¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, junho 14, 2014
 
CIENTISTA FAZ O MELHOR
GOL CONTRA DA COPA



Se meu time dileto, o da Croácia – não porque seja dileto, mas porque jogava contra o Brasil – me decepcionou na quinta-feira, pelo menos o dia me reservou uma alegria, o rotundo fracasso da demonstração do exoesqueleto, o “científico” achado deste senhor sedento de Nobel e publicidade, Miguel Nicolelis, que faria paraplégicos recuperarem movimentos a partir de impulsos elétricos comandados pelo cérebro. Em vez de apresentar seu trabalho em uma revista científica ou ante um colegiado de pares, preferiu os holofotes de nada menos que a Copa do Mundo.

"A idéia é que a gente possa demonstrar a habilidade de um paciente paraplégico, e com lesão medular severa, se levantar de uma cadeira de rodas usando a atividade cerebral para controlar o exoesqueleto, caminhar até o centro do campo recebendo todo o feedback tátil desses passos, e finalmente chutar a bola para inaugurar a Copa do Mundo" - disse o cientista.

O experimento foi um fracasso. E exposição também, para felicidade de Nicolelis. Viu-se por pouco mais de um segundo um hipotético chute de um paraplégico, um vago movimento de pé e a bola já rolando. Mais a cobaia, um deficiente encaixotado em um monstrengo de 70 quilos, e ainda apoiado por duas pessoas. "O paraplégico não ficou em pé sozinho, não andou, não chutou. Foi tudo muito diferente do que havíamos visto nos vídeos ou nas animações divulgadas pela equipe do Andar de Novo", diz Alberto Cliquet Júnior, professor titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp e de Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo (USP).

Será que chutou? Ou seu chute terá tido um empurrãozinho nada científico? Algo como chutar a bola contra as pernas do adversário para provocar escanteio? Seja como for, o que se sabe é que a grande descoberta custou ao Erário 33 milhões de reais. Isto é, quem pagou aquele chute, tão verdadeiro como uísque paraguaio, foi o meu, o teu, o nosso dinheirinho. Como também a Copa, diga-se de passagem. A semana foi de vitória – roubada – do Brasil e derrota dos brasileiros.

Nicolelis não escondeu a decepção pelo curto espaço de divulgação do seu exoesqueleto, durante a festa no Itaquerão, hoje - sabe-se lá por quê - chamado arena. E passou a bola para a Fifa:

- A Fifa deveria responder pela edição das imagens que impediu q a demonstração fosse transmitida na integra. Responsabilidade é toda dela - declarou Nicolelis no Twitter, satisfeito pela conclusão de todo o experimento - O que foi prometido, foi entregue. Depois de 17 meses de trabalho insano, a missão foi cumprida integralmente.

O escroque deveria dar graças aos deuses. Apresentar uma experiência científica a um público televisivo é o mesmo que fazer uma palestra sobre o arco-íris a uma platéia de cegos. Se sinais cerebrais se transformaram em impulsos elétricos, ninguém sabe, ninguém viu. O que escassamente se viu – se é que alguém viu, foi uma geringoça de 70 quilos, amparada por duas pessoas, na qual foi encaixado um deficiente físico.

Mobilidade nenhuma, autonomia zero. Nada foi entregue, e se entregue tivesse sido, teria sido entregue ao público errado. Algo semelhante ao que ocorre com outro grande enganador do mundo científico, sempre caitituado pela mídia.

Sem nada entender de Física, sempre vi Stephen Hawkings como uma espécie de vigarista talentoso. Explico. Há muito anos, o vi dando uma entrevista em sua cadeira cheia de recursos tecnológicos. Com o dedo, única parte do corpo que podia mover, o físico digitava as respostas e um processador transformava o texto em voz. Só havia um problema, para processar uma frase eram necessários longos minutos, muito mais que o tempo exigido para digitar.

Pergunta-se: por que a enfermeira que o acompanhava não lia o texto? Seria bem mais prático e mais rápido. Sua postura era de uma arrogância tecnológica semelhante a do perseguidor brasileiro do Nobel. Hawking foi o criador da teoria dos buracos negros, que durante décadas – e até agora – seduz físicos e astrônomos do mundo todo. O cientista britânico tornou pública sua teoria em 1974.

Nada entendo de física ou de buracos negros. Quem atesta a vigarice de Hawking é o próprio Hawking. Em entrevista recente para a revista científica Nature, acabou por retratar-se. "Não existem buracos negros" - disse.

A declaração tenta colocar um ponto final em uma discussão que se arrasta há décadas – diz a revista - e que, em última instância, está na base de um dos principais desafios da Física: unificar a Teoria da Relatividade (que explica o mundo macroscópico) com a Mecânica Quântica (que explica o mundo microscópico).

A idéia de buraco negro - um objeto cosmológico resultante do colapso de uma estrela, cuja massa gigantesca (que pode ser milhões de vezes maior que o Sol) é condensada em um único ponto, com tamanha força gravitacional que suga tudo o que está a sua volta, até mesmo a luz -- vem do início do século 20.

Pergunta que se impõe: como ficam os institutos e autoridades científicas que publicaram centenas de fotos de algo que não existe, os buracos negros? Silêncio sepulcral. Mas continuam surgindo todos os dias, na imprensa, simulações de buracos negros devorando estrelas.

Ora, por que um elefante branco de 33 milhões de reais, que exige amparo humano, quando existe um atalho bem mais singelo, prático e barato, a cadeira de rodas? Que custa de 500 reais a 15 mil reais, se for motorizada. E exige apenas um – ou nenhum - auxiliar? Ninguém precisa ser neurocientista para responder a esta pergunta.

A estrovenga do nobelizável tupiniquim me lembra conto que li quando jovem, sobre pesquisadores que queriam criar uma laranja e acabaram chegando à conclusão que plantar uma laranjeira era bem mais fácil e eficaz.

Assim como Marcelo, Nicolelis fez gol contra si mesmo e contra seu time de pesquisadores. Para benefício da ciência e de todo cientista honesto.