¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, julho 30, 2014
 
SININHO QUER ASILO


Estão surgindo na imprensa, como se fossem novidade, personagens obsoletos e anacrônicos, que se pretendem inovadores e contestadores do... Do que mesmo? Da ditadura não há de ser, porque ditadura não existe no país. Do governo muito menos, pois são recebidos e defendidos por altas autoridades do PT. Da oposição tampouco, afinal são opositores. No fundo, são os abomináveis rebeldes sem causa, que só são rebeldes porque julgam que ser rebelde tem charme.

Comentei há pouco os pronunciamentos do líder do MTST, Guilherme Boulos, que de sem-teto nada tem. Aventureiro oriundo da Fefelech - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – que se diz professor de psicanálise. Mas a meta de Boulos não é exatamente teto para os sem-teto. E sim a revolução socialista. Qual revolução socialista?

De artigo escrito na Folha de São Paulo, deduzimos que é aquela de 1917, que de início se chamou comunista, e que estertorou em 1989, com a queda do Muro. Escreve o jovem stalinista, a propósito da morte de Plínio Arruda Sampaio:

“Figurou nessa lista ao lado de gente como Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião (dirigente das Ligas Camponesas) e do próprio Jango, dentre outros grandes nomes que defenderam os interesses populares contra o golpe militar”.

Ou seja, o marxismo de Boulos não é apenas pré-64. É pré-35. Data do auge do stalinismo, quando o Paizinho dos Povos queria pôr uma pata na América Latina. Só mesmo no Brasil para um espécime como este ganhar coluna na grande imprensa.

Agora está tendo seus 15 minutos de fama uma gaúcha desocupada, Elisa Quadros – mais conhecida como Sininho - que se diz cineasta e produtora cultural e tem liderado as últimas badernas no Rio de Janeiro. A moça, munida de três galões de gasolina, queria nada menos que tocar fogo na Câmara de Vereadores. Presa com outros baderneiros - todos soltos por habeas corpus de um desembargador que não vê mal nenhum em pretender incendiar a Câmara - Sininho se diz perseguida política. Que país é este onde um cidadão não tem mais direito a incendiar uma câmara de vereadores?

Indagada pelo Estadão sobre a acusação de ser uma das líderes da FIP (Frente Independente Popular), Sininho afirmou: “Historicamente, o Estado, o poder, precisa criar um líder para matar e criminalizar o movimento. É isso o que estão fazendo. E vão fazer com todos. Vão destruir as identidades por meio da mídia, para depois justificar prisão, tortura e assassinato. Eles precisam disso. Mas o movimento é espontâneo, não aceita esse tipo de coisa. Não adianta tentar criar o que não existe”.

Ela classificou de “abobrinha e história surrealista” o conteúdo do processo de 15 volumes contra os 23 acusados. “Somos perseguidos políticos”, diz ela. “Vão fazer 5 mil, 20 mil páginas de abobrinhas, de história surrealista. Porque não existe, são 23 pessoas que mal se conhecem”, afirma. “Nunca falei com a maioria dessas pessoas. Que líder é esse que não fala com os seus? Não existe liderança.”

Na noite do 25 de julho passado, no salão do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Sininho e outros militantes de esquerda presos por envolvimento em manifestações violentas cantaram que são “comunistas até morrer”, além de trechos como “se eu mrro é no combate”, “comunista hei de morrer”, “sou comunista por toda a vida”, “a foice e o martelo avançando”, “tropa de choque da revolução”. A reunião teve adaptações de Bella Ciao, antiga canção de operários italianos, do fim do século XIX, adotada por comunistas e anarquistas do mundo todo.

Lavoro infame, per pochi soldi, o bella ciao bella ciao
Bella ciao ciao ciao, lavoro infame per pochi soldi
E la tua vita a consumar!
Ma verrà il giorno che tutte quante o bella ciao, bella ciao
Bella ciao ciao ciao, ma verrà il giorno che tutte quante
Lavoreremo in libertà!

As canções podem ser eternas. Mas o mundo muda e a revolucionária não viu. Ao final dos propósitos revolucionários, os bravos militantes erguem os punhos ao ar, repetindo o gesto dos heróis do PT, hoje na bancada da Papuda, ao serem presos. Para ver o circo, clique aqui: http://www.folhapolitica.org/2014/07/sininho-e-outros-ativistas-presos-fazem.html

No Estadão, lemos que Sininho tinha projetos vem definidos e bastante ambiciosos. Queria internacionalizar seu protesto, tentando um asilo político na Inglaterra. Segundo escutas telefônicas feitas com autorização da Justiça na Operação Firewall, numa conversa em 24 de junho com um outro ativista, identificado como Igor, Sininho demonstra medo de ser presa ou assassinada por policiais e fala da ideia de ir para a Inglaterra. Ela ressalta o impacto político positivo da iniciativa:

"Estou pensando em ir para a Inglaterra com o Mohamed para fazer as denúncias sobre o que está acontecendo aqui. Ia ser um processo de caos agora, eu me exilar depois da Copa e antes das eleições. Mas os advogados de São Paulo e daqui (de Porto Alegre) não estão concordando com isso".

Igor demonstra não concordar com a ideia, mas Sininho insiste:

"Exílio, querendo ou não, tem um poder político muito forte. Imagina a pessoa ser exilada agora, seria um poder político forte se eu fizesse isso, se tivesse uma boa campanha internacional. Porque essa perseguição que eu estou vivendo não vai acabar. ... O que quer esse inquérito? Ele vai até onde? Minha vida está virando um inferno, não estou conseguindo trabalhar... É ameaça em cima de ameaça: ameaça de milícia, ameaça de polícia... Se eu não for assassinada por um policial, eu vou ser presa, e aí?"

Trabalhar em quê? Pelo que se saiba, a libertária – como se define – não tem emprego algum. Ameaçada como? Fora sua prisão, não se tem notícia de ameaça alguma. A incendiária posa de vítima pela volúpia de ser vítima.

Sininho reivindica o sagrado direito de incendiar o prédio de vereadores, eleitos pelo voto popular, sem correr o risco de ser presa. Como prêmio a seu nobre propósito, quer as mordomias de um asilo bem remunerado no exterior. Comunista até morrer, mas asilo no paraíso comunista do Caribe... ni pensar. Sininho quer asilo em Londres, uma das metrópoles mais capitalistas do Ocidente. Com direito a coletivas para a imprensa internacional, nada menos.

Nisto segue a trilha dos exilados de 64 e 69. Em vez de buscar abrigo na comunista Moscou – que aliás os financiava – foram voando para as mais esplendorosas capitais européias, Londres, Paris, Estocolmo e Berlim.

Comunista hei de morrer. Mas não sem antes ter degustado as delícias do capitalismo. Sou comunista por toda vida, desde que usufruindo das mordomias deste podre mundo capitalista. A foice e o martelo avançando, mas por favor longe de mim.

Neste Brasil incrível, sempre na rabeira da História, ainda há viúvas do Kremlin, cultuando um defunto como se vivo estivesse.