¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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Janer Cristaldo escreve no Ebooks Brasil Arquivos outubro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 junho 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 fevereiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 junho 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 outubro 2013 novembro 2013 dezembro 2013 janeiro 2014 fevereiro 2014 março 2014 abril 2014 maio 2014 junho 2014 julho 2014 agosto 2014 setembro 2014 novembro 2014 |
segunda-feira, janeiro 30, 2006
A EFICÁCIA DO TERROR Quinta-feira passada, a Folha de São Paulo noticiava em manchete: FATAH VENCE HAMAS POR PEQUENA MARGEM A linha fina era um pouco mais cautelosa: Coligações do partido de Abbas podem deixar o grupo terrorista na oposição; projeção dá 100% de Gaza ao Hamas Na sexta-feira, o jornal anunciava em primeira página: HAMAS VENCE ELEIÇÕES PALESTINAS Diz o texto da primeira página: "O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), organização terrorista que cometeu atentados suicidas contra civis de Israel, obteve surpreendente e histórica vitória nas eleições legislativas palestinas. O resultado contrariou as pesquisas ao longo da campanha e as de boca-de-urna". E contrariou também o wishful thinking da Folha. Vou à coluna onde o jornal se penitencia de seus lapsos: nenhuma notinha. O editor de "Erramos" é tão meticuloso que chega a corrigir até mesmo um pequeno erro de digitação: "A área do lago Lucerna (região central da Suíça) é de 114 km2, e não de 114 m2, como publicado à pág. D8 (Esporte) em 16 de janeiro". Mas nada sobre a tremenda barriga do dia anterior. Esse whisful thinking tem feito a Folha pagar não poucas gafes. Quando a URSS estava desmoronando, o editor de Internacional, que ainda não perdoara Ieltsin por aquele canhonaço na Duma, mal Ieltsin deu um chá de sumiço, mancheteou, com um raio de esperança: GOLPE DERRUBA IELTSIN Só que a manchete não se sustentou nem 24 horas. No dia seguinte, para salvar a cara, a Folha titulou: IELTSIN DERRUBA GOLPE Nenhum "Erramos". O "Erramos" é para redatores que cometem um lapso menor. Quando o editor entra em choque com a realidade, caluda! Volto à Palestina. O Estado de São Paulo também embarcou na canoa furada. Na edição de quinta-feira, temos na primeira página: FATAH VENCE HAMAS E BUSCARÁ COALIZÃO No texto, uma colher de chá para o Hamas, mas não a vitória: "A forte votação obtida pelo movimento fundamentalista islâmico Hamas, na eleição parlamentar de ontem, mudará significativamente o panorama político na Autoridade Palestina. O partido no poder, a Fatah, manteve a supremacia, mas terá de formar coalizão com grupos minoritários laicos para não ter de recorrer ao Hamas. A julgar pela boca-de-urna, a Fatah vencerá por 42% a 35%". A julgar pela boca-de-urna, diz o texto. Mas para o redator de primeira página, que é sempre um jornalista de alto nível e muito bem-remunerado, não há dúvidas: o Fatah venceu. Todos os demais redatores têm de dançar conforme a música. A correspondente Daniela Kresch, que está em Ramallah, no centro dos acontecimentos, escreve: "O partido no poder, a Fatah, parece ter vencido com um número suficiente de votos para formar um governo de coalizão com grupos minoritários laicos, com os quais tem afinidades políticas, sem precisar recorrer ao Hamas, seu principal rival". Reali Júnior, fiel cão de guarda do jornal, pergunta a Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina: "A Fatah está disposta a uma divisão do poder com o Hamas?" Dia seguinte, sem o menor pudor, e sem pedido algum de desculpas ao leitor, o jornal mancheteia em primeira página: HAMAS SURPEENDE E VENCE ELEIÇÃO PALESTINA Ou seja, os jornalistas se deixaram levar pela pesquisa boca-de-urna e afirmaram o que não podiam afirmar. Impelidos pelo fato de que seus jornais já haviam decidido que o Hamas era um movimento terrorista, foram movidos pelo secreto desejo de não ter de noticiar a tomada do poder pelo terror. Ocorre que a realidade não está nem aí para secretos desejos. As recentes eleições na Palestina mostram que a via democrática ocidental não consegue impedir que organizações absolutamente antidemocráticas assumam as rédeas de um Estado. Como disse Bassem Eid, diretor-executivo do Grupo Palestino de Monitoramento de Direitos Humanos: "O povão sempre é atraído pela coisa dogmática, pelo apelo emocional da religião, deixando de lado a razão, o racionalismo e a ciência". Dois mil e trezentos anos antes, Platão já analisava o resultado das atuais eleições palestinas: "a massa popular (hoi polloi) é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e seus interesses passageiros, sensível à adulação, sem constância em seus amores e ódios; confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e rigor". Brasileiros, acabamos de ver este filme. Os homens-bomba do Hamas chegaram ao controle do Estado, ou disso que eufemisticamente se chama Autoridade Nacional Palestina. Pois a ANP nasceu com vocação para Estado, é só ingênuos - ou demagogos - não viam esta tendência. O IRA e o Sinn Fein, que já optaram pelo desarmamento, devem estar se arrancando os cabelos. O ETA, que começava a pensar em paz, talvez pense mais um pouco antes de tomar qualquer decisão. Não é a primeira vez que o terror conquista votos. Os atentados aos trens em Madri, que mataram 198 pessoas em março de 2004, provocaram uma reviravolta de última hora nas últimas eleições espanholas. O resultado destas eleições no Oriente Médio será um poderoso estímulo às carnificinas da Al Qaeda. "Não há diálogo se o Hamas não reconhecer Israel", diz Ehud Olmert , o primeiro-ministro interino de Israel. Seu país não fará contato com os palestinos até que o Hamas renuncie explicitamente ao caminho do terrorismo e reconheça Israel e todos os acordos assinados entre ambas as partes. O Hamas, não só não renuncia ao terrorismo, como acha que Israel deve ser exterminado do mapa. Já fala na construção de um Exército, vocação natural da polícia palestina. Israel não aceita um Exército na Palestina. O cenário está preparado para uma guerra ainda mais sangrenta. Os palestinos tiveram de escolher entre a corrupção generalizada do Fatah e a mescla de homens-bomba e assistencialismo do Hamas. Democracia na Palestina não consegue fugir desta opção. O Ocidente tenta exportar seus valores ao mundo muçulmano. Esquece que, para existir democracia, é necessário antes educar o ser humano para a democracia. E que Islã é incompatível com democracia. Teocracias são inimigas da liberdade. A Europa só chegou à democracia após a Igreja ter renunciado ao poder temporal. As eleições na Palestina nos deixam uma trágica lição. O terror pode não ser um meio legítimo para se chegar ao poder. Mas é eficaz. Dias piores virão. sábado, janeiro 28, 2006
SUPREMO APEDEUTA SE SUPERA Deu na Folha de São Paulo: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a inflação só prejudica o pobre, porque o rico "coloca o seu dinheiro no banco" e "vive da exploração", ao comentar o aumento do salário mínimo e os dados positivos do IBGE sobre desemprego e renda. Que Lula virou folclore pelas bobabens que diz, isto não é novidade. Mas desta vez exagerou. Onde põe seu dinheiro o operário que recebe em bancos? O funcionário público que sequer pode optar por um banco, já que seu empregador o impõe? A classe média que se protege numa poupança que sequer cobre a inflação? Onde põe Lula seus dinheiros? Debaixo do colchão? Ou em malas, como virou hábito no PT? Ou em cuecas? Pelo jeito, andou baixando o espírito do sindicalismo e da velha luta de classes no Supremo Analfabeto. domingo, janeiro 22, 2006
BIÓLOGO MANIPULA PINGÜINS Sou fascinado por tudo que diz respeito a gelo, neves, glaciares, fiordes, paisagens árticas ou antárticas. Já vi filmes absolutamente bobos, só porque se passavam em montanhas nevadas ou nos desertos polares. Desligava da história e curtia apenas a paisagem. Adoro documentários sobre estas regiões do planetinha e penso ainda, qualquer dia destes, rumar às neves de Svalbard. Conta-me uma amiga que, em Longyearbyen, capital do arquipélago, há um bar onde a gente pode deixar o fuzil na entrada, afinal não há ursos por perto. É para lá que quero ir. Claro que não me agradaria viver em meio àquelas solidões, mas visitá-las me faz bem. Não por acaso, viajo sempre rumo a invernos. Verão, deixo para turistas. Assim sendo, foi com entusiasmo que li sobre o lançamento do filme A marcha do imperador, do cineasta e biólogo Luc Jacquet, anunciado como um documentário sobre a vida desta espécie de pingüins na Antártica. Como não vou ao cinema só para ver se o filme é bom, busquei informar-me um pouco sobre o documentário. Pelo que li, cheguei a algumas conclusões. Para começar, o documentário é um bestseller, cuja bilheteria tem suplantado até mesmo filmes de ficção. Entre os créditos do filme consta este moderno atestado de valor estético: foi produzido com apenas US$ 8 milhões e teria arrecadado mais de US$ 75 milhões nos Estados Unidos, número extraordinário para um título estrangeiro. Minha primeira dúvida: nunca vi documentário vendendo mais que filmes de ficção. Esta foi logo esclarecida: A Marcha do Imperador é tão documentário quanto a ficção travestida de documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine. Segunda dúvida: se é bestseller, não pode ser filme inteligente. Jamais assisti a bestseller que preste. Tais filmes são feitos para agradar às massas. Massas, por definição, não primam pela inteligência. Continuando, o filme agradou muito a fundamentalistas católicos americanos. E por que agradou? Porque seria um manifesto em defesa da família, da monogamia e contra o aborto. Não sei se Luc Jacquet assim o pretendeu, mas quem monta uma ficção sabe onde quer chegar. Terceira dúvida: filme que agrada a fundamentalistas católicos não pode prestar. Quarta dúvida: que têm a ver pingüins com monogamia e aborto? Só faltava os pingüins serem contra o sexo pré-matrimonial e votarem no Bush. Li ainda que os pingüins têm voz, isto é, pensamentos, devidamente dublados. No Brasil, pelos abomináveis "globais" Antonio Fagundes e Patrícia Pillar. Quinta dúvida: pingüins pensam? O único pingüim pensante que conheço é aquele arqui-inimigo do Batman. Mas história em quadrinhos é coisa de criança. A menos que tenha virado lazer de adultos e não me avisaram. Sexta dúvida: serei capaz de assistir a um filme dublado? Conclui que não sou capaz de engolir o engodo de pingüins pensantes e, pior ainda, falando brasileiro, com o sotaque infame da rede Globo. Assim sendo, não fui nem vou ver o filme. Sem tê-lo visto, posso deduzir que A marcha do imperador é embuste dos bons. Para começar, pertence a essa vigarice cada vez mais corriqueira de chamar ficção de documentário. Ora, documentário deveria documentar. Quando documenta pensamentos de pingüim, é claro que de documentário não se trata, mas da mais reles ficção. Continuando, em nada difere dos desenhos animados de Disney, ficções sublimes que fazem apelo aos "nobres" sentimentos humanos, deixando de lado o inelutável fato de que o ser humano não é apenas nobre, mas também vil. Nos filmes e histórias em quadrinhos de Disney não há sequer uma pitada de sexo, essa vil necessidade - vil pelo menos para Disney - que, apesar de ser inerente à perpetuação da espécie, é vista como pecado por crentes de todas as latitudes. Passo a palavra a quem entende do assunto. Segundo o cientista Yvon le Maho, do Centro de Ecologia e Fisiologia Energética de Strasbourg, o filme "não é bem um documentário. É como se fosse Disney. É feito para chorar. A vontade de fazer o público chorar é tanta que eles mentem". O filme pode comover pais fracassados, com complexo de culpa em relação a filhos, mais uma malta de mães chorosas ou candidatas à mãe, dessas que se comovem até com pingüins de geladeira. Só estes já são milhões. Mas a natureza é mais brutal que nossas ficções antropológicas. Assim como Disney omite a sexualidade de seus personagens, Jacquet esconde ao leitor certos fatos deste universo. Ainda segundo le Maho, os pingüins têm um mecanismo fisiológico que os alerta quando suas reservas energéticas chegam a um limite, que lhes permite andar ainda 180 quilômetros. "É quando partem para o mar e, se for o caso, deixam os filhotes abandonados à própria sorte". Além do mais, a suposta monogamia dos pingüins em geral dura apenas um ciclo reprodutivo, isto é, um ano. "A taxa de separação entre eles após um ano é de 85%". Claro que isto Luc Jacquet não conta. Seu filme deixaria de faturar bons milhões de dólares. O homem-massa gosta de fantasias e tem horror à realidade. O filme é mais uma desastrada tentativa de antropomorfização da vida animal, esse detestável vício de não poucos documentaristas, que pretendem atribuir características humanas a seres irracionais. Mesmo que, por contingências biológicas, os pingüins tivessem de ser monógamos - o que está longe ser o caso - o homem nada tem a ver com isso. Nem com qualquer outro animal. Nosso antepassado simiesco, ao erguer-se apoiado nas patas traseiras e utilizar seu polegar preênsil para brandir um osso como arma, abandonou definitivamente seu destino de símio e adquiriu o status de Homo sapiens. Por que escolher os castos pingüins como arquétipo de organização social? Se é para buscar padrões na vida animal, proponho os bonobos, que vivem em orgia perpétua e cujas fêmeas inclusive descobriram as delícias do lesbianismo, ou como quer que se chame a prática no universo dos símios. Diferentemente das demais espécies, as fêmeas bonobo não precisam estar no cio para entregar-se ao bom folgar. Ou seja, fogem à condição animal e assumem atitudes mais condizentes com a espécie humana. Monogamia, fidelidade ou aborto são opções que o ser humano se permite ou não se permite, não uma fatalidade da espécie. Só Estados totalitários ou com propensão ao totalitarismo as impõem ou proíbem. Deixem os pingüins em paz, senhores moralistas. Filme que é anunciado como fenômeno mundial de público - vai por mim, leitor! - não pode prestar. O número de espectadores é inversamente proporcional à qualidade de um filme. Quando A Marcha do Imperador estiver em DVD, compro ou alugo um, retiro o som e me deleito com as paisagens nevadas que tanto me fascinam. Quem quiser aumentar as estatísticas maravilhosas de borderô do filme, que vá. Estou fora. Quando os jornais anunciarem os milhões de deslumbrados que viram o filme no Brasil, por favor, não me incluam nesse número. terça-feira, janeiro 17, 2006
SCHOPENHAUER E U2 Ontem, a temperatura em São Paulo foi de 33,9º. O que não impediu que milhares de pessoas se acotovelassem sob a canícula, desesperadas, em busca de um ingresso para o show do tal de U2. Houve quem esperasse 48 horas na fila. O mesmo está ocorrendo no Rio. Que se pode esperar desta massa inculta? Dizia Schopenhauer: "A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental". segunda-feira, janeiro 16, 2006
A EXTINÇÃO DO MULATO Movimentos ecologistas estão preocupados com a extinção de baleias, ursos polares, micos-leões-dourados e outras espécies. Pessoalmente, estou preocupado com outra espécie bem mais próxima e mais valiosa, os mulatos e as mulatas. Que, dependendo da inépcia de nossos legisladores, em breve será extinta. Pelo menos do ponto de vista legal. É o que propõe um monstrengo jurídico, de autoria do senador Paulo Paim, o projeto de lei n° 3.198/2000, também chamado de Estatuto da Igualdade Racial. Já foi aprovado pelo Senado e tramita em regime de prioridade na Câmara dos Deputados. De uma só tacada, Paulo Paim extermina legalmente os mulatos do território pátrio: "para efeito deste Estatuto, consideram-se afro-brasileiros as pessoas que se classificam como tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição análoga". Demorou mas chegou até nós. Está sendo introduzida legalmente no Brasil a classificação ianque, que só consegue ver pretos e brancos em sua sociedade e nega a miscigenização. Este sórdido projeto é antigo, fruto da exportação dos conflitos raciais dos Estados Unidos para um país onde o negro sempre conviveu bem com o branco, tanto que o mulato constitui um contingente considerável da população. Mal foi eleito, o Supremo Apedeuta saiu arrotando urbi et orbi que o Brasil era a segunda nação negra do mundo, depois da Nigéria. Até mesmo uma pessoa aparentemente culta, como Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, prestou-se a corroborar o sofisma safado: "como declarou o presidente Lula, o estreitamento das relações com a África constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica. Com 76 milhões de afrodescendentes, somos a segunda maior nação negra do mundo, atrás da Nigéria, e o governo está empenhado em refletir essa circunstância". Ao colocar todos afrodescendentes no mesmo saco dos negros, o ministro demonstra que, nos círculos do poder, mesmo homens cultos se dobram à bajulação. Ora, segundo o IBGE, a população negra do Brasil, em 99, era de apenas 5,4%. Com o acréscimo de 39,9% do contingente de mulatos, o Brasil estaria perto de ser definido como um país majoritariamente negro, como aliás é hoje considerado por muitos americanos e europeus. Com o projeto do senador, não teremos mais mulatos (ou pardos, no jargão do IBGE), mas apenas afro-brasileiros. O que os ativistas negros esquecem é que o mulato pode denominar-se tanto afro-brasileiro como euro-brasileiro. A tônica no afro tem intenções óbvias: aumentada artificialmente a população negra, torna-se fácil pressionar os legisladores para obter mais vantagens para os que não são brancos. Os ativistas negros no Congresso querem ganhar privilégios no tapetão da semântica. Sensível ao apelo dos votos, Geraldo Alckmin está encaminhando à Assembléia Legislativa projeto de lei que estabelece o acréscimo de pontuação aos afrodescendentes no concurso público para a Defensoria do Estado. Após os Estados Unidos estarem abandonando a política das ações afirmativas, o governador paulista, em um gesto de mimetismo terceiro-mundista tardio, afirma: "Estamos fortalecendo nossa proposta de ações afirmativas". É um modo de dizer. O que Alckmin parece ignorar é o artigo 5° da Constituição, que reza: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Alckmin é hoje visto como uma alternativa à permanência do Supremo Apedeuta no poder. Triste alternativa, a de um político que, em sua ambição de votos, começa sua campanha rasgando de uma penada a Constituição brasileira. Se já rasga a Carta Magna enquanto candidato a candidato, podemos imaginar o que ousaria quando no poder. Nas últimas décadas, os movimentos negros insistiram na idéia de que raça não existe, ser negro seria apenas uma questão de melanina. Quando começou a surgir no Brasil a infeliz idéia ianque de cotas, tanto para a universidade como para admissão em empregos públicos, assistimos a uma súbita reviravolta: raça agora existe e deve ser declarada. O malsinado projeto do senador gaúcho determina que, em várias circunstâncias - no Sistema Único de Saúde, nos sistemas de informação da Seguridade Social, em todos os registros administrativos direcionados aos empregadores e aos trabalhadores do setor privado e do setor público - o quesito raça/cor será obrigatoriamente introduzido e coletado, de acordo com a autoclassificação. Se até bem pouco afirmar a existência de raças era sinônimo de racismo, a noção de raça agora passou a ser algo bom, digno e justo. Para a advogada Flávia Lima, coordenadora do Programa de Justiça da ONG Núcleo de Estudos Negros, em Florianópolis (SC), a classificação dos indivíduos segundo a raça pode ser um instrumento na luta contra o racismo. A obrigatoriedade de registro da cor seria um ponto positivo do Estatuto, já que permite investigações sobre racismo em diversas esferas da sociedade. Ó tempora, ó mores!O que ontem era estigma, o registro da cor, passa hoje a ser virtude. Os movimentos negros, ao que tudo indica, terão de jogar ao lixo suas velhas bandeiras. Para o Supremo Apedeuta, por exemplo, até os nigerianos já são afrodescendentes. Como observa Demétrio Magnoli, na Folha de São Paulo, "os modelos são a África do Sul do apartheid e a Ruanda dos belgas, com suas carteiras de identidade etno-raciais. A nação deixará de ser um contrato entre indivíduos para se tornar uma confederação de raças". Se aprovado na Câmara este projeto infame, os negros e mulatos terão carteirinha única, e esta jamais será a de mulato. Imagine o leitor se um deputado branco sugerisse a instituição da carteirinha de negro. Seria imediatamente comparado a Hitler, que identificou os judeus com a tecnologia Hollerith de cartões perfurados da IBM. Como os deputados hoje estão mais preocupados em salvar a própria pele do que em discutir quesitos de raça ou cor, corremos o sério risco de que o absurdo estatuto adquira força de lei. Os políticos sentem-se tão à vontade para praticar este estupro, que já o incluem em suas promessas de campanha, como o fez Alckmin. Se a Constituição já foi violada mediante compra de votos, violação a mais violação a menos tanto faz. E assim desaparecerá, banida por lei, a prova mais incontestável do caldeamento de raças no Brasil, o mulato. Os velhos comunistas podem ter perdido a guerra, mas não perderam os vícios. Luta de classes morta, luta racial posta. quarta-feira, janeiro 11, 2006
CHEIRO DE BRASIL Tomei um trem de Bruxelas para Paris. Atrasou vinte minutos. Ao chegar na Gare du Nord, vejo alguém distribuindo folhetos aos que desciam. Que é isto? - perguntei. É um formulário. E para quê? Para pedir sua indenização pelo atraso. Em Madri, peguei um AVE para Toledo. Normalmente, o trem rápido deve chegar em 35 minutos. Chegou em 25. Com um detalhe: se o trem atrasar cinco minutos, você recebe o preço da passagem de volta. Ainda em Madri, tomei um vôo Varig para São Paulo. Antes mesmo de chegar ao Brasil, já senti o gostinho de Brasil. O vôo atrasou duas horas. Muitos passageiros perderam sua conexão para Buenos Aires. Conselho de um comissário de bordo a um passageiro preocupado: entre com ação na justiça. Do Brasil, se sente o cheiro de longe. domingo, janeiro 08, 2006
A INTERLOCUTORES E LEITORES Senhores Avraham Zajac, André Cardon, Sérgio Kalmus, senhora Marcella Becker e rabinos do Colel Iavne; meu caro Olavo de Carvalho; leitores que me escrevem dos Estados Unidos, Israel e Brasil: Honrado por receber resposta de tão ilustres interlocutores e de tão digno colegiado. Espanta-me, no entanto, ser considerado anti-semita. Logo eu, que já fui considerado sionista por condenar Arafat e a intifada, por condenar as pretensões árabes a Jerusalém e por defender, em meus artigos sobre o Oriente Médio, a política de Israel. Em 1989, fui o único jornalista gaúcho a protestar contra o estande da OLP na 2ª Bienal do Livro no Rio de Janeiro. O estande da OLP - entidade que nada tem a ver com livros e muito tem a ver com fuzis e metralhadoras - tinha mais posters e camisetas de Arafat do que livros, e mantinha um vídeo reproduzindo permanentemente cenas da intifada. O mesmo estande esteve na Bienal do Livro de São Paulo, no ano anterior, e não vi jornalista algum falar em anti-semitismo. Não é justo, senhores, desqualificar-me com a pecha de anti-semita. Ao longo de minha vida errante, cultivei e ainda cultivo não poucas amigas e amigos judeus, pelos quais tenho grande apreço. Diga-se de passagem, admiro duas características na comunidade judia: são pessoas sempre cultas e não fazem proselitismo. Há ainda dois ou três meses, em uma entrevista no Orkut, eu declarava: A recente retirada dos judeus dos territórios ocupados é uma rara demonstração de bom senso de Israel. Mas de pouco ou nada servirá para conter o ódio muçulmano. Os muçulmanos fundamentalistas têm por objetivo o fim de Israel e jamais cederão em seus propósitos.O muro que ora está sendo construído me parece ser, infelizmente, outra solução sensata. Tampouco vai resolver o problema, já que os dois povos estão profundamente entremesclados, mas impede em parte os ataques terroristas. Uma pergunta se impõe: porque os vizinhos árabes, de área bem mais extensa que Israel, não oferecem território aos palestinos? Os palestinos lembram um pouco o MST. Eles não querem apenas terra, querem o poder. Terras, os palestinos já as têm. Por que continuam na miséria? Por que não conseguem a prosperidade de Israel? Há ódios eternos. Eu suponho que daqui a mil anos os muçulmanos ainda estarão em guerra com Israel. É difícil encarar uma democracia triunfante - a única do Oriente Médio - no pátio do vizinho. Os árabes teriam de chegar ao século XXI para se pensar em algum tipo de paz permanente. Mas eles correm com 400 anos de atraso. Em 2002, Marilene Felinto, então cronista da Folha de São Paulo, glorificou as palestinas terroristas que se explodiam em Israel: "As mulheres-bombas muçulmanas são a glorificação do suicídio pelo estoicismo, pelo auto-sacrifício - elas agem no intuito de que a justa defesa do bem público prevaleça sobre o direito do agressor ao corpo e à vida". O único jornalista brasileiro a denunciar a cumplicidade da colunista com o terror fui eu. Em meu artigo, "Terror explode Ventres", publicado em 05/04/2002, escrevi: Gerar mortes, ao longo da história, sempre foi ofício masculino. Gerar vida, por natureza e definição, é atributo feminino. Os terroristas palestinos, em sua insânia, passaram a usar ventres como bombas. Até aí, nada de espantar. Terror não tem ética nem limites. O que causa espécie, em um jornal que se pretende defensor dos direitos humanos, é ouvir uma jornalista glorificando o terror. Logo agora que o terror passou a explodir mulheres. Isso sem falar no artigo citado pelos senhores e publicado no De Olho na Mídia, onde manifesto minha condenação ao terrorismo palestino que fustiga Israel. Causa espécie a meus interlocutores que o mesmo articulista que escreveu "Mídia canoniza Nobel terrorista", a propósito de Arafat, tenha escrito a crônica "Sobre Maimônides". Posso assegurar-lhes, senhores, que o articulista é o mesmo. Continua condenando o terrorismo de Arafat, ao mesmo tempo em que não aceita as proposições de Maimônides. Ou da Torá, como quisermos. Deixo os ataques pessoais de lado e vou ao cerne da questão, os hábitos da comunidade judaica de Higienópolis e os preceitos de Maimônides. Escrevem meus contestadores: "O articulista do Mídia critica os judeus por não apertarem botões aos sábados, e por andarem de capas de chuva 'vagabundas', ao invés de guarda-chuvas. Se sente incomodado por eles não darem mãos a mulheres em público e por andarem de tênis no dia mais santo judaico, o Dia do Perdão, o Yom Kipur. (...) Agora são apontados e menosprezados por usarem 'capas de chuva vagabundas' e 'tênis em lugar de sapato'". Ora, em momento algum critiquei os judeus por não apertarem botões nem declarei sentir-me incomodado por não darem as mãos às suas mulheres. Em momento algum menosprezei alguém por usas capas de chuva ou tênis. Tênis é calçado que uso quase diariamente. Como cidadão do Ocidente, apenas manifestei minha estranheza em relação a tais comportamentos (por exemplo, usar tênis com terno e gravata), e nada mais que isso. Considerei-os obsoletos, e não me parece que considerar obsoletas determinadas práticas possa constituir anti-semitismo. Considero estratégia mesquinha colocar palavras ou intenções na boca de um interlocutor para melhor atacá-lo. "Um homem, mesmo tendo 100% de certeza de que uma mulher não está menstruada - escrevem meus contestadores - e ainda que seja sua esposa; mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E porque? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares com a sua amada". Ora, não vejo nenhuma falta ao recato em dar a mão a uma mulher. Assim fosse, todos os cristãos deste país seriam despudorados irremediáveis. Meus interlocutores parecem não ter lido a Torá. Lá está, em Levítico 15:19-24: "E mulher, quando tiver fluxo, e o fluxo da sua carne for de cor sangüínea, sete dias ficará separada na sua impureza; e todo aquele que tocar nela será impuro até a tarde. E tudo sobre o que se deitar na sua impureza será impuro, e tudo sobre o que ela se sentar será impuro. E todo que tocar no seu leito, lavará suas vestes, se banhará em água e será impuro até a tarde. E quem tocar sobre o leito ou sobre o objeto em que ela está sentada, tocando neles, será impuro até a tarde. E se um homem deitar com ela, a sua impureza passará sobre ele, e ficará impuro sete dias; e toda cama em que ele se deitar, se fará impura". Ora, para mim, cidadão ocidental e vivendo neste século, soa muito estranho considerar impura uma mulher em seus dias de menstruação. Como não quero estender-me em uma discussão que já se arrasta por demasiado tempo, vou ater-me apenas a dois tópicos mais. Segundo meus interlocutores, não mencionei que a "cidade apóstata era um local onde o assassinato e o roubo eram institucionalizados, e onde 100% dos habitantes eram idólatras, que faziam sacrifícios humanos, de crianças e virgens para seus deuses?". Logo após afirmam: "o Talmud diz que nunca houve uma cidade apóstata no mundo, onde 100% das pessoas eram idólatras, ficando o preceito válido apenas como norma dissuasória, e não para aplicação na prática". Assim sendo, o preceito 186 era ocioso e não precisava ter sido escrito. Para concluir, meus interlocutores afirmam: "Curioso é notar, que na verdade, os ataques do articulista não são contra o rabino, como ele faz parecer. São contra a bíblia em si, já que tudo que Maimônides fez foi compilar estas leis". Bingo! Descobriram a América. Ora, desde meus 17 anos venho expondo minhas objeções à Bíblia e, neste nosso mundo ocidental, por enquanto pelo menos, não é crime tecer críticas à Bíblia. Afinal, não vivemos em sociedades como a islâmica, onde a menor crítica ao Corão é respondida com uma fatwa. E já que da Bíblia se trata, quero transcrever este momento que encontro em minha Torá, em Deut. 7:1-5: "Quando te levar o Eterno, teu Deus, à terra à qual tu vais para herdá-la, e lançar fora muitas nações de diante de ti: o Hiteu, o Guirgasheu, o Emoreu, o Cananeu, o Periseu, o Hiveu e Jebuseu - sete nações numerosas e mais fortes do que tu -, e as dará o Eterno, teu Deus, diante de ti e tu as ferirás; tu as destruirás totalmente, não farás aliança alguma com elas e não lhes darás pousada na terra. (...) Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis, suas Matsevot quebrareis, suas árvores idolatradas cortareis e seus ídolos queimareis no fogo". Minha pergunta: por que destruir as cidades dos heteus, dos gergeseus, dos amorreus, dos cananeus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus? Por que derrubar seus altares, quebrar suas Matsevot, cortar suas árvores idolatradas e queimar seus ídolos? Há alguma diferença entre este propósito e as declarações do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, do dia 26 de outubro passado: "O Estado sionista ocupante de Jerusalém deve ser varrido do mapa"? Pelas mesmas razões que não aceito os propósitos de Ahmadinejad não posso aceitar estas prescrições da Torá. Last but not least, em seu último artigo, Olavo de Carvalho escreve: "nós aqui assumimos a plena responsabilidade moral do que publicamos, e não nos sentimos isentos de culpa pelo que Janer Cristaldo escreveu. Ao contrário, assumimos essa culpa". Ora, caro editor, não precisa assumir. Ao pé de cada artigo do MSM está escrito: "Os artigos publicados com assinaturas no MSM são de responsabilidade exclusiva de seus autores". sexta-feira, janeiro 06, 2006
Em resposta aos autores de "Sobre Janer" Gostaria de desfazer uma idéia errada presente no texto. Apesar das acusações de anti-semitismo, me parece muito claro que Janer não se posiciona em momento algum contra os judeus. Faz críticas mais cômicas do que desmoralizadoras contra o judaísmo ou seus livros sagrados, na mesma linha do que faz com o cristianismo ou com o islamismo. No caso cristão, depois do artigo "A cruz e a toga" recebeu sim uns puxões de orelha, mas toda vez que fala contra o Islã, dos leitores do MSM não vem nada senão elogios. Ora, criticar o Islã pode, mas criticar ou mesmo fazer observações curiosas sobre o judaísmo ou cristianismo é comparável a "escrever um texto rascista"? Ok, o site tem uma linha editorial... Conhecendo-se um pouquinho de Janer pode-se perceber que sua 'birra' não é contra o judaísmo, mas contra as religiões em geral. Se os autores do texto de resposta acharam curioso mencionar que Janer selecionou somente alguns preceitos 'fora de contexto', acho curioso também mencionar que esses comentaram somente dois preceitos dos citados por Janer. Talvez os não comentados sejam injustificáveis. Não sei, não sou eu o grande conhecedor dos mandamentos judaicos. Sobre Janer fazer pouco dos costumes judaicos, com a intenção de denegri-los, atento para um fato. Ele não fez mais do que chamá-los de 'estranhos'. E vá lá, são mesmo, mas ainda os respeitamos. Comentarei um trecho: "Janer e os ortodoxos - O articulista do Mídia critica os judeus por não apertarem botões aos sábados, e por andarem de capas de chuva 'vagabundas', ao invés de guarda-chuvas. Se sente incomodado por eles não darem mãos a mulheres em público e por andarem de tênis no dia mais santo judaico, o Dia do Perdão, o Yom Kipur (tivesse estudado melhor, saberia que são duas vezes por ano, incluindo o Tisha Be Av, dia que marca as destruições dos Templos em Jerusalém). A primeira e óbvia pergunta seria: o que ele tem a ver com isso? Porque o incomoda tanto? Onde ficou a liberdade de expressão e religiosa da democracia brasileira?" E onde ficou escrito que esses costumes estranhos o incomodem 'tanto'? Repito, a única impressão que o colunista passou foi a de estranheza, e o mais ofensivo que pode se tirar o texto é a observação de uma semelhança entre os ortodoxos judeus e muçulmanos. "Mas isso não basta. Senão o jogo de Janer estará feito: retratar o judaísmo como uma religião primitiva e bárbara. Nada mais longe da verdade. O judaísmo é feito de valores. Um destes é o respeito máximo a mulher, que nada tem a ver com seu ciclo menstrual. Um homem, mesmo tendo 100% de certeza de que uma mulher não está menstruada, e ainda que seja sua esposa; mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E porque? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares com a sua amada. Em uma época onde mulheres reclamam que são tratadas como objetos, onde a propaganda abusa da super-exposição sexual da mulher e etc...., o judaísmo trata a mulher como um ser elevado a ser respeitado e admirado. Por isso pede modéstia da parte delas e recato no trato dos homens para com elas." E aqui faço coro a Janer. Ficou evidente a semelhança com os muçulmanos. Afinal, nenhum islâmico que esteja aberto a discutir vai dizer que a mulher é tratada como inferior ou mesmo sem respeito. Curiosamente, o uso do véu se explica por motivo semelhante a essa prática de não dar a mão. "Janer se sente incomodado com as pessoas que vivem no seu bairro, seus ritos e costumes? Sinto muito dizer a ele, mas o povo judeu não vai mudar após mais de três mil anos de história por causa dele. E nem deve. Se ele se sente realmente perturbado pelos costumes da vizinhança, fica valendo ainda o velho ditado: "os incomodados que se retirem". A liberdade de um vai até onde começa a do outro. E enquanto os judeus estiverem fazendo o seu, sem atrapalhar os outros, tem todo o direito de continuar. Direito e dever. E quem não gostar, azar. Não se pode agradar a todos." Acho muitos dos meus vizinhos estranhos, mas não me sinto incomodados com eles, ora. "Finalizando, o pseudo-intelectual diz na última frase de seu texto, "E depois os judeus se queixam de ser uma raça perseguida". Aqui Cristaldo expõe enfim toda a sua ignorância, e prova o quão falsa é sua suposta erudição. Primeiro que só existe uma raça, a humana. Talvez não para o articulista, que defendeu em uma discussão em um fórum de Internet, que tal e qual cachorros e cavalos, o ser humano também tinha raças. Contrariando médicos, cientistas e especialistas que dizem que as diferenças de pigmentação são quesitos de melanina, Janer tem sua verdade baseada em seu achismo e vai se agarrar a ela. Mas mesmo nos quesitos "janistas", eu quero que ele me prove como é possível se converter de raça? Afinal, existe conversão no judaísmo e milhões de pessoas ao longo da história já se converteram à religião e ao povo judeu. Como seria possível isso numa raça? E mais: ainda na fórmula "janista de ser", como seria possível judaísmo ser uma raça, com judeus brancos, negros, sul-americanos e asiáticos?" Esse trecho me lembrou do ridículo episódio envolvendo militantes petistas e o senador Bornhausen, que disse, se referindo aos petistas, algo como "Até que enfim estamos livres dessa raça". Não faltaram petistas reclamando, saindo até cartaz com o senador usando uniforme do III Reich. É bem típico dos desonestos se apegar a detalhes sem importância para fazer um estardalhaço. Finalizando; não precisa ser de esquerda pra reconhecer que o Estado de Israel cometeu muitos erros, em alguns momentos realmente perseguindo os palestinos. A biografia de Ariel Sharon é manchada principalmente no período em que estava atuando no exército. Sem querer determinar mocinhos ou bandidos da história, Israel foi protagonista de muitos massacres. Mas se os autores não aceitarem o fato, nada posso fazer. Eles que pesquisem, eu não chuto cachorro morto. Bruno Benedini quinta-feira, janeiro 05, 2006
MENSAGEM DE ARLAN NINKE Nunca li tamanha bizarrice em um texto que se diz racional. Quero emitir minha opinião sobre o texto, mas acho que no MSM ela, como a do Janer não será bem vinda. Se são vocês, realmente, liberais queria ver expostas, na seção de cartas, às cartas de apoio à Janer, o que não vi ainda. Segue abaixo minhas considerações sobre parte do texto. Tentei ser breve, mas... (Editoria de Olho na Mídia) O que assusta? O fato de que o Mídia Sem Máscara sempre foi um local onde a verdade sobre os judeus e Israel prevaleceu. (ARLAN NINKE) Se a verdade prevaleceu é porque a mentira foi contestada pela verdade, mas para que haja tal embate é necessário que haja, também, liberdade de expressão, inclusive, a liberdade que incomoda aos judeus... (Editoria de Olho na Mídia) Nada disso impediu que um artigo com um ranço tão grande sujasse suas páginas. (ARLAN NINKE) Ranço? Por que todos que discordam dos judeus não discordam racionalmente? (Editoria de Olho na Mídia) No entanto, apesar disso, não podemos dizer que tenha sido o suficiente. Em sua argumentação, Olavo diz que não quis coibir a liberdade de expressão de seu articulista. Ele lamenta, mas afirma que Janer continuará a ter espaço no site. Consideramos isso um grande equívoco. (ARLAN NINKE) Acho que a comunidade judaica deveria criar um campo de concentração para exterminas todos que discordam dos judeus... (Editoria de Olho na Mídia) Se já ocorreu o erro de permitir a publicação de um texto francamente anti-judaico, pelo menos que se garantisse que o autor não terá mais espaço no mesmo. (ARLAN NINKE) Por que um texto antijudáico é um erro? Por que um texto anticristão é um erro? Jesus Cristo falou abertamente contra os textos judaicos, pretende a comunidade judaica também crucificar o Janer? (Editoria de Olho na Mídia) Pois o Talmud neste tratado diz que nunca houve uma cidade apóstata no mundo, onde 100% das pessoas eram idólatras, ficando o preceito válido apenas como norma dissuasória, e não para aplicação na prática. Muda um pouco as coisas, não? (ARLAN NINKE) Isso quer dizer que se houvesse uma cidade onde 100% dos habitantes são idólatras os judeus poderiam exterminá-los?Quanta memória seletiva nos judeus... Alguém poderia citar o que diz o Talmud sobre os outros povos? Será que no Talmud os estrangeiros são divididos entre os que devem ser escravizados e os que devem ser exterminados? (Editoria de Olho na Mídia) Mas vamos afinal falar do texto em si. Em primeiro lugar, fica claro que a linha mestra do texto é a inveja. (ARLAN NINKE) Novamente é a inveja ou, quando não é, é o ódio. Poxa será que os judeus não poderiam "mudar o disco"? (Editoria de Olho na Mídia) ...os conceitos de ética e moralidade que revolucionaram a civilização. (ARLAN NINKE) Os últimos conceitos morais que revolucionaram a humanidade foram pregados por uma vítima dos judeus. Querem os judeus afirmara que eram moralmente equiparados os seguidores de Cristo? Jesus mandou amar os inimigos, e o que o sábio rabino, citado por Janer, afirmava sobre os inimigos? (Editoria de Olho na Mídia) O mesmo se refere a quando ele fala sobre ?não deixar viver um feiticeiro? (preceito 310). Acaso ele menciona que esta cultura de feiticeiros, era uma cultura de assassinos que usavam pessoas vivas em suas feitiçarias e sacrifícios? (ARLAN NINKE) Os romanos tinham penas capitais contra feitiçarias, mas isso não os impediram de ser os donos do mundo. O preceito 310 do sábio rabino mandava matar feiticeiros e só um idiota ou fanático religioso vê, no texto, algo relacionado à matança de feiticeiros infanticidas. (Editoria de Olho na Mídia) São contra a bíblia em si, já que tudo que Maimônides fez foi compilar estas leis. (ARLAN NINKE) Esse comentário é prova que, quando querem, os judeus sabem interpretar um texto... (Editoria de Olho na Mídia) Nem os piores judeofóbos existentes entre islâmicos e cristãos jamais negaram ou atacaram diretamente estes princípios. Porque? (ARLAN NINKE) Judeofóbo é o equivalente à homofóbico?... Se algo é NOVO, como um NOVO TESTAMENTO, per si, o título, já nega algo VELHO. O Deus vingativo se transformou num Deus tolerante. Afirmar que o NOVO e VELHO testamentos são moralmente compatíveis é um absurdo. Obs: Sou agnóstico e não tenho inveja ou ódio dos judeus e, diferente do Janer, vejo pontos positivos nas religiões. (Editoria de Olho na Mídia) Porque o mundo entende que quando uma cultura prega e institucionaliza a maldade, colocando o resto da civilização em risco, é nosso dever combatê-la e restaurar a liberdade. Foi assim com o nazismo, cujo regime propunha o assassinato em massa e a expansão a custa de vidas, e é assim hoje em dia contra o extremismo islâmico, que sacrifica pessoas - crianças incluso - em nome de D?us e da sua causa. Por isso, o mundo não pode e nem vai condenar a Torá, quando algo semelhante foi proposto para fazer frente ao nazismo de seu tempo. (ARLAN NINKE) O que fizeram os Judeus aos Cananeus? Teriam exterminados velhos e crianças? Não é um apologia ao genocídio? (Editoria de Olho na Mídia) Curioso notar ainda, como os preceitos que Janer escolheu, foram cuidadosamente selecionados, fora de sua ordem original, e omitindo muita coisa entre um e outro. Ao tentar criar o efeito de um judaísmo intolerante, Janer fez da omissão a sua principal arma. (ARLAN NINKE) Judeu tolerante é pecador, é só lerem a bíblia. Por que os Judeus, que acusam o Janer de memória seletiva, não citam os textos bíblicos incentivando genocídios? Por que não citam o fato de que eram os judeus detentores do monopólio do tráfico humano na idade medieval? Por que não citam o que fizeram a São Calixto ou o Que fizeram em Lepanto? Os cipriotas também odeiam judeus, sabem por quê? (Editoria de Olho na Mídia) Se Janer tivesse realmente estudado e lido a respeito do judaísmo, ele saberia de tudo isso. No entanto sua única intenção foi menosprezar os judeus e o seu culto. Novamente os judeus demonstram saber interpretar textos... (Editoria de Olho na Mídia) ...(Janer) se sente incomodado por eles(os judeus) não darem mãos a mulheres em público... Onde ficou a liberdade de expressão e religiosa da democracia brasileira? (ARLAN NINKE) 1º - Eles? Ato falho ou não? Não deveria ser NÓS? Os comportamentos estranhos são deles e não nossos?... 2º - Não apertam a mão das mulheres em público... Isso é uma grande evolução, na bíblia, antes de Cristo, elas podiam ser apedrejadas... 3º - Em que lugar estaria a liberdade de expressão? Quem estranho, pensei que os judeus queriam a censura do Janer... (Editoria de Olho na Mídia) Senão o jogo de Janer estará feito: retratar o judaísmo como uma religião primitiva e bárbara. Nada mais longe da verdade. (ARLAN NINKE) Janer e mais meio mundo acha isso... (Editoria de Olho na Mídia) ...mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E por que? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares... (ARLAN NINKE) Quer dizer que o judeu, que não apertou a mão da prefeita, o fez por respeito e recato e que foi uma demonstração de carinho.. Putz, a emenda saiu pior do que o soneto. Estão, os judeus, parecendo mulçumanos justificando à burca como sendo objeto de proteção à honra e moral feminina. Sinistros esses argumentos! (Editoria de Olho na Mídia) Acaso, ele(Janer) consegue anular os registros de dois mil anos ininterruptos de perseguições, conversões forçadas, progroms, cruzadas, inquisição e Holocausto? Acaso, ele consegue achar registros de perseguição e assassinato por parte do povo judeu contra outros povos? (ARLAN NINKE) Os nazistas também eram as vítimas... Segundo os nazistas é claro... Até que me digam o contrário, todo povo já foi perseguido e perseguidor, só o povo judeu acha que nunca perseguiu nenhum povo e que foram sempre inocentes nas perseguições... Atenciosamente, Arlan Ninke segunda-feira, janeiro 02, 2006
SOBRE JANER Grande anti-semita, o intelectual e articulista Janer. Verdade que não é muito original Atacar os judeus se utilizando da sua religião, costumes, vestimentas e retirando do contexto afirmações bíblicas não é novidade. O recurso foi usado infinitas vezes por anti-semitas ao longo da história da jornada judaica neste planeta. Janer Cristaldo, ao repetir o ato em seu artigo publicado no Mídia Sem Máscara, e intitulado, "Sobre Maimônides" sequer foi original. De todo modo, merece uma resposta, o que fazemos a seguir. Este artigo foi escrito com a colaboração inestimável das seguintes pessoas: Rav. Avraham Zajac, André Cardon, Sérgio Kalmus, Marcella Becker e sob consulta e aconselhamento de rabinos do Colel Iavne. Sobre o Mídia Sem Máscara - Mas antes de entrarmos no artigo per se, gostaria de comentar algo sobre o site que abrigou a pérola: o Mídia Sem Máscara. Se existe algo que realmente surpreendeu em toda esta história, foi o fato de justamente este ter sido o local escolhido por Janer para publicar seu texto. O que assusta? O fato de que o Mídia Sem Máscara sempre foi um local onde a verdade sobre os judeus e Israel prevaleceu. Parceiro do De Olho Na Mídia na divulgação de verdades ocultas pela imprensa, o site sempre promoveu o banner de nossa instituição, publicou textos de Daniel Pipes e outros grandes articulistas pró-Israel e conta em seu cast com pessoas muito ligadas a comunidade judaica. Nada disso impediu que um artigo com um ranço tão grande sujasse suas páginas. Verdade que a reação do próprio veículo ao texto também foi notável. Seguindo a tradição de honestidade do Mídia, o mesmo abriu espaço para cartas e textos-resposta ao mesmo, tendo ainda publicada em sua homepage uma vigorosa condenação dele por ninguém mais, ninguém menos, do que o próprio editor-chefe, Olavo de Carvalho. No entanto, apesar disso, não podemos dizer que tenha sido o suficiente. Em sua argumentação, Olavo diz que não quis coibir a liberdade de expressão de seu articulista. Ele lamenta, mas afirma que Janer continuará a ter espaço no site. Consideramos isso um grande equívoco. E se fosse um texto racista contra negros? Ou mesmo se o texto fosse simplesmente algo que fugisse totalmente a linha do veículo, como por exemplo, elogiando a atuação do atual governo, será que teria sua publicação garantida pela "primeira emenda americana"? Se já ocorreu o erro de permitir a publicação de um texto francamente anti-judaico, pelo menos que se garantisse que o autor não terá mais espaço no mesmo. Apesar da admiração pelo Mídia Sem Máscara, e de sentir sinceridade na resposta do Olavo, muito mais aberta e decente do que 95% dos veículos que vemos por ai publicando peças de ódio o fariam, a nódoa ficou, e isto não dá para negar. Ficamos na torcida para que seja um caso isolado, uma exceção à regra, fato que o tempo somente vai apagar. Janer e a Mediocridade - Mas vamos afinal falar do texto em si. Em primeiro lugar, fica claro que a linha mestra do texto é a inveja. Inveja daquilo que os judeus trouxeram ao mundo, os conceitos de ética e moralidade que revolucionaram a civilização. Inveja da brilhante capacidade de Maimônides, que vale lembrar, era o principal médico da corte espanhola na idade de ouro, no século XII. Janer queria ser meio intelectual e gênio que o Rabino Moshe Ben Maimon era. Na impossibilidade disto, restou-lhe o vil caminho da agressão e da tentativa de manchar sua imagem. No entanto, basta apenas um exame superficial do texto de Janer Cristaldo para perceber que se trata de uma colcha de retalhos, onde Maimônides aparece pincelado e descontextualizado. Só para mencionar de exemplo: Janer cita a obrigação judaica, conforme compilada por Maimônides, de se destruir uma cidade Apóstata (preceito 186). Mas em lugar algum do texto, ele menciona o que era uma cidade apóstata. Será que pegaria muito mal para ele - e deixaria de criar o efeito demoníaco que ele planejou para os judeus - se ele mencionasse que cidade apóstata era um local onde o assassinato e o roubo eram institucionalizados, e onde 100% dos habitantes eram idólatras, que faziam sacrifícios humanos, de crianças e virgens para seus deuses? Ele sequer se deu ao trabalho de pesquisar um pouco mais fundo aquilo que ele mesmo cita. Ainda no preceito 186, ele copia de Maimônides, "As normas deste preceito estão explicadas no Tratado Sanhedrin". Ele por acaso foi lá checar no Talmud o que este dizia a respeito? Se foi, ocultou dos leitores uma informação chave. Se não foi, pecou por descuido e preguiça. Pois o Talmud neste tratado diz que nunca houve uma cidade apóstata no mundo, onde 100% das pessoas eram idólatras, ficando o preceito válido apenas como norma dissuasória, e não para aplicação na prática. Muda um pouco as coisas, não? O mesmo se refere a quando ele fala sobre "não deixar viver um feiticeiro" (preceito 310). Acaso ele menciona que esta cultura de feiticeiros, era uma cultura de assassinos que usavam pessoas vivas em suas feitiçarias e sacrifícios? Da mesma maneira, em lugar algum de seu artigo, Janer aborda o fato de que bastava a estas pessoas se arrependerem destes atos vis e cruéis (o conceito de Teshuva - arrependimento), para que estivessem livres de sua punição. Curioso é notar, que na verdade, os ataques do articulista não são contra o rabino, como ele faz parecer. São contra a bíblia em si, já que tudo que Maimônides fez foi compilar estas leis. Sendo assim, como seria possível que outras religiões também adotaram estes preceitos, ao anexarem aos seus compêndios a Torá (adotada sob o codinome de antigo testamento), caso fossem mesmo leis assassinas e genocidas? Nem os piores judeofóbos existentes entre islâmicos e cristãos jamais negaram ou atacaram diretamente estes princípios. Porque? A resposta é simples. Porque o mundo entende que quando uma cultura prega e institucionaliza a maldade, colocando o resto da civilização em risco, é nosso dever combatê-la e restaurar a liberdade. Foi assim com o nazismo, cujo regime propunha o assassinato em massa e a expansão a custa de vidas, e é assim hoje em dia contra o extremismo islâmico, que sacrifica pessoas - crianças incluso - em nome de D'us e da sua causa. Por isso, o mundo não pode e nem vai condenar a Torá, quando algo semelhante foi proposto para fazer frente ao nazismo de seu tempo. Isso é tão forte, que ouso dizer que o próprio Janer concorda com isso!!! Sim, basta ler o que o próprio escreveu em seu artigo sobre a morte de Arafat,intitulado, Mídia Canoniza Nobel Terrorista (e republicado no De Olho na Mídia, porque se tratava de um excelente artigo, sendo que jamais teríamos a capacidade de adivinhar que um ano depois, o autor se transformaria neste anti-semita que estamos vendo), onde relata: "D'us abençoe sua alma" - disse George W. Bush, ao tomar conhecimento de sua morte, um pouco antecipadamente, é verdade. A morte é linda. Em março de 2001, o mesmo Bush acusava Arafat de incentivar a violência. Em junho de 2002, o presidente americano fazia da saída de Arafat a condição sine qua non para a proclamação de um Estado palestino. Hoje pede a D'us proteção por sua alma. Mas a qual D'us pede Bush bênçãos ao terrorista? - seria questão de perguntarmos. Ao D'us dos judeus, cujos crentes foram massacrados pelo terror de Arafat? Ao D'us dos cristãos, que foram assassinados aos magotes por Arafat no Líbano, e tiveram suas aldeias destruídas e igrejas queimadas? Ou ao D'us dos árabes, que tampouco foram poupados por Arafat? Como dizem ainda as fontes judaicas: quem é complacente com o malvado, acaba sendo malvado com o bondoso. Podem ser discutidas as formas de punição, como pena de morte, prisão perpétua, trabalhos forçados, etc... mas o mundo entende e aceita o conceito de que para coibir a crueldade, é necessário de meios punitivos e corretivos. Curioso notar ainda, como os preceitos que Janer escolheu, foram cuidadosamente selecionados, fora de sua ordem original, e omitindo muita coisa entre um e outro. Ao tentar criar o efeito de um judaísmo intolerante, Janer fez da omissão a sua principal arma. Sim, pois em lugar algum de sua coluna aparece que a frase mais repetida em todo o cânone judaico é aquela que admoesta seus seguidores a respeitar e amar os não-judeus. Como, por exemplo, no livro do êxodo, capítulo 22, versículo 20: "E ao peregrino não fraudareis e não o oprimireis, porque peregrino fostes na terra do Egito". E onde está a menção aos 70 sacrifícios feitos pelo bem estar dos 70 povos do mundo, na época da festa das cabanas no Templo? E será que não valia citar ainda a história relatada no Talmud, que diz que D'us advertiu severamente os anjos por comemorar a derrota dos egípcios quando o mar se fechou atrás dos judeus na sua saída do Egito? "A obra das minhas mãos morre afogada e vocês se divertem?", é a advertência que teria feito D'us a eles. Se Janer tivesse realmente estudado e lido a respeito do judaísmo, ele saberia de tudo isso. No entanto sua única intenção foi menosprezar os judeus e o seu culto. A começar pela introdução, onde faz pouco dos costumes dos judeus ortodoxos e de onde diz que surgiu seu interesse em conhecer mais sobre a religião (conheceu tão bem que não mencionou que os sete povos idólatras a que se refere já foram extintos do mundo e que todas as leis que ele pincela não tem mais aplicação nos dias atuais). Janer e os ortodoxos - O articulista do Mídia critica os judeus por não apertarem botões aos sábados, e por andarem de capas de chuva "vagabundas', ao invés de guarda-chuvas. Se sente incomodado por eles não darem mãos a mulheres em público e por andarem de tênis no dia mais santo judaico, o Dia do Perdão, o Yom Kipur (tivesse estudado melhor, saberia que são duas vezes por ano, incluindo o Tisha Be Av, dia que marca as destruições dos Templos em Jerusalém). A primeira e óbvia pergunta seria: o que ele tem a ver com isso? Porque o incomoda tanto? Onde ficou a liberdade de expressão e religiosa da democracia brasileira? Mas isso não basta. Senão o jogo de Janer estará feito: retratar o judaísmo como uma religião primitiva e bárbara. Nada mais longe da verdade. O judaísmo é feito de valores. Um destes é o respeito máximo a mulher, que nada tem a ver com seu ciclo menstrual. Um homem, mesmo tendo 100% de certeza de que uma mulher não está menstruada, e ainda que seja sua esposa; mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E porque? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares com a sua amada. Em uma época onde mulheres reclamam que são tratadas como objetos, onde a propaganda abusa da super-exposição sexual da mulher e etc...., o judaísmo trata a mulher como um ser elevado a ser respeitado e admirado. Por isso pede modéstia da parte delas e recato no trato dos homens para com elas. De forma semelhante, o Shabat (o descanso de sábado), não é apenas uma parada física. É um momento em que o judeu abre mão da transformação do material e se dedica 100% ao espiritual. O ideal é esquecer o celular, televisão, trabalho, problemas, e tudo que diga respeito a nosso envolvimento com o mundo físico (e isso inclui apertar o botão do elevador, porque se fosse permitido apertar o botão do elevador, como impedir depois de se ligar a TV, pegar o celular, e daqui a pouco sair para o trabalho e etc...) e se dedicar inteiramente a jantares e almoços familiares. A se ler livros e estudar, a ir rezar, se encontrar com a comunidade, partilhar, aprender e ensinar. Todos aqueles valores que tanto se reclamam em falta nos dias de hoje, e que é unanimidade entre especialistas que fariam de nossa sociedade algo muito mais saudável. Porque dos tênis em lugar dos sapatos de couro em Yom Kipur e Tisha Be Av? Porque são dias de reflexão, e o segundo em especial, de lamentação. Dias introspectivos, em que procuramos o nosso eu mais interno e abrimos mão de luxos e coisas supérfluas. E isto é representado no ato de abrir mão do sapato de couro (sinal de luxo) pelo tênis. Valores que talvez a cabeça pequena de Janer não consiga compreender. Curiosamente, judeus foram acusados ao longo da história de serem capitalistas e exibirem luxúria. Agora são apontados e menosprezados por usarem 'capas de chuvas vagabundas" e "tênis em lugar de sapato". Tem lógica? Além disso, não sabia que existia alguma lei municipal que obrigasse as pessoas a sair com capa de chuva Armani, relógio Patek Philippe e bolsa Louis Vuitton. Novidades agora? Janer se sente incomodado com as pessoas que vivem no seu bairro, seus ritos e costumes? Sinto muito dizer a ele, mas o povo judeu não vai mudar após mais de três mil anos de história por causa dele. E nem deve. Se ele se sente realmente perturbado pelos costumes da vizinhança, fica valendo ainda o velho ditado: "os incomodados que se retirem". A liberdade de um vai até onde começa a do outro. E enquanto os judeus estiverem fazendo o seu, sem atrapalhar os outros, tem todo o direito de continuar. Direito e dever. E quem não gostar, azar. Não se pode agradar a todos. Finalizando, o pseudo-intelectual diz na última frase de seu texto, "E depois os judeus se queixam de ser uma raça perseguida". Aqui Cristaldo expõe enfim toda a sua ignorância, e prova o quão falsa é sua suposta erudição. Primeiro que só existe uma raça, a humana. Talvez não para o articulista, que defendeu em uma discussão em um fórum de Internet, que tal e qual cachorros e cavalos, o ser humano também tinha raças. Contrariando médicos, cientistas e especialistas que dizem que as diferenças de pigmentação são quesitos de melanina, Janer tem sua verdade baseada em seu achismo e vai se agarrar a ela. Mas mesmo nos quesitos "janistas", eu quero que ele me prove como é possível se converter de raça? Afinal, existe conversão no judaísmo e milhões de pessoas ao longo da história já se converteram à religião e ao povo judeu. Como seria possível isso numa raça? E mais: ainda na fórmula "janista de ser", como seria possível judaísmo ser uma raça, com judeus brancos, negros, sul-americanos e asiáticos? Por fim, novamente o ônus da prova é dele. Ele diz que os judeus se queixam de ser uma "raça" perseguida. Como se não o fossem, e justamente ao contrário, perseguissem os outros.... Acaso, ele consegue anular os registros de dois mil anos ininterruptos de perseguições, conversões forçadas, progroms, cruzadas, inquisição e Holocausto? Acaso, ele consegue achar registros de perseguição e assassinato por parte do povo judeu contra outros povos? Não, não é mesmo? Se conseguir, ele é um revolucionário da história. Caso não, esta última afirmação fica como a maior prova de que ele não passa de um difamador e será lembrada para sempre como um atestado de estupidez. Nem um pouco original, mas mesmo assim, nem um pouco menos estúpido. Quem sabe continuando a ler Maiomônides, ele aprenda alguma coisa. É só o que podemos desejar. O CÃO DO VENENCIA Na Calle del Viejo Idiota, em Madri, há um bar peculiaríssimo, o Venencia. Tem um balcão comprido, apenas três ou quatro mesas e só serve jerez: fino, oloroso, manzanilla e palo cortado. Tem as paredes e teto forrado por uma espécie de picumã, que terá décadas de idade. No dia em que for limpo, perderá todo seu charme. Desde que conheço Madri, e isso já faz mais de trinta anos, sempre me hospedo no hotel Inglés, que fica em frente ao Venencia. É uma forma de chegar com segurança em casa após as últimas copas da noite. Não procure no mapa a Calle del Viejo Idiota. Em verdade, chama-se Calle Echegaray, em homenagem José Echegaray y Eizaguirre, ministro espanhol da Fazenda e péssimo escritor de teatro, que foi prêmio Nobel da Literatura em 1904. O escritor galego Ramón del Valle-Inclán, que vivia na Echegaray, não o suportava. Dava como endereço Calle del Viejo Idiota. Consta que sua correspondência sempre chegava ao destino. No Venencia, na Calle del Viejo Idiota, eu terminava minhas noites madrilenhas com ela. Baixinha, ela escorava os cotovelos numa ponta do balcão e deixava o mundo rodar. Que rodasse, para chegar ao hotel bastava atravessar a rua. Nos últimos anos, surgiu no Venencia um cachorro preto, de pêlos desgrenhados e olhar triste. Com um gesto pidão, interpelava os clientes e ficava à espera de uma azeitona ou de um afago. Nos últimos anos, lá pelo terceiro ou quarto jerez, ela já falava espanhol com o cachorro. Reencontrei-o neste último dezembro, sempre desgrenhado e com o mesmo olhar patético. Hoje, ela faria 60 anos, cheia de juventude e alegria de viver. Não está mais aqui. O cachorro preto continua lá. domingo, janeiro 01, 2006
A AFETOS E DESAFETOS Nasci no campo e só fui conhecer cidade aos dez anos. Para chegar até a cidade, percorri de bicicleta 60 km de uma estrada de barro e areia. Verdade que a cidade decepcionou-me um pouco. Por influência de contos de fadas, fantasias orientais, eu imaginava a cidade como algo dourado e cheio de luzes. À medida que pedalava, fui entrando num conglomerado de casas mais ou menos cinza e com ruas poeirentas. Então aquilo era a cidade? Paciência. Nem sempre se come pão quente. As cidades douradas e cheias de luzes, tive a ventura de conhecê-las mais tarde. A imobilidade sempre me assustou. Antes de conhecer as cidades douradas e cheias de luzes, quando ainda existia trem no Brasil, fiz várias vezes o trajeto entre Dom Pedrito e Porto Alegre. Nessas viagens, eu procurava o último vagão, abria a última porta e me sentava nas escadinhas que davam para os trilhos. A paisagem ia fugindo, entremeada de casebres ao longo da ferrovia, casebres frente aos quais o trem jamais parava. Eu tentava imaginar a vida daqueles tristes seres, sempre imóveis, vendo o trem passar todos os dias e sem ambição alguma de viajar. Sentia-me um privilegiado, passando, enquanto eles eternamente ficavam. Os contos de infância são poderosos. Mal saí da faculdade, qual um Schliemann em busca de Tróia, fui à conquista das cidades douradas. O pai de Heinrich Schliemann costumava ler para o filho os versos de Homero, mas jamais lhe passou pela cabeça que Tróia existisse. O pequeno Heinrich acreditava em Tróia. O pai dizia que tudo não passava de lenda. Certo dia, quando Heinrich trabalhava em um bar, ouviu estudantes recitando Homero em grego antigo. E lembrou-se: "eu preciso descobrir Tróia". (A propósito: se alguém anda com vontade de ler algo fascinante, procure em algum sebo Schliemann - História de um buscador de ouro, de Emil Ludwig. É uma das mais fascinantes aventuras do espírito humano). E acabou descobrindo-a. Mais ainda: reuniu um grupo de gregas e escolheu entre elas sua mulher, a que mais se parecia com Helena. Ela aproximou-se de Heinrich recitando Homero em grego antigo. Ao casar, engalanou-a com as jóias de Helena. Divago. Comecei a viajar e não parei mais. Em Estocolmo, fui contaminado por uma insidiosa doença nórdica, a resfeber. Febre de viagens, em bom português. É doença que não tem cura. Uma vez contraído o vírus, você acaba viajando até morrer. Bem entendido, nunca consegui amealhar patrimônio sólido. Pedra que rola não cria limo, diz-se na fronteira gaúcha. Mas resta sempre um patrimônio mais valioso. Aprendi isto com uma amiga sueca. Era guia de turismo, profissão reprovada por sua família, já que não levava a grandes ganhos. Estávamos nos anos 70, quando o fantasma soviético ainda rondava a Europa. "Meus pais reclamam" - me dizia Lena - "Mas se os russos invadirem a Suécia, podem tomar minhas posses. Mas minhas viagens eles não levam". Não que as cidades fossem exatamente douradas. Mas eram cheias de cores durante o dia e cheias de luzes à noite. Brancas de neve, ocres e vermelho-salmão, com cúpulas douradas com a pátina verde do tempo, e de um dourado esplendoroso no outono. As estações são pouco pronunciadas entre nós e quem nunca saiu do Brasil nunca viu um outono. Como também nunca viu um inverno. Nem talvez uma primavera. No Brasil, em verdade, só existe verão. Há quem inveje - no bom sentido - minha vida errante. Em vez de invejar, melhor seguir-me. O deslocamento no planetinha democratizou-se nas últimas décadas. Se você deixar de lado veleidades como casa na praia, carro próprio e outros sinais de status, toda viagem é viável. Desde que você não viva de salário mínimo, bem entendido. Sempre que pensei em comprar carro, ao mesmo tempo ponderava: mas isso dá dois meses na Europa. Assim sendo, até hoje não tenho carro. Nem idéia do valor de IPVA, multas, flanelinhas, preços de parking. Minha memória só retém matéria nobre: o sabor de um cochinillo no Sobrino de Botín, o bouquet de um Rioja no El Espejo, o odor acre de uma andouillete no Charpentiers, o chapéu encantador de uma menina no Relais de l'Odéon, uma brisa de primavera em Budapest arrepiando os braços, uma noite explodindo de estrelas nas montanhas de El Assekrem, o silêncio divino junto aos ventisqueros na Patagônia, cachoeiras caindo em Geiranger, um sol paranóico brilhando à meia-noite em Tromsø. Memória é para guardar lembranças boas. O fisco me extorque, é verdade. Mas minhas viagens, não há Lula que as roube. Se há quem me inveje, eu invejo não poucos leitores. Invejo, devo confessar, todo aquele que ainda não viajou. Este ainda tem preservada a excitação da descoberta, emoção que perdi para sempre. As cidades douradas me calaram tão fundo na alma que quando viajo tenho a sensação de estar voltando para casa. Como as cidades têm sempre uma estrutura semelhante, todo novo para mim é déjà-vu. Ano novo, grandes propósitos. Aos leitores que invejo - aqueles que ainda não partiram - minha sugestão: partam logo. Se a meta for Europa, partam com urgência. Neste réveillon, 425 carros foram queimados na grande Paris. Segundo o Le Monde, "apesar dos temores, a noite do réveillon ocorreu sem maiores incidentes". Quando o mais importante jornal francês considera que 425 carros queimados em uma noite não constitui maior incidente, está na hora de partir antes que a França vire um Iraque. Dispense excursões. Salvo para certos países ou regiões para onde é impossível viajar só, excursão é recurso de covardes, de quem teme enfrentar uma língua estrangeira ou renuncia ao prazer de perder-se nas vielas e meandros de cidades milenares. Nada mais prazeroso do que perder-se em uma noite silente nas ruelas de Veneza ou Amsterdã, sem ter para quem perguntar qualquer coisa, tentando achar uma rua e sempre caindo nos canais. Não se assuste com línguas que mais parecem doenças da garganta. Mesmo que você não entenda a língua do país onde está, a arquitetura, o traçado das ruas, os transportes, a gastronomia, os incidentes do dia-a-dia vão ensinar-lhe alguma coisa. Mesmo um analfabeto, ao voltar de uma viagem, volta menos analfabeto. Leve uma bibliografia mínima sobre as cidades que pretende visitar. Ler é inerente à viagem e torna o anecúmeno compreensível. E fuja de cidades que não têm bares nem restaurantes nem álcool nem jornais. Bares e restaurantes são as salas de estar com que um país o recebe. Se não há salas de estar, é porque você não é bem-vindo. Viajar é o mais requintado dos prazeres do espírito. Não permaneça imóvel na beira da ferrovia olhando os trens que passam. Parta, que a vida é curta. E a Indesejada das Gentes sempre é imprevisível. Viagem é patrimônio inalienável. Se o país afundar, se você entrar em falência, sua memória guardará um amplo acervo de bens que não podem ser alienados ou embargados. A meus leitores, afetos e desafetos, bom 2006 e muita água sob a quilha. FRANÇA SE RENDE Apesar dos temores, a noite do réveillon ocorreu sem incidentes maiores - afirma o Le Monde em manchete. Vamos à notícia: As festividades por ocasião da passagem ao ano de 2006 ocorreram em Paris e na região parisiense, como no resto do país, sem incidentes maiores. Sobre a totalidade do território, 25 mil policiais e gendarmes - 4500 em Paris - foram mobilizados para esta noite de São Silvestre por temor a uma retomada das violências de novembro. 425 veículos foram queimados na França por ocasião da noite de São Silvestre contra 333 no ano anterior, anunciou no domingo de manhã o diretor-geral da polícia nacional Michel Gaudin, durante um encontro de imprensa em Paris. Entre esses 425 veículos, 177 foram incendiados em Île de France, precisou M. Gaudin. Ele sublinhou "a muito, muito grande dispersão" desses incêndios que atingiram 267 comunas (132 no ano anterior) em 53 departamentos (41 no ano anterior). A França, ao absorver como parte de seu cotidiano a queima de 425 veículos numa só noite, rendeu-se ao ódio dos imigrantes árabes e africanos. CRESCIMENTO INDUBITÁVEL Em 11 de março de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantia que o Brasil iria crescer. "Não há nenhuma hipótese de a economia brasileira não crescer esse ano", afirmou. Quanto cresceu em 2004, não sei. Mas em 2005 houve um crescimento indubitável. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), órgão da ONU, entre 31 países da região, o Brasil ficou entre os lanternas: empatado com El Salvador e à frente só de Haiti (1,5%), Jamaica (1,4%) e Guiana (-2,9%). |
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