¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, maio 12, 2014
 
... Y YA NO PUEDO
A MI MANSIÓN VOLVER


“Janer, eu já te disse, outra vez – escreve uma boa amiga, Laís Legg - , que, quando falas dos teus pagos, eu
sempre me lembro do tango "Adiós, pampa mia" (para mim, uma das mais lindas músicas que eu conheço). Aliás, todas as músicas que falam sobre a terra natal me encantam, desde "La golondrina", "Green, green grass of home" e até "Querência amada".

Bingo, Laís. Naqueles dias nos campos do Ponche Verde e Upamaruty, a música mexicana e platina nos eram mais familiares que a brasileira. Ainda criança, eu já trauteava La golondrina e Pampa mía, que nos chegavam da Argentina. Parece que estou ouvindo agora o prefixo: ce-erre-ele-equis-ce-erre-ele-uno, rádio Belgrano, de Buenos Aires... para el mundo. Ouvíamos Luiz Gonzaga e Inesita Barroso. Mas Miguel Aceves Mejía e Carlos Gardel eram de longe os preferidos.

Mais tarde, descobri que essas canções – assim como Cielito Lindo – são universais, e por onde quer que você ande neste planetinha, seja Paris ou Madri, Moscou ou Estocolmo, sempre encontrará quem as entoe, e falo dos nacionais. Em meus dias de Suécia, me surpreendi ouvindo os Svenssons cantá-las... em espanhol. Entre latinos, quando se abatía a morriña, eram nosso refúgio espiritual. Lá naquelas latitudes gélidas, eu me sentia um pouco em meus pagos.

A donde irá
veloz y fatigada
la golondrina
que de aquí se va
por si en el viento
se hallará extraviada
buscando abrigo
y no lo encontrará.

Isto toca fundo em todo migrante. Busquei abrigo e não o encontrei. I come to Sweden to find hapiness, I go from Sweden and have nothing, li certa vez em um muro de Estocolmo. Eu ainda não sabia, mas esta foi a saga da andorinha que vos escreve.

Deje también
mi patria idolatrada
esa mansión
que me miró nacer
mi vida es hoy
errante y angustiada
y ya no puedo
a mi mansión volver.

Não que minha pátria fosse idolatrada. O Brasil é grande demais para ser pátria. Não dá pra carregar nas costas. Mas a infância sempre se leva junto. Logo que saí daqueles rincões, sabia que não havia como voltar. Verdade que voltei, mas só para chorar um pouco.

Em 77, quando ia para uma longa estada na França, voltei ao berço, para mostrá-lo à Baixinha. À medida que me aproximava da tapera, o coração se acelerava e o nó aquele começava a estrangular a garganta. Antes do rancho, passei pela cacimba que me matou a sede quando guri. Era inverno e a fonte regurgitava de água. Debrucei-me no chão e a sorvi como se sorvesse a vida, as lágrimas caindo sem pudor algum no bocal de pedras. Por mais que chorasse, não havia como voltar.
Embora sedentário na época, Pampa mía me tocava fundo, como se fosse um prenúncio dos dias a vir.

Adiós, pampa mía
Me voy, me voy a tierras extrañas.
Adios, caminos que he recorrido, rios, montes y quebradas.
Tapera donde he nacido.

Fui para as terras estranhas, onde a geada era grossa de mais de palmo e a indiada falava uma língua que não era língua, mas doença da garganta. Fui, vi e voltei.
Há dois anos,revisitei a tapera donde he nacido, desta vez para mostrar meus campos à minha filha. Curiosamente, não chorei. Mas não havia só uma tapera. Havia um taperal. Meu clã todo bateu na marca e mandou-se à la cria. E só podia ser assim. Ficar seria suicídio. Com o campo despovoado, o pastiçal reivindicou seus direitos ancestrais e dificultava o caminhar. A cacimba estava seca, era apenas um buraco com pedras por cima.

No hallé ni rastro del rancho, solo estaba la tapera – como dizia Fierro. A casa fora engolida pelo mato. Só restava ali perto o rancho do tio Ângelo, também abandonado. Era a casa senhorial, onde viviam meus avós, que de senhorial nada tinha. A casa era modesta, pero mucho se saco la viruta al piso, em bailes para despachar as machorras. Nada a ver com a acepção contemporânea. Machorra é a vaca que não deu cria.

Si no volvemos a vernos, tierra querida
Quiero que sepas que al irme dejo la vida
Adiós! Al dejarte, pampa mia,
Ojos y alma se me llenan con el verde de tu pasto
Y el temblor de las estrellas
Con el canto de los vientos y el sollozar de viguelas
Que me alegraron a veces y otras me hicieron llorar

Adiós, pampa mia
Me voy camino de la esperanza
Adiós, llanuras que he galopado, sendas, lomas y quebradas
Lugares donde he soñado

Panta rei, Laís. Hoje estou mais para Adiós, muchachos, que, tenho certeza, está também entre tuas diletas.

Adiós muchachos, compañeros de mi vida,
Barra querida de aquellos tiempos.
Me toca a mi hoy emprender la retirada,
Debo alejarme de mi buena muchachada.

Adios muchachos. ya me voy y me resigno...
Contra el destino nadie la talla...
Se terminaron para mi todas las farras,
Mi cuerpo enfermo no resiste más...

Adiós muchachos, compañeros de mi vida,
Barra querida de aquellos tiempos.
Me toca a mi hoy emprender la retirada,
Debo alejarme de mi buena muchachada.

Adiós muchachos, ya me voy y me resigno...
Contra el destino nadie la talla...
Se terminaron para mi todas las farras,
Mi cuerpo enfermo no resiste más...

Quer dizer, resiste ainda. Mas as farras terminaram. A andorinha extraviou-se pelo mundo e a pampa ficou lá longe, perdida no tempo e no espaço.

Para curtir...

Adiós, pampa mia:
http://www.letras.com.br/#!carlos-gardel/adios-pampa-mia

La golondrina:
http://www.letras.com.br/#!trio-los-panchos/la-golondrina

Adiós,muchachos:
http://letras.mus.br/carlos-gardel/178741/