¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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Janer Cristaldo escreve no Ebooks Brasil Arquivos outubro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 junho 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 fevereiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 junho 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 outubro 2013 novembro 2013 dezembro 2013 janeiro 2014 fevereiro 2014 março 2014 abril 2014 maio 2014 junho 2014 julho 2014 agosto 2014 setembro 2014 novembro 2014 |
domingo, setembro 30, 2012
MENSAGEM DE VALLEJO A parte mais interessante da carta do Sr. Ramiro é aquela em que ele diz “Não sei, Janer, não sei...”. Nela, um libelo disfarçado contra o capitalismo e a favor do “pensamento GENIAL de Marx”, o missivista sugere que se risque do caderno da história a aniquilação da teoria comunista pelos exemplos reais, insinuando que o mal do mundo atual é o desemprego, numa simplificação pueril do intricado modus vivendi mundial. Com isso, sofismando, insinua que, se o capitalismo causa desemprego, somente o comunismo de Marx, poderá trazer de volta tais empregos. O que se deve testar novamente, apagando-se da história seu insucesso, suas consequências aniquiladoras como o retrocesso econômico e o genocídio sem precedentes na história humana, bem como a criação de dirigentes e uma camarilha de agentes governamentais, incompetentes, amorais e insanos, tais como Stalin a quem Isaac Deutscher chamou de “vasto, sombrio, caprichoso e mórbido monstro humano.” As lições da história mostram que a socialização de um povo, em resumo, provoca duas grandes consequências: 1 - A liberdade de uma pequena classe de dirigentes que, obtusa e de baixo perfil em todas as áreas, ascende aos mais altos postos de comando de um governo, produzindo toda sorte de desatinos com a única finalidade de obter poder total e com ele enriquecer desenfreadamente; 2 - A escravidão de toda uma população, que entrando num decaimento generalizado, será obrigada a trabalhar e produzir para manter a casta de governantes. Em suma, o comunismo socializa a pobreza entre o povo e a riqueza entre os dirigentes e a corte de parasitas que os rodeiam. Realmente, para tal ideologia, a verdade histórica precisa ser apagada para que ressurja em seu lugar “a verdade” socialista reescrita de forma adequada. O progresso da raça humana deve ser esquecido, pois em todo o seu tempo ele foi feito fundamentado exclusivamente em dois aspectos cruciais: a propriedade privada, que, por sua vez baseia a liberdade individual; e a iniciativa, o empreendimento pessoal, onde são liberadas a inventividade e a genialidade de cada um. É a realidade indiscutível e insofismável. É só olhar em volta. Tudo o que temos de conforto na vida é proporcionado por duas invenções fabulosas: as bases da transmissão de corrente elétrica alternada e o motor elétrico à corrente alternada. Sem elas, ainda estaríamos na era das máquinas a vapor. Tudo o que se constrói na vida moderna, tem como acionador o motor elétrico a CA. E quem inventou isso: Tesla, um gênio sérvio-croata, radicado nos EUA e trabalhando para um capitalista chamado Westinghouse. Não se pode encobrir a história com ideologismo. Não se pode fugir da realidade. Não se pode fugir da realidade que a vida confortável que beneficia todo o planeta é fruto da inventividade, do estudo, da liberdade de um bloco de poucos países: alguns da Europa e dos Estados Unidos. Qual é a contribuição de todo o continente africano para o conforto, saúde, e progresso mundiais? E da América latina? E da Ásia? Alguns criadores e uma imensa maioria de apertadores de botão. Todos são USUÁRIOS dos inventos surgidos no capitalismo que incentiva e premia a liberdade, a iniciativa pessoal, o esforço e o estudo, enquanto combate principalmente o culto à personalidade e o endeusamento de nulidades. Infelizmente, o governo mundial resolveu fortalecer a cruenta escravatura chamada China, para desestabilizar o planeta e está conseguindo. China e a ditadura comunista da ONU com sua Agenda21, vão fazer Stalin parecer pinto, a nível global. Não desanime, Sr. Ramiro. O senhor vai chegar lá. Somente reze para continuar na classe dirigente. Luís V. Vallejo NÃO PEÇO TANTO Meu caro Ramiro: Para começar, grato por suas generosas palavras. Continuando: a Europa que adoro continua existindo. Só não sei até quando. Apesar da invasão muçulmana, ainda está lá do outro lado oceano, com sua imprensa e suas editoras, suas bibliotecas e universidades, seus cafés e restaurantes, seus templos e museus, sua gastronomia e sua arte. O Islã não quer destruir a Europa. Seria muita burrice. O Islã quer conquistar. É diferente. Os muçulmanos querem usufruir do já construído, mas submetendo os europeus a suas crenças e práticas bárbaras. Porque ao muçulmano incomoda a liberdade. Em país onde cada cidadão pensa e diz o que quer, muçulmano se sente como peixe fora d’água. A Europa vive atualmente uma crise? Já passou por outras, e piores. Por mais intensa que seja a crise, os europeus estão longe dos dias do pós-guerra. Um continente que, em um só século, sobreviveu a duas grandes guerras, não se deixará afundar por desajustes financeiros ocasionais. Não ignoro, nunca ignorei, as barbaridades cometidas pelo Ocidente. Não relevo as mazelas da Europa, muito menos do cristianismo. Ocorre que elas são passadas. A Europa sempre soube encontrar antídoto para seus venenos. Exorcizou tanto o nazismo como o comunismo. Mas está se entregando ao obscurantismo que emana do Corão. Este obscurantismo é presente e tende a se perpetuar com a expansão da Umma. Jovens mulçumanos, cristãos, judeus e ateus não estão a conseguir trabalho? De fato, é um problema. Mas os jovens europeus não invadem os países árabes para matar a fome e gozar de benefícios sociais. Quando migram em busca de trabalho não pretendem impor as leis e práticas de seus países aos países que os acolhem. Há muitos europeus migrando para o Brasil nestes dias. Desconheço qualquer um que pretenda contestar as leis brasileiras. Os únicos que não a aceitam são justamente os muçulmanos que querem instaurar a censura no Brasil e pretendem que suas mulheres tirem fotos com véu em documentos de identidade. Eles chegam mortos de fome na Europa, fugindo da miséria de seus países. Se antes o imigrante queria saber quais eram seus deveres, hoje chegam perguntando por seus direitos. Recebem trabalho, comida, assistência social, educação. E exigem o que sequer é dado a seus anfitriões. Na Finlândia, os somalis exigem professores homens. Porque um macho somali não dirige a palavra a uma mulher. Na Espanha, querem expulsar os cães das cidades. No Reino Unido, taxistas não aceitam clientes com cães. Porque o profeta não gostava de cães. Na Europa toda, querem impor suas regras de casamento, querem que suas mulheres usem véus no trabalho e na escola. Na Itália – e no Brasil – querem que elas tirem fotos para documentos... veladas. Mais ainda, querem cortar o clitóris de suas filhas. Você diz que a questão fundamental é não matar. Diria que não. Seríamos ingênuos se pretendêssemos criar uma sociedade onde não se mata. Em 1946, em Ni victimes, ni bourreaux, Albert Camus lançava a seus contemporâneos duas questões fundamentais: "Sim ou não, direta ou indiretamente, você quer ser assassinado ou violentado? Sim ou não, direta ou indiretamente, você quer assassinar ou violentar? Todos aqueles que responderem negativamente a estas duas questões estão automaticamente embarcados em uma série de conseqüências que devem modificar sua maneira de expor o problema". O que Camus pedia era um mundo, não onde não se assassinasse –"não somos loucos a tal ponto!"- mas onde ao menos o assassinato não fosse legitimado. Choca-se com o fato de que todos aqueles que lutam por ideais históricos são homens cheios de boa vontade e que o resultado de sua ação seja o assassinato, a deportação e a guerra. A recusa de legitimar o assassinato deve conduzir-nos a uma reconsideração da noção de utopia. "A utopia é o que está em contradição com a realidade. Deste ponto de vista, seria totalmente utópico querer que ninguém mate ninguém. É a utopia absoluta. Mas é uma utopia de grau bem mais viável pedir que o assassinato não mais seja legitimado". Sou adepto do amor facti nietzscheano. Aceito o mundo como ele é. Como Camus, não peço um mundo onde não se assassine, não se execute homossexuais, não se corte clitóris nem se mutilem vaginas. Seria pedir demais. Peço apenas um mundo onde tais ignomínias não sejam justificadas. Grande abraço! MENSAGEM DO RAMIRO Prezado Janer: Antes de qualquer coisa. Sou seu leitor: li sua tese de doutorado; seu Ponche Verde; praticamente, li tudo de seu site nos últimos 3 anos. Considero seu estilo envolvente, sempre aprendo muito. Admiro quando você escreve sobre seus pais, sua terra, seus amigos, seus restaurantes, seus vinhos, sua Espanha, sua França, sua Escandinávia, sua solidão, sua doença terrível, seu ateísmo e, principalmente, admiro o seu amor pela Baixinha, quando é o tempo das azaleias… Veja (ops!), Janer, o preâmbulo acima poderia assemelhar-se com aqueles outros, mórbidos, que, como você bem sabe, aconteceram sob as botas e as metralhadoras assassinas de Stalin. Porém, certamente, não é o caso. Ainda bem que não há sangue entre nós, somente palavras! Sobre o seu específico artigo à Folha, numa primeira abordagem, o considero como uma defesa aos direitos humanos. Sem dúvida, é um texto-denúncia. Não vou aqui repeti-lo. Em síntese: trata dos direitos da mulher; dos homossexuais; do direito à livre expressão; do direito de ir e vir; da impossibilidade de se conviver com qualquer tipo de ditadura seja teológica ou secular; enfim, trata de questões fundamentais à continuidade de nossa espécie. Logo é uma reflexão fundamental que devemos considerar, principalmente, nesse nosso tempo tão capenga de Ética e de Moral. Contudo, qual a principal crítica à sua análise? Ela é estática; é, digamos, uma fotografia – onde não há tempo…; e, em minha opinião, falta a lição de Heráclito, que você bem conhece: o movimento! Ou, numa concepção marxiana, onde está ou ficou a nossa história? O seu texto lembrou-me da situação de jogar uma moeda ao alto e, a partir daí, analisar a face que ficou virada para o Sol. Mas e a outra face e, principalmente, qual é a espessura, a distância entre as faces? O que está a ocorrer no mundo, na minha visão, é uma crise fundamental do capitalismo. Tal sistema, após a queda do muro de Berlim, qual aquele outro - que você bem conhece! - é inconsistente. A Europa que você ama não existe, e não existirá mais! Não por culpa dos mulçumanos ou dos negros, ou sei lá de quem que está a viver agora no antigo e moribundo continente. A questão essencial é procurar entender dentro do possível o porquê - e superar esse caos. Creio que não seja aqui necessário lembrar em detalhes (poderia fazê-lo por meio de uma simplíssima consulta ao Google) das atrocidades históricas cometidas pela dita cultura branca cristã construtora da Europa. Só por tópicos: o massacre da cultura alemã na Namíbia; o massacre da cultura espanhola e portuguesa nas Américas; o massacre da cultura inglesa, francesa, holandesa e belga em praticamente todo o continente africano; o massacre da cultura italiana na Etiópia; a solução canibal do Império inglês e da República francesa sob todos os países árabes após a 1ª guerra mundial; a criação do estado de Israel e a questão palestina; o holocausto inglês, na era vitoriana, na Índia; nem vou mencionar as atrocidades da cultura protestante norte-americana em todo esse mundo durante e após o final da 2ª guerra mundial. Sei, sei, sei, Janer, do holocausto causado pelos países ditos socialistas: a União Soviética de Stalin; a China de Mao; a Cuba de Fidel; o holocausto de Pol Pot, o Khmer Vermelho, no Cambodja; o Vietnam; a ridícula Coreia do Norte e etc., etc. Percebe, Janer? Estamos a falar da podre MOEDA HUMANA. Não interessa mais falar de Jorge Amado que não teve a coragem de Sábato ou Camus. Não interessa se Chico Buarque fez uma viagem a Cuba. Se Lula apoiou aquele rato que governa o Irã ou aqueles ratos hegemônicos de Israel. O que interessa agora é qual VAI SER A CONTINUIDADE DA FAMÍLIA HUMANA. Janer, estamos a viver uma atrocidade cruel: jovens (mulçumanos, cristãos, judeus, ateus…) não estão a conseguir trabalho!!!! Isso é maligno, no mais profundo sentido do maligno. O que fazer (a velha questão de Lenin)? Aproveitar os princípios de gestão de empresas no capitalismo competitivo junto à análise genial de Marx sobre o injusto acúmulo de riqueza? Compreender com o coração o princípio de Deus, que deve estar no mínimo associado à inocência de nossos pequenos filhos? Não sei Janer. Não sei… O que não quero mais é ficar, como na minha infância, medindo com os dedos o tamanho do pau, para concluir: olha o meu é maior que o seu, pois sete dedos é maior que seis; ou em outras palavras: não interessa mais quem matou 100 milhões ou 80 milhões, ou 50 milhões… A questão fundamental é não matar, não banalizar o amor, a vida ou a morte. Bem, finalizando, Janer: parabéns pelo artigo contraditório; parabéns por continuar corajosamente a escrever; parabéns, afinal, a todos nós! Ramiro Conceição sábado, setembro 29, 2012
RECÓRTER TUCANOPAPISTA HIDRÓFOBO GANHA FAMA COM TALENTO ALHEIO Comentando o livro do recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo da Veja, Bernardo Mello Franco, jornalista da Folha de São Paulo, escreve na edição de hoje: “Lula, alvo principal do blog, é chamado de “O Apedeuta”. No verbete de dicionário transcrito pelo próprio Azevedo: “quem não tem instrução, ignorante”. Ora, a palavrinha consta obviamente dos dicionários. Existe desde quando existem os gregos. Mas sua associação a Lula é achado meu. No fundo, me sinto até contente por ter contribuído com algo à cultura rasa do recórter tucanopapista hidrófobo. Quando lancei a expressão Supremo Apedeuta, era minha intenção que fosse divulgada, Brasil et orbi. O recórter foi útil nesse sentido. Pena que, em seu narcisismo, passou a julgar-se autor dela. Ex-comunista, o recórter diz não arrepender-se de seu passado. Sei, o recórter se diz ex-trotskista, como se trotskistas não fossem comunistas que não conseguiram chegar ao poder. Seja como for, o supostamente erudito recórter deve ter ouvido falar de Kronstadt. Na melhor das hipóteses, foi cúmplice intelectual do massacre comandado por Trotsky. Hoje, ao orgulhar-se de ter sido comunista, orgulha-se também de combater o comunismo. Como aquela outra Madalena maranhense, o Ferreira Gullar, vende dos dois lados do balcão. O recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo de Veja se pretende criador de neologismos. Há quatro anos, pretendia ter criado a palavra pobrismo. Ora, a palavrinha está em El P.r.u.n.: Almazán y el desastre final, de autoria de Bernardino Mena Brito. O livro foi publicado em 1941 e a palavra se difundiu rapidamente pela América Latina, na segunda metade do século passado. Catolicão de fachada, em 2007 o recórter deitou erudição e produziu esta pérola: "Se você conhece mesmo Santo Tomás, sabe que ele jamais chamaria de ciência a concepção imaculada. Volte aos livros. O que é matéria de fé está fora do escrutínio científico. Mesmo as provas da existência de Deus, na Suma Teológica, são exercícios lógicos. Assim, em termos estritamente tomistas, Maria ter concebido virgem não pode jamais ser um 'absurdo' porque há uma condição anterior a qualquer verificação da experiência: 'é preciso crer'." Ora, o aquinata jamais escreveria uma bobagem destas. A Imaculada Concepção nada tem a ver com virgindade. Se o recórter não conhece nem o catecismo, duvido que tenha lido a Suma. Imaculada Concepção significa apenas que Maria foi preservada do pecado original desde o primeiro instante de sua existência. Se era mãe do Cristo, que nascera sem a mancha do pecado original, ela também não poderia ter esta mancha. O dogma foi definido a 08 de dezembro de 1854, por Pio IX, na bula Ineffabilis Deus. Sem falar que São Tomás morreu em 1274. Seis séculos antes da proclamação do dogma. Faccioso, raivoso e inculto, o recórter apela a achados alheios para construir sua fama. Cronista medíocre, pelo menos tem a virtude de ler os bons cronistas. Não custa repetir: RECÓRTER CHUPIM RIDES AGAIN* Janer Na edição atual da revista Piauí, número 47, tem uma matéria sobre a internet e as eleições. Chama-se "Pancadaria na rede", enfim, a matéria é sobre como os nossos ilustres candidatos estão usando a internet nas suas respectivas campanhas. O que me chamou atenção é que na matéria, é citado o Reinaldo Azevedo como a pessoa que criou o termo "apedeuta" para se referir ao nosso presidente, o Lula. Mas, eu tenho visto no teu blog que vc ja usa o termo a um bom tempo. Veja aí, podem estar querendo dar a autoria para outra pessoa. Abraço, Glaucius Djalma Pereira Junior Grato, meu caro Glaucius. Mal falei do burro, logo apontou as orelhas. Piauí se engana. A associação de apedeuta a Lula é minha e data de 2002, muito antes de eu ter começado este blog. Em 2004, cunhei a expressão Supremo Apedeuta, por alusão a Supremo Magistrado. Criei-a para que fosse divulgada, e nisto fui bem sucedido. Mas não para que alguém dela se pretendesse autor. O recórter tucano papista além de assumi-la andou criando trocadilhos bobos, como Apedeutakov e Apedeutakoba (Koba era um dos codinomes do Stalin). Como se Lula um dia tivesse sido comunista ou stalinista. Em sua histeria em xingar o PT, o virtuose do cut & paste lhe atribui defeitos que em verdade não tem. Lula é simplesmente oportunista. Nossa sorte é que só foi eleito bem após a queda do Muro e desmoronamento da URSS. Fosse antes, certamente teria aderido à União Soviética. Há mais de quatro anos, em 17 de abril de 2006, escrevi: O sumo analfabeto, com o apoio da Igreja Católica e da universidade, acabou sendo eleito. No ano mesmo de sua eleição, em crônica intitulada "Eu sou o que sou", publicada no Baguete, jornal eletrônico de Porto Alegre (29/03/2002), pareceu-me oportuno qualificá-lo como apedeuta: "Até hoje as esquerdas são pródigas em contar piadas sobre a falta de cultura de Costa e Silva. Mas Costa e Silva fez Escola Militar, cujo acesso não é para qualquer apedeuta". Em 19 de agosto do mesmo ano, no mesmo jornal, na crônica intitulada "O neoaparatchik", voltei ao tema: "Existe uma raça de apedeutas que se sentem muito eruditos quando usam proparoxítonas ou quadrissílabos. No debate organizado pela Folha de São Paulo, na segunda feira-passada, ele se superou. Lá pelas tantas, arrotou erudição: 'Entretanto, há coisas a serem feitas concomitantemente'. Embriagado pelo próprio verbo, feliz pelo heptassílabo, perguntou ao interlocutor: 'Gostou do concomitantemente?'" Em 17 de março de 2003, no artigo "Armadilha para negros", publicado no MSM, escrevi: "O atual presidente da República está longe de ser o primeiro apedeuta a assumir o poder neste país. Câmara e Senado estão repletos de analfabetos jurídicos, que nada entendem da confecção de leis nem sabem sequer distinguir lei maior de lei menor". Na tradução do artigo para o inglês, publicada na revista Brazzil, de Los Angeles, o tradutor teve um feliz achado: First Ignoramus. Em "Fala, ó metamorfose ambulante", publicado também no MSM, em 20 de setembro de 2004, lá está: "Durante solenidade em Brasília, o Supremo Apedeuta disse que 'o ser humano não tem que ter medo de ser uma eterna metamorfose ambulante', fazendo referência a um dos sublimes autores que embasam sua erudição". Na Brazzil, a expressão foi traduzida como Supreme Ignoramus. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar nos arquivos do MSM, verá que, de 2003 para cá, escrevi pelo menos 21 crônicas, onde uso as expressões apedeuta ou Supremo Apedeuta. Em suma, para meu prazer, a expressão foi fazendo fortuna na mídia eletrônica. Tanto o Supremo Apedeuta como o Supreme Ignoramus. Nada lisonjeia tanto um jornalista como ver seus achados correndo mundo. Outro dia, lendo ao azar a revista Primeira Leitura, vi que um jornalista tucano chapa-branca a empregava várias vezes. Maravilha, pensei, minha trouvaille já é de conhecimento dos partidos de oposição. Ocorre que, conversando com outros jornalistas, fiquei sabendo que o autor do artigo está reivindicando a autoria da expressão. Alto lá, senhor Reinaldo Azevedo. Supremo Apedeuta é cria minha, e isto qualquer pesquisa rápida no Google pode comprovar. Use e abuse da expressão, quantas vezes quiser, divulgue-a aos quatro ventos, isto só me faz feliz. Mas não pretenda tê-la criado. Isto é muito feio para um jornalista. Ou, para usarmos uma palavra da moda, é antiético. E não fica bem para o porta-voz de um partido que pretende dar um banho de ética no partido que se dizia dono da ética tomar atitudes assim antiéticas. O Supremo Apedeuta é meu. (*)13/08/2010. Meu livro O Supremo Apedeuta pode ser baixado de http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/supremo.pdf, em formato PDF ou http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/supremo.html, em formato exlibris. sexta-feira, setembro 28, 2012
ISLÃ AMEAÇA BRASIL Ainda o Islã. O tema se impõe. Ainda há pouco, eu escrevia que os muçulmanos querem impor censura ao Ocidente. Agora pedem censura no Brasil. Uma tal de União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI) pediu a retirada do vídeo Inocência dos Muçulmanos, que parodia a vida de Maomé, por considerá-lo ofensivo à religião islâmica. Como juiz é o que não falta em Pindorama quando se trata de censurar, um juiz aqui de São Paulo, Gilson Delgado Miranda, da 25a Vara Cível Central de São Paulo, acatou o pedido, ferindo o princípio da liberdade de expressão. Terça-feira passada, o YouTube foi proibido de exibir o vídeo. Tem agora dez dias para tirá-lo do ar no país, em qualquer idioma que for exibido. A cada dia que a medida for descumprida, a empresa receberá uma multa de 10.000 reais. Para a UNI, o filme viola a Constituição por ferir o direito da liberdade de religião, e ainda ofende os islâmicos. Não bastasse o apelo à censura da tal de entidade, que pelo jeito foi constituída às pressas para introduzir a sharia no Brasil, um leitor me envia uma notícia alarmante, publicada no Globo. Em meu recente artigo publicado na Folha de São Paulo, “A morte da Europa que amo”, eu comentava o atrevimento dos muçulmanos na Itália, que pretenderam que as mulheres tirassem documentos de identidade... veladas. Pois a pretensão chegou até nós. Vamos à notícia: A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, a cidade que abriga a segunda maior comunidade muçulmana do Brasil, está envolvida numa controvérsia. A Câmara de Vereadores quer que as mulheres muçulmanas não sejam obrigadas a tirar o véu ao fazer fotos para documentos. São 22 mil pessoas de origem árabe na cidade. Quase todas muçulmanas. Por isso, é comum ver mulheres usando o hijab, o lenço que cobre a cabeça. “Tem um monte, a gente já nem acha estranho mais”, disse uma mulher. “O hijab não é ornamento, não é fantasia, é uma parte da vestimenta obrigatória para a vestimenta da mulher muçulmana”, ressaltou o líder religioso Mohsin Alhassani. O problema é que na hora de tirar fotos para documentos como carteiras de identidade e de motorista, as muçulmanas têm que tirar o lenço, isso é determinação. No Instituto de Identificação do Paraná, por exemplo, são proibidos acessórios como brincos, piercings e lenços. Nas fotos, têm que aparecer: as orelhas e o contorno do pescoço e dos ombros. O mesmo serve para a carteira de habilitação. “O que nós podemos fazer e fazemos é isolar o local, colocar uma pessoa mulher, geralmente a nossa supervisora, que faz a captura da imagem”, afirmou chefe interina do Detran-PR Marta Matkievicz. Mas, para as muçulmanas isso não resolve o problema. “Aí você dá a identidade virada, simplesmente ele olha na foto e olha na tua cara. Você fica constrangida, sério, é um constrangimento horrível”, disse a dona de casa Neiva Schaffer. Ou seja, já temos muçulmanos querendo introduzir no país os hábitos de suas teocracias. Como no universo muçulmano mulher não tem identidade mesmo, para que foto do rosto. Que os cabeças-de-toalha tenham tais pretensões não é surpreendente. O insólito é que uma câmara de vereadores adira ao obscurantismo. “Nada mais justo que o muçulmano possa expressar a sua religiosidade com a sua vestimenta”, afirmou o representante da comunidade muçulmana Faissal Ismail. O bruto só não entende como pode ser identificada uma mulher a partir de uma foto com o rosto velado. O Detran e o Instituto de Identificação têm 30 dias para responder ao pedido da Câmara. Isto é só o começo. Nos próximos anos, estes animais vão defender o uso do véu nas escolas, a excisão do clitóris e a infibulação da vagina como expressão de suas religiosidades. Quem não lembra do recente caso do diplomata iraniano que bolinava uma criança de sete anos dentro de uma piscina em Brasília? Quando denunciado, o Irã reclamou seus direitos: "O Brasil tem que respeitar a cultura dos povos". Até hoje, o Brasil vivia ao largo de tais fanatismos. Com o aumento das madrassas no país, financiadas pela Arábia Saudita, a estupidez começa a viger entre nós. OUTRAS REAÇÕES Imad Nasser escreve: Senhor Janer: Devo dizer que esperava mais qualidade argumentativa de um jornalista doutor pela Sorbonne. E o que se lê no artigo publicado hoje na Folha é um discurso raivoso e obtuso. Qualquer leitor percebe que o senhor se refere indistintamente aos muçulmanos de maneira negativa. É estranho que alguém com sua experiência e formação julgue mais de 1 bilhão de pessoas espalhadas pelo mundo de modo tão ofensivo. Eu não lhe escreveria se seu artigo não saísse no jornal mais lido do país. O texto, afinal, constitui subliteratura. Mas exerce, lamentavelmente, má influência e informa mal, porque informa com raiva e preconceito. Atenciosamente, Imad Mensagem de Peter Renyi: Prezado Janer, Com grande surpresa e prazer li seu artigo na Folha, "A morte da Europa que amo". A primeira manifestação e aviso sobre o perigo que os muçulmanos fanáticos significam para o mundo. É lamentável que os últimos governos nossos (Lula e Dilma) não conseguiram ainda enxergar de que se trata. Tenho mais experiência com regimes ditatoriais fanáticos, passei a segunda guerra mundial na Europa. Nasci na Hungria, sou judeu, perdi muitos parentes e amigos na mão dos nazistas alemães e húngaros. Eu mesmo escapei por pouco. Como você sabe, também a Hungria era aliada fiel da Alemanha nazista, formando o chamado "eixo" (Alemanha, Itália e Hungria). Conforme notícias recebidas da Hungria, o país continua fortemente racista. Nos últimos meses em cinco cemitérios judaicos os túmulos foram quebrados. Apareceram nas ruas de Budapest cartazes anti-semitas, um rabino e respeitado cientista foi hostilizado na rua. Cheguei ao Brasil em setembro de 1946 e logo percebi que cheguei no paraíso, fui morar no Nordeste entre brasileiros, fiz muitas amizades, as quais cultivo até hoje. Não obstante o Brasil tenha lutado contra o nazismo, o governo Dutra parece que era leniente com imigrantes vindo da Europa, tendo entrado aqui boa quantidade de nazistas alemães, húngaros e de outras nacionalidades. Da Hungria, por exemplo, chegaram membros da "gendarmeria" húngara. Eles eram incumbidos junto com Eichmann e o Gestapo da deportação dos judeus. A única diferença entre os nazistas e os muçulmanos é que os últimos não dispõem, ainda, de armas tão letais como os primeiros. Agradeço sua atenção e mando forte abraço Peter Renyi Mail de Gilvan: Caro Janer, Primeiro: espero que estejas bem, de saúde e tudo o mais, abraços! Segundo: minhas congratulações pela coragem e pela coluna bem escrita, "A morte da Europa que amo". Falaste pouco e disseste tudo. Não sei onde esse pessoal encontra tolerância para um bando de malucos fanáticos, ainda mais em um ocidente que não é muçulmano (graças a allah, talvez?). Eu ainda diria que todo mundo tinha bastante tolerância com o nazismo também, se bem que penso que o nazismo era bem menos perigoso. Abraços! Gilvan Mensagem do Flávio Parabéns pelo lúcido e corajoso texto publicado em "Tendências e Debates" da Folha de São Paulo nesta quarta-feira. Distribuí para inúmeros amigos que também o elogiaram especialmente pela importância implícita (ou explícita) de valorização do respeito às leis e ao "Estado de Direito". Não se pode permitir pequenas concessões que mais tarde vão transformar-se em grandes transgressões. Ainda há dias assisti bestificado que em Foz do Iguaçu, alguns vereadores pressionados por líderes da expressiva comunidade islâmica local, desejam obter das autoridades estaduais e federais autorização para que as mulheres desta comunidade tirem fotos para documentos oficiais, com véus e com a cabeça coberta, como preceitua a sua religião, contrariando princípio básico de identificação sem adornos, aliás objetivo único de uma foto em um documento, de conseguir identificar o portador. Por mais que pareça pouco relevante, são concessões desta natureza que estimulam essa gente a não adaptar-se a autoriddade de país nenhum para aonde emigram e onde são recebidos com cordialidade. Parabéns mais uma vez, vou passar a acompanhar seus textos com atenção. Flávio São Paulo quinta-feira, setembro 27, 2012
AOS ADGHIRNI De Samy Adghirni, correspondente da Folha de São Paulo no Irã, recebo via Facebook este lapidar comentário sobre meu artigo “A morte da Europa que amo”, publicado ontem no mesmo jornal: “Islamofobia, ou o racismo moderno socialmente aceito” Meu caro Samy: Entendo as dificuldades de um correspondente internacional, sediado em um país cuja língua desconhece, com dificuldades de acesso à Internet e escrevendo sob a censura de uma ditadura. É inclusive o caso de se perguntar: se desconhece a língua do país que cobre e se não tem liberdade de escrever o que bem entende, que está fazendo o correspondente lá? Enfim, as ditaduras são pródigas em press releases, e algo sempre se pode escrever. Islamofobia, como você sabe, é o mais recente insulto criado pelas esquerdas, para substituir os antigos palavrões ideológicos, hoje um tanto fora de época. Depois da queda do Muro, soa um tanto “demodé” chamar alguém de imperialista ou reacionário. Você deve ter idade suficiente – e se não tiver, pode fazer uma pesquisa – para ter percebido que após os anos 80 aumentaram as ocorrências da palavra racismo nos jornais. Luta de classses morta, luta racial posta. A dialética precisa continuar em pé. Só não entendo que tem a ver islamofobia com racismo. Para começar, o neologismo, bolado pelo jeito pelos aiatolás, é mal construído. Fobia quer dizer medo. Não há propriamente medo do Islã no Ocidente. Mas nojo. Nojo de uma cultura que mutila sexualmente mulheres, que as destitui dos direitos mais básicos, como escolher marido, exercer a profissão que bem entende, viajar sem a permissão de macho algum. Isso sem falar no direito ao prazer sexual. O que está em jogo não é o fator racial, mas a opressão religiosa, tanto que há muçulmanos de todas as raças, brancos, negros e amarelos. Mas tudo bem. Nos anos 70, fui tachado de reacionário, direitista, imperialista. Mudam os tempos, mudam os termos. Hoje sou racista e islamófobo. Jornalista, tenho a pele dura. Receber insultos para mim é rotina. Devo confessar inclusive que gosto de recebê-los. Quando alguém apela ao insulto, é porque não tem mais argumentos. Você não contesta nenhum dos fatos que relacionei no artigo. Nem pode contestá-los. Não pode negar que um padreco persa condenou à morte um escritor de nacionalidade européia, que vive na Europa e publicou um livro na Europa. Tampouco pode negar que, em nome do aiatolá Khomeini, foram assassinados um cineasta na Holanda, o tradutor ao japonês do livro de Rushdie, foi esfaqueado o tradutor ao italiano e o editor turco da obra foi baleado. Tampouco pode negar a recente recompensa de cem mil dólares, oferecida pelo ministro de Ferrovias do Paquistão, pela cabeça do autor do vídeo que hora assusta os meigos e sensíveis muçulmanos. Com a nonchalance de um deus, Ghulam Ahmed Bilour disse que pagará a recompensa de seu próprio bolso. "Eu vou pagar US$ 100 mil a quem matar o realizador desse vídeo", disse o ministro. "Se alguém fizer outro material blasfemo parecido no futuro, eu também vou pagar US$ 100 mil para seus assassinos." Certo, Paquistão não é sua área. Mas a primeira condenação à morte de um ocidental surgiu no Irã. Como pessoa interessada em questões islâmicas, sou seu assíduo leitor, e jamais o vi condenar essa arrogância muçulmana. Seus leitores esperam mais que a reprodução de press releases, Samy. Há instituições interessantes na cultura do país onde você vive, praticamente desconhecidas entre nós. Poucos sabem, cá no Brasil, que uma mulher não pode andar na rua acompanhada de um homem que não seja seu parente. Se anda com um namorado, não faltará policial para pedir documentos aos dois. Poucos sabem que no Irã uma mulher não pode olhar um homem nos olhos. Você, jornalista que se criou em sociedade onde qualquer um anda com quem bem entende e olha nos olhos de quem quiser, você não nos contou nada disso, Samy. Nem todos os leitores sabem que, no Irã, os homossexuais são condenados à morte. Jamais o vi condenar esse atentado ao direito de cada um exercer a sexualidade que bem entender. Em nosso atrasado continente, salvo alguma ilhota da América Central, homossexualismo há muito deixou de ser crime. Neste ano da graça, a punição com morte só ocorre no Irã e quatro países árabes. No país dos aiatolás, com uma curiosa peculiaridade. Se homossexualismo é proibido e punido com morte, trocar de sexo é inclusive incentivado pelo Estado. A medida foi avalizada pelo revolucionário aiatolá Khomeini. Não ouse, no Irã contemporâneo, travestir-se. Macho é macho e fêmea é fêmea. Homem não pode usar chador, nem mulher pode usar vestes masculinas. Mas os sábios aiatolás lhes permitem trocar de sexo. Feita a cirurgia, o homem passa a usar chador. (Nada de vestir-se despudoradamente à ocidental, é claro). Mas atenção: não volte a usar vestes masculinas. Trate de renovar o guarda-roupa. Usar suas antigas roupas agora é crime. Em verdade, a mudança de sexo não é exatamente uma permissão. E sim uma imposição. Se você, homem, gosta de homem, trate logo de cortar o que o identifica como homem e transforme-se em mulher. Só então poderá ter relações com homens. Ou vice-versa. Se você é mulher e gosta de mulher, trate de fechar essa fenda obscena e construa um pênis, ainda que discreto. Antes da cirurgia, não ouse desfilar pelas ruas sua futura condição. A menos que porte consigo um documento provando que a cirurgia foi permitida. No entanto, Samy, como correspondente, você nos subtraiu esta curiosa característica da atual cultura persa. Você nunca nos falou da fórmula genial que os aiatolás encontraram para resolver esse problema jamais resolvido pelo Ocidente. Por definição, não há prostituição no Irã. Se o Ocidente ainda debate a questão do sexo pago, coube ao islâmico Irã desatar o nó, apelando também à castidade. Há mais de dez anos, o jornal conservador Afarinesh noticiava que duas agências do governo haviam encontrado a fórmula para resolver o problema. Seriam criadas as chamadas "casas de castidade", onde o cidadão poderia exercitar sua luxúria em ambiente seguro e saudável. De acordo com o artigo, o plano envolvia o uso de forças de segurança, líderes religiosos e do judiciário para administrar as casas. De acordo com os números oficiais da época, cerca de 300 mil profissionais trabalhavam nas ruas da capital, que tinha então 12 milhões de habitantes. Para o aiatolá Muhammad Moussavi Bojnourdi, as casas de castidade se justificam "pela urgência da situação em nossa sociedade. Se quisermos ser realistas e limparmos a cidade dessas mulheres, precisamos usar o caminho que o Islã nos oferece". Este caminho é o sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato. Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que derrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa. Você, Samy, como correspondente em Teerã, subtraiu este importante dado a seus leitores. Daqui de São Paulo, consigo melhor do que você a teocracia islâmica. Me corrijo: certamente você a vê melhor, já que está mergulhado nela. Ocorre que você é muçulmano e não consegue libertar-se de sua crença. Suponho que você aprecie um bom vinho, afinal crente nenhum é perfeito. Sem falar que você nasceu entre infiéis, em um país que corrompe seus cidadãos desde o berço. Nascido em sociedade livre, você adotou como pátria intelectual uma sociedade tirânica. Não que eu queira pautá-lo, Samy. Mas tenho certeza de que seus leitores gostariam de ouvir estas informações. Você porta uma máscara de jornalista imbuído dos ideais do Ocidente. A máscara colou à pele e ninguém veria em você, à primeira vista, um defensor da barbárie. Confrontado com seus dogmas, você deixa cair a máscara. E passa a acusar de islamófobo e racista quem defende a tradição libertária do Ocidente. Sinta-se à vontade para responder-me neste blog. Ofereço-lhe o mesmo espaço deste artigo. Não precisa fazer postagens curtinhas em páginas alheias do Facebook. Allah u Akbar! Mas não muito. ----------- Dra. Zélia Adghirny, professora de jornalismo da Universidade de Brasília, escreve: “Artigo ignóbil, incitação ao ódio e ao racismo”. Salve, Zélia! Há quanto tempo! Pelo jeito, legaste ao Samy teu espírito de síntese. Como boa stalinista, só podias tomar a defesa dos cabeças-de-toalha. Depois da queda do Muro, o marxismo reduziu-se a um anti-americanismo infantil. O inimigo de meu inimigo é meu amigo, não é isso? Mas tens colegas ilustres nessa tua defesa do Islã. Entre eles, por exemplo, o libertário – e muito querido nas universidades – Michel Foucault. Que não hesitou em fazer a defesa da “revolução” dos aiatolás. Ou, mais perto no tempo, o ilustre prêmio Nobel Günther Grass. Ex-membro da Waffen-SS é verdade, mas ninguém é perfeito. Ainda há pouco, Grass se solidarizava com Ahmadnejad, em suas pretensões de varrer Israel do mapa. Vocês, comunistas, não conseguiram conquistar a Europa com o marxismo e querem destruí-la agora com o islamismo. Suponho que votas no PT, não? Petistas é que gostam - na falta de argumentos - de atribuir ódio e racismo aos que atacam suas bandeiras. És jornalista e acadêmica, tiveste educação na França e viveste em um país árabe. Bem que poderias nos noticiar sobre a condição feminina no Islã, sobre a ablação do clitóris e infibulação da vagina, sobre o sigheh e a condenação à morte dos homossexuais no Irã. Teu depoimento, como mulher independente, seria uma bela contribuição ao debate. Somos todos ouvidos, Zélia, eu e meus leitores. Também podes publicar neste blog, em espaço confortável, em vez de postar mensagens telegráficas em páginas alheias. quarta-feira, setembro 26, 2012
TENDÊNCIAS/DEBATES - FSP A morte da Europa que amo --------------- Desde Rushdie, o islã crê que o mundo está sob sua jurisdição. Na Europa, imigrantes trocam a lei local pela sharia. Não viverei para ver a 'Eurábia', ainda bem --------------- Ao não cortar relações diplomáticas com o Irã, em 1989, quando o aiatolá Khomeini decretou uma fatwa condenando Salman Rushdie à morte pela publicação de "Versos Satânicos", os países europeus perderam uma oportunidade única de evitar os conflitos hoje provocados pelos muçulmanos na Ásia, Oriente Médio e Ocidente. Do alto de seus minaretes, o aiatolá condenou um estrangeiro, residente em país estrangeiro, por um ato cometido no estrangeiro e que no estrangeiro não constitui crime. Khomeini legislou urbi et orbi e o islã pegou gosto pela abrangência de sua jurisdição. Se migrantes de todos os quadrantes normalmente se adaptam à cultura europeia, há um imigrante particular que não só causa problemas na Europa como quer dominá-la culturalmente. São muçulmanos, que querem instituir no continente suas práticas, muitas vezes tipificadas como crime nas legislações nacionais. Uma é a excisão do clitóris e infibulação da vagina. Médicos europeus chegaram a propor um pequeno corte simbólico no clitóris, para aplacar a misoginia islâmica. Outra é o véu. Na Itália, migrantes árabes pretenderam que mulheres tirassem documentos de identidade... veladas. Muçulmanos têm grande dificuldade para aceitar as leis dos países que os acolhem. Em plena Espanha, há tribunais islâmicos clandestinos. A primeira corte ilegal, descoberta na Catalunha, operava como em um país muçulmano, com a aplicação do rigor da sharia. O tribunal foi revelado em dezembro de 2009, quando a Justiça da região de Tarragona indiciou dez imigrantes por liderar uma corte que teria sentenciado à morte uma mulher muçulmana. Na Grã-Bretanha, a sharia começa a ser usada para resolver disputas familiares e pequenas causas. O primeiro tribunal foi identificado em 2008, mas opera desde 2007. Na Escandinávia, um muçulmano, junto com seus filhos, executou uma filha porque esta tinha relações antes do casamento com um sueco. Não foi preciso tribunal algum. A família se erigiu em tribunal. Há muitos outros casos pela Europa. A Europa é leniente. Em 2007, a juíza Christa Datz-Winter, de Frankfurt, negou o pedido de divórcio feito por uma mulher muçulmana que se queixava da violência do marido. A juíza declarou que os dois vieram de um "ambiente cultural marroquino em que não é incomum um homem exercer um direito de castigo corporal sobre sua esposa". Quando a mulher protestou, Datz-Winter citou uma passagem do Corão: porque "os homens são encarregados das mulheres". Na Finlândia, imigrantes somalis protestam por seus filhos estarem sendo educados por professoras. Porque um jovem macho somali não dirige a palavra a uma mulher. Na Suécia, que nos anos 1970 gozou a fama de paraíso do amor livre, o atual número de estupros per capita coloca o país apenas abaixo do Lesotho, na África. De lá para cá, o país foi invadido por muçulmanos. Segundo Ann-Christine Hjelm, advogada que investiga crimes na Suprema Corte sueca, 85% dos estupradores condenados no tribunal nasceram em solo estrangeiro ou são filhos de pais estrangeiros. Em 2004, os jornais nórdicos noticiaram que um mufti chamado Shahid Mehdi declarou em Copenhague que mulheres que não portam véus estão "pedindo para serem estupradas". Para estes senhores, uma mulher sueca independente é apenas uma "puta sueca". Mas, claro, não se pode estuprar uma árabe. Entrevistado pelo "Dagens Nyheter", principal periódico sueco, Hamid, membro de uma gangue de violadores, justificou: "A sueca recebe um monte de ajuda depois, além disso ela já transou antes. Mas a árabe tem problemas com sua família. Para ela, é uma grande vergonha ser violentada. Para ela, é importante ser virgem ao casar". No Reino Unido, França e Espanha, muçulmanos lutam contra a presença de cães nas cidades. Porque o profeta não gostava de cães. Os atuais distúrbios em função de um filmeco americano sobre Maomé, que não fere lei alguma no Ocidente, refletem a leniência com que a Europa tem tratado os muçulmanos. O islã quer determinar que tipo de arte o Ocidente pode produzir. Já condenaram Rushdie à morte. O tradutor de "Versos Satânicos" para japonês foi assassinado. Sobreviveram os tradutores ao italiano, esfaqueado, ao norueguês, baleado, e o editor turco, que se hospedou em um hotel que foi incendiado. Em 2004, o cineasta Theo Van Gogh foi assassinado em Amsterdã por ter dirigido "Submissão", filme sobre a situação da mulher nas sociedades islâmicas. Como boi que ruma ao matadouro, a Europa está se rendendo às aiatolices de fanáticos que ainda vivem na Idade Média. Já se fala em uma "Eurábia" daqui a 50 anos. Ainda bem que não estarei lá para testemunhar a morte de uma cultura que tanto amo. JANER CRISTALDO, 65, doutor em letras francesas e comparadas pela Universidade de Sorbonne Nouvelle (Paris 3), é tradutor e jornalista Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br CETEGISMO E DITADURA Saí de Porto Alegre em 1975, ou seja, há quase quatro décadas. Embora sempre procure informar-me sobre o que acontece no Sul, há uma razoável diferença entre estar longe e estar presente. A questão do cetegismo parece ser bem mais grave do que eu supunha. Me escreve Patrício Almeida: 25/09/2012 - 15:59 São eles: Paixão Cortes, Barbosa Lessa, Glauco Saraiva....Ideólogos da burguesia guasca, criaram o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) e o clubinho preconceituoso do CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Algumas Características do MTG e do CTG: - estrutura do latifúndio-, patrão, capataz, peão, prenda. - o "gaúcho" não possui um lugar na estrutura do CTG. - herdeiro de uma ordem ditatorial e transformou-se no desaguadouro do pensamento e das práticas de caserna. - O tradicionalista é um ser fragmentado. - Sempre tem um piquete de estúpidos para agredir pessoas "fora do padrão". - usam o método da estupidez para converter à obediência – a chamada pedagogia da doma usada com animais. - tradicionalismo assumiu oficialmente um caráter “oficialista”, cívico-fundamentalista. - Paixão Cortês fora tocado pelos rodeios e estilo de vida dos caubóis norte-americanos. - o Tradicionalismo acabou se transformando em uma cultura de caserna, de inspiração de um positivismo desilustrado, dominado, em especial, pelos oficiais brigadianos, funcionários públicos e pela direita culturalmente limitada, líderes de legiões de "artistas" do lumpesinato. -Na fase espontânea, lúdica e telúrica do Tradicionalismo foi colocada uma canga disciplinadora, controladora, de obediência. - o Tradicionalismo expressou a sua hegemonia na instituição do MTG como instrumento da Ditadura Militar.Nessa arreada, o Tradicionalismo transformou-se na "cultura oficial" do Rio Grande do Sul como expressão do poder e assumiu seu aspecto militantemente ideológico. Terminava qualquer inocência em seu interior. - A trilha sonora da tortura foi a música tradicionalista. Todo preposto da ditadura no Piratini teve um lacaio pilchado para servir o mate, assar o churrasco e animar a tertúlia. Cada quartel construiu seu galpão crioulo como eco desse tempo obscurantista, de tortura, de morte, de repressão e de controle popular, especialmente da alma e da sensibilidade. -O núcleo fundamental do Tradicionalismo, do qual deve emanar o comportamento e a cultura, é a estância simbólica. A arte da elite era preferencialmente palaciana. Admitiam-se somente as expressões "aceitas". Na verdade, a oligarquia real era universal. O Tradicionalismo não é sequer uma extensão cultural da oligarquia, de cuja propriedade retirou seu ícone fundante. Ele é uma leitura equivocada, uma adoção ilusória de sua rusticidade. Sequer abagualada e xucra, pois isso poderia remeter para a insubmissão. - No CTG se encontram o peão, o agregado, o posteiro, o capataz, todas as figuras obedientes, atreladas ao mando da sede, do núcleo inquestionável do poder do patrão. - MTG é um movimento de defesa de uma moralidade conservadora, de uma idéia pastoril cristã de família. - CTG não é lugar de gaúcho; é lugar de patrão e peão, de gente obediente, conformada e militante da ordem, mesmo que o sistema trate o povo como gaúcho e excluído. - MTG é uma entidade privada, mas que, colocando-se como "cultura oficial", invadiu instituições, domina espaços do governo e possui reservas vitalícias nos órgãos públicos. Além disso, arrecada considerável verba pública para os seus eventos. Invadiu a escola para converter os alunos ao seu culto, quando a educação republicanamente é o espaço do saber, do estudo. - MTG é um movimento militante ideológico-cultural, cada vez mais fundamentalista e intolerante, que procura converter-se em um poder dentro do Estado, invariavelmente pressionando, quando não elegendo governantes. - O "orgulho gaúcho" é completamente inútil para protagonizar a modernidade, apesar de o próprio tradicionalista ser um ente pós-moderno, no sentido que postula uma identidade pela imagem e pelo culto ritualístico. A sua energia e militância, no entanto, cria um cenário dogmático. - a missa crioula é uma ode ao mundo estancieiro. A propriedade foi sacralizada. O latifúndio, por sua extensão, é ressignificado como a "estância do Céu"; Deus, como o "Patrão celestial"; São Pedro, como o "capataz"; Jesus Cristo, como o "tropeiro" que andou pela terra mangueirando o rebanho; e, Nossa Senhora, como a "prenda" disso tudo. - MTG fortalece o dogmatismo. Essa "dureza" de pensamento se evidencia na sala de aula, na política, na cultura. Não existe nada pior do que o ignorante com "certezas" imutáveis. Praticamente é um insensível com o outro. O mundo é uma pirâmide, com o patrão no topo; e ele, psicologicamente, junto... O fundamentalismo é uma totalidade. No seu último congresso, o MTG adotou o projeto de fundar as suas próprias escolas de ensino fundamental e médio, além de uma universidade. É simplesmente assustador para a vida republicana. - o MTG, ao menos no Rio Grande do Sul, possui um forte impulso militaresco; as pilchas já não são mais expressões da vestimenta civil, pois os CTGs andam uniformizados; e os piquetes parecem grupos militares ou de milicianos, invariavelmente ocorrendo escaramuças entre eles, em disputas inócuas, mas de intensa mobilização. - O autoritarismo castilhista colocou-se, por fim, como herdeiro dessa tradição, e, por meio da difusão educacional, disseminou-se a falsa visão de que os farrapos eram republicados e que o povo lutou ao seu lado contra o Império. - O auge do processo de colaboração entre a Ditadura e o MTG foi a instituição do IGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em 1974, consagrando uma ação que vinha em operação desde 1954. A missão era aparentemente nobre: pesquisar e difundir o folclore e a tradição. Mas do papel para a realidade existe grande diferença. Havia um interesse perverso e não revelado. - A lei que instituiu a "Semana Farroupilha" é de dezembro de 1964, determinando que os festejos e comemorações fossem realizados através da fusão estatal e civil, pela organização de secretarias governamentais (Cultura, Desportos, Turismo, Educação, etc.) e de particulares (CTGs, mídia, comércio, etc.) - Durante a Ditadura Militar, o Tradicionalismo foi praticamente a única "representação" com origem na sociedade civil que fez desfiles juntamente com as forças da repressão. - o Tradicionalismo engrossou os piquetes da ditadura - seus serviçais pilchados animaram as solenidades oficiais, chulearam pelos gabinetes e se responsabilizaram pelas churrasqueadas do poder. Esse processo de oficialização dos tradicionalistas resultou na "federalização" autoritária, com um centro dominador (ao estilo do positivismo), com a fundação do Movimento Tradicionalista Gaúcho, em 1967. Autoritário, ao estilo do espírito de caserna dos donos do poder, nasceu como órgão de coordenação e representação. terça-feira, setembro 25, 2012
VEJA PROMOVE LIXO Jamais me entendi bem com elas no estrangeiro. A relação com a prostituta exige uma cumplicidade sociológica e até mesmo vernácula. Em Paris, mais para ver como era, visitei duas. A primeira anunciava várias modalidades, desde sexo à espanhola, à francesa, à sueca, à grega e à inglesa. Fiquei intrigado. Já havia vivido na Suécia e nada via de diferente na sexualidade aborígene. A oferta era tão cosmopolita que não resisti. Fui chez elle e perguntei por cada fórmula. À espanhola, sei lá por quê, era entre os seios. À francesa, era oral. À sueca, manual, à grega anal. A cada parâmetro, o preço ia subindo. Bom, e à inglesa, como é que é? - quis saber. Era o mais caro dos menus. Na época, cerca de mil francos. Deveria ser o melhor. Em que consiste? "Eu te algemo na cama, sapateio em cima de você e depois uso um chicote". Merci bien, chérie, nesta altura sou mais um singelo papai-mamãe. Bem simplinho, s’il te plaît. O ser humano é mistério profundo. Nunca entendi como sentir prazer na dor. Já os britânicos, parece que entendem. A Veja desta semana dá a capa e mais nada menos que treze páginas a um best-seller vagabundo, de autoria da britânica – e não por acaso - E. L. James, intitulado Cinqüenta tons de cinza. Que é o primeiro de uma trilogia girando em torno ao sexo sadomasoquista. Segundo os jornais, está vendendo mais que pão quente. Que a Veja divulgue lixo quando fala de artes, isto virou rotina. Há muito a revista não sugere a seus leitores livro ou filme que preste. Seus redatores preferem comentar o que está vendendo bem. E o que está vendendo bem, quando se fala em cinema ou literatura, normalmente não presta. Pensei comprar o livro para comentá-lo. Mas não vou comprar lixo – disse a meus botões – só para constatar que é lixo. Foi quando uma amiga manifestou interesse pelo livro. Ok! Compro, dou uma olhadela e depois o repasso. Comprei. Quinhentas páginas de péssima literatura, estrategicamente entremeadas, cá e lá, por alguns orgasmos. No pior estilo ianque, diálogos conduzem a ação ao longo do calhamaço. A impressão que se tem é que a autora só sabe falar, mas não escrever. Obviamente, não li a coisa toda. Durante a noite, li umas quarenta ou cinqüenta páginas, sem encontrar um segundo sequer de espírito ou inteligência. A personagem, uma estudante de Letras, se contenta em narrar monotonamente seus embates com um milionário chegado às práticas sadomasoquistas. Já se fez melhor literatura erótica no Ocidente. Pegue, por exemplo, os dez volumes das Memórias de Giacomo Casanova de Seingalt. Aos sessenta anos, Casanova começa a escritura de suas memórias. “Agora que não posso mais viver, sento e escrevo sobre o que vivi”. Sem jamais ter pretendido fazer literatura, Casanova entra na História da Literatura, em função de sua vida aventureira. Segundo pesquisadores, Casanova teria em sua “listina” mais mulheres que o Don Giovanni de Mozart. Freqüentou cortes e bordéis, prisão e caserna, clero e políticos, conventos e salões literários. Quem quiser se debruçar sobre o século XVIII - seja historiador, seja sociólogo, seja mero curioso - terá em Casanova um excelente guia. Ou Minha vida secreta, de Henry Spencer Ahsbbe, comerciante britânico da segunda metade do século XIX, que viajou pela Europa, Ásia e África. No livro, ele descreve a moral e os costumes de 2500 mulheres de todos os países em que esteve e com as quais manteve relações sexuais. Ou O Amante de Lady Chaterley, de D. H. Lawrence e, junto com erotismo ganhe uma das mais contundentes novelas do início do século passado. Ou os Trópicos (de Câncer e Capricórnio), de Henry Miller, e ao mesmo tempo visite a Paris do pós-guerra. Ou até mesmo Sade. O divino marquês é de leitura um tanto chata mas, pelo menos na Filosofia de Alcova, entre cada partouse temos uma preleção de política e alguma discussão teológica. Ou viaje ao Oriente. Curta os Kamasutra. Ou o Jardim das Delícias, do xeique Nefzaui, tratado sexual da época em que os muçulmanos não tinham medo de mulher: “Deus dotou a mulher de um ventre arredondado e um belo umbigo, e de ancas majestosas; e todas essas maravilhas são sustentadas pelas coxas. Foi entre estas últimas que Deus localizou a arena do combate; quando dispõe de carne abundante, assemelha-se à cabeça de um leão. Chama-se vulva. Oh, quantas mortes de homens jazem às suas portas? E entre eles, quantos heróis!” Enfim, obras eróticas de boa qualidade são o que não falta no universo literário. Não veremos, nestes autores, sexo associado com dor e sofrimento. Isso de suplícios na hora do sexo, pelo que tenho lido, é coisa de anglo-saxões. Latinos, preferimos o prazer. Volto à autora britânica. Por engano, comprei o segundo volume da trilogia, Cinqüenta tons mais escuros. Para não decepcionar minha amiga, troquei-o pelo primeiro. Mais quinhentas páginas de uma literatura sem pingo algum de inteligência. Entranhas, suspiros, gemidos, estocadas, algemas e chicotes. Ridicularia total. Neste primeiro volume, lá pelas tantas, há um contrato jurídico, muito detalhado, entre Dominador e Submissa, onde se estipulam as regras do espancamento. Como se alguém que quer espancar ou ser espancado se preocupe com a regulamentação da violência. Apanho ao acaso o início do capítulo 14, no qual o personagem, doravante chamado Dominador, enfia a ponta de um chicote na boca da moça: “- Chupe – ordena ele com suavidade. Seguro a ponta e obedeço.” Ora, alguém acredita que alguém sinta algum prazer em chupar couro? Mas o melhor vem agora: “Ele gira a ponta em volta do meu umbigo, depois vai descendo, passando pelo meus pêlos pubianos até o clitóris. Brande o chicote e acerta um golpe seco naquele meu ponto doce, e eu gozo, gloriosamente, com um grito de alívio”. Chegar ao orgasmo com uma chicotada no clitóris? A autora está decididamente exagerando. Não posso falar, careço do tal de ponto doce. Passo a pergunta a quem o tem: pode alguém se comprazer com a leitura de tais bobagens? No ritmo em que vai este tipo de literatura, o erotismo ainda vai se refugiar nos consultórios odontológicos. O leitor não perde por esperar uma personagem que tem orgasmos enquanto um sensual dentista lhe enfia nos dentes uma broca sem anestesia. É deplorável que Veja – que goza a fama de ser o único partido de oposição no Brasil – na hora de comentar literatura dedique capa e trezes páginas a uma autora de uma mediocridade atroz. Segundo a revista, em seis semanas mulheres do mundo inteiro devoraram 10 milhões de cópias. 99,9% dos compradores do livro são do sexo feminino. O primeiro volume da trilogia já vendeu no Brasil, desde julho, 340 mil exemplares e está há sete semanas consecutivas na lista dos mais vendidos. Pelo que lembro de meus dias de juventude, as mulheres já foram mais inteligentes. segunda-feira, setembro 24, 2012
CONVERSÃO DE PUTA VELHA NÃO CONVENCE Em minha adolescência, quando vivia em Dom Pedrito – início dos anos 60 – fui disputado pelas duas filosofias então vigentes na cidade: católicos e comunistas. Quanto aos primeiros, fui jogado na doutrina por uma catequista uruguaia, que nos pedia para rezar ao bom Deus para parar a chuva, para que seu marido pudesse levar a safra de lã à cidade. Fiz carreira na Igreja. Aos 15 anos, era presidente da Congregação Mariana. Foi mais ou menos nessa época que me libertei dos grilhões de Roma. Como cachorro que sacode a água para secar-se, deixei de crer em Deus e senti uma extraordinária sensação de liberdade. Era como se minha vida começasse de novo a partir dali. In illo tempore, como dizem os evangelistas, nas pequenas cidades do interior havia três instituições onipresentes: uma guarnição do Exército, a Igreja... e o Partido Comunista. Os camaradas, mal viram a ovelha desgarrada do rebanho, tentaram conduzi-la a um novo redil. Um dos líderes do Partido era o Gerson Prabaldi, operário e militante, um dos raros comunistas que até hoje merece meu respeito. Funileiro, patrão de si próprio, lutava por uma sociedade mais justa, nada a ver com os filhos da classe média que fizeram carreira e fortuna montados nos ideais socialistas. Final de tarde, fechava a funilaria, pegava uma bicicleta e saía a fazer seu apostolado, o porta-cargas repleto de ideologia. Líamos as revistas China e Unión Soviética, em espanhol, mais aquele catecismo em edições mensais do PC, a revista Problemas, e muita imprensa de esquerda. O funileiro acreditava na utopia e dedicava suas horas de lazer à construção do socialismo. Homem de uma era pré-televisiva, na qual mesmo os jornais que eventualmente chegavam a Dom Pedrito desconheciam o que se passava no mundo soviético, Gérson acreditava piamente nos panfletos vindos de Pequim ou Moscou. Fosse um dia ao paraíso que louvava, ou tivesse melhores fontes de informação, tenho certeza de que faria marcha à ré. Era homem desinformado, mas honesto. Em sua oficina, rodeado de pneus e aros de bicicletas, recebi minhas primeiras aulas de marxismo, baseadas em um livrinho de Georges Politzer, Curso de Filosofia - Princípios Fundamentais. Primeiras e primárias: sua argumentação simplória não me convencia. No entanto, este divulgador menor foi bastante significativo. Em sua tentativa de trocar em miúdos o marxismo para um público operário, Politzer despe a doutrina de sua retórica e a exibe em sua indigência. Eu já lia filosofia e a doutrina me pareceu por demais tosca. Mas não foi propriamente a leitura de Politzer que me afastou dos camaradas. E sim o muro de Berlim. Naqueles dias, já nos chegavam algumas notícias das pessoas que eram fuziladas ao tentar escapar da Alemanha Oriental. Sabíamos que os cidadãos da União Soviética eram proibidos de sair de seus países. Porque não voltavam mais. Havia então algo de errado naqueles paraísos anunciados pelas revistas do Gérson. Se saímos do paraíso, temos pressa em voltar. Se alguém sai e não volta mais, é porque não era paraíso. Não é preciso maior argúcia para entender isto. E quando pessoas arriscam a própria vida – e mesmo morrem – na tentativa de sair, é porque o paraíso está mais para inferno. Assim, já em minha adolescência, pus no lixo qualquer veleidade comunista. Ferreira Gullar rides again. Eu também. Em entrevista para as páginas amarelas da Veja, José Ribamar Ferreira – seu nome de pia – discorre sobre sua conversão, depois de velho, ao capitalismo. Ao falar de Cuba, declara: - Não posso defender um regime sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo. Falei há poucas semanas desta cortesã, que depois de velha decidiu trabalhar do outro lado do balcão. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro no dia 1º de abril de 1964, 28 anos após a denúncia das primeiras purgas de Stalin em 1936, quinze anos após a denúncia dos gulags por Viktor Kravchenko em Paris, em 1949, nove anos após a denúncia dos crimes de Stalin por Nikita Kruschev, em 1956, no XX Congresso do PCUS. Isto é, o Ribamar atroz aderiu ao partido quando a nenhum cidadão honesto era mais permissível ignorar os crimes do regime soviético. Mas digamos que o Ribamar tenha vivido boa parte de sua vida afastado da imprensa burguesa. Pelo jeito, só este ano descobriu que os cubanos não podem sair de Cuba. Em fevereiro passado, escreveu na Folha de São Paulo: - Nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem permissão. É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez – a 19ª – o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país. Ó, santa credulidade! Ribamar então não sabia que os berlinenses orientais eram fuzilados se tentassem atravessar o Muro? Morou em Moscou e não sabia que os russos estavam proibidos de sair do próprio país? Não terá visto, nas últimas décadas, cidadãos do mundo socialista tentando escapar do inferno pelas fronteiras mais elásticas da Iugoslávia? Não terá ouvido falar, nos dias que antecederam a queda do Muro, de milhares de alemães fugindo para o Ocidente por uma porteira aberta na Hungria? Será que nunca ouviu falar nos cubanos que durante décadas morreram afogados no mar do Caribe, tentando chegar a Miami? A conversão da prostituta decrépita não convence. Mas é significativa. Indica que até os mais ferrenhos stalinistas já se envergonham do próprio passado. Agora é tarde. Nos anos 60 já era tarde. Ribamar – poeta que escreveu um poema dizendo que uma moça “era quase tão bonita quanto a revolução cubana” - mentiu e caluniou durante toda sua vida. Foi cúmplice de gulags, massacres, prisão e execução de dissidentes. E agora, aos 80 e lá vai pedrada, quer redimir-se. Quando congregado mariano, fiz a promessa dos cinco sábados. Se assistisse a missa durante cinco sábados seguidos em homenagem à Maria, teria a graça da redenção final. Isto é, um pouquinho antes de morrer, me arrependeria de meus pecados e iria direto ao paraíso. Por isso, tenho pecado tranqüilamente até hoje. Mas a promessa de Maria não era extensiva a comunistas. DITADURA ACOMPANHA GUERRILHA Comparando a cobertura midiática do mensalão à tortura, disse José Genoíno, um dos réus no STF: "Os torturadores usavam pau de arara. A tortura hoje é a da caneta. É a ditadura da caneta". Sinal de que a ditadura acompanhou a guerrilha. Os guerrilheiros usavam fuzis para assaltar bancos e embaixadas. Agora usam canetas para assaltar o Erário. domingo, setembro 23, 2012
BRASIL PRESERVA ÍNDIOS E EXTINGUE MULATOS Em artigo intitulado “A Extinção do Mulato”, publicado em 2006, eu escrevia: “Movimentos ecologistas estão preocupados com a extinção de baleias, ursos polares, micos-leões-dourados e outras espécies. Pessoalmente, estou preocupado com outra espécie bem mais próxima e mais valiosa, os mulatos e as mulatas. Que, dependendo da inépcia de nossos legisladores, em breve será extinta. Pelo menos do ponto de vista legal. É o que propõe um monstrengo jurídico, de autoria do senador Paulo Paim, o projeto de lei n° 3.198/2000, também chamado de Estatuto da Igualdade Racial. Já foi aprovado pelo Senado e tramita em regime de prioridade na Câmara dos Deputados. De uma só tacada, Paulo Paim extermina legalmente os mulatos do território pátrio: “Para efeito deste Estatuto, consideram-se afro-brasileiros as pessoas que se classificam como tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição análoga”. “Demorou mas chegou até nós. Está sendo introduzida legalmente no Brasil a classificação ianque, que só consegue ver pretos e brancos em sua sociedade e nega a miscigenização. Este sórdido projeto é antigo, fruto da exportação dos conflitos raciais dos Estados Unidos para um país onde o negro sempre conviveu bem com o branco, tanto que o mulato constitui um contingente considerável da população. Mal foi eleito, o Supremo Apedeuta saiu arrotando urbi et orbi que o Brasil era a segunda nação negra do mundo, depois da Nigéria. "Até mesmo uma pessoa aparentemente culta, como Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, prestou-se a corroborar o sofisma safado: “Como declarou o presidente Lula, o estreitamento das relações com a África constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica. Com 76 milhões de afrodescendentes, somos a segunda maior nação negra do mundo, atrás da Nigéria, e o governo está empenhado em refletir essa circunstância”. Ao colocar todos afrodescendentes no mesmo saco dos negros, o ministro demonstra que, nos círculos do poder, mesmo homens cultos se dobram à bajulação. “Ora, segundo o IBGE, a população negra do Brasil, em 99, era de apenas 5,4%. Com o acréscimo de 39,9% do contingente de mulatos, o Brasil estaria perto de ser definido como um país majoritariamente negro, como aliás é hoje considerado por muitos americanos e europeus. Com o projeto do senador, não teremos mais mulatos (ou pardos, no jargão do IBGE), mas apenas afro-brasileiros. O que os ativistas negros esquecem é que o mulato pode denominar-se tanto afro-brasileiro como euro-brasileiro. A tônica no afro tem intenções óbvias: aumentada artificialmente a população negra, torna-se fácil pressionar os legisladores para obter mais vantagens para os que não são brancos. Os ativistas negros no Congresso querem ganhar privilégios no tapetão da semântica”. E ganharam mesmo. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indica uma inversão da tendência histórica de aumento da afirmação da miscigenação na população brasileira. Entre 2009 e 2011, houve queda na participação de pessoas que se declaram pardas e aumento dos autodeclarados pretos. É o que leio no Estadão. Segundo o professor da UFRJ Manolo Florentino, do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), "o que há de novo é o crescimento especificamente do preto em detrimento do pardo. O brasileiro não é burro. Isso vem acontecendo numa proporção exatamente simétrica à expansão das políticas de ação afirmativa fundadas no conceito de raça. No final das contas, vamos acabar tendo uma sociedade bicolor." Como a ianque, como eu antecipava. Nunca foi tão fácil ser profeta nesta terra. Ao afirmar que brasileiro não é burro, o que o professor está dizendo é que brasileiro mente para passar bem. Segundo o Claudio Moura Castro, que ora é economista, ora é pedagogo, "a definição de cor é muito volátil. Se fizerem cota para branco, vai aumentar a proporção de branco". Para o sociólogo Simon Schwartzman, apesar de as cotas também beneficiarem os pardos, há uma campanha do movimento negro no sentido de que as pessoas se declarem pretas, e não pardas. O professor da UFRJ afirma que a tendência histórica verificada ao longo do século 20 era de "extinção" da categoria preto e de crescimento dos pardos, lembrando que, a rigor, pardos são também a mistura de brancos com indígenas. Ou seja, uma afirmação da miscigenação. "Agora, temos uma reversão disso. Ao invés de afirmar-se a miscigenação expressa através do crescimento do pardo, o que está se afirmando é a bipolarização da sociedade com o crescimento dos pretos", diz Florentino. Alvíssaras! Atingimos os padrões de racismo da grande nação do norte. Com a diferença de que um brasileiro agora pode escolher a raça a que pertence. Como ser negro rende mais dividendos que ser mulato, sejamos todos negros. Curiosamente, as autoridades entrevistadas pelo jornal vêem este embuste como algo absolutamente inocente. O Brasil vai deixar de ser uma nação onde as raças se misturam só porque o IBGE e os legisladores querem. Em 1994, fui o único jornalista no Brasil a denunciar a farsa do massacre dos ianomâmis em Haximu. Sete entidades ligadas a indígenas, em representação ao MPF, pediram cinco anos de prisão para este que vos escreve. Por crime de racismo. Por ter afirmado que os índios não conseguiram escapar de uma cultura ágrafa e que os antropólogos queriam conservá-los como animais em museus intemporais para contemplação dos homens do futuro. Bem entendido, os indigenistas não levaram nada e tiveram de retirar seu cavalinho da chuva. Obviamente, os defensores incondicionais dos bugres queriam intimidar-me. O índio deve ser preservado. Afinal o subsolo das terras que habitam é um tesouro a ser explorado, não pelos brasileiros, mas pelas nações do Primeiro Mundo. Já o mulato, este pode ser extinto. Além de não ter subsolo que preste, neste país onde negro no vestibular vale por dois brancos, melhor ser negro. Os legisladores estão destruindo uma cultura onde a miscigenização era norma, para transformar o Brasil em um país de racismo extremado como os Estados Unidos. sábado, setembro 22, 2012
QUANDO CRISTO BEBE SEU PRÓPRIO ESPERMA Maria Madalena, de aparição relativamente rápida nos Evangelhos, sem dúvida goza de boa mídia ao longo da História. Depois do Cristo, é certamente o personagem mais popular na indústria do cinema e no mundo editorial. Diz Bart Ehrman, em Pedro, Paulo e Maria Madalena: “Entre Pedro, Paulo e Maria Madalena, não resta dúvida de quem é a estrela da mídia hoje em dia. Pedro pode ser um sentimental entre os fiéis leitores do Novo Testamento, que se identificam com seu comportamento inconstante, mas coração basicamente bondoso. Paulo intriga e ocupa teólogos há séculos e ainda é amplamente reverenciado pelos leigos, que talvez leiam seus textos com mais freqüência do que os entendam. Mas nem Paulo nem Pedro foram notícia na Broadway, em Hollywood, ou em editoras. Maria Madalena é totalmente diferente. Eis uma grande seguidora de Jesus sobre a qual sabemos pouquíssimo, mas que rouba a cena há muitos e muitos anos como estrela de peças, filmes e romances. Talvez seja mais fácil se encantar e venerar aqueles cujas vidas são misteriosas e vagas. Os roteiristas raramente gostam de ser limitados pelos fatos históricos”. Uma historiadora dos primórdios do cristianismo da Universidade de Harvard ocupou a primeira página dos jornais nos últimos dias, ao anunciar ter identificado um pedaço de papiro escrito em copta do século IV no qual aparece uma frase nunca vista antes em nenhuma versão das Escrituras: "Jesus disse para eles. Minha esposa...". A descoberta foi anunciada em Roma, no início desta semana, durante uma reunião de especialistas em copta, pela historiadora Karen L. King, autora de diversos livros sobre os Evangelhos e a primeira mulher a ocupar o mais prestigiado cargo da escola de Teologia de Harvard, a cadeira Hollis. Obviamente, a subida honra foi creditada a Maria de Magdala. A suposta descoberta tem implicações na política da Igreja Católica, no que diz respeito ao ministério sacerdotal. A doutrina de Roma veta o sacerdócio a mulheres e homens casados, num modelo baseado na vida de Jesus. Fosse casado, estariam abertas as portas para o sacerdócio feminino. Que não era a mulher de Cristo, por mais que o queiram cineastas e escritores, isto é óbvio. Tanto que é definida nos Evangelhos por sua cidade: madalena, isto é, de Magdala. Fosse a mulher de Cristo, obviamente seria definida como a mulher de Cristo. Como era de esperar-se, choveram bobagens na imprensa, por parte de jornalistas mais preocupados em fazer uma manchete do que investigar o que possa existir de sério no fragmento descoberto. Por um lado, parece existir uma torcida para que Cristo tivesse tido uma companheira. Por outro – e neste lado se inclui a Igreja Católica - atribuir uma mulher a Cristo constitui uma heresia. A maior bobagem surgiu mais para o fim de semana, quando os jornais disseram ser a descoberta mais uma fraude elaborada por teólogos liberais militantes. Grande novidade! Boa parte dos livros pertencentes ao cânone de Roma constitui fraude e nem por isso são desconsiderados. Por exemplo, as cartas de Paulo. Das treze epístolas, pelo menos seis são postas em dúvida: 2 Tessalonicenses, Efésios, Colossenses, 1 e 2 Timóteo e Tito. Ainda segundo Ehrman, “os padres da Igreja que decidiram qual seria o conteúdo e a forma do Novo Testamento viveram séculos depois de os livros terem sido escritos e não tinham tanto conhecimento a ponto de saber quem realmente os escreveu. A única questão passa a ser se essa epístola especial foi ou não escrita por Paulo, e isto precisa ser decidido na base da coerências ou não em relação às outras que se tem certeza de que foram escritas por ele”. Nos albores do cristianismo, muitos foram os depoimentos sobre a vida de Cristo e dos patriarcas do livro antigo, cada um puxando brasa para seu assado. Além dos aceitos pelos cânones das diversas igrejas, há os chamados apócrifos, cujo número é maior que o da Bíblia Canônica. Seriam 113 em relação ao Antigo Testamento e 61 em relação ao Novo. Nestes últimos, há cristos para todos os gostos. Entre os apócrifos mais conhecidos, estão o Evangelho de Tomás, o Evangelho de Filipe, o Evangelho da Verdade, o Evangelho dos Egípcios, o Livro Secreto de Jaime, o Apocalipse de Paulo, a Carta de Pedro a Felipe e o Apocalipse de Pedro. Há inclusive um Evangelho de Maria Madalena, segundo o qual Maria foi uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado aos outros discípulos, sendo por isso questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de Jesus, alguém, portanto, mais próxima de Jesus do que os demais. Cada autor a vê de forma diferente. No Evangelho de Tomé, ela dá oportunidade a uma curiosa consideração do Cristo: Simão Pedro disse a eles: “Que Maria nos deixe, pois as mulheres não são dignas de viver”. Jesus disse: “Eu mesmo a guiarei no sentido de tornar-se masculinizada, para que ela também se torne um espírito vivo que se assemelhe a vós homens. Pois toda mulher que masculinizar-se entrará no reino dos céus”. Em um outro texto apócrifo, Panarion, de Epifânio, é narrado um surpreendente episódio ocorrido na vida da madalena, extraído de um livro perdido, As Maiores Perguntas de Maria Madalena. Quem nos conta é Bart Ehrman. Jesus leva Maria até o cume de uma montanha e, miraculosamente, tira de seu lado uma mulher, algo semelhante ao nascimento de Eva da costela de Adão. Depois passa a ter relações com ela. Quando atinge o clímax, Jesus retira o pênis do corpo da mulher, recolhe seu sêmen e bebe-o, dizendo à Maria Madalena: “Assim devemos fazer, para podermos ter vida”. Mesmo nos Evangelhos canônicos, há muita contradição em torno à mulher de Magdala. Em João, ela é a primeira a ver o Cristo e ele não lhe permite tocá-lo. Com sua perquirição implacável, pergunta-se Ehrman: “É a famosa cena do noli me tangere: ‘Não me toqueis, pois ainda não subi aos céus'. Curiosamente, Jesus aparece aos discípulos e muda suas instruções, dizendo ao duvidoso Tomé para lhe tocar as mãos e o lado (João 20:24-28). Teria ele subido aos céus entre esta cena e a anterior, e descido para uma rápida visita depois?” Ou seja, cada escriba tem sua visão dos acontecimentos. Qual Evangelho é o mais verossímil? Aquele em que Cristo retira uma mulher da costela de Madalena e bebe o próprio esperma ou aqueles em que ressuscita? Ou um outro texto que situa Maria como mulher de Cristo? Antes de serem fraudes, são diferentes versões de uma lenda, criadas para a defesa de sabe-se lá quais interesses da época. No caso de Epifânio, parece haver uma motivação evidente. Epifânio abominava os cristãos fibionitas que, segundo ele comemoravam a Ceia do Senhor com uma orgia sexual não-procriadora, que envolvia o coito interrompido. Conta-nos ainda Bart Erhman: “Depois do jantar, integrantes da comunidade escolhiam um par (alguém que não fosse sua própria esposa nem esposo, afirma Epifânio mais que depressa), e tinham relações sexuais com essa pessoa. Mesmo quando o homem atingia o clímax, retirava o pênis da vagina da mulher e juntos captavam o sêmen e o consumiam, dizendo: “Este é o Corpo de Cristo”. Se a mulher estivesse menstruada na época, eles também recolhiam um pouco de seu sangue e o consumiam, dizendo: “Este é o sangue de Cristo”. A crer-se em Epifânio, o swing é mais antigo do que imaginávamos. Em suma, a intenção do escriba era denegrir a seita dos fibionitas. Daí o episódio com a Maria. O fragmento ora descoberto é tão autêntico – ou não-autêntico – quanto os demais Evangelhos. A menos que você acredite em ressurreição e milagres. MORRE O ANTEPENÚLTIMO DIVULGADOR DE GRAMSCI Morreu quinta-feira passada Carlos Nelson Coutinho, o antepenúltimo divulgador de Gramsci no Brasil. Ficam a prantear-lhe a memória Aiatolavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo, o recórter tucanopapista hidrófobo da Veja. Sem estes dois sobreviventes, a difusão da doutrina do pensador marxista há muito estaria esquecida no país. A propósito, leitor me envia link para o site Olavettes, onde constam textos e vídeos do astrólogo, como também camisetas, canecos, chaveiros e adesivos com seu pensamento imortal. Cada caneco custa 40 reais. A ser sério o site, o guru já está apto a inaugurar uma novo cisma no catolicismo romano. sexta-feira, setembro 21, 2012
UM TEATRO QUE CUSTA CARO Meu caro Bonow: No fundo, a discussão é sobre o que entendemos por gaúcho. Meu conceito coincide com o da maioria dos dicionários. Vejamos em alguns deles como é definido o gaúcho: Diccionario del uso del español, de María Moliner: Se aplica a los naturales de las pampas de la Argentina y del Uruguay, generalmente mestizos; son muy buenos ginetes y se dedican a la ganadería o la vida errante. Diccionario de la lengua española, da Real Academia Española: Dícese del hombre natural de las pampas del Río de la Plata em Argentina, Uruguay y Río Grande do Sul; úsa-se más como substantivo, para designar a naturales de estas pampas, que son por lo común mestizos de español e índio, grandes jinetes, dedicados a la ganadería o a la vida errante. Larousse de la langue française: Gardien de troupeaux de la pampe argentine. Dizionario de Agostini della lengua italiana: mandriano a cavallo della pampa argentina. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, já encontramos uma nova acepção: diz-se de ou o habitante da zona rural do Rio Grande do Sul e, por extensão, de todo o Estado; o habitante da região rural (pampas) do Uruguai e da Argentina, que se dedica à criação de gado; peão de estância; bom cavaleiro. Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda: Primitivamente, o habitante do campo, descendente, na maioria, de indígenas, de portugueses e de espanhóis; rio-grandense-do-sul; o natural do interior do Uruguai e de parte da Argentina; peão de estância; cavaleiro hábil. Como se pode ver, a o conceito de gaúcho está intimamente associado a campo. O dicionário da RAE fala em Rio Grande do Sul, mas no "hombre natural de las pampas". Só nos dicionários brasileiros é que a palavra se associa a rio-grandense. Mesmo assim, a tônica é dada a campo e gado. Uruguai e Argentina, onde também há gaúchos, não se apropriaram da palavra para designar os habitantes do país. Você faz uma afirmação signicativa: “Como os ingleses, chineses e franceses, parece-me que pertencemos a um povo de natureza colonizadora, impondo uma cultura rural por todo o oeste do Brasil”. Ora, ingleses, chineses e franceses colonizaram povos distantes da própria geografia. Ao expressar-se assim, você traduz uma peculiar idiossincrasia do gauchismo, a de considerar que o Brasil é um país distante, que precisa ser colonizado. Pelo que me consta, apesar dos arroubos farroupilhas, o Rio Grande do Sul ainda é Brasil. Você fala em espeto corrido, café colonial, chimarrão, galeto e rodízio de pizzas como aquisições culturais, suponho que gaúchas, pois é isto que discutimos. Chimarrão, vá lá! Mas o espeto corrido não é coisa daquele gaúcho lá do campo. Pelo que me consta, surgiu de forma tosca como passadio de caminhoneiros e foi aos poucos se sofisticando, na capital. Café colonial, galeto e pizza é culinária de colônias de imigrantes, nada a ver com gaúcho. Na região da Campanha, onde talvez ainda exista o que restou do gaúcho, come-se muito mal. O básico é carne, arroz, feijão, eventualmente batata e milho, em suma, o balbuciar de uma culinária. Você fala no teatro das indumentárias, onde tampouco vê grandes críticas: "nunca existiu um "cowboy" como John Wayne no Arizona. A história mostra que eram uns mendigos miseráveis que o cinema americano glamourizou, apenas isso. Nunca existiu um teatro tradicional balinês. Aquelas máscaras exóticas que os turistas trazem na mala foram criadas por um europeu no início do século XX e vendidas em Paris como pertencentes a um ritual religioso de uma cultura exótica”. E nisto coincidimos. O atual "gaúcho" é um cidadão urbano que aos fins de semana se veste de gaúcho. Me lembra episódio ocorrido em Manaus com dois amigos franceses. Em visita ao Brasil, como todo bom europeu, queriam conhecer a Amazônia. E os índios, obviamente. Contrataram uma visita a uma aldeia e até lá foram conduzidos por um guia. Minutos antes de chegar o guia apitou. Para que os “índios” se vestissem de índios. As bombachas, que para o homem do campo sempre foram uma veste, é hoje bandeira de uma ideologia. E o personagem do gaúcho passou a ser interpretado por atores de teatro amador. Tens toda razão, Bonow, quando afirmas que o problema é ideológico. Que restou da famosa revolução? Um pequeno poste plantado num descampado no Ponche Verde, em lugar onde não houve nenhum combate, nem rendição alguma – ou paz, como preferem os delicados – foi assinada. Ser "gaúcho", hoje, é teatro que custa caro. A começar pelas pilchas. Sem dinheiro, pobre diabo algum consegue ser sócio de CTG. Pra começar, o que ainda resta do gaúcho sequer teria plata para comprar as botas. SOBRE GAUCHISMO Do Luís Bonow, recebo: Olá Cristaldo, como, volta e meia, leio um texto teu criticando os nossos conterrâneos gaúchos, gostaria de tecer alguns comentários, pois das árvores que ali são pintadas, pode-se inferir a floresta. Como os ingleses, chineses e franceses, parece-me que pertencemos a um povo de natureza colonizadora, impondo uma cultura rural por todo o oeste do Brasil (tenta ver uma cerca de fazenda em Minas Gerais para ver a diferença de qualidade daquela dos alambradores gaúchos!). Isso não é à toa, pois em alguns aspectos a cultura gaúcha cultua detalhes que fazem a diferença civilizatória. Verdade é que o Rio Grande do Sul de Santa Cruz ou de Caxias, é muito mais arrojado economicamente, do que as partes do estado "bugrês" ou açorianas, colocando em cheque essa cultura gauchesca grandiosa e tradicional que normalmente faz parte do marketing e do estereótipo promovido pelos locais, mas mesmo assim há uma cultura bem particular, com contribuições importantes. Tu que gostas da comilança, não foi só o espeto corrido que o Continente exportou (esta expressão bairrista foi mais braba que peleia de cego, hein macanudo!?). O café colonial, o chimarrão, o galeto, o rodízio de pizzas (acho que não foi invenção gaúcha, mas ali se estabeleceu primeiro). Está certo que é tudo bastantão e de baixa qualidade, mas não podemos negar que são aquisições culturais que movimentam o consumo, geram empregos, riquezas... Quanto ao artificialismo cultural, o teatro das indumentárias, tampouco vejo grandes críticas: nunca existiu um "cowboy" como John Wayne no Arizona. A história mostra que eram uns mendigos miseráveis que o cinema americano glamourizou, apenas isso. Nunca existiu um teatro tradicional balinês. Aquelas máscaras exóticas que os turistas trazem na mala foram criadas por um europeu no início do século XX e vendidas em Paris como pertencentes a um ritual religioso de uma cultura exótica. Tem um livro do Umberto Eco, chamado "Viagem na Irrealidade Cotidiana" que fala claramente desses "fakes" culturais. A meu ver, essa autoilusão faz parte do ser humano e não sou tão radical assim nas críticas. O exotismo romântico rousseauísta que tanto fascinou os europeus e patrocinou a exploração colonialista durante o século XIX, foi destruído com os primeiros relatos sobre as atrocidades no Congo Belga e na Amazônia Peruana da virada do século, que demoliram a ideia do bom selvagem, gerando a necessidade de construir-se novos mitos de que o ser humano necessita. Não é porque não se acredita em Papai Noel, que se deve fazer uma criança chorar, puxando a barba falsa dele na sua frente... O grande problema, aí é que entra a coisa da floresta, é um problema nacional, não gaúcho. Explico: quando um governante anglossaxão fala em tirar liberdades individuais e aumentar os impostos, a população fala "Remember João-Sem-Terra!". Os novaiorquinos foram às ruas agora para protestar contra a proibição de copos grandes de refrigerante, não porque são maldosos e querem que as pessoas fiquem doentes, mas porque não aceitam que os governantes excluam a sua liberdade de escolha, o que seria totalmente impensável por aqui. Na Terra dos Papagaios, sempre que se fala em liberdade de expressão e redução de impostos, o nosso governo sorri e pensa: "Remember o esquartejamento de Tiradentes!". "Remember Conselheiro que queria liberdade religiosa e contestar o poder dos republicanos!". "Remember os bandoleiros do Contestado que queriam gerir a si próprios enquanto os governantes discutiam a quem pertencia o butim das arrecadações públicas.". E... "Remember o que fizemos com os Farrapos que queriam reduzir o imposto do charque!". A ideologia liberal que definiu as guerras civis do país, foi totalmente arrasada pela ideologia estatista e arrecadatória, sedimentada por uma ditadura republicana de, com breves janelas, quase um século. Ninguém lembra que o 20 de setembro representa o protesto contra o imposto do charque, mas uma luta contra a monarquia. Assim como os mineiros cultuam Tiradentes, os baianos cultuam Canudos, os catarinenses cultuam o Contestado, os verdadeiros motivos que levaram às revoltas do final da Monarquia e início da República (redução fiscal, liberdade de expressão e escolha individual) foram escamoteados, criando esse Teatro de Sombras que vemos hoje em dia, cujos marionetes tu identificaste como sendo os ingênuos de nossos conterrâneos, mas esta não é toda a verdade, a situação é muito mais ampla. Ao meu ver, o problema é mais profundo do que aquele que tu mencionaste, não é o cenográfico, mas o ideológico. Abraços, Luiz de W. Bonow quinta-feira, setembro 20, 2012
20 DE SETEMBRO NUNCA MAIS Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da liberdade. Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra, sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. Entre nós revive Atenas para assombro dos tiranos; sejamos gregos na glória e na virtude, romanos. Mas não basta p’ra ser livre ser forte, aguerrido e bravo, povo que não tem virtude acaba por ser escravo. Nossas façanhas? Que façanhas? Que aurora precursora? Que farol da divindade? A propósito, que divindade? Que Atenas revive entre os gaúchos para assombro dos tiranos, logo num Estado cuja capital até hoje homenageia um de seus ditadores, Borges de Medeiros, o presidente do Rio Grande do Sul durante 25 anos? O hino rio-grandense, como em geral todos os hinos, é de um ridículo atroz. 20 de setembro é data inventada pelos palhaços e parasitas de Estado, que um dia criaram os ridículos CTGs. A celebração se opõe ao 7 de setembro. É curioso ver esta chusma de chupins, que se pretendem brasileiros, comemorando na tal de Semana Farroupilha um movimento que pretendia separar o Rio Grande do Sul do Brasil. Mas o 20 de setembro é data para mim muito cara. Não pelas fanfarronices dos rio-grandenses que se dizem gaúchos. Mas por algo mais singelo, o encontro com a mulher que mais amei. Não prometi nada na ocasião. Pode ser que amanhã isto não se repita. Pode ser que se repita pelo resto dos anos. Faz hoje 45 anos. Repetiu-se por 38 anos, e mais não se repetiu porque a vida não quis. Vinte de setembro era para nós, não o dia da independência gaúcha, mas de nossa independência. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. As nossas, bem entendido. Não as supostas façanhas dos sedizentes gaúchos. Como o 20 de agosto, data em que ela partiu, o 20 de setembro também me machuca. Eu tinha 17 anos, ela 18. Adolescente, não imaginava que naquele dia estava elegendo a companheira de toda uma vida. A cada 20 de setembro, cantávamos: “foi no 20 de setembro...” Mas não estávamos comemorando nenhuma efeméride gaúcha. Trinta e oito anos. É mais vida que a de Alexandre, que só viveu trinta e três. Certo, o peoniano conquistou mais mundos do que eu. Admiro Alexandre, é um de meus heróis. Mas não o invejo. Conquistá-la alegrou mais minha vida do que se tivesse conquistado impérios. De lá para cá, se passaram mais sete anos. Quando ela partiu, imaginei que não sobrevivesse muito. No entanto, cá estou. Como dizia Fierro, solo queda al desgraciao, lamentar el bien perdido. Percorremos o mundo naqueles anos. De Roma a Estocolmo, de Lisboa a Viena, De Nova York ao Quebec, de Buenos Aires a Santiago, de Atenas ao Cairo, do Assekrem a São Petersburgo. Quando morei em Estocolmo, ela ficou em Porto Alegre. Nos encontramos, aos prantos, no Rio. Quando morei em Madri, ela estava em Paris. A cada quinze dias, alguém pegava um trem e atravessava França e Espanha, para fazer a festa. Com ela, me despedi chorando de Madri. Estavámos em uma bodega na Huertas, mulheres cantando e dançando, bom vinho e cheiro bom de assado. Quando senti que em duas horas estaria em Barajas, voltando para o Brasil, comecei a chorar. Não pela perspectiva de voltar ao Brasil. Mas por estar abandonando a festa. Fui chorando até o aeroporto e o taxista não entendia por quê. Estava abandonando uma mulher que muito amava, a Espanha. Por alguns anos, viagens nos separaram. Voltávamos correndo um para o outro. A cada vez que o avião decolava, ela me apertava a mão e me interrogava, com um sorriso que até hoje me faz chorar: “on y va?”. Sim, on y va. Agora, on n’y va plus. A vida continua. Se feliz ou infelizmente, ainda não decidi. “Fazes falta? – pergunta Pessoa –. Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... Sem ti correrá tudo sem ti”. Não é bem assim. Pessoas fazem falta, meu caro Pessoa. Sei do que falo. Cada 20 de setembro me pesa como toneladas sobre a alma. Muitas vezes me perguntei se não seria melhor ter como companheira uma mulher abominável. Quando ela morresse, seria como uma libertação. Pergunta besta. Melhor ter uma mulher adorável, mesmo que se sofra depois. Já que falei de Pessoa, recorro à sua tradução soberba de Poe: Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento perdido murmurei lento, “Amigos, sonhos – mortais todos – já se foram. Amanhã também te vais”. Disse o corvo: “Nunca mais”. Sei, amanhã também me irei. E não será tarde demais. Iremos nós todos. Até lá, resta afagar os bons 20 de setembro que um dia tive. Que não voltarão jamais. (*) 20/09/2010 quarta-feira, setembro 19, 2012
ENQUANTO A BELA JUDITE DECAPITAVA HOLOFERNES... Trecheava ontem Mulheres na Bíblia, de John Baldock, uma espécie de dicionário da presença feminina no livro, quando caí no verbete Judite, uma das heroínas de Israel. Seu livro consta de várias bíblias cristãs – da católica inclusive – mas não está na Tanak, a bíblia judaica, apesar de ser um relato muito bem construído que mostra o pequeno Israel vencendo grandes inimigos. A história remete imediatamente à luta em que Davi matou Golias. Uma bela viúva dirige-se ao acampamento do exército inimigo, seduz o general Holofernes em um banquete e acaba cortando sua cabeça. Por volta de meia-noite, costumo sair de casa para tomar um café incrementado em um Frans que fica a uns 200 metros de onde moro. Higienópolis é um bairro judeu, com seguranças em quase todos os prédios, o que o torna bastante tranqüilo. Saio sempre de sangue doce. Mesmo assim, nunca se sabe. Deixo em casa cartão e documentos, levando no bolso alguns trocados. Ontem, decidi reler o livro de Judite. Peguei uma de minhas bíblias católicas e fui ao Frans. Além do café incrementado, fui adotado por uma garçonete, que me faz cafunés e me chama de gatinho. O que torna duplamente agradável meu lanche na madrugada. Davi matou Golias, disse. Davi? Pode ser. Mas em minhas leituras vadias do Livro, encontrei uma outra hipótese. Em II Samuel, 21:19, lemos: “Houve mais outra peleja contra os filisteus em Gobe; e Elcanan, filho de Jair, o belemita, matou Golias, o giteu, de cuja lança a haste era como órgão de tecelão”. Como intérprete é o que não falta para explicar os cochilos do hagiógrafo, há quem diga que este Golias era filho do outro Golias. Pode ser. Mas em Samuel não há nenhuma alusão ao fato. Volto à Judite. Não à mulher de Esaú, que encontramos no Gênesis. Mas a viúva que desmoralizou o exército inimigo de Israel. O livro pouco se preocupa com história e geografia. Para início de conversa, faz de Nabuconor rei dos assírios, quando este o foi da Babilônia. Pretende ser um relato para encorajar Israel a resistir e lutar. Teria sido escrita na Palestina, provavelmente em meados do séc. II a.C., durante a resistência dos Macabeus ou logo após. Segundo uma versão comunista da Bíblia, que tenho em minha biblioteca - a dita Edição Pastoral, publicada pelas Edições Paulinas – “o importante é que o livro apresenta a situação difícil do povo, ameaçado por uma grande potência. Por trás de Nabucodonosor e seu império, podemos entrever a figura de qualquer dominador com seu sistema de opressão”. Pelo jargão, os tradutores devem estar pensando em Cuba e Estados Unidos. A história é conhecida pelos leitores da Bíblia e inundou a pintura, de Caravaggio a Goya e Klimt. Judite é uma viúva exemplar que vive em Betúlia, rica e virtuosa, piedosa e bela, estimada por todos. Saindo de sua reserva, ela reprova vivamente a falta de confiança em Deus de seus compatriotas, e principalmente seus chefes, mas anuncia que por sua mão o Senhor virá em ajuda de seu povo, antes do prazo de cinco dias. Nabucodonosor encarrega o general Holofernes de exterminar todos os opositores à sua autoridade. Ao final de suas preces, Judite se enfeita como para uma festa e vai, esplendorosa, em companhia de sua serva, até o acampamento inimigo. Sua serva leva um cesto com frutas e bebidas, que tem importante função na trama. Judite promete a Holofernes o segredo de como derrotar Israel. Ganha a confiança do general. Pede a este o direito de não beber nem comer, entre seus hóspedes pagãos, senão as suas próprias provisões, conforme as exigências alimentares da lei judaica. E de se retirar do acampamento cada noite, até o amanhecer do dia, para orar “ao Deus que ela serve noite e dia”. No quarto dia – lemos na Bíblia - Holofernes ofereceu um banquete somente para o seu pessoal de serviço, sem convidar nenhum oficial. Disse a Bagoas, seu mordomo: «Vá e veja se você consegue convencer essa mulher hebréia, que está a seu cuidado, para que venha comer e beber conosco. Seria uma vergonha não aproveitar a ocasião de ter relações com essa mulher. Se eu não a conquistar, vão caçoar de mim». Bagoas saiu da presença de Holofernes, foi até Judite, e lhe disse: «Que esta bela jovem não tenha medo de se apresentar ao meu senhor como hóspede de honra. Você beberá conosco, se alegrará e passará o dia como uma das mulheres assírias, que vivem no palácio de Nabucodonosor». Judite respondeu: «Quem sou eu para contrariar o meu senhor? Farei tudo o que lhe agradar, e isto será para mim uma lembrança agradável até o dia de minha morte». Então Judite se levantou e se enfeitou com suas roupas e jóias. Sua serva foi na frente e estendeu no chão, diante de Holofernes, as peles que Bagoas lhe tinha dado, para que se reclinasse enquanto comia. Judite entrou e se acomodou. Ao vê-la, Holofernes ficou arrebatado, e a paixão o agitou com o desejo violento de se unir a ela. De fato, desde a primeira vez que a viu, ele espreitava uma ocasião para seduzi-la. E Holofernes disse a Judite: «Vamos, beba e se alegre conosco». Judite respondeu: «Claro que vou beber, meu senhor. Hoje é o dia mais feliz de toda a minha vida». E Judite comeu e bebeu diante de Holofernes, servindo-se do que a sua serva tinha preparado para ela. Holofernes, entusiasmado com ela, bebeu muitíssimo vinho, como nunca havia feito antes, em toda a vida. O desfecho, todos sabemos. Judite se aproxima da coluna da cama, que ficava junto à cabeça de Holofernes, e pega sua espada. Chega perto da cama, agarra a cabeleira do general bêbado e pede: «Dá-me força agora, Senhor Deus de Israel». E com toda a força, deu dois golpes no pescoço de Holofernes e lhe cortou a cabeça. Rolou o corpo do leito e tirou o mosquiteiro das colunas. Depois saiu, entregou a cabeça de Holofernes para a serva, que a colocou na sacola de alimentos. Estava eu em plena decapitação, quando um mulatinho magro e de rosto chupado, de uns 25 anos, encostou-se em minha mesa e me disse algo em voz baixa. Não entendi. Pensei que pedisse esmola, mas não tinha jeito de mendigo. Como eu não o entendia, mostrou-me argumento mais convincente: levantou a blusa e mostrou-me um 38 cano curto. Queria meu celular. O rapaz não me conhecia. Pedir-me celular à meia-noite é como pedir honestidade a um petista à luz do dia. Não tenho. (Me refiro ao celular, é claro). Em verdade, tenho um, mas só o uso aos sábados e domingos. Não tenho, cara! – respondi. Tinha 50 reais no bolso. Mas ele nada mais pediu e nada mais eu dei. Ao que tudo indica, gozo de fé pública junto aos assaltantes. Ele deixou-me de lado e, com a nonchalance de um garçom servindo clientes, foi fazer sua coleta nas demais mesas da terrasse. Um outro parceiro agia dentro do bar. Tranqüilos, saíram a pé pela rua, com a boa consciência dos justos. Houve um momento de estupor no café, depois todos retomaram a conversação, um pouco divertidos com o acontecido. O que me lembrou Os Monstros, filme italiano dos anos 60, em vinte episódios. Em um deles, durante um assalto a um banco, os clientes são obrigados a deitar no chão. Vitorio Gassman aproveita o momento para explicar ao cliente deitado a seu lado os afrescos que vê no teto. Que fazer? Indefeso, eu não tinha como reagir. Continuei minha leitura. Judite e sua serva saíram juntas para rezar. Atravessaram o acampamento, rodearam o vale, subiram a encosta de Betúlia e chegaram à porta da cidade. E eu fui para casa. |
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