¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, fevereiro 29, 2012
 
TUCANO PERNAMBUCANO QUER ENFIAR
LITERATURA PERNAMBUCANA GOELA ABAIXO



Leitor me envia esta pérola, publicada hoje no Jornal do Commercio, de Recife.

Lei defende autor pernambucano - Aprovada no começo da semana, a lei estadual 53/2011, de autoria do deputado Daniel Coelho (PSDB) foi bem-recebida, mas não é unânime. O texto prevê que as livrarias pernambucana passem a contar com 5% de livros nordestinos em suas prateleiras, sendo metade desse percentual (2,5% do total) reservado a autores do Estado. Quem descumprir, pode ser advertido e até pagar uma multa entre R$ 1 mil e R$ 10 mil.

O deputado tucano foi ao encontro dos sonhos de todo escrevinhador medíocre de província: ter sua “obra” exposta numa livraria. Há uma mania muito brasileira – e certamente não só brasileira – de classificar a literatura por Estado. Assim, temos a literatura gaúcha, catarinense, paranaense, pernambucana e daí por diante. Verdade que não ouço muito falar em literatura paulista. A confluência de gentes no Estado e na Paulicéia é tamanha que fica difícil falar em uma literatura específica. Em suma, quanto menos importante o Estado, quanto mais medíocre sua literatura, mais seus escritores querem ostentar suas plumas.

Ainda há pouco, comentei uma descoberta de meus dias de Florianópolis. Em uma ementa do curso de Filosofia da UFSC, li: História da Filosofia Catarinense. Sou um desinformado. Eu nem sabia que existiam filósofos em Santa Catarina, quando na verdade já existia, pujante e fecunda, uma história da filosofia catarinense.

Quanto à literatura, nem se fala. Em 1986, quando coordenei um encontro de escritores brasileiros em Porto Alegre, pensei em fazer um aceno aos escritores catarinenses. Eu conhecia três ou quatro nomes e enviei-lhes convite, pedindo que o transmitissem aos demais colegas. Resumo da ópera: chegaram dois ônibus de escritores. A delegação catarinense foi maior que a do Brasil todo.

Há algumas décadas, li notícia sobre um encontro de poesia gaúcha nalguma cidade da serra, creio que Gramado. Li mais ainda: que um ônibus de poetas se dirigia à cidade. Ora, eu imaginava, naqueles dias, que no Rio Grande do Sul havia um só poeta. Estava desinformado.

A universidade é a primeira trincheira em que se aboletam os medíocres. Criam-se cadeiras de literaturas estaduais. Assim, temos as disciplinas de literatura gaúcha, catarinense, pernambucana, etc. Mais um pouco e a literatura será municipalizada: teremos quem sabe literatura porto-alegrense, pelotense, santanense, pedritense, não-me-toquense. Academias já existem. Só falta a universidade tornar-se sensível a esta aspiração dos pavões.

Isso sem falar na tal de literatura brasileira, em que autores tipo Oswald ou Mário de Andrade, Clarice Lispector ou Guimarães Rosa são empurrados goela abaixo dos estudantes, via vestibular ou currículos universitários. Surge então a pergunta: que distingue um autor brasileiro de um autor gaúcho ou pernambucano? Ah, escritor nacional é aquele publicado no eixo Rio/São Paulo, que preferentemente goze do apreço dos PhDeuses da USP.

Ainda ontem, me escrevia um indignado leitor:

“Sou um vestibulando e há mais de quatro anos presto concurso em universidades públicas para o curso de medicina aqui em São Paulo, e concordo plenamente com você sobre o fato de nós alunos sermos obrigados a ler obras nacionais, o que na sua imensa maioria são insuportáveis de serem lidas , como o Machadinho, Eça , Jorge Amado ( a grande prostituta como você mesmo diz), Mário de Andrade, Vinícius De Moraes entre outros. Ora, em minha vida escolar e no cursinho foi raríssimo encontrar algum aluno que suportasse ler algumas dessas "obras" que são enfiadas goela abaixo pelos acadêmicos, então porque temos que ler esses livros horrosos? A minha ojeriza maior , entre outras, é pelo "Papa do Modernismo"(Mário de Andrade) e sua obra maior: Macunaíma, que é uma história sem pé nem cabeça e que não fez sucesso nenhum, tanto é verdade que a mãe do próprio autor disse que não havia entendido o enredo do livro e mesmo assim hoje em dia é considerado um clássico(??!!). Ou seja, um livro que até hoje ninguém lê a não ser professores de literatura e os alunos, estes últimos porque são obrigados, e não fez sucesso algum é considerado um clássico? Se não é basta transformar em um, lembremos que estamos no Brasil onde tudo é possivel, já que a sobrinha de Mário De Andrade foi casada com o catedrático-uspiniano-decrépito-comunista Antonio Candido, segundo alguns o maior crítico literário do Brasil, o que cá para nós facilitou a vida de Andrade, pois transformar aquele livro insuportável em um "clássico" foi fácil visto que a USP e o MEC são o que determinam o que temos que aprender nas escolas”.

Bom, eu retiraria Eça desta lista. É um dos grandes momentos da língua portuguesa. Eu faria uma outra pergunta: por que raios um candidato ao curso de Medicina tem de conhecer literatura nacional? A verdade é que a literatura brasileira, como o cinema e o teatro, só sobrevivem se entubados ao Estado. Um leitor russo ou espanhol, inglês ou francês, tem opções bastantes para buscar autores profundos na própria língua. O leitor brasileiro as tem em termos, terá de refugiar-se em Portugal, em Guerra Junqueiro, Eça de Queirós ou Fernando Pessoa. O endeusamento de mediocridades na literatura brasileira se deve, a meu ver, a essa mania que têm os países com complexo de inferioridade cultural a desenvolver uma literatura nacional. Se existe Brasil, deve existir um cânone brasileiro com seus mitos e gênios.

Ocorre que literatura é tão universal quanto a física ou matemática. Pelo menos até agora os acadêmicos brasileiros não ousaram falar de uma física ou matemática brasileiras. (Na França, foram mais longe: houve época em que se falava em uma geografia burguesa e outra proletária). Quando alguém me pergunta quais autores recomendo na literatura brasileira, não me faço de rogado: Platão, Cervantes, Dostoievski, Swift, Nietzsche, Orwell, Pessoa e por aí afora.

Ora, direis, estes não são autores nacionais. Pois a meu ver, são. Estão traduzidos, fazem parte do imaginário nacional, logo são tão brasileiros quanto Machado ou Rosa. Mesmo que não fossem, pertencem ao acervo universal e não temos o direito de ignorá-los. Por que não considerar Cervantes ou Balzac como escritores brasileiros? Tratam do ser humano e seus personagens invadem nosso dia-a-dia. Dom Quixote é mais conhecido no Brasil do que Brás Cubas, gerou inclusive um adjetivo, quixotesco, aliás presente em outras línguas de cultura. Balzac também. O português é a única língua que define a mulher de trinta anos como balzaquiana. Deu até samba: "Balzac acertou na pinta, mulher só depois dos trinta".

Mas desviei do assunto. Volto a Pernambuco. Para a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Fátima Quintas, trata-se de uma lei extraordinária e necessária. De fato, o grande problema do escritor local é a distribuição. Mas é preciso que se cumpra a lei, é preciso fiscalizar, opina a ficcionista e antropóloga.

Para Alexandre Santos, presidente da União Brasileira de Escritores - Secção Pernambuco, a aprovação é uma excelente notícia. O que é preciso, no entanto, é que exista a vontade política do Governo Estadual de cobrar o seu cumprimento. Existe uma lei municipal semelhante, mas a prefeitura pouco faz em relação a isso, declara.

E aí do livreiro que não expuser os medíocres locais. Será multado, e suponho que de novo multado se reincidir. Este é o sonho de todo escritor medíocre de qualquer Estado. Ocorre que exposição na vitrine não significa venda. A meu ver, a lei do deputado tucano deve ser aperfeiçoada. Cada família com filho na escola – ou mesmo sem filho na escola – deve comprar um percentual xis de autores pernambucanos.

O que, de certa forma, já ocorre em âmbito nacional. Quando se fala em vinho ou uísque, a preferência recai sobre vinho ou uísque importados. O mesmo vale para carros ou aparelhos eletrônicos. Mas quando se trata da bendita literatura, ela tem de ser nacional. E agora, como pretende o Legislativo pernambucano, estadual.

terça-feira, fevereiro 28, 2012
 
POR QUE LER BONS LIVROS,
QUANDO SE PODE LER OS ÓTIMOS?



Não poucos leitores acharam que usei de mão pesada, ao comentar a reportagem da Veja sobre best-sellers. Que afinal não se lê para transformar o mundo mas pelo prazer de ler, que é melhor ler do que não ler nada ou assistir BBB. Vamos por partes.

Começo por minha parte. Só leio um livro ou assisto um filme se o livro ou filme me dão prazer. Sei, há leituras cujo fascínio está no texto e outras nem tanto. No Quixote, a meu ver, o que mais encanta é o texto de Cervantes, sua ironia constante, seu estilo. Claro que é prazeroso ler Cervantes. Como também ouvir a música de Fernando Pessoa ou José Hernández. Mas também sinto prazer em leituras pesadas como Dostoievski ou Ernest Renan. Se um livro me cansa ou não o entendo, desisto da leitura. Aconteceu por exemplo, com a Breve História do Tempo, de Stephen Hawking. Quando vi que me faltavam conhecimentos de física ou astronomia para entendê-lo, deixei-o de lado. Como também não consegui passar da página 100 de Ulisses ou Grandes Sertões: Veredas. Clarice Lispector, não consigo ler nem dez páginas.

Mas li – e reli – com muito prazer, os sete volumes da História do Cristianismo, de Renan. Li, de um sorvo só, as 1.458 páginas de L’ Histoire de l’Inquisition au Moyen Âge, de Henry Charles Lea. Mais as 1.400 de Un autre Moyen Âge, de Le Goff. Aliás, compro sem hesitar qualquer título assinado por Le Goff. Mas não consigo ler 70 ou 80 páginas do padre Marcelo ou do Paulo Coelho. Aliás, não consigo ler nem 50 linhas. Quando o assunto mexe conosco e o autor escreve bem, mil páginas nos deixam com sede.

Não sou desses que lêem para transformar o mundo. Já fui, é verdade. Aconteceu nos poucos anos de minha adolescência, quando fui contaminado pelo catolicismo e militei na JEC e JUC. Depois disso, veleidade nenhuma de transformar o mundo. O mundo que siga sua rota que eu vou tratar da minha.

Tampouco acho que um jovem deva começar pela grande literatura. Impor a leitura de clássicos a adolescentes é afastá-los da leitura. Certo, eu li o Quixote, pela primeira vez, aos quinze. Mas comecei com revistas em quadrinhos, tipo Zorro, Nyoka, Batman, Superman, Hopalong Cassidy, David Crocket. Tarzan, eu o li em quadrinhos e em livros. O texto de Edgar Rice Burroughs me fazia viajar bem mais longe que os quadrinhos.

Li também muito romance de capa-e-espada, de Michel Zevaco a Alexandre Dumas. Ou os Mistérios de Paris, de Eugène Sue. Mais Jules Verne, é claro. Ou Karl May. Quem lembra hoje de Winnetou ou Mão-de-ferro? Não diria hoje que tais livros constituam grande literatura. Mas fazem um adolescente sonhar e viajar por geografias distantes. Acho que há uma época para chegar-se a Nietzsche ou Dostoievski, e jamais me ocorreria recomendar a um adolescente Crime e Castigo ou Assim Falava Zaratustra.

Claro que é melhor ler qualquer coisa do que não ler nada. Mas se podemos ler boa literatura – ou pelo menos razoável – por que ler bobagens? Há quem vá mais longe. Era Stephan Zweig – se não me falha a memória – que se perguntava: por que ler bons livros, quando se pode ler os ótimos? O best-seller, na verdade, é um livro empurrado pela publicidade. O editor joga milhões na promoção do livro, compra jornais e jornalistas, críticos e resenhistas, e o leitor incauto cai na trapaça. O mesmo acontece com o cinema.

Outros leitores consideram que toda literatura é de auto-ajuda. Se pegamos a palavrinha em sua acepção lata, tenho de concordar. Lemos para entender o mundo e a nós mesmos. Em suma, para construir nossa personalidade, nossa visão de mundo. Quando busco os bons escritores, estou pedindo socorro. Lendo Platão, entendo melhor a Grécia antiga e a cultura ocidental. O mesmo diga-se da Bíblia, se a lemos com olhos de ateu. Lendo Cervantes, entendo melhor a Espanha. Lendo Orwell, entendo com mais acuidade a peste que grassou por todo o século passado.

São leituras que me ajudam, que me transformam. Mas o mesmo não podemos esperar de Jô Soares ou Zíbia Gasparetto. Por auto-ajuda, em sentido estrito, entende-se essa literatura que só ajuda mesmo o autor... a enriquecer. São enlatados repletos de lugares comuns e falsas esperanças. Servem como anestésico às grandes inquietações da existência. Você se sente um inútil? Leia algum desses livrinhos e erga a cabeça, afinal a vida é bela.

Há autores que libertam, e este autor varia de leitor para leitor. No meu caso, foi Nietzsche. Vou reproduzir texto que escrevi há umas três décadas. Meus professores de Filosofia não gostavam do alemão, ele demolia todas as filosofias. Cá e lá ele era citado, afinal não podia ser ignorado. Mas nunca tive professor que recomendasse Nietzsche em suas bibliografias. Para mim, foi autor decisivo em minha vida. É leitura, penso, que deve ser feita quando se é jovem. Não sei se adianta ler Nietzsche aos trinta anos. Também não sei se seria útil a um jovem contemporâneo. Em minha época de universitário, pensamento se demolia com pensamento. Hoje, os meios de comunicação se encarregam deste trabalho de demolição.

Aconteceu nos dias de Porto Alegre. Um colega um tanto inquieto, cujos interesses oscilavam do pugilismo às matemáticas, me abordou com o olhar desvairado. Empunhava um livro com verve. "Tens de ler este alemão. Urgente". Era o Ecce Homo - Como se chega a ser o que se é, de Nietzsche. Seriam umas dez da manhã. Acostumados àqueles humores repentinos, pensei dar uma vista de olhos no livro, para que meu instável amigo não mais me chateasse. Já no índice, comecei a irritar-me. Primeiro capítulo: porque sou tão sábio. Segundo: porque sou tão sagaz. Terceiro: porque escrevo bons livros. O último capítulo, uma pergunta: porque sou uma fatalidade?

É o tipo de introdução que convida o leitor desavisado a jogar o livro longe. Mas uma música qualquer, uma cantata de eremita que volta do deserto, emanava das páginas sublinhadas com fúria naquele livro ensebado. Deixei-me levar pela música, fui entrando na atmosfera rarefeita do pensador. "Ouvi-me!" - alerta Nietzsche já na introdução - "eu sou alguém e, sobretudo, não me confundais com qualquer outro".

Mergulhei com fúria na leitura. Sentia estar perto de algo vital. Este livro, no qual o alemão furibundo se apresenta aos pósteros com as palavras com que Pilatos entrega o Cristo às turbas - Eis o Homem - foi escrito pouco antes de seu mergulho na loucura. É certamente o pensador que com mais energia lutou contra a hipocrisia do cristianismo e contra o próprio Cristo, a ponto de assinar-se, em seus dias de insanidade, como o Anti-Cristo. Ao falar da morte dos deuses pagãos, completava: sim, os deuses gregos morreram. Morreram de rir, ao saber que no Ocidente havia um que se pretendia único.

A manhã se foi, entrei meio-dia adentro, esqueci de almoçar e, lá pelas três da tarde, tive de engolir esta: “Não me são desconhecidas as minhas qualidades de escritor; em determinados casos compreendi como se corrompia o gosto com o manuseio de minha obra. Acaba-se, simplesmente, por não suportar mais a leitura de outros livros, pelo menos os filósofos. (...) Disseram-me que é impossível interromper a leitura dos meus livros, porque eu perturbo até o repouso noturno. Não existem livros mais soberbos e, ao mesmo tempo tão refinados quanto os meus”.

Vontade de jogar fora o livro. Mas já era tarde demais para voltar atrás. Procurei imediatamente as obras completas do autor. Primeira escala, Assim falava Zaratustra: "Exorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperanças supraterrestres". Zaratustra é o eremita que, ao voltar da montanha, encontra um santo em uma cabana no bosque, que entoa cânticos para louvar a Deus. O eremita se espanta: "Será possível que este santo ancião ainda não tivesse ouvido no seu bosque que Deus já morreu?"

Para um jovem sufocado pela propaganda de Roma, sorver Nietzsche era como beber água límpida, não poluída pelos construtores de mitos. Passei inclusive a estudar alemão, para degustar no original seus ditirambos. Mas a vida tem outros projetos para os que nela entram, e acabei aprendendo sueco. De qualquer forma, Nietzsche foi decisivo para minha libertação.

Outros livros me ensinaram mais ainda sobre o homem, o mundo e sobre mim mesmo. Mas se hoje sou como sou, isto eu o devo ao pensador alemão. Ler qualquer coisa é melhor do que não ler? Até pode ser. Mas a boa literatura, mesmo minoritária, ainda exige mais que uma vida para ser consumida.

No que me diz respeito, não tenho tempo nem de ler os bons livros que comprei em minhas viagens. Uma das coisas que lamentarei na viagem aquela da qual não se volta é não ter lido todos os livros de minha biblioteca. Boa literatura é o que não falta. Pode não estar nas bancas de jornais ou mesmo em livrarias, mas sempre está ao alcance da mão do leitor mais curioso. Ainda mais nestes dias de Internet.

 
SOBRE A ANTIGUIDADE DO
POLITICAMENTE CORRETO



Olá Janer!

Em seu último texto você escreveu que o politicamente correto é "um cacoete ideológico, surgido nas universidades americanas nos anos 80", e que "a linguagem PC - politicamente correta - é o stalinismo aplicado à linguagem. Stalinismo curiosamente oriundo de uma nação que se jacta de defender a liberdade".

Isto me fez lembrar de um livro que comprei em um sebo em 2010 e que li no ano passado. Ao pesquisar sobre a "linguagem PC" na internet, eu quase sempre topava com este tipo de informação, qual seja, a de que o "politicamente correto" surgiu em tempos recentes, como as décadas de 1970 ou 1980, nas universidades americanas. Mas aí, veio o tal livro que eu comprei. O título é Child of the Revolution, e o autor é Wolfgang Leonhard. Velhinho, papel amarelado, algumas páginas soltas, me custou só R$ 5,00, mas prendeu minha atenção do início ao fim. Foi escrito em alemão na década de 1950, traduzido para o inglês e publicado em Chicago em 1958, pela Henry Regnery Company.

O livro é um relato autobiográfico. O autor era um menino em 1935, e sua mãe era comunista havia anos, participante da Spartakusbund e membro do partido comunista desde 1918. Em 1935, podendo escolher entre o exílio no Ocidente ou na URSS, ela escolheu o inferno de Stálin, e para lá carregou seu filho. O resto do livro é um relato da vida de um jovem emigrado no inferno stalinista. Ele foi separado da mãe (que foi presa, como acontecia frequentemente), mais tarde foi enviado a uma escola do Komintern em um lugar remoto no fim do mundo, e foi treinado para ser uma das lideranças naquilo que viria a ser a Alemanha Oriental após a guerra. No fim das contas, o autor foi ficando desgostoso com o stalinismo (mas não com o socialismo), e resolveu fugir para a Iugoslávia. O livro termina com sua fuga para o país de Tito. Pesquisando depois, eu soube que posteriormente ele foi para os Estados Unidos e tornou-se professor em uma universidade norte-americana.

Voltando ao politicamente correto, eu fiquei surpreso quando cheguei à página 227 do livro (no capítulo que relata sua vida na escola do Komintern) e me deparei com esta afirmação: "We had to learn how to compose, within an hour, a 'politically correct' leaflet on any subject set us. The subjects chosen for the purpose were by no means easy" (as aspas na expressão "politically correct" estão no original, mostrando que o autor quis enfatizar o termo). E aí ele passa a dar exemplos de assuntos que deveriam ser "traduzidos" para o jargão politicamente correto e distribuídos em panfletos para os comunistas fora da Rússia, como uma declaração de Goering de 1942 sobre racionamento de alimentos.

Na há dúvidas, portanto, que a expressão "politicamente correto" já existia pelo menos desde o início da década de 1940, e fazia parte do jargão do regime stalinista. A função do "politicamente correto" na URSS também era muito parecida com a ideia atual, pois era basicamente a adaptação de qualquer informação (o autor diz que eles analisavam até encíclicas papais) ao linguajar que os comunistas consideravam "aceitável".

Se esta praga da linguagem PC ganhou a notoriedade que tem hoje a partir de trabalhos feitos em universidades estadunidenses na década de 1980, eu acho que podemos dizer que ela não surgiu nos Estados Unidos, mas provavelmente na Rússia. Os ianques apenas fizeram um trabalho de atualização de mais uma porcaria criada pelos comunistas na época de Stálin.

Um grande abraço!

Humberto Quaglio

segunda-feira, fevereiro 27, 2012
 
MPF CENSURA DICIONÁRIOS


Essa agora! O Ministério Público Federal (MPF) em Uberlândia (MG) entrou com uma ação contra a Editora Objetiva e o Instituto Antônio Houaiss para a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição das edições do Dicionário Houaiss, que contêm expressões pejorativas e preconceituosas relativas aos ciganos. Segundo o MPF, também deverão ser recolhidos todos os exemplares disponíveis em estoque que estejam na mesma situação.

Se alguém acha que existe algo de novo sob o sol é porque não tem memória. Ou será que ninguém mais lembra da Cartilha do Nilmário? Comentei-a em 2005. Um ano antes, havia sido editada a cartilha Politicamente Correto & Direitos Humanos, pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que tinha então como titular o também mineiro Nilmário Miranda.

De autoria de um antigo militante comunista, o jornalista Antonio Carlos Queiroz, a cartilha bania do vocabulário, como inconvenientes, mais de noventa palavras. O documento era fruto de um convênio entre a Secretaria e a Fundação Universitária de Brasília, que resolveu terceirizar o serviço e o repassou ao jornalista. Quem passou a dar nome às coisas não era mais o povo, mas o PT. Dicionários e dicionaristas que se lixassem.

Esta tendência a censurar dicionários não é nova no PT. Uma de suas deputadas, Lúcia Carvalho, não teve pejo algum em apresentar à Câmara Legislativa de Brasília um projeto que retirava dos dicionários, livros didáticos e obras literárias, todas as expressões por ela consideradas machistas. Pra começar, "paraíba mulher-macho', que desde há muito faz parte do cancioneiro nacional.

O insólito em tudo isso é que um cacoete ideológico, surgido nas universidades americanas nos anos 8O, seja endossado por antigos servidores de Moscou. Costumo afirmar que brasileiro adora copiar achados do Primeiro Mundo. Mas copia com dez ou mais anos de atraso, e sempre copia o pior. No caso, os mais lídimos representantes das esquerdas brasileiras, de um antiamericanismo ferrenho, foram buscar nos States a inspiração para seus pendores autoritários. Pois a linguagem PC - politicamente correta - é o stalinismo aplicado à linguagem. Stalinismo curiosamente oriundo de uma nação que se jacta de defender a liberdade. Não contentes de censurar livros, os neostalinistas querem censurar dicionários. Palavras que sempre estiveram na boca do povo - afinal, dela nasceram - passam de repente a constituir algo ilícito, ou no mínimo inconveniente, quando proferidas.

O objetivo da ação do MPF – segundo leio nos jornais - é obrigar o dicionário a suprimir quaisquer referências preconceituosas contra uma minoria étnica, que, no Brasil, possui hoje mais de 600 mil pessoas. Para o MPF, os significados atribuídos pelo Dicionário Houaiss à palavra "cigano" estão carregados de preconceito, o que, inclusive, pode vir a caracterizar crime. "Ao se ler em um dicionário, por sinal extremamente bem conceituado, que a nomenclatura "cigano" significa aquele que trapaceia, velhaco, entre outras coisas do gênero, ainda que se deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou, ainda, que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação", diz o procurador Cléber Eustáquio Neves.

Como se fosse o Houaiss quem atribuísse essas acepções à palavra. O dicionarista não define palavra alguma. Apenas pesquisa o que ela significa no falar das gentes.

A cartilha do Nilmário era mais ambiciosa. Pretendia, por exemplo, banir palavras como preto (inclusive na expressão "a coisa ficou preta"), baianada, aidético, cabeça-chata, sapatão. A palavra negro também tem suas restrições: "a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta". Em suma, se você disser negro acompanhado de um sorriso, talvez passe. Mais um pouco e o PT passa a regulamentar o sorriso.

Ora, há muito os jornais brasileiros evitam essas palavras. A linguagem PC infiltrou-se até na legislação. Chamar alguém de negro, mesmo que negro seja, hoje constitui crime. Há alguns anos, um negro foi preso em Brasília por chamar um negro... de negro. É cada vez mais freqüente - numa cópia servil da imprensa ianque - o uso de afrodescendentes para negros. Se você, leitor, é desses que adoram pautar sua linguagem pela moda, ao ver um amigo negro, não mais o chame de negrão. Mas de "meu caro afrodescendentão". Se for miudinho, "meu querido afrodescendentinho".

Preto de alma branca, nem pensar. (Semana passada, um jornalista foi condenado a pagar R$ 30 mil por ter usado a expressão). É "um dos slogans mais terríveis da ideologia do branqueamento no país, que atribui valor máximo à raça branca e mínimo aos negros. Frase altamente racista e segregadora". Por analogia, a velha expressão popular "serviço de negro" muito menos. Mas falar em serviço de branco, quando você quer elogiar um trabalho, por enquanto não está proibido. Lapso do Queiroz.

A levar-se a sério a famigerada cartilha, até a Bíblia teria de ser reescrita. Pois Sulamita é negra. Pior ainda: negra, mas formosa. Lá está: nigra sum, sed formosa. A Vulgata, por sua vez, deriva da tradução dos Septuaginta - feita a partir do original hebraico - onde está, em grego: Melaina eimi kai kale. Esse "mas" tem sido até hoje uma espinha na garganta dos ativistas negros.

Já baianada é mais complexo. Os paulistanos mais pudicos, que já hesitam em chamar alguém de nordestino, ao referir-se aos nordestinos, os chamam de baianos. Para São Paulo, acima do Rio de Janeiro todo mundo é baiano. O gentílico, neste caso, não é um pejorativo para baiano, e sim um eufemismo para nordestino. O "baiano ACM" pode, afinal ACM é do mal. Mas que nenhum jornalista ouse grafar "o baiano Jorge Amado". Está arriscando seu emprego, pois Amado é do bem. Na fronteira gaúcha, curiosamente, baianada era tentar montar o cavalo pelo lado errado.

Baitola, bicha, boiola e veado, muito menos. Nem mesmo homossexualismo é recomendável, "tem carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou movimento político". Melhor homossexualidade, como se a mudança de prefixo mudasse algo na preferência dos homossexuais. (Verdade que hoje o ministro Ayres Britto criou um novo neologismo, já que a palavra antiga andava meio desmoralizada: homoafetividade). Quanto à palavra veado, parágrafo único: por especial deferência, é de uso reservado à Presidência da República, quando quiser referir-se aos pelotenses.

Ocorre que o autor foi mais realista que o rei. Em seu afã de cassar palavras, compilou várias de muito apreço por parte do Supremo Apedeuta. Lula, talvez por precaução, mandou suspender a distribuição da cartilha que, com poucos meses de existência, virou raridade bibliográfica. Os homens desmoralizam as palavras e depois sentem-se obrigados a cassá-las.

Queiroz foi mais longe, colocou a palavra "comunista" entre as politicamente incorretas. Sem talvez lembrar que o PT tem suas origens, entre outras, no PCB e no PC do B, partidos hoje legalizados e atuantes. Esta foi a grande novidade da cartilha: o autor intuiu que comunista passou a ser palavrão. Mas como definir, doravante, nulidades como Luiz Carlos Prestes ou Oscar Niemeyer? Não será fácil encontrar um novo adjetivo.

A ação do promotor mineiro originou-se de investigação iniciada em 2009, quando o MPF em Uberlândia recebeu representação de um cidadão de origem cigana questionando a prática de discriminação e preconceito pelos dicionários de língua portuguesa contra sua etnia. Para esclarecer os fatos, o procurador enviou ofícios a diversas editoras com pedidos de informações. Após receber as respostas, ele expediu recomendação às editoras para que fosse suprimida das próximas edições qualquer expressão pejorativa ou preconceituosa nos significados atribuídos à palavra "cigano". As editoras Globo e Melhoramentos se renderam covasrdemente à recomendação. Já a Editora Objetiva recusou-se a cumpri-la, sob o argumento de que seu dicionário é editado pelo Instituto Houaiss, sendo apenas detentora exclusiva dos direitos de edição. O MPF pede a condenação dos réus ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 200 mil.

Ou seja, o sr. Cléber Eustáquio Neves está nomeando a si mesmo como lexicógrafo. Todo dicionário deve agora passar pelo crivo do MPF. Quem define agora as palavras não são mais os dicionaristas, e muito menos o povo, mas os procuradores da República.

Como dizia, nada de novo sob o sol. Velho cacoete petista. Mas se esta passar, o Instituto Houaiss - como também o dicionário - ficarão definitivamente desmoralizados.

domingo, fevereiro 26, 2012
 
VEJA VÊ VANTAGENS
NA LEITURA DE LIXO



Quem acredita em tudo que lê, melhor não tivesse aprendido a ler, diz um provérbio oriental. Vou mais longe. Quem se nutre de best-sellers, nem devia ter aprendido a ler. Ainda há pouco, eu afirmava que fora da leitura não há salvação. Em meus dias de universidade, uma aluna me perguntava. Professor, é verdade que a leitura pode transformar a gente? Ora, é uma das poucas coisas que realmente transformam, eu diria. Pessoas, viagens, encontros, doenças, adversidades sempre mexem com nossas vidas. Mas a leitura continua sendo o método mais eficaz de mutação.

Mas há leituras e leituras. Uma coisa é ler Harry Potter e outra é ler Crime e Castigo. Conheço inclusive leitores contumazes – e os conheço de perto - que lêem talvez até mais do que eu leio, mas não fazem distinção alguma entre Rowling e Dostoievski. Crime e Castigo? Ah, sim a história daquele estudante que matou uma velhota? E estamos conversados. Como se fosse entrecho da novela das oito. As reflexões do russo sobre a vida e a morte, sobre o homem, Deus e a sociedade, escorrem como água entre os dedos. Ou seja, ler nem sempre é sinônimo de aquisição de cultura.

A revista Veja desta semana dá capa ao último best-seller tupiniquim, o padre Marcelo Rossi, com o título “O milagre da leitura”, enfocando Ágape, livro que já vendeu 7,5 milhões de exemplares. Em editorial, a revista saúda “os resultados auspiciosos do censo encomendado ao Upea pela Câmara Brasileira do Livro. Os dados mostram que, de 2009 para 2010, o número de exemplares impressos no Brasil bateu em quase 500 milhões, com um crescimento de 23%.”

Desse montante, 230 milhões pertencem ao que chamo de indústria textil – assim mesmo, sem acento, a indústria do texto. 144 milhões são comprados pelo governo e distribuídos gratuitamente às escolas, o que explica em boa parte a perenidade de autores que há muito estão mortos e bem mortos. E explica também a ojeriza dos jovens à leitura.

Muito bem. Mas que está lendo o brasileiro? Para começar, o tal de Ágape, do padre Marcelo Rossi. Ladeado por Zíbia Gasparetto, escritora espírita cujos livros são ditados por entidades de luz e já venderam 16 milhões de exemplares. Mais Jô Soares, que mistura o imperador D. Pedro II com Sarah Bernhardt e Sherlock Holmes, mais um violino Stradivarius. Mais outros ilustres nomes das letras pátrias, dos quais jamais ouvi falar: Thalita Rodrigues, crônica do cotidiano dos jovens; Ana Beatriz da Silva, série sobre as angústias da mente; Roberto Shinyashiki, o guru corporativo que fala sobre felicidade. Jô à parte, tudo auto-ajuda, esse gênero abominável da literatura, que vende falsas esperanças para os pobres de espírito.

Isso que Paulo Coelho não foi arrolado na reportagem, por não ter publicado título novo desde 2010. E sem falar em Gabriel Chalita, autor polímata que em seus 43 anos escreveu mais de 60 livros. Dos quais ninguém lembra título algum.

O Brasil está cheio de escritores que vendem milhões de livros e dos quais jamais ouvimos falar. Alguém conhece algum título – ou pelo menos ouviu falar – do padre Lauro Trevisan, de Santa Maria? Pois o homem – leio na Wikipédia – é autor de mais de 40 livros, todos eles best-sellers a nível internacional, com mais de dois milhões de exemplares vendidos. Em Portugal, as suas obras Apresse o Passo Que o Mundo Está a Mudar (2001), Como Usar o Seu Poder para Qualquer Coisa (2002), Conhece-te e Conhecerás o Teu Poder (2002), Regressão de Idade para a Libertação Total (2001) e Relax com Programação Positiva (2001) estão publicadas pela Editora Pergaminho. Os gaúchos têm uma celebridade em seus pagos e a desconhecem. Estes livros, você não os vê nem em livrarias. Exceto, é claro, na livraria que o padre administra em Santa Maria. São vendidos a partir de conferências e cursos de auto-ajuda.

Quem me acompanha, sabe de minha ojeriza aos best-sellers. Se um livro vendeu de repente um milhão de exemplares, este é um de meus critérios para não comprá-lo. Não existe tanta gente inteligente no mundo. Não existe um único best-seller em minha biblioteca. Aliás, quando saio atrás de um título, tenho de trotar entre uma livraria e outra, pois trata-se de livro geralmente pouco divulgado.

Os brasileiros estão lendo mais, diz Veja. Ora, de que adianta ler mais, quando o que se lê é isso? “O intelecto só precisa de uma faísca, mesmo que fraca, para acender o fogo da curiosidade e abrir uma clareira acolhedora que dará início ao interminável processo de enriquecimento do mundo interior. Qualquer livro pode ser essa faísca”. A frase soa a texto de auto-ajuda. Pelo jeito, o redator se deixou contaminar ao lidar com tanto lixo.

Paulo Coelho ou padre Marcelo, Zíbia ou Trevisan, Thalita ou Chalita não produzem faísca alguma, não acendem fogo algum nem abrem clareira alguma. Quem lê essa gente jamais vai chegar a Poe ou Pessoa, a Dostoievski ou Orwell, a Cervantes ou Nietzsche.

Não vejo vantagem alguma neste maior número de brasileiros que lêem, quando o que se lê é lixo.

sábado, fevereiro 25, 2012
 
MÓRMONS ROUBAM
ALMAS DE JUDEUS



O batismo é um rito de passagem adotada por diversas igrejas cristãs. Na Igreja Católica, o batismo é o sacramento através do qual o Sacrifício Pascal de Jesus Cristo se aplica às almas, tornando-as membros da Igreja e abrindo o caminho da salvação eterna.

Há uns sete ou oito anos, alertei meus leitores para uma notícia de vital importância para o gênero humano. Em dezembro de 2005, os teólogos do Vaticano se preparavam para recomendar ao papa Bento XVI o fim da idéia de limbo, o lugar para o qual vão, segundo as crenças católicas, as almas das crianças que morreram sem serem batizadas. Conforme a proposta, essas crianças iriam direto ao paraíso graças à "infinita misericórdia de Deus".

Segundo a doutrina do pecado original - comentei então - todo ser humano nasce com folha corrida. Sem batismo, nada de paraíso. Santo Agostinho considerava que os bebês não batizados iam direto ao inferno, embora tenha ressalvado que seu sofrimento seria de alguma forma mitigado. O Concílio de Cartago, do ano 418, negou a estes bebês a felicidade eterna. A Comissão Teológica Internacional (CTI) - colegiado composto de uma trintena de teólogos católicos - recomendava então abolir a noção de limbo de todo o ensino do catecismo católico. Já em outubro de 2004, Sua Santidade o papa João Paulo II considerava o tema de máxima importância e pedira à CTI que elaborasse "uma maneira mais coerente e ilustrada" de descrever, dentro da ortodoxia católica, o destino dos bebês mortos em inocência.

Mas o problema não é assim tão simples. Para os teólogos, existe um duplo limbo. Primeiro, existe o limbus patrum, para onde vão os justos, como Abraão e Moisés, que viveram antes do Cristo. Segundo, o limbus parvulorum ou limbus infantium, onde ficam os bebês mortos sem batismo. Como carregam a culpa do pecado original mas não cometeram pecados pessoais, não podem ser premiados com o céu nem castigados com o inferno. Perguntei-me na ocasião que aconteceria se a CTI liberasse o paraíso para os ocupantes do limbus parvulorum. Que seria feito do destino dos milhões de almas do limbus patrum? Todos os justos que precederam Cristo passariam a constituir um considerável contingente de sem-paraíso?

Em abril de 2007, a CTI oficializou a nova doutrina. O limbo é mais uma dessas firulas de teólogos, que não existe nos textos primevos do cristianismo. Você pode revirar a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse e não vai encontrar uma só menção a limbo. Este lugar hipotético surge a partir da instituição do batismo. Depois que o João batizou o Cristo às margens do Jordão, este gesto se tornou sacramento obrigatório para todo cristão. Sem batismo, não há salvação. É pelo batismo que o ser humano é redimido do pecado original. E aqui já vai mais uma bíblica contradição: se Cristo nasceu sem o pecado original, por que precisaria de batismo?

O limbo nunca constituiu dogma, era apenas uma posição doutrinária do catolicismo. Ocorre que os papas, a cada vez que tentam espanar a poeira dos séculos do carro da Igreja, criam mais perguntas que respostas. A emenda saiu pior do que o soneto.

Se o batismo não é necessário para a salvação eterna, para que então batismo? Batismo hoje só serve para a Igreja Católica inflar o número de suas ovelhas. Foi batizado segundo o rito católico? Então é católico, não importa se um dia largou a fé ou trocou de religião. Assim sendo, a Igreja de Roma pode gabar-se de contar com aproximadamente 1,2 bilhão de membros, ou seja, mais de um sexto da população mundial e mais de metade de todos os cristãos do planeta.

Alguns portugueses, irritados com a inclusão no ror dos católicos só por terem sido batizados, propuseram o desbatismo. Cada cidadão enviava um requerimento à paróquia onde fora batizado e pedia para desbatizar-se. Se a moda lusa pega, as estatísticas da Santa Madre irão mermar de forma considerável.

Os mórmons fizeram melhor. Para inflar seu rebanho, estão batizando postumamente pessoas que nunca foram batizadas e que a rigor nada têm a ver com a doutrina mórmon. O escândalo surgiu recentemente, quando se descobriu que Anne Frank, a menina judia cujo diário e morte em um campo de concentração nazista fez dela um símbolo do Holocausto, foi batizada postumamente por um membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

A denúncia foi feita por Helen Radkey, um ex-membro da igreja. O ritual foi realizado em um templo mórmon na República Dominicana. Radkey é pesquisadora de Salt Lake City e investiga tais incidentes que violam um pacto de 2010 entre a Igreja Mórmon e os líderes judeus.

Segundo a pesquisadora, Anne Frank - que morreu no campo da morte em Bergen Belsen em 1945 aos 15 anos - foi batizada por procuração, no sábado passado. Mórmons enviaram diferentes versões de seu nome pelo menos uma dúzia de vezes para os rituais vicários e estes foram realizados pelo menos nove vezes, entre 1989 a 1999.

Segundo o The Huffington Post, batismos póstumos mórmons por procuração para as vítimas do Holocausto ou para judeus que não são descendentes diretos dos mórmons continuam acontecendo, apesar da igreja ter prometido parar de utilizar tais práticas.

As negociações entre os mórmons e os líderes judeus levou a um acordo em 1995 em que a igreja pararia com o batismo póstumo de todos os judeus, exceto no caso de ancestrais diretos dos mórmons. Radkey descobriu que alguns mórmons não aderiram ao acordo. Até o nome de Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz, foi recentemente submetido ao site de genealogia alimentado pelos mórmons e consta como “pronto” para o batismo.

É um método engenhoso de inflar estatísticas, que além de infladas, são ornadas com nomes famosos. Os católicos não chegaram a tanto. Incluem em sua fé crianças que da Igreja nada entendem e que jamais foram consultadas se a ela queriam ou não pertencer. É de menino que se torce o pepino.

Acontece que os judeus não gostaram de ver seus heróis seqüestrados para uma fé cristã.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012
 
VINDE A MIM AS CRIANCINHAS *


Um dos botecos que freqüento em fim de tarde, acho que já contei, está cercado de forças místicas. De um lado, um oratório da TFP, aquele mesmo que nos idos de 1969 recebeu uma bomba. Obra de comunistas, segundo os devotos filhos de Maria. Do outro lado, fenômeno recente, um templo evangélico, mais um desses que brotam como cogumelos após a chuva, nestes dias em que tanta gente busca muletas espirituais. Nem um nem outro jamais me incomodaram. Enquanto peco no boteco, os marianos rezam ajoelhados ao lado de minha mesa, rezam talvez pela redenção deste pecador. Não são proselitistas. Fazem suas orações em voz baixa, recitam seus salve-rainhas, ave-marias e pai-nossos discretamente, muita vezes sob a chuva e em meio a madrugadas mais ou menos gélidas.

Já os evangélicos, estes são mais barulhentos. Muito som, muita fúria e muito fanatismo. Como ficam a uma distância suportável do bar, não chegam a atrapalhar minhas horas de recolhimento.

Num destes dias, em que o famigerado espírito natalino paira sobre a cidade, mal acabo de pecar e estou voltando para casa, fui abordado por quatro ou cinco pivetinhas, na faixa dos dez anos, de bíblias em punho. Eivadas da palavra divina, estavam sedentas para trazer ovelhas ao rebanho.

— O senhor é católico? — perguntou-me a menor delas, pelo jeito a mais audaz.
— Não.
— É evangélico?
— Também não.
Com um ar incrédulo, de quem não queria acreditar no que iria ouvir, insistiu:
— O senhor é ateu?
— Sou.

Foi a vez de intervir uma mulatinha dentuça, que me exibiu suas canjicas e todo seu espanto, como se tivesse encontrado um dinossauro:

— Ateeeeuu? Mas Deus existe, moço. Falo com ele todos os dias.

A discussão é muito antiga e longe de mim pretender debater tema tão batido com uma criança. Ainda mais nesta época em que qualquer vedetinha da televisão fala com Deus a qualquer hora, sem sequer pedir audiência ao Supremo. Aceitei os alegados da mulatinha dentuça. Existe e matou um monte de gente, não é verdade? Em Sodoma, sabia?

Ela pensou um pouco:

— É! Mas eles estavam pecando. Deus avisou antes para pararem de pecar.
— Tudo bem, minha filha. Mas teu pai não peca de vez em quando? Os homens não pecam todos os dias? Isso é motivo para matá-los?

Ela ficou matutando.

— Vou perguntar para o pastor.

Sugeri que perguntasse também quem era o único homem justo de Sodoma.

— Isso eu sei. Era o Ló.

Muito bem. Ela conhecia bem o roteiro. E com quem dormiu Ló depois que fugiu de Sodoma? Ela não sabia. Com as duas filhas, expliquei. Isso é exemplo?

— Vou perguntar ao pastor — defendeu-se a menina.

O pastor teria trabalho naquela noite. A mais novinha me atacou com o Velho Testamento:

— O senhor conhece este livro?
— Claro que conheço, moça. Era aquele que falava de Adão e Eva, não era? Os dois viviam sós no paraíso, tiveram dois filhos...
— Caim e Abel — atalhou a apostolazinha.
— Exato. Depois o que aconteceu?
— Caim matou Abel.
— Isso mesmo. Depois Caim procriou, teve filhos, não é isso?
— É — disse a pivetinha.
— Muito bem. Com quem Caim teve filhos?

A menininha pensou um pouco, botou um dedo na boca, e teve de admitir:

— Com Eva, ué!
— E quem era Eva?

Ela puxou mais um pouco pela memória e respondeu, já um pouco assustada:

— Era a mãe dele, não é?

Era, e aí começa o problema. O mito bíblico explica o mundo a partir de um incesto. Não quis explicar à menina que nada tenho contra incesto, aliás tampouco nossa legislação, quem quiser levar a mãe para a cama que tenha bom proveito. Mas nesse momento já havia chegado reforço. Mais três ou quatro meninos, mais crescidos, nos cercavam e seguiam com interesse a discussão. Um deles, o mais taludo, aventou:

— Ah! Mas o Caim foi procurar mulher em Ur.

Tão pequeno e já falacioso. Ali estava uma vocação irreversível para o jornalismo mentiroso. Ur dos Caldeus, expliquei ao futuro safado, é uma cidade no sul da Babilônia, de onde teria vindo Abraão. Não existia nos tempos de Adão. Aliás, nem é preciso conhecer a bíblia para saber disto. Basta fazer palavras cruzadas.

Um outro, gorduchinho mas já sofismador, tentou salvar a turma:

— É, mas tem primo casando com prima.
— Sei disso. Nada melhor que namoro de prima em cozinha, diziam os antigos. Mas pai com filhas — e com as duas — me parece um pouco pesado.
— Vamos perguntar ao pastor — responderam num coral improvisado.

O pastor, já inquieto, estava chegando e recolheu a meninada, que atacava este pobre incréu como uma matilha de cães ensandecidos. Orre, bem feito! Quem manda os pais soltarem criancinhas imaturas na fé nas ruas desta São Paulo, infestada de ateus empedernidos? Liberto do cerco, continuei meu caminho, um vago sorriso me perpassando a alma. Havia confundido meia dúzia de crianças e dado trabalho ao pastor.

Antes tarde do que nunca. Estava feita minha boa ação do ano.

* 29/12/2000

quinta-feira, fevereiro 23, 2012
 
SEIS POR MEIA DÚZIA


Acabei a leitura de Nomade (edição francesa), o segundo livro autobiográfico da somali Ayaan Hirsi Ali. É uma viagem e tanto. Nem tanto no espaço, afinal Mogadiscio fica a poucas horas de Amsterdã ou Nova York. Mas no tempo. Em seus quarenta e três anos, Ayaan varou séculos de distância. Oriunda de uma tribo na Somália, a escritora chegou às metrópoles do século XXI. De menina condenada a ser mulher de um membro qualquer de sua tribo, sem ter chance de não aceitar o macho que a escolheu, Ayaan foi deputada no Parlamento holandês e hoje é escritora traduzida em vários idiomas, com livre trânsito no Ocidente. Este feito não é para qualquer mortal.

A viagem de Ayaan é fascinante. Nos transporta, de uma tribo onde é preciso soprar brasas e apojar cabras para garantir o de comer, ao mundo da telefonia e do cartão de crédito. A autora transita com aisance de um universo a outro, e nos conduz, ocidentais, há séculos atrás no tempo.

Mas o final do livro, pelo menos para mim, deixou algo a desejar. Nos últimos capítulos, a autora abandona o relato autobiográfico e a narrativa das desavenças entre ocidentais e muçulmanos, para advogar uma espécie de resolução do conflito. Ayaan tem uma teoria, segundo a qual a maior parte dos muçulmanos estão em busca de um Deus redentor.

“Eles acreditam que existe uma força superior e que esta força é a provedora de toda moralidade, que ela lhes fornece uma bússola que os ajuda a distinguir o bem do mal. Muitos muçulmanos estão em busca de um conceito de Deus que, a meus olhos, corresponde à definição do deus cristão. Em lugar disso, eles encontram Alá. Eles encontram Alá porque muitos deles nasceram no seio de famílias muçulmanas onde Alá é a divindade reinante desde muitas gerações; outros se convertem ao Islã ou são filhos de convertidos”.

Até aí morreu o Neves. Todos nascemos ateus. Se assumimos qualquer religião, é em função da educação, da família e do Estado. Em minha infância – que tem até muitos pontos em comum com a de Ayaan – eu não tinha religião alguma. Até o dia em que uma catequista chegou àqueles pagos e me jogou na igreja. Nascesse eu na Somália ou em países árabes, não teria chance alguma de escapar ao islamismo. Se Ayaan encontrou Alá, eu encontrei Jeová e mais o judeu aquele. Não há como escapar. Aliás, este foi um dos argumentos que usei, quando adolescente, para negar a idéia de Deus. Se acredito no cristianismo porque nasci aqui, certamente acreditaria no islamismo se tivesse nascido lá. Deus era então algo muito relativo.

Em um encontro com um padre católico em Roma, a escritora sugere que as Igrejas poderiam penetrar as comunidades muçulmanas e fornecer serviços como fazem os muçulmanos radicais: construir novas escolas católicas, hospitais e albergues socioculturais, como aqueles que tiveram uma função altamente civilizadora na época do colonialismo, na África.

“As igrejas dispõem de recursos, da autoridade e das motivações necessárias para converter os imigrantes muçulmanos a um modo de vida e a crenças mais modernas. Ensinem-lhes a higiene, a disciplina, a ética do trabalho e tudo em que vocês acreditam. O Ocidente está perdendo está guerra de propaganda. Mas vocês têm os meios de rivalizar com o Islã fora da Europa e de assimilar vigorosamente os muçulmanos ao interior do espaço europeu”.

Tenho minhas dúvidas. Se o Ocidente, com toda sua cultura e tecnologia, com seu luxo e fartura, com sua arte e sofisticação, não conseguiu até hoje converter os brutos, não creio que estes sejam convencidos com escolas, hospitais e albergues. Escolas, hospitais e albergues são fornecidos aos imigrantes, mas os cabeças-de-toalha não renunciarão jamais a oprimir mulheres e filhas, a cometer crimes de honra e a cortar clitóris. E a erguer o traseiro para a lua em preito a Alá.

Ayaan sugere aos europeus propor aos novos imigrantes muçulmanos o conceito de um Deus que é símbolo de amor, de tolerância, de racionalidade e de patriotismo. Se entendeu muito bem o Islã, parece no entanto não ter lido o livro em que se fundamenta toda nossa cultura. Por mais que a Bíblia fale em amor, Jeová é um deus sanguinolento, que manda matar e arrasar todas as tribos que cultuam outros deuses. A Bíblia é certamente o livro mais intolerante do Ocidente.

Mas digamos que Ayaan esteja se referindo ao Cristo. A diferença não é muita entre o velho e o novo livro. Se Jeová manda exterminar amorreus, heteus, ferezeus, cananeus, heveus, jebuseus - mais tribos do que massacrou Maomé -, o Cristo não fica atrás. Tem apenas mais espírito de síntese: quem não está comigo, está contra mim. Que ninguém espere encontrar tolerância na Bíblia.

Ayaan propõe uma troca de deuses. Em vez de um jugo de cem quilos, você porta sobre a cerviz um jugo de, digamos, vinte quilos. Ora, o homem pode muito bem viver sem jugo algum.

Verdade que viver em uma cultura cristã é bem mais confortável do que viver em outra muçulmana. O cristianismo abrandou um pouco os preceitos bárbaros do judaísmo. A hipocrisia dos católicos - o abandono e ao mesmo tempo crença nos livros antigos - tornou o Ocidente bem mais aprazível.

Mas o que autora está propondo, no fundo, é trocar seis por meia dúzia.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012
 
EXISTE SEXO NO CARNAVAL?


Fim de festa! Estou cada vez mais apaixonado pelo carnaval de São Paulo. É data que espero com ansiedade. Peninha que acabou ontem. Eu, que abomino carnaval, festivais e multidões, bem que gostaria de uma semana toda de carnaval em São Paulo.

Fosse São Paulo um eterno carnaval, seria uma das cidades mais aprazíveis do mundo. Sexta-feira passada saíram quase dois milhões de carros da cidade. Contando por baixo, são uns quatro milhões de paulistanos a menos. É quando a cidade se torna habitável. Conclusão que se impõe: há um excesso de quatro milhões de habitantes nesta cidade. Fariam um grande favor aos homens sensatos – sim, eles ainda existem – se ficassem no litoral pelo resto de suas vidas.

Carnaval? Ouvi até mesmo dizer que existe em São Paulo. Parece que acontece lá pras bandas da Paulista. É o que os jornais e a televisão me informam. Até acredito que seja verdade. Mas não vi. É divino viver numa grande cidade brasileira onde se pode ter a sensação de que carnaval não existe.

As pessoas que fogem do carnaval, não só em São Paulo mas em todas as metrópoles brasileiras, nos levam a uma primeira pergunta: será que brasileiro gosta de carnaval? É o que nos diz a imprensa. Mas se só de São Paulo saem quatro milhões de paulistanos, quantos turistas, nacionais ou estrangeiros, buscarão o carnaval em São Paulo. Quatro milhões, certamente não. Nem mesmo um milhão.

São Paulo é o túmulo do samba, dizia Vinicius de Moraes. Este é um dos encantos da cidade. Meus amigos ocasionais – garçons, garçonetes, taxistas, a moça da banca de jornais, meu barbeiro – sempre me perguntam onde vou passar o carnaval. Aqui, respondo. Daqui não saio, daqui ninguém me tira, como dizia uma antiga marchinha. Ninguém me arranca de São Paulo em um carnaval. Nem em feriadões.

Brasileiro só gosta de carnaval em manchete de jornal ou televisão. É preciso manter o mito em pé. Carnaval, na verdade, é algo que serve como fuga de muita gente rumo a um melhor lazer. Ou atrapalha a vida de muita gente, que se obriga a fugir para não ter de suportar seus ruídos. No fundo, uma minoria ruidosa que expulsa uma maioria para o litoral.

Outro carnaval que não dá certo é o transmitido pela televisão. Não passa de um desfilar monótono de blocos, onde a coreografia anula até mesmo a beleza dos corpos. Não por acaso, neste ano as TVs que transmitem os desfiles perderam pontos para os pastores televisivos. Se os editores exibirem desfiles de anos passados, ninguém vai notar a diferença.

Outro mito que está intimamente associado a carnaval é o sexo. Carnaval é a versão tupiniquim das lupercálias romanas. Ou melhor, a imprensa pretende que seja. Não sou autoridade para falar do assunto, nunca participei de nenhum carnaval. O que não me impede de matutar: se as pessoas ficam uma noite inteira olhando desfiles ou sambando em blocos, onde o tempo – e a energia, que mais não seja – para praticar sexo? Tendo a dizer que carnaval é um dos períodos mais castos da nação brasileira.

Muito nu, muito rebolado, muita paquera. Mas sexo, que é bom, duvido. Na rua não há de ser. Até pode ser, mas é sexo pouco confortável. Nos motéis, suponho que não, afinal as pessoas estão na avenida ou em salões. No dia seguinte, haja fôlego. Sexo em carnaval, a meu ver, é tão mítico quanto Papai Noel. Ao contrário do que insinua a imprensa, penso que as pessoas vão mais para pular e cantar, em suma, pour se défouler, como diriam os franceses.

Que mais não seja, o Brasil é um eterno bacanal a qualquer dia do ano. As saunas e casas de swing estão sempre repletas de gente que gosta do bom esporte e participa de partouses inimagináveis, nas quais não se sabe onde começa nem onde termina o amontoado de carne humana.

Minha faxineira adoeceu e enviou-me sua irmã. Que trabalha numa casa de swing. Como cozinheira, bem entendido. Sempre imaginei que tais casas fossem algo mais ou menos paralelo à prostituição. Parece que não. Maria me conta estarrecida:

- Professor, há casais que freqüentam a casa há trinta anos. Outros vão em família. A avó, a mãe e a neta. Uma delas me disse: “preciso me cuidar pra não pegar meu irmão na saleta”.

Ora, família que transa unida permanece unida. Em uma sociedade permissiva, onde o sexo é moeda sonante, quem vai perder tempo buscando sexo ocasional em carnaval? E se não for ocasional não tem sentido. Sexo permanente sempre se tem. Nunca falta um chinelo velho para um pé torto.

De minha parte, já estou com saudades das carnes tolendas. Amanhã a cidade entra em seu ritmo infernal. Verdade que isso não me afeta muito. Tenho a fortuna de viver em apartamento extremamente silencioso, mesmo em épocas normais. Mas é muito agradável ver as ruas desertas, os restaurantes sem fila, a vida transcorrendo mansa como em uma cidadezinha interiorana.

Aos eventuais carnavalescos que me lêem, deixo algumas perguntinhas. Brasileiro gosta de carnaval? Existe sexo no carnaval? Quando? E onde?

Sou todo ouvidos.

terça-feira, fevereiro 21, 2012
 
FEMINISTA DEFENDE
EXCISÃO DO CLITÓRIS



Min kära finska:

Terve! De fato, tenho visto não poucas mulheres apoiando as práticas bárbaras do Islã. Em meus círculos, conheço inclusive uma professora universitária que defende incondicionalmente os cabeças-de-toalha. São hábitos culturais – afirma – temos de respeitá-los. Afinal, não é o clitóris dela que é cortado. São todas, invariavelmente, de esquerda. E votam no PT, é claro. Têm outra característica em comum: jamais estiveram em países árabes nem sonham em visitá-los.

É difícil entender como uma mulher pode defender a tirania exercida sobre milhões de mulheres. Esta atitude corre por conta do assim chamado multiculturalismo, que pretende tomar a defesa das minorias. Como se muçulmanos fossem minoria. As aguerridas feministas, que brandiram lanças contra o macho ocidental, permanecem silentes ante a mutilação física e opressão das muçulmanas pelo macho árabe.

Você deve lembrar da Germaine Greer, a escritora e ativista australiana autora de A Mulher Eunuco (1970), no qual descrevia ligações sobre o relacionamento sexual entre homens e mulheres e a dominação sexual. Greer reivindicava a liberdade. Considerava que as mulheres são "o verdadeiro proletariado, a maioria verdadeiramente oprimida" e que a "revolução só pode ficar mais perto com a retirada do apoio delas ao sistema capitalista". Para a autora, a mulher é "o verdadeiro eunuco" da humanidade.

A mulher ocidental, é claro, esta mulher que pode ter propriedades, que pode ser presidente, ministra ou deputada, que tem o direito de escolher seu parceiro, que pode inclusive dar-se ao luxo de não escolher nenhum, que trabalha e faz o que bem entende com seu salário. Quando se trata da mulher africana, Greer tem outro discurso.

Para a feminista australiana, a mutilação genital das meninas deve ser restituída a seu contexto. Tentar impedi-la constituiria uma agressão de identidade cultural.

“As mulheres africanas que praticam a mutilação genital o fazem, primeiro e antes de tudo, porque elas julgam o resultado mais atraente. A jovem que fica deitada sem reclamar quando o excisor lhe corta o clitóris com duas pedras demonstra com isso que ela será uma boa esposa, que saberá mostrar-se à altura de todas as angústias da gravidez e das necessidades cotidianas. (...) As mulheres ocidentais, ornadas com o verniz de suas unhas (incompatível com o trabalho manual), com seus sapatos de salto alto (desastrosos para a postura e para as costas, e completamente inadaptados a longas marchas por caminhos difíceis), e com seus sutiãs, denunciam a circuncisão feminina sem suspeitar um segundo de todo o absurdo de seu comportamento.”

Quem te viu e quem te vê! Para começar, a autora emprega um sutil eufemismo para denominar uma mutilação brutal: fala em circuncisão feminina. Continuando, como se verniz, saltos altos e sutiãs fossem torturas comparáveis à excisão do clitóris que, conseqüências fisiológicas à parte, incapacita a mulher para o prazer sexual. E como se a mulher ocidental fosse obrigada a usar verniz, saltos altos e sutiãs, sob pena de banimento da sociedade onde vive.

Estes dados, min kära finska, extraio livro de Ayaan Hirsi Ali, Nomade. Em dezembro de 2007, em Melbourne, quando Greer fazia uma palestra sobre Jane Austen, a escritora australiana Pamela Bone perguntou-lhe se ela via um paralelo entre o conceito de honra familiar em Orgulho e Preconceito e os conceitos de honra familiar nas sociedades do Oriente Médio contemporâneas. Perguntou-lhe ainda porque as feministas ocidentais pareciam tão reticentes a se pronunciar contra os crimes pela honra. Greer sai pela tangente:

- É muito delicado. Me sugerem o tempo todo ir ao Darfour interrogar as vítimas de estupro. Eu posso me dirigir às vítimas de estupro, aqui. Por que deveria falar das vítimas de estupro no Darfour?
- Porque lá é bem pior – replica Bone.
- Quem disse isso? – pergunta Greer.

Como se os estupros no Darfour fossem matéria desconhecida no Ocidente. Pamela Bone explica que ela fora ao Darfour e lhe assegurou que lá a situação era nitidamente mais grave.

Serenamente, responde a feminista:

- Enfim, eu diria que é muito delicado tentar mudar a cultura dos outros.

Que as sudanesas se lixem – foi o que no fundo disse Greer. Para a feminista, as sudanesas, mesmo castradas, não são os verdadeiros eunucos da humanidade. De minha parte, diria que é muito mais que delicado: é impossível. O Ocidente pode invadir todo o universo islâmico com seus tanques e aviões e mesmo assim não conseguiria mudar estas práticas ancestrais. Mas que ao menos não se justifique o crime, como o faz Germaine Greer. Parafraseando Camus: não se pede um mundo onde não se cometa crimes –não somos loucos a tal ponto!- mas onde ao menos o crime não seja legitimado.

Você me conta que a imigração virou indústria, empregando milhares de psicólogas, assistentes sociais, e outras profissionais do tipo. A maioria mulheres. “É do interesse deles/delas que se abram mais e mais centros de refugiados, que cada somali traga sua familia pra cá. E quanto menos o imigrante se integra na sociedade, mais ele vai precisar da assistência, o que gera mais emprego”.

Este é o mal das assistentes sociais. Sem miséria, não têm emprego. Mutatis mutandis, já vi isso aqui ao lado de casa. Nos anos 90, quando sumiram, sei lá por que razões, os mendigos do largo em torno ao metrô Santa Cecília, li a reclamação de uma assistente social num jornaleco do bairro: “onde estão nossos mendigos? Quem os tirou da praça? Queremos nossos mendigos de volta”. Não por acaso, quem fazia esta pergunta era uma mulher.

Tudo isto decorre da atual falta de nortes às esquerdas. Morto e sepultado o comunismo, dele herdaram uma de suas piores facetas, o antiamericanismo. Ou anti-imperialismo, no jargão lá deles. No fundo, ódio ao Ocidente e seus valores. O Islã se opõe ao Ocidente? O inimigo de meu inimigo é meu amigo.

Não vais ouvir, minha cara, da boca de nenhum militante de esquerda, qualquer repúdio às atrocidades sofridas pelas mulheres no universo islâmico.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012
 
MENSAGEM DA FINLÂNDIA


Da Finlândia, recebo carta de uma boa amiga, com observação sobre a crônica em que falei da escritora somali:

Sobre a Ayaan Hirsi Ali, ela tinha revelado, já antes de se candidatar ao parlamento, que havia dado nome errado ao pedir asilo. Resolveram deixar por isso mesmo, até que um dia ela criticou publicamente e, dizem, negou aliança política à ministra Rita Verdonk. Então a Verdonk resolveu que Hirsi Ali deveria perder sua cidadania. O que, após muito falatório, confusão e ranger de dentes, ela não perdeu - decidiram deixá-la em paz (parece inclusive que o nome não era exatamente falso, era o sobrenome do avô, e a lei somali permite que ela use o tal nome). Mas foi para os EUA. A Dinamarca também lhe ofereceu residência. Foi tudo, no fundo, vingancinha politica e vaidade da Verdonk. Que, espero, deve ter ganho inimigos por essa.

Sua ultima crônica diz tudo - racista, intolerante e criminoso é só o homem ocidental. O resto pode tudo. Sobre uma mulher ter te criticado por desrespeitar o Islã, isso acontece aqui o tempo inteiro. As mulheres são muito mais a favor dessa imigração destrutiva do que os homens. Quando deveria ser o contrário! Será que não vêem que os países que mais maltratam mulheres são islâmicos?

Outro grupo que defende a canalha é o pessoal de esquerda. O que acontece é uma união em torno a um inimigo comum - o ocidente. O que esse pessoal que defende o Islã acha que aconteceria com eles uma vez que o Islã tomasse conta? Gays, mulheres, ateus… nem é preciso ser muito atento pra imaginar o que os cabeças-de-toalha fariam com eles se pudessem. Aconteceu no Irã, não foi? Comunas e fanáticos islâmicos se uniram contra o Xá. Xá derrubado, os fanáticos enforcaram os comunas na rua.

Outra coisa a se considerar é que a imigração virou indústria, empregando milhares de psicólogas, assistentes sociais, e outras profissionais do tipo. A maioria mulheres. É do interesse deles/delas que se abram mais e mais centros de refugiados, que cada somali traga sua familia pra cá. E quanto menos o imigrante se integra na sociedade, mais ele vai precisar da assistência, o que gera mais emprego. Tem gente que tem a audácia de defender a imigração do terceiro mundo por esse motivo. Pode até gerar alguns empregos, mas a que preço?

Oslo é atualmente considerada a capital do estupro por aqui. Malmö, você sabe o que virou. Tem um lugar na Dinamarca, não lembro o nome, onde muçulmanos assaltam repetidamente casas de dinamarqueses, pra afugentá-los de lá.

Um homem esfaqueou uma menina de 10 anos no pescoço, na frente de sua escola, em Göteborg. Fugiu pro Vietnã, aparentemente seu paÍs de origem, e está sendo trazido de volta pra Suécia. Ele tem inclusive cidadania sueca, ou seja, provavelmente não vai perdê-la.

Estocolmo: a polícia vem buscar uma criança-problema de 13 anos. O irmão mais novo do moleque atacou os policiais com uma faca em protesto. Skånska Dagbladet: menino de 14 anos é assaltado por “gang de adolescentes” pela terceira vez em um ano. A mãe chama a polícia, conta o ocorrido e ouve: “o que a gente pode fazer com essa informação?”

Pois é, como falei, isso é só uma pequena amostra. Se você resolver fazer um apanhado de crônicas sobre esse assunto, tenho ate sugestão de título: Crônicas de uma Europa que afunda.

 
MENSAGEM DO CANADÁ


De Daniel Garros, médico gaúcho residente no Canadá, recebo:

Sabe como é, não posso resistir, se tenho um tempinho para escrever (e hoje é feriadão aqui também!)...

O verso que citaste: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. De forma semelhante, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós", na verdade mostra bem a crença protestante...

Tudo isso é feito EM MEMÓRIA apenas... assim que o sangue não pode estar contido na memória!!! Por isso nós evangélicos participamos do ritual da ceia de Jesus em memória d’Ele, apenas. Não acreditamos na transubstanciação pregada pelos católicos como bem colocaste.

Quanto aos Testemunhas de Jeová, acho uma barbaridade essa confusão que fazem, pois como bem disseste não comem o sangue ao ser transfundido... mas eles são radicais nisso. Já fiz a retirada de paternidade de crianças que precisei transfundir para salvar suas vidas em cirurgias eletivas... e devolvemos a paternidade logo após. Eles ficam felizes com isso, embora sob os protestos dos lideres. As crianças transfundidas com o conhecimento dos pais são “amaldiçoadas” na comunidade, tratadas como inferiores (nada cristão!)... Em casos de urgência, às vezes transfundimos sem perguntar, e eles são então gratos de novo, pois não deu tempo para concordarem...

Mas um benefício surgiu dessa insanidade dos TJ... Sabemos que podemos fazer cirurgias sem transfundir tão livremente como fazíamos antigamente, pois o corpo humano (baseado nas experiências com os TJ) tem um nível de tolerância incrível para baixa hemoglobina... Estudos recentes mostram melhores resultados em cirurgias e tratamentos de doenças em UTIs com níveis de hemoglobina de 75 ao invés de 95 (o normal seria 110-120). E as pesquisas mostram também que se a gente transfunde demais, o organismo fica sensibilizado e rejeita transplantes mais fácil, e além de tudo tem menos tolerância para infecções em geral .. Isso sem falar nas as infecções transmitidas pelo sangue.

Quanto a essas, cada vez se descobre mais coisas. Por exemplo, a doença de Creutzfeldt-Jacob (a da vaca louca) pode ser passada pelo sangue, por partículas (príons) que são difíceis de detectar. E comendo sangue, essas passam mesmo! Talvez daí a origem do mandamento divino... hein?

Essas leis do Levítico (algumas bem pertinentes como não mentir, não enganar os vizinhos, não cobrar juros exorbitantes, poupar a terra - não plantar no sétimo ano, etc.) são princípios ótimos! Mas tem muita coisa judia para a época, leis incompreensíveis e estapafúrdias para nossa época. A questão é como distinguir o que vale e o que não vale mais...

A pessoa de Jesus e seus ensinos com o princípio da “graça acima da lei” seria a resposta a tudo isso... Ele curou no sábado e quebrou muitas das convenções e leis... E muitos princípios que como tu dizes são totalmente impensáveis para a nossa sociedade. Jesus, porém, disse: “não vim revogar a Lei, mas cumpri-la”.

Só que Ele a cumpriu mostrando que o seu padrão de vida está muito acima de regras - vem de dentro para fora e não de fora para dentro... “Eu porém vos digo” era como começava as suas antíteses... E lascava contra os fariseus que queriam a lei como acima de qualquer coisa!

Chega. Escrevi demais...

domingo, fevereiro 19, 2012
 
TESTEMUNHAS NEGAM LÓGICA


Comentei, em crônica passada, a recusa dos testemunhas de Jeová de receberem transfusões sanguíneas. De um leitor, recebo:

“Por motivos bíblicos, as Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue. (Veja Levítico 7:26, 27; 17:10- 14; Deuteronômio 12:23- 25; 15:23; Atos 15: 20, 28, 29; 21:25. ) Mas aceitam — e procuram arduamente — alternativas médicas ao sangue. “As Testemunhas de Jeová buscam ativamente o melhor tratamento médico”, disse o Dr. Richard K. Spence, quando era diretor-cirúrgico de um hospital de Nova York. “Como grupo, são os consumidores mais bem informados que um cirurgião poderia encontrar.”

Longe de mim pretender discutir as vantagens médicas de cirurgias com ou sem sangue. Não tenho ciência para tanto. Nas transfusões sanguíneas podem ocorrer contaminações, mas isto depende da excelência – ou precariedade - dos hospitais e laboratórios. É fator que nada tem a ver com sangue em si. Seja como for, ninguém pode pretender buscar fundamentos na Bíblia para recusar transfusões sanguíneas.

Vamos aos versículos citados pelo leitor. Ora, tanto o Levítico como o Deuteronômio falam em comer sangue, não em transfusão. É diferente.

Levítico 7: 26 - E nenhum sangue comereis, quer de aves, quer de gado, em qualquer das vossas habitações. 17: 10 - Também, qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei o meu rosto, e a extirparei de seu povo.

Deuteronômio, 12: 23-24 - Tão-somente guarda-te de comeres o sangue; pois o sangue é a vida; pelo que não comerás a vida com a carne. Não o comerás; sobre a terra o derramarás como água. 15: 23 - Somente do seu sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como água.

Decididamente, Moisés não conhecia o boudin aux pommes.

Como tampouco nos tempos do Novo Testamento existia transfusão sanguínea, é de supor-se que em Atos o evangelista se referia à antiga tradição veterotestamentária do não comer.

Atos: 15: 19 - Por isso, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. 15:20 - (...) mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. 15:29 - Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar. 21: 25 Todavia, quanto aos gentios que têm crido já escrevemos, dando o parecer que se abstenham do que é sacrificado aos ídolos, do sangue, do sufocado e da prostituição.

Escreve-me um outro leitor: “As Testemunhas de Jeová apenas se abstém da transfusão sanguínea de hemoderivados, exceto diminutas partículas. Na imensa maioria dos casos, mesmo nas emergências médicas, a perda de sangue é perigosa pelo risco de choque hipovolêmico”.

Sei! O leitor quer me convencer que os profetas bíblicos tinham consciência do choque hipovolêmico, em época em que não havia sequer transfusão de sangue. Isso sem falar que o choque hipovolêmico só pode ocorrer após a perda de aproximadamente um quinto do volume sangüíneo normal, o que corresponde mais ou menos a um litro de sangue. Contem outra!

Mas se o Velho Testamento vê o sangue como algo imundo, a ponto de considerar imunda toda mulher, o Novo Testamento vai pregar uma peça aos que sentem asco pelo sangue. Lemos em Lucas:

"E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. De forma semelhante, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós".

O mesmo vamos encontrar em Mateus, Marcos e no I Coríntios. O pão usado na celebração, segundo alguns cristãos, é visto como o Corpo de Cristo sem pecado, oferecido na cruz como resgate. O vinho é seu sangue derramado para remissão da humanidade condenada ao pecado herdado e morte.

Ou seja: na missa come-se a carne de Cristo e não um símbolo da carne de Cristo. Bebe-se o sangue de Cristo e não um símbolo do sangue de Cristo. A Igreja Católica transformou o sangue, de elemento imundo, a instrumento de redenção da humanidade. Vamos aos textos do magistério da Santa Madre.

O dogma da transubstanciação, se foi aventado no concílio de Latrão (1215), só toma corpo no concílio de Trento (1551). Na encíclica Ecclesia de Eucharistia, no capítulo 1 § 15, lemos: "Pela consagração do pão e do vinho se opera a transformação de toda substância do pão na substância do corpo do Cristo nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância de seu sangue; esta transformação, a Igreja católica a chamou justa e exatamente de transubstanciação".

Que mais não seja, o cânon 1° da 13ª sessão do concílio assim proclama:

"Se alguém nega que o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua Alma, e a Divindade, e conseqüentemente Jesus Cristo todo inteiro, estão contidos verdadeiramente, realmente, e substancialmente no Sacramento da Muito Santa Eucaristia; mas diz que eles lá estão somente como em símbolo, ou ainda em forma, ou em virtude: seja anátema".

Os testemunhas de Jeová divergem da interpretação dada pela Igreja de Roma, afinal já estavam atrelados à má reputação do sangue no Velho Testamento. Rejeitam tanto o dogma da transubstanciação como o da consubstanciação. Em sua comunhão, celebrada uma vez por ano, usam o pão e o vinho, mas como símbolos do Cristo. Para isto, usam de um recurso de tradução dos Evangelhos. O “isto é meu corpo” transforma-se em “isto significa meu corpo”. Não há dogma que um bom tradutor não remende.

Por outro lado, toda essa lengalenga de levar a Bíblia ao pé da letra não passa de retórica. No Levítico, a execução dos adúlteros é lei: “O homem que adulterar com a mulher de outro, sim, aquele que adulterar com a mulher do seu próximo, certamente será morto, tanto o adúltero, como a adúltera”.

É também no Levítico que lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”.

A Bíblia prega não só a lapidação de mulheres, morte de homossexuais, como a lei de talião, a escravidão, a destruição dos altares de outras tribos e o genocídio. Pela lógica, os testemunhas de Jeová deveriam pregar e praticar, ainda hoje, não só a lapidação de mulheres e a morte de homossexuais, como também a lei de talião, a escravidão, a destruição dos altares de outras religiões e o genocídio.

sábado, fevereiro 18, 2012
 
GOVERNO INSTITUI
A BOLSA-TURISMO



O Brasil é sem dúvida um país riquíssimo. Tem os deputados mais caros do mundo, os magistrados mais bem-remunerados do Ocidente, financia o sustento dos bugres, os maiores latifundiários do país – que ainda não descobriram como cultivar suas terras –, financia generosamente bandoleiros que invadem fazendas produtivas e remunera regiamente os celerados que um dia tentaram transformar o Brasil numa republiqueta soviética. E ainda sobra grana para mais favores.

Em 5 de outubro de 2011, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei que institui o Estatuto da Juventude e define um conjunto de direitos específicos para jovens entre 15 e 29 anos, como a meia-entrada em eventos artísticos e culturais. Atualmente, as leis que regem a meia-entrada são estaduais. A matéria, aprovada na forma de um substitutivo, foi enviada para análise do Senado. A autoria do projeto é a relatora da deputada comunista Manuela d’Ávila. Como hoje rock também é cultura, o projeto garante também meia-entrada para estes festivais de bate-estaca e drogas.

Quando se pensa que a capacidade dos deputados de criar leis idiotas se exauriu, nunca falta quem os supere. Quarta-feira passada, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) o projeto de lei prevendo que jovens de 15 a 29 anos de baixa renda terão duas passagens gratuitas em todos os aviões, ônibus e barcos interestaduais que transitarem no País, além de duas passagens com desconto de 50%, se o benefício integral já tiver sido utilizado. Os "jovens" terão ainda meia-entrada nos eventos culturais e esportivos financiados com dinheiro público e 40% de desconto nos eventos patrocinados pela iniciativa privada.

Você é jovem e cansou de puxar fumo nos festivais de rock em São Paulo? O governo garante passagens para você degustar novas ervas no Rio. Quem paga estas mordomias a nossos jovens? Adivinhe. Não é difícil.

Está instituída a bolsa-turismo. Antes privilégio de professores universitários que pretendiam doutorar-se no Exterior e de deputados e senadores “em missão”, agora são estendidas a “jovens” universitários em geral e “jovens” não-universitários. De iniciativa do governo de Lula, o estatuto tramitou sete anos na Câmara. No entender do senador Demóstenes Torres – leio no Estadão -, o estatuto é "totalmente demagógico", elaborado para atender à União Nacional dos Estudantes (UNE) e "outros movimentos que hoje estão perdidos, não têm bandeira alguma, não combatem o governo e não combatem a corrupção". Demóstenes tentou reduzir a idade dos jovens para 21 anos, mas o relator alegou que o teto da juventude, aos 29 anos, decorre de um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU).

O relator mentiu. Segundo a definição da ONU, os jovens constituem a faixa de idade compreendida entre 15 e 24 anos. Se formos adotar um critério nacional, a Pesquisa Nacional por Amostras de Domícílios (PNAD), a faixa é mais estrita, de 15 a 21 anos. O relator mentiu e o senador goiano sequer se deu ao trabalho de pesquisar. Caiu como um patinho na lorota do PT.

Temos agora, então, marmanjos de 29 anos considerados como jovens para efeitos de mordomias. Juventude, para mim, é um estado de espírito, e podemos ser jovens tanto aos 20, como aos 40 ou 60. Da mesma forma, há não pouca gente de 20 e poucos anos já irremediavelmente senis. Ocorre que a lei não pode definir estados de espírito. Precisa recorrer a critérios mais precisos. Nos dois projetos, os proponentes pretendem definir, de cambulhada, a idade legal dos jovens no Brasil.

Definir jovem como alguém entre 15 e 24 anos me parece sensato. A pessoa saiu da adolescência, teve tempo de fazer algum curso universitário ou preparar-se profissionalmente para algo. A partir daí, começa mesmo a vida. Se bem que, nos últimos anos, tenho visto a adolescência se prolongar até os 30 ou mais anos. Filhos que se encostam nos pais e pais que os sustentam até longa idade, eis a melhor fórmula para criar um inútil.

Já considerar jovem alguém entre 15 e 29 anos não passa de demagogia de político desonesto. Os autores de tais projetos, com olho em votos, estão distanciando os jovens da adultez. Que mais não seja, quem paga a fatura não são eles. Adulto, define o Houaiss, é aquele que se encontra na fase da vida posterior à juventude e anterior à velhice. Do ponto de vista jurídico, seria aquele que alcançou a maioridade, que chegou à idade em que a lei lhe concede capacidade para os atos da vida civil. Do ponto de vista psicológico, seria aquele que é emocional e intelectualmente maduro, que demonstra capacidade de agir, pensar ou realizar algo de maneira racional, equilibrada, sensata.

Tenho um conceito bastante pragmático do que é ser adulto, que não coincide com o dos dicionários. Adulto é aquele que já saiu do ninho paterno e provê seu sustento. O primeiro salário, por escasso que seja, já é um primeiro sinal de adultez. Pode até que nem supra as necessidades de um jovem, mas fá-lo sentir como é duro ganhar a vida.

Há alguns anos, um leitor me dizia não ver sentido nem sabor algum na vida. Deduzi logo que se tratava de um jovem pendurado nos pais. Não deu outra. Só o trabalho dá sentido e sabor à vida. Após um dia exaustivo de trabalho, o singelo fato de chegar em casa, pôr chinelos, tomar um uísque, abraçar a mulher querida ou dedicar-se a algum lazer dileto é uma ante-sala do paraíso. E nada melhor que passar no caixa e receber seu salário no final de cada mês, por parco que seja.

Neste momento, terminou a adolescência. Entre nós, isto pode ocorrer até mesmo aos 15 anos. No caso dos soldados do tráfico, por exemplo, bem antes. Não consigo conceber como se possa chamar de adolescente um menino com um revólver na cintura e disposto a matar se for preciso. Por vias transversas, ele já chegou à adultez.

Já afirmei, em algum momento, que me senti adolescente até os 40 anos. Me senti adolescente, não que o fosse. Até os 40, viver foi sempre festa. Gostava dos ofícios que exercia, trabalhar para mim era lazer. Comecei a trabalhar com carteira assinada aos 22 anos. Antes disso, fiz muito bico para custear minhas universidades. Mas desde meu primeiro trabalho em jornal, me senti autônomo. Aos 40, justo no dia em que os comemorava com meus colegas em Madri, após um curso de aperfeiçoamento em espanhol, me descobri desempregado e com o nada pela frente. Naquele momento, senti que a festa havia acabado.

Todos os amigos e amigas de meu pequeno círculo, nessa idade, os 22, ou mesmo antes, eram donos de seu nariz. Houve quem começasse a trabalhar aos dezoito anos. Os projetos em tramitação no Legislativo prolongam prejudicialmente a adolescência e dependência, no caso, do Estado.

Mas, no ritmo em que vai o País, seus autores até que foram tímidos. Um jovem gaúcho, se quiser, poderá ter direito a fazer turismo na Amazônia sem pagar passagem. Já um garçom ou taxista nordestino que trabalha duro em São Paulo, por exemplo, terá de suar a camiseta para visitar os seus no Nordeste.

Precisamos de mais audácia de nossos legisladores. Por que não duas passagens grátis ao ano para o Exterior? Assim nossos jovens poderão ter essas experiências vitais na existência de qualquer pessoa, como conhecer Paris, Londres, Nova York, ilhas gregas ou canárias. Me parece muito tímido isso de restringir as viagens gratuitas de nossos jovens ao território nacional.

Mais dois ingressos anuais a um bom motel, com acompanhante, é claro. Quando o ministério da Educação propõe um kit gay nas escolas, seria interessante proporcionar aos marmanjos local confortável para suas práticas sexuais. Quando se tornarem adultos, isto é, lá pelos trinta anos, estarão aptos a prover seu sustento.

Acho que até falei demais. Considerada a fúria legiferante de nossos legisladores, não me espantaria que amanhã tais propostas estejam sendo examinadas no Congresso.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012
 
INTOLERANTE E PRECONCEITUOSO
SÓ É O LOIRINHO DE OLHOS AZUIS



Faltou algo ainda sobre a mensagem da leitora que defende o Islã. A moça me acusa de preconceito e intolerância. Vamos por partes.

Preconceito é o novo palavrão que as esquerdas brandem quando criticamos os crimes e atrocidades praticadas por negros, índios, árabes e imigrantes em geral. O branco ocidental pode ser criticado com gosto. A elite branca, o loirinho de olhos azuis, é o responsável por todos os males da humanidade. Como dizia Darcy Ribeiro, a raça branca destrói tudo por onde passa. Logo Darcy Ribeiro, que só existe graças ao Ocidente branco e europeu. Confunde-se muito preconceito com pós-conceito. O exemplo mais cabal de preconceito, a meu ver, é o sofrido pelo abominável homem das neves. Por que abominável, se ninguém nunca o viu?

Eu nada tinha contra muçulmanos antes de conhecê-los. Os imigrantes árabes que chegaram ao Brasil logo se deixaram fundir neste caldeirão de culturas e pouco ligam para as prescrições de Maomé. Verdade que a situação está mudando. A Arábia dos Saud está investindo milhões de dólares na construção de mesquitas no país e na formação de mulás. O número de mulheres veladas tem aumentado sensivelmente nas grandes cidades. O trabalho dos sauditas é de proselitismo e tem atingido principalmente as mulheres. Que passam a negar a evidência. Há alguns anos, eu discutia com uma convertida que negava de pés juntos que Maomé fosse um guerreiro e que a expansão do Islã fora feita a ferro e fogo. Isto é, a moça negava a História.

Nada tinha contra os muçulmanos, dizia. Em Paris, os vi de perto e me enfronhei na cultura islâmica. São abomináveis. E o nó górdio que separa as duas civilizações, a ocidental e a muçulmana, é a mulher. Enquanto a mulher for tida como escrava de seu amo e senhor, todo e qualquer diálogo é inviável. Nenhum respeito à cultura alheia pode justificar a mutilação sexual de crianças e a redução da mulher a um fantasma embuçado, sem identidade própria. Isto não é um pré-conceito, mas um pós-conceito.

Quanto à intolerância, se um muçulmano considera as ocidentais prostitutas porque mostram o corpo, isto não é intolerância, mas recato, respeito à mulher. Se querem expulsar os cães das cidades européias, isto não é intolerância, mas respeito às palavras do Profeta. Intolerância só existe quando o Ocidente denuncia a condição escrava das muçulmanas, a excisão do clitóris e a ablação da vagina.

Em fevereiro de 2006, comentei a pretensão de países muçulmanos que queriam criar uma cláusula contra a blasfêmia nos estatutos do novo Conselho de Direitos Humanos da ONU. Os 57 países que integram a OIC (Organização da Conferência Islâmica) pediram a inclusão de um parágrafo para "prevenir casos de intolerância, discriminação, incitação ao ódio e à violência, gerados por ações contra religiões e crenças".

A blasfêmia, de pecado, infração que diz respeito a teólogos, passaria a ser crime punido pela legislação. Os muçulmanos, cujo calendário começou em 622 da era cristã, queriam nada mais nada menos que arrastar a Europa de volta à Idade Média, onde discussões sobre o destino do prepúcio de Cristo podiam levar um homem à fogueira.

Em fevereiro de 2009, os muçulmanos conseguiram oficializar esta volta à Idade Média. Naquele mês, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução que condena a difamação religiosa e passa a considerar o ato como uma violação aos direitos humanos. O documento também pede que governos adotem leis protegendo as religiões de ataques. Em um tour de force, a ONU conseguiu – ou pelo menos tentou - instituir a censura à crítica das religiões no Ocidente todo.

Evidentemente, só haverá punições quando as blasfêmias se referirem ao Islã. Já que o velho deus cristão vem sendo insultado há séculos. Proibir insultos a Jeová seria proibir a edição de monumentos como Nietzsche ou Voltaire.

Coincidentemente – ou talvez nem tanto – citei há pouco os livros de Ayaan Hirsi Ali, esta menina que saiu de um clã tribal na Somália e tornou-se deputada do Parlamento holandês. Convidada a Berlim em fevereiro de 2006, a então deputada pronunciou um discurso sobre a affaire das caricaturas de Maomé, contra o islamismo e pela defesa da liberdade.

- Estou aqui para defender o direito de ofender. Tenho a convicção que esta empresa vulnerável que se chama democracia não pode existir sem livre expressão, em particular nas mídias. Os jornalistas não devem renunciar à obrigação de falar livremente, da qual são privados os homens de outros continentes.

Ao decretar a censura sobre a crítica de religiões, a ONU ignorou solenemente o acórdão Handyside, de 1976, reconhecido pela Corte Européia de Direitos do Homem. Que declara:

“A liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou idéias acolhidas com favor, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma fração qualquer da população. Assim o querem o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem o qual não existe sociedade democrática”.

O que a ONU propôs – e que algum países europeus começam a aceitar - é uma Idade Média total. Se na Idade Média eram proibidos apenas os livros e autores que contestavam a Igreja de Roma, a entidade agora quer a proibição de qualquer livro ou autor que conteste toda e qualquer religião.

A leitora que me cataloga como preconceituoso e intolerante tem forte respaldo na ONU. Se quisermos apoio à liberdade de expressão e a defesa da cultura européia, temos de pedir ajuda a uma refugiada somali.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012
 
SOBRE OS CABEÇAS-DE-TOALHA


Espanta ver que no Brasil haja mulheres que defendem o Islã. Pero que las hay, hay. A propósito da crônica que escrevi sobre a jihad contra os cães na Europa, recebo de uma leitora:

O texto ia muito bem até o preconceito e intolerância (até então dito dos Islâmicos) surgir no último parágrafo: “Quando um morto de fome lá das Arábias consegue emprego decente na Europa” – quer dizer que qualquer imigrante que sai do oriente médio, ou “Arábias” como você se referiu e vai pra a Europa é um morto de fome? Então nós brasileiros que vamos também somos, ou somos mortos de fome em outro pais ou somos preconceituosos. Um texto que tinha tudo para ser bom, se perde com a forma mais banal de preconceito, a intolerância.

Não concordo com o Islã como tampouco concordo com o protestantismo ou catolicismo e nem por isso vou chamar qualquer estrangeiro de morto de fome, como foi falado aqui. Ah, e também não concordo com a forma como tratam os cães, mas ACIMA DE TUDO aprendi o que é respeito. Respeito o Islã, embora não concorde com 95% do que dizem. Para haver uma evolução mental, primeiro temos que aprender a tolerar e respeitar, depois vamos exigir a mesma coisa. Mas nós não temos a verdade universal, são culturas completamente diferentes e por querer fazer dessas culturas uma só é que se está tendo toda essa guerra. Provavelmente os indianos condenam nosso churrasco com suas vacas sagradas.


Mortos de fome, sim senhora. De modo geral, entram ilegalmente na Europa, muitas vezes em precárias pateras, arriscando a morte no Mediterrâneo - e muitas vezes morrendo - para buscar comida no continente. Encontram muito mais que comida: trabalho, assistência social, saúde e educação. E depois querem impor a sharia aos europeus.

São exigentes. Na Finlândia, por exemplo, um menino somali não aceita professoras. Tem de ser professor. Porque um macho somali não dirige a palavra a uma mulher. E os ingênuos finlandeses fornecem professores às bestas somalis. A besta somali recebe comida, assistência e educação e cospe no cocho em que come.

Antes de ir mais adiante: um indiano pode achar uma heresia comer carne de boi. Mas não tem nada contra que os ocidentais a comam.

Não, não tenho nenhum respeito pelo Islã. Não posso aceitar uma cultura onde mulheres não podem sair na rua sem a companhia de um macho (e mais: tem de ser parente). Não aceito uma cultura onde as mulheres têm a vagina infibulada e o clitóris excisado. Se você tem algum respeito por tal cultura, tenho pena do espécime humano que você representa.

A leitora volta à carga:

Mas eu não tenho pena de gente como você, tenho vergonha. Respeitar uma religião é BEM diferente de aceitar. Não posso impor minha doutrina, minha maneira de achar o que é certo ou errado. Já vimos que isso não dá resultado bom, pelo contrário. Os portugueses e espanhóis tentaram fazer isso com os índios na América e dizimaram, os nazistas com os judeus, hoje são os judeus contra os árabes.

Você deve aprender a respeitar o próximo acima de tudo. Pessoas com a sua mentalidade são as mesmas que batem em homossexuais porque não são "iguais" a eles. Sua mentalidade é essa, e desse tipo de mentalidade não tenho pena, tenho nojo.

Não aceito mulheres serem mutiladas, não aceito a forma como as tratam no oriente, mas eu tenho consciência que minha visão é ocidental. Para ele, o que fazemos aqui é uma barbárie. Lá as mulheres são mutiladas, aqui são tratadas como vagabundas, se dançam na rua, no carnaval ou no baile funk, não prestam. Se são gostosas, não valem nada. Essa é a mentalidade daqui. Pense em quão horrorizados eles ficam ao verem uma mulher com um short enfiado na bunda. Nós pensamos "nossa, aqui elas tem liberdade para isso" e eles pensam "não há respeito".

Você acha que sabe muito da cultura deles, mas pela forma como fala, tem uma mentalidade bastante limitada além de preconceituosa ao extremo. Não me admiro com seu tipo, apenas lamento que ainda existam. Você utiliza a palavra "macho" com desprezo, não se esqueça que você é um "macho" pois isso se refere ao sexo animal.

Eles entram ilegalmente lá, nós brasileiros entramos ilegalmente nos Estados Unidos, ou você acha que todos os queridos compatriotas que estão hoje lá estão com green card, ou foram convidados gentilmente pelos americanos??? Não, somos os mortos de fome dos americanos e também de europeus, pois também vamos para Portugal, Espanha, Inglaterra e etc. Somos mortos de fome, com a diferença que qualquer coisa que europeus ou americanos façam ou imponham a nós, vamos abaixar a cabeça e achar o máximo. "Nossa, eles me dão ração para comer, pra que vou reclamar!!!" Essa é a mentalidade dos brasileiros que vão ilegalmente para o exterior. Esse é o seu povo também, são seus mortos de fome.



As religiões nascem bárbaras e morrem cansadas, caríssima. Não respeito religião alguma que ordene massacres, apedrejamentos ou imponha uma condição inferior à mulher. Estes três itens não são originalidades do Islã, constam de livro bem anterior, o Antigo Testamento. Jeová manda matar, arrasar, destruir os altares das tribos vizinhas de Israel, matar tudo que respire. O lapidamento também consta da Bíblia. Ocorre que, no Ocidente, a Igreja separou-se do Estado. Nem mesmo aos judeus – que criaram um Estado mais ou menos teocrático - ocorreria hoje arrasar nações vizinhas só porque têm outras crenças nem apedrejar mulheres. Verdade que há ortodoxos que bem gostariam de voltar às antigas práticas bíblicas, mas são contidos pelo Estado.

Com o surgimento da noção dos direitos humanos, tanto a Bíblia como o Corão passaram a ser vistos como livros que induzem ao crime. Mas se judeus e católicos e demais cristãos abandonaram os preceitos antigos, os muçulmanos continuam apedrejando, chicoteando e enforcando mulheres, até mesmo pelo “crime” de terem sido estupradas. O judaísmo e o cristianismo abandonaram a barbárie. Os islâmicos não. Aliás, introduziram um novo tormento à mulher, a infibulação da vagina e a excisão do clitóris. Tais práticas não constam do Corão, mas são predominantemente islâmicas.

Não, não respeito criminosos. Respeitar o próximo? Respeito pessoas que merecem respeito e nem todo próximo é respeitável. Sou ateu. Não participo dessa mentalidade estúpida de amar o próximo como a si mesmo. Amo as pessoas que julgo amáveis.

“Pessoas com a sua mentalidade são as mesmas que batem em homossexuais porque não são iguais a eles”. Pelo jeito, você nunca leu o que já escrevi. Desde meus verdes anos, defendo toda e qualquer opção sexual, desde que não implique violência. Verdade que não me cheira bem esta recente militância homossexual, que pretende que crime contra homossexual é mais grave que crime contra heteros. Se um homossexual é agredido ou assaltado,como o são tantos brasileiros, fala-se logo em homofobia. Certa vez, fui assaltado em Porto Alegre. Estou quase certo que se tratava de um crime de heterofobia.

Não sei em que mundo você vive. Não vejo ninguém considerando vagabundas mulheres que dançam na rua ou no carnaval. (Funk é outro setor, que implica inclusive droga). Não sou devoto de mulheres com short enfiado na bunda. Mas elas não me horrorizam. Vistam-se como lhes agradar. Você escreve: “Se são gostosas, não valem nada. Essa é a mentalidade daqui”. Não sei bem o que você entende por gostosas, mas se está falando de mulheres bem torneadas, você se engana redondamente. Pelo contrário, valem milhões. Veja desde a Bundchen às passistas de escola de samba. Ganham a vida com suas formas. E suponho que você não as considere prostitutas.

O culto ao nu não é nenhuma novidade de nossos dias. Os gregos o cultuavam e o imortalizaram em suas esculturas. Os efebos gregos não tinham nem mesmo short enfiado no traseiro. Suponho que você não entenda o culto ao nu dos helenos, suas esculturas, como pornografia.

Quando falo em macho, despectivamente, estou me referindo a este ser abominável que se pretende superior à mulher – e mesmo seu amo e senhor – só porque é macho. O testemunho de um homem, no Islã, vale pelo de duas mulheres. Só porque é macho vale por dois.

Sim, há brasileiros entrando ilegalmente nos Estados Unidos, como também na Europa. Mas não são exatamente mortos de fome. Pertencem basicamente a dois grupos. Há pessoas que querem fazer fortuna – ou pelo menos um patrimônio – de maneira mais rápida. E há jovens que se dispõem a trabalhar até mesmo como garçonetes, camareiras ou babás, para aperfeiçoar um idioma estrangeiro. Estes últimos entram sempre legalmente no estrangeiro. Ninguém arrisca a ser deportado apenas pelo desejo de aperfeiçoar uma outra língua.

Você afirma que “qualquer coisa que europeus ou americanos façam ou imponham a nós, vamos abaixar a cabeça e achar o máximo. Nossa, eles me dão ração para comer, pra que vou reclamar!!!"

Nada disso. Nem americanos nem europeus impõem qualquer coisa a estrangeiros. Exceto que respeitem suas leis. E os muçulmanos não as respeitam. Querem viver segundo a sharia em qualquer geografia por onde andam. Carregam o Islã nas costas.

Seja como for, nenhum brasileiro chega impondo regras em país estrangeiro. Nenhum brasileiro vai um dia fechar ruas para rezar com o traseiro virado para a lua, nenhum brasileiro pretenderá mutilar suas filhas em país estrangeiro – aliás, nem aqui -, nenhum brasileiro vai exigir a expulsão de cães de uma cidade ou agredir quem os porta. Isso é coisa dos cabeças-de-toalha, que transportam para o Ocidente o modelo teocrático em que viviam.