¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, junho 25, 2014
 
A ILUMINAÇÃO ATRAVÉS
DE VÔMITOS E DIARRÉIA



Discutíamos sobre as passeatas pela liberação da maconha. Que para mim não passam de mania ridícula de bancar a defesa do que não precisa ser defendido, já que a canabis há muito está liberada. Desde 2006, os usuários seriam punidos com advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade (de 5 a 10 meses) ou medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Mas isso é o que menos se vê. O que se vê são fumódromos nas universidades, sob o olhar complacente dos reitores, e a droga sendo vendida até em botecos e padarias, pelo menos nas periferias.

Há quem ache que, liberada de vez a droga, seria liberado também o tráfico, o que contribuiria para a regulamentação do comércio da mesma. O que é uma solene bobagem, pois o tráfico há muito também é livre. Segundo a última legislação, quem produz ou comercializa drogas, é punido com 5 a 15 anos de reclusão e pagamento de multa de 500 a 1.500 reais. O que não passa de ficção. Pois o consumo continua correndo solto, isto é, o tráfico está distribuindo a mercadoria sem problema algum.

De vez em quando a polícia prende um grande traficante para mostrar serviço. Escreve-me o Raphael Piaia: “Dos cerca de 715 mil presos do país, aproximadamente 200 mil o foram por crimes relacionados ao tráfico de drogas, isto é, crimes que foram gerados única e exclusivamente por uma política burra para se lidar com entorpecentes”.

Pode ser. Foram presos. A que anos correspondem estas prisões? Continuam sendo presos? O fato é que se você quiser a erva, é só dar um pulo até a esquina. Isto tanto nas metrópoles como nas cidades interioranas. O consumidor acha o traficante na hora. Só a polícia parece não saber como encontrá-lo. Na Cracolândia, o consumo e o tráfico do crack é feito a céu aberto, com a proteção e estímulo da prefeitura de São Paulo. Ainda este ano, as drogas eram oferecidas na rua em altos brados nas imediações da Augusta. O pregão acabou não com a ação da polícia, mas com uma denúncia do Estadão. Ninguém foi preso.

Ou seja, os passeateiros profissionais fingem ignorar estes dados e continuam em sua luta para ganhar o que ganho já está. Mas não era disto que pretendia falar.

Droga é bom? Claro que é. Aliás, deve ser muito mais que bom, já que quem nela se vicia precisa de muita luta para libertar-se e mesmo assim o mais das vezes não consegue. Até aí, entende-se seu consumo. Mais difícil de entender é o consumo de uma droga que, além de graves danos à saúde, provoca vômitos e diarréia ao ser consumida. Falo da ayahuasca, liberada no Brasil para os rituais religiosos dos malucos do Santo Daime.

Em reportagem para o New York Times, Bob Morris escreve sobre uma reunião para a ingestão do alucinógeno, que seria usado por pessoas que buscam autoconhecimento. Leitura, que é o melhor método para alguém conhecer a si mesmo, nem pensar.

Numa noite recente, no Brooklyn, 12 pessoas na casa dos 20 e 30 anos foram a um espaço comunitário onde um xamã colombiano as esperava. Elas assinaram um termo de responsabilidade e receberam grandes recipientes de plástico para vômito. Em seguida, cada pessoa se levantou para receber uma xícara de líquido espesso e amarronzado, com sabor de ervas.

Era o chá de ayahuasca, infusão alucinógena amazônica que os participantes esperavam que lhes proporcionasse iluminações pessoais, por meio de alucinações óticas e auditivas.Depois de beber o chá, aguardaram no escuro, à luz de uma vela. O xamã tocou instrumentos tradicionais de cordas e sopros e entoou melodias rituais.

Uma participante se acomodou para a "viagem", que duraria a noite inteira e para a qual havia pago US$ 150. Seguindo instruções recebidas por e-mail, ela tinha passado vários dias sem álcool, carne vermelha, alimentos condimentados, queijo forte e televisão. Tinha se abstido de sexo e não estava tomando antidepressivos.


Segundo Rick Doblin, da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos, em Santa Cruz, Califórnia, e doutor em política pública pela Universidade Harvard, "a ayahuasca precisa ser usada com cuidado, mas promove uma boa conexão mente-corpo. Você tem uma sensação de iluminação interior no cérebro."

Riscos: quando é usada com antidepressivos, gera um excesso de serotonina no sistema nervoso central, podendo provocar confusão e tremores. E pode afetar a função cardiovascular de pessoas que já têm problemas cardíacos. Também há riscos de efeitos adversos entre pessoas com problemas psicológicos como bipolaridade ou esquizofrenia.

Mas pode operar milagres. O psiquiatra Eduardo Gastelumendi, de Lima, recorda o que ouviu de um paciente que tinha uma reação problemática e distante com seu pai. Sob o efeito do alucinógeno, o paciente teve uma visão em que o abraçava. Alguns dias depois, ele bateu na porta de seu pai, o abraçou, e eles se reconciliaram, entre lágrimas.

Quer dizer, você toma uma lavagem, tem diarréia e vomita e supera todos os diferendos com o pai. Ora, contem outra.

Dizia que entendo como alguém possa gostar de droga. Mas quando a droga dá prazer, e este é seu atrativo. Quanto a atingir o autoconhecimento através de vômitos e diarréia, isto supera meu entendimento. Com este método os místicos não contavam.

Com o perdão pela má palavra: se comer merda entrar na moda e for recomendada por acadêmicos, no dia seguinte merda será vendida a preço de caviar nos restaurantes. Ou alguém duvida disto?