¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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quinta-feira, outubro 21, 2004
PELO JEITO, NÃO MORREU Há 28 anos, publiquei uma coletânea de crônicas, escritas entre 1975 e 1976. Imaginei que o livrinho estivesse morto. Parece que não. Achei este artigo em um site de Portugal. Merci, Flamarion! outubro 14, 2004 A Força dos Mitos, de Janer Cristaldo Por Flamarion Daia Júnior Segundo o Aurélio, uma crônica é (no quarto verbete) um "texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou idéias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo, etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana". É por um lado uma definição muito, digamos, limitada (pois não se faz crônicas apenas em jornais, embora seja em um sentido estritamente técnico um texto jornalístico) e muito longa, sem uma qualidade das definições, que é a concisão. Poderíamos dar uma "corrigida" nessa definição, e considerar a crônica um "texto redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou idéias que interessem ao autor". Mas essa definição se torna muito abrangente: afinal, um diário de uma adolescente, uma carta de amor, um bilhete de um criminoso para seu advogado ou qualquer texto sem maiores preocupações técnicas sobre qualquer assunto que interesse ao autor seria uma crônica. Então, restringindo ainda mais um pouco, talvez fosse melhor chamar crônica a um "texto redigido de forma livre e pessoal, que tem como temas fatos ou idéias próprias do autor e dirigidas a um grande público". Pois o quer o cronista é muito certamente dizer ao público: "Eu existo, eu sinto, eu penso, e o que eu sou, sinto e penso pode ser interessante para vocês". O livro de crônicas A Força dos Mitos, de Janer Cristaldo, originalmente escritas para o jornal Correio do Povo*, é certamente interessante para nós, leitores. Não se pode dizer que os assuntos do livro estão mortos, pois muito do caos porque passava o mundo de quase trinta anos atrás (época das crônicas) ainda está nos perturba hoje com personagens diferentes em lugares um pouco, só, diferentes. Mas o mais interessante é que ainda diverte e por vezes encanta a argumentação inteligente e isenta, trabalhando com os fatos, como aparecem para o leitor de jornal, simplesmente. Aqui, deve se chamar à atenção para o material das crônicas de Cristaldo: não se trata dele, nem do que acontece diretamente a ele, mas principalmente dos principais assuntos do momento, como ele os vê, como ele os pensa e principalmente como ele os sente. Um filme de Bergman, claro, muito o faz pensar sobre a natureza humana, e quando ele escreve sobre o filme não o faz realmente sobre o filme, mas sobre o que ele, Cristaldo, sentiu ou pensou ao ver o filme - sento essa, essencialmente, a diferença entre uma resenha sobre uma obra e uma crônica inspirada pela obra em questão, e que faz a crônica ir além da obra. Fossem as crônicas de Janer Cristaldo apenas as reações de Janer Cristaldo face ao seu mundo (um mundo que envolve suas lembranças pessoais, seus amigos, os livros que leu e os filmes que viu), elas ainda assim interessariam ao leitor, pois o mundo em que ele viveu é interessante e muito dele faz parte do nosso, do dia a dia de um brasileiro de classe média urbana. Há mais, porém: são as reações, antes de tudo, de uma pessoa inteligente, com muito bom humor, e espírito. Espírito tem Janer Cristaldo quando associa as crises internacionais a uma suposta corrente como as que recebemos pelo correio (hoje em dia pelo e-mail), ou quando compara o machismo brasileiro as taras de Jack, o Estripador (Janer Cristaldo foi um dos lutaram contra a absurda tese de legitima defesa da honra para justificar o assassinato de esposas adulteras). Espírito que aparece quando ele pensa no que leva um homem a procurar um motel caro para uma "transa" que acaba mal, ou quando ele se lembra de Swift ao ler o noticiário internacional em sua Porto Alegre. Não mudou muito a natureza humana em trinta anos ("Infelizmente", diria Cristaldo). A Porto Alegre daquele tempo tem muito das grandes cidades brasileiras de hoje. E o mundo de então era muito parecido com o de hoje, com alguma diferença nos nomes talvez. Ainda vemos tipos grotescos se tornarem ditadores de países exóticos, celebridades por um dia envolvidas em fofocas meio pueris, meio bizarras, a malta se divertindo com a dor de seu próximo. Ainda nos divertimos conversando amenidades, e ainda paramos de conversar quando passa uma moça bonita. Tivemos a benção, pelo menos essa, neste nosso Brasil tão carente de uma intelligentsia realmente séria e de grandes obras nas artes, de termos muitos bons cronistas, homens que traduziram de forma leve e bem humorada a inadaptação tipicamente brasileira ao mundo moderno. Um deles, ainda desconhecido da maioria do público, é Janer Cristaldo. * As crônicas foram publicadas, em verdade, na Folha da Manhã. |
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