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¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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Janer Cristaldo escreve no
Livros do Janer
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quarta-feira, junho 18, 2014
ALGUMAS COISAS A FAZER ANTES DO FIM DO MUNDO * - ler a meia centena de livros das últimas viagens, que ainda me esperam em minha cabeceira - organizar meus baús de cartas, herança daquela distante época em que se escrevia cartas. Se bem que... para quê? - rever uma bugra guarani, que namorei nos dias de Dom Pedrito e que me sussurrava ao ouvido: xemboraihú - rever uma gaúcha de Porto Alegre que um dia reencontrei no Kungsträdgården, transida de frio, em Estocolmo. E com ela fazer de novo tudo o que fiz naquele dia - ouvir czardas no Café Central, em Viena - ouvir violinos ciganos no Gundel,em Budapeste - tomar uma Leffe radieuse no Metropole, em Bruxelas uma jarra de cerveja, daquelas de litro, na Hofbräuhaus, em Munique - um cochinillo no Sobrino de Botín, em Madri, regado por um Marqués de Riscal - uma andouillette A.A.A.A.A. no Aux Charpentiers, em Paris, com um bom Cahors - um baba au rhum no Julien, em Paris - uma île flottante, no Bofinger, em Paris - rever aquela Carmen filmada pelo Francesco Rosi, com a Julia Migenes - rever Die Zauberflötte, com a orquestra do Ludwigsburger Festspiele, com Deon van der Walt e Ulrike Sonntag, como Tamino e Pamina - rever Don Giovanni, regida por Wilhelm Furtwängler, com Cesare Siepi no papel-título e Otto Edelman como Leporello - ouvir Chavela Vargas, Miguel Aceves Mejía, Jorge Negrete - subir Toledo a pé - comer um cordero lechal no Aurélio, em Toledo - descer Toledo a pé - beber uma manzanilla no Venencia, em Madri - degustar outro cochinillo naquela cave medieval do Café de Oriente, também em Madri - subir de novo Santorini em lombo de mula - descer Santorini em lombo de mula - revisitar os vulcões de Lanzarote - comer um churrasco assado nas lavas dos vulcões de Lanzarote - rever a árdega peoniana de Skopje, que alegrou meus dias em Paris - ver de novo um nascer de sol junto ao Tridente, no Assekrem, no Sahara argelino - ouvir tuaregues contando histórias em torno a uma fogueira no topo da montanha - beijar mais uma vez uma distante amiga numa meia-noite gélida em Paris, vendo além dos olhos dela a agulha da Notre Dame penetrando a lua em quarto crescente - rever também aquela sabra baixinha e linda que alegrou meus dias numa travessia do Atlântico - ver uma aurora boreal - rever o sol da meia-noite, tomando um vinho naquela noite que não é noite com a Primeira-Namorada, em Tromsø, Noruega - conhecer Svalbard - Atacama, que ainda não conheço - viajar ao México e empinar una copa junto a uma banda mariachi - cantar canções de corno com os mariachis - flanar pelas ruas desertas de Veneza, ouvindo o chiado dos sapatos no silêncio da noite - reencontrar a peoniana na Piazza San Marco, num domingo ensolarado, no Café Florian, com violinos ao fundo - rever o rancho onde nasci, lá na Linha, hoje tapera - debruçar-me sobre os pastos e beber água na cacimba frente ao rancho - abraçar minha professora de francês, dos dias de ginásio, em Dom Pedrito - uma janta de despedida com o pequeno círculo de amigos que até hoje me acompanham. Discutiríamos a Bíblia, teologia e o apocalipse. Sempre embalados pelo sangue das uvas - tomar mais um vinho com a Primeira-Namorada no topo do Edifício Itália, enquanto o sol se põe sobre esta São Paulo desvairada - quando soarem os primeiros sinais do Apocalipse, vou sentar-me nalgum boteco e ler o Qohélet - não é dado aos que partem voltarem. Se fosse, trocava tudo isto por um dia – um só dia, não mais que um só dia - com minha Baixinha adorada. E mergulharia feliz no buraco negro * 10/09/2008 |
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