos.

Seja como for, a valiosa contribuição do “Dostoievski de Campinas” de nada valeu para impedir o descredenciamento do curso. Aiatolavo segue percurso semelhante ao de outro vigarista, Darcy Ribeiro, que foi reitor da UnB sem ter curso superior reconhecido pelo MEC. Mas parece ter-se desviado de sua vocação inicial. Leio na Wikipedia, em verbete que não foi contestado:

“Colaborou no primeiro curso de extensão universitária em astrologia na PUC de São Paulo, para os formandos em psicologia em 1979. Aproximadamente na mesma época, realizava consultas astrológicas e lecionou na Escola Júpiter, escola de astrologia em São Paulo que chegou a receber 140 alunos”.

Pelo que se depreende do verbete, Aiatolavo garantia o leite das criancinhas fazendo mapa astral, no melhor estilo de Walter Mercado. Pelo que sei, teve quatro livros de astrologia publicados. Mas o grande feito do astrólogo não foi sua obra sobre a influência dos astros em nossas vidas. E sim a primeira fogueira digital no País.

Convidado para participar da equipe do MSM, aceitei o convite com entusiasmo. Sempre procurei desmascarar a imprensa nossa. Escrevi por alguns anos, quando um de meus artigos, dos mais inofensivos, foi censurado. Minha heresia, parece, foi escrever que Cristo nascera em Nazaré, não em Belém, questão que não constitui dogma e foi definitivamente demonstrada em La Vie de Jesus, por Renan. Respondi ao editor que não aceitava censura, ainda mais quando não recebia nada pelo que escrevia. Não fui expulso, como Aiatolavo andou propagando. Sai por decisão minha.

Meus artigos foram todos deletados, como também os dos demais excluídos do MSM, entre eles Rodrigo Constantino, Anselmo Heidrich e um advogado carioca, articulista lúcido, cujo nome me escapa. Qual um Torquemada tropical, Aiatolavo destruiu a memória do jornal que dirigia e falseou sua história. Deve ser reflexo de seus dias de comunista, quando incensava Stalin, que adorava modificar a história a seu talante.

Abraço de volta.