¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

domingo, abril 30, 2006
 
AIATOLICES AMEAÇAM EUROPA


De uma amiga de Estocolmo, recebo notícias de que a maior associação de muçulmanos na Suécia está exigindo leis especiais para muçulmanos. A organização quer, entre outras coisas, que os divórcios entre muçulmanos sejam reconhecidos por um imã, o que seria uma mudança no direito de família sueco. "É função dos imãs decidir se a família continuará a viver junto", diz Mahamoud Aldebe, porta-voz da Sveriges Muslimka Förbund. Ou seja, como no Islã quem decide o divórcio é sempre o macho, as imigrantes muçulmanas podem abandonar qualquer veleidade de abandonar o marido e senhor.

Se na Suécia as leis especiais para muçulmanos estão ainda na fase de exigência, no Reino Unido alguns quesitos já foram conquistados. Uma outra amiga me informa que as prisões inglesas já fornecem aos prisioneiros muçulmanos vasos sanitários especiais, dispostos de forma que o crente não defeque orientado para Meca. O Islã não só invade, como já domina a Europa. Seria interessante que os europeus lessem as obras mestras dos grandes líderes muçulmanos, antes de render-se incondicionalmente às crenças dos imigrantes árabes.

Entre as pérolas de minha biblioteca, tenho uma súmula do Valayaté-Faghih, do Kachfol-Astar e do Towzihol-Masael, os três livros-chave de um escritor que, em 1979, recebeu generoso asilo em terras de França, em cidade nas cercanias de Paris. Traduzindo, pela ordem: O Reino do Erudito, A Chave dos Mistérios e A Explicação dos Problemas. O livro foi publicado em Paris, em 1979, por ocasião do exílio do autor, pelas Éditions Libres-Hallier. Pinço cá e lá algumas reflexões do erudito pensador, principalmente no que diz respeito à higiene pessoal e direito matrimonial:

- No momento de urinar ou defecar, é preciso se agachar de modo a não ficar de frente nem dar as costas para Meca.
- Não é necessário limpar o ânus com três pedras ou três pedaços de pano, uma só pedra ou um só pedaço de pano bastam. Mas, se se o limpa com um osso ou com coisas sagradas como, por exemplo, um papel contendo o nome de Deus, não se pode fazer orações nesse estado.
- É preferível agachar-se num lugar isolado para urinar ou defecar. É igualmente preferível entrar nesse lugar com o pé esquerdo e dele sair com o pé direito. Recomenda-se cobrir a cabeça durante a evacuação e apoiar o peso do corpo no pé esquerdo.
- Durante a evacuação, a pessoa não deve se agachar de cara para o sol ou para a lua, a não ser que cubra o sexo. Para defecar, deve também evitar se agachar exposto ao vento, nos lugares públicos, na porta da casa ou sob uma árvore frutífera. Deve-se igualmente evitar, durante a evacuação, comer, demorar e lavar o ânus com a mão direita. Finalmente, deve-se evitar falar, a menos que se seja forçado, ou se eleve uma prece a Deus.
- A carne de cavalo, de mula e de burro não é recomendável. Fica estritamente proibido o seu consumo se o animal tiver sido sodomizado, quando vivo, por um homem. Nesse caso, é preciso levar o animal para fora da cidade e vendê-lo.
- Quando se comete um ato de sodomia com um boi, um carneiro ou um camelo, a sua urina e os seus excrementos ficam impuros e nem mesmo o seu leite pode ser consumido. Torna-se, pois, necessário matar o animal o mais depressa possível e queimá-lo, fazendo aquele que o sodomizou pagar o preço do animal a seu proprietário.
- Onze coisas são impuras: a urina, os excrementos, o esperma, as ossadas, o sangue, o cão, o porco, o homem e a mulher não-muçulmanos, o vinho, a cerveja, o suor do camelo comedor de porcarias.
- O vinho e todas as outras cervejas que embriagam são impuros, mas o ópio e o haxixe não o são.
- O homem que ejaculou após ter tido relações com uma mulher que não é sua e que de novo ejaculou ao ter relações com a legítima esposa, não tem o direito de fazer orações se estiver suado; mas, se primeiro tiver tido relações com a sua mulher legítima e depois com uma mulher ilegítima, poderá fazer as suas orações mesmo se estiver suado.
- Por ocasião do coito, se o pênis penetrar na vagina da mulher ou no ânus do homem completamente, ou até o anel da circuncisão, as duas pessoas ficarão impuras, mesmo sendo impúberes, e deverão fazer as suas abluções.
- No caso de o homem - que Deus o guarde disso! - fornicar com animal e ejacular, a ablução será necessária.
- Durante a menstruação da mulher, é preferível o homem evitar o coito, mesmo que não penetre completamente - ou seja, até o anel da circuncisão - e que não ejacule. É igualmente desaconselhável sodomizá-la.
- Dividindo o número de dias da menstruação da mulher por três, o marido que mantiver relações durante os dois primeiros dias deverá pagar o equivalente a 18 nokhod (três gramas) de ouro aos pobres; se tiver relações sexuais durante o terceiro e quarto dias, o eqüivalente a 9 nokhod e, nos dois últimos dias, o eqüivalente a 4½ nokhod.
- Sodomizar uma mulher menstruada não torna necessários esses pagamentos.
- Se o homem tiver relações sexuais com a sua mulher durante três períodos menstruais, deverá pagar o eqüivalente em ouro a 31½ nokhod. Caso o preço tiver se alterado entre o momento do coito e o do pagamento, deverá ser tomado como base o preço vigente no dia do pagamento.
- De duas maneiras a mulher poderá pertencer legalmente a um homem: pelo casamento contínuo e pelo casamento temporário. No primeiro, não é necessário precisar a duração do casamento. No segundo, deve-se indicar, por exemplo, se a duração será de uma hora, de um dia, de um mês, de um ano ou mais.
- Enquanto o homem e a mulher não estiverem casados, não terão o direito de se olhar.
- É proibido casar com a mãe, com a irmã ou com a sogra,
- O homem que cometeu adultério com a sua tia não deve casar com as filhas dela, isto é, como suas primas-irmãs.
- Se o homem que casou com uma prima-irmã cometer adultério com a mãe dela, o casamento não será anulado.
- Se o homem sodomizar o filho, o irmão ou o pai de sua esposa após o casamento, este permanece válido.
- O marido deve ter relações com a esposa pelo menos uma vez em cada quatro meses.
- Se, por motivos médicos, um homem ou uma mulher forem obrigados a olhar as partes genitais de outrem, deverão fazê-lo indiretamente, através de um espelho, salvo em caso de força maior.
- É aconselhável ter pressa em casar uma filha púbere. Um dos motivos de regozijo do homem está em que sua filha não tenha as primeiras regras na casa paterna, e sim na casa do marido.
- A mulher que tiver nove anos completos ou que ainda não tiver chegado à menopausa deverá esperar três períodos de regras após o divórcio para poder voltar a casar.
- Qualquer comércio de objetos de prazer, como os instrumentos musicais, por menores que sejam, é estritamente proibido.
- É proibido olhar para uma mulher que não a sua, para um animal ou uma estátua de maneira sensual ou lúbrica.

O autor destes eruditos preceitos não é nenhum doente mental - ou pelo menos assim nunca foi oficialmente considerado - nem, pelo que me conste, esteve algum dia sob camisa de força. Ao contrário, foi líder respeitado pelas esquerdas internacionais e um dos chefes de Estado que mais freqüentou as primeiras páginas da imprensa internacional no final do século passado. Do alto de sua sabedoria e humanismo, o grande estadista ousou reptar as potências e não há hoje cerimônia oficial no Irã em que sua imagem não sobrepaire acima das autoridades. Seus despojos estão hoje abrigados em um templo mil-e-uma-noitesco em Teerã, que atrai milhões de peregrinos. O autor de tão doutas prescrições é nada menos que o aiatolá Ruhollah Khomeiny. Excertos destas suas três obras foram publicadas em vários países, no Brasil inclusive, onde teve três edições, sob o título genérico de O Livro verde dos Princípios Políticos, Filosóficos, Sociais e Religiosos do Aiatolá Khomeini, Rio, Editora Record. As edições não têm data, mas creio serem dos anos 80.

Allah-u-Akbar!

sexta-feira, abril 28, 2006
 
E A LUZ SE DESFEZ...


Estava almoçando em um café quando chegou ela, a presença que chamo de civilizadora, a mulher. Era jovem, alta, esguia e linda. Sua entrada iluminou o ambiente.

No café, havia uma estante com jornais e revistas. Ela a examinou e parece não ter encontrado o que queria. Perguntou então ao garçom: vocês não têm Contigo?

De súbito, a luz se desfez.

quinta-feira, abril 27, 2006
 
CORRUPÇÃO?
JAMAIS!
LEI ROUANET



Quem já assistiu a um espetáculo do Cirque du Soleil, seja ao vivo, seja na televisão, teve o privilégio de ver certamente o mais belo show circense atualmente produzido no mundo. A trupe canadense deve se apresentar em agosto no Brasil, com ingressos entre R$ 50 (meia-entrada) e R$ 370 (VIPs). Infelizmente, isso diz respeito a todos nós.

Por que infelizmente? - se perguntará o leitor -. Não é um sumo privilégio ver o Cirque du Soleil? De fato, é. Mas você, assista ou não assista ao espetáculo, estará com ele comprometido. A Folha de São Paulo de ontem nos conta que a empresa CIE (Companhia Interamericana de Entretenimento, de origem mexicana), que promove a vinda do espetáculo Saltimbanco ao Brasil, já descobriu os meandros da corrupção pátria institucionalizada, sendo autorizada pelo MinC (Ministério da Cultura) a ficar com R$ 9,4 milhões que o governo receberia em Imposto de Renda neste ano. O dinheiro agora deve ser usado em benefício das apresentações.

Vivemos dias em que o combate à corrupção é palavra de ordem. Mas ninguém parece ver nada demais no financiamento de shows com dinheiro público, que depois serão vendidos a altos preços ao mesmo contribuinte que os financia. Esta é a finalidade da Lei Rouanet, criada em 1991, para que empresas e pessoas físicas incentivem a cultura, destinando parte de seus impostos a projetos culturais. Como depois vai faltar dinheiro para financiar atividades essenciais, o governo volta de novo a enfiar a mão em seu bolso para financiá-las.

Você financia o Cirque du Soleil. Mas por enquanto os ingressos estão à venda só para os clientes Prime (prioritários) do Bradesco, que decidiu patrocinar o grupo no Brasil. "É desejável que marcas se associem a produções culturais, desde que o dinheiro seja privado", diz o consultor em patrocínio empresarial Yacoff Sarkovas. Segundo dados do MinC, a CIE captou R$ 7,1 milhões até agora, dos R$ 9,4 milhões autorizados.

Tudo muito simples: você paga para que uma minoria se divirta. Esta minoria, que também é contribuinte, já pagou a produção do espetáculo. E agora paga de novo para assisti-lo.

Além do patrocínio ao Cirque du Soleil - informa-nos a Folha - a CIE foi autorizada a captar R$ 5,1 milhões para a continuação da temporada paulistana do musical O Fantasma da Ópera durante o ano de 2006. E a Dialeto Latin American Documentary Ltda foi autorizada a captar R$ 197 mil para o CD Pajelança Cabocla, de Zeneida Lima, "pajé cabocla da ilha de Marajó". O projeto estipula que as 3.000 cópias do álbum deverão ser assim distribuídas: mil exemplares para os produtores, 850 para os autores, 750 para os patrocinadores, 300 para Bibliotecas Minc e 100 para a mídia.

E para mim? - estará você se perguntando. Para você nada, nadinha, exceto o sublime prazer de estar contribuindo de seu bolso para a cultura nacional. E assim se faz cultura no Brasil. Nem ouse pensar em corrupção. O gesto de enfiar a mão em seu bolso está devidamente regulamentado por lei.

domingo, abril 23, 2006
 
VOLTA ÀS TREVAS



Há quase meio século, mais precisamente em 1958, Louis Malle dirigiu Os Amantes, filme que passou a ser conhecido por uma única cena, quando o personagem masculino descia os lábios pelo ventre da Jeanne Moreau. A cena terminava aí. Ao ser exibido em Porto Alegre, já nos anos 60, um grupo de espectadores criou a Turma do Apito. No momento da cena, a turma apitava em protesto ao gesto abominável. Isso que a câmera não descia além do umbigo! A Turma do Apito, talvez intuindo o próprio ridículo, se manteve sempre no anonimato. Soube-se mais tarde que era liderada por um ilustre jurista, o Dr. Rui Cirne Lima, diretor da Faculdade de Direito da URGS. Na época, apesar de séculos de literatura fescenina, sexo oral era tabu. Um criminalista como Washington de Barros Monteiro, por exemplo, em seus comentários ao Código Penal, falava do "asco indizível da felatio in ore". Se bem me lembro de minhas aulas de Direito, ele também afirmava que "mesmo no tálamo conjugal, a esposa guarda resquícios de pudor". Assim falavam os juristas há meio século.

Alguns anos depois, la Moreau novamente mexia com a moral vigente, com Jules et Jim, filme de François Truffaut, onde a personagem central, Catherine, vivia um tranqüilo triângulo com dois amigos, o Jules e o Jim do título. O ano de feitura do filme, 1962, é emblemático, foi quando chegou a pílula anticoncepcional no Brasil. O filme terá chegado alguns mais tarde, quando já se respirava melhor em termos de costumes. O idílico romance de Catherine - ambientado em Paris, em 1912, antes da primeira guerra - foi recebido sem escândalos e saudado como um hino à vida e ao prazer, que celebrava a amizade e a ternura.

Em 65, Luchino Visconti deu mais uma sacudida nas já complacentes estruturas do que então se chamava de família burguesa. Com Vagas Estrelas da Ursa, o conde cineasta abordava o incesto entre irmãos. A transgressão foi tranqüilamente absorvida. Que mais não fosse, não era fácil ter uma irmã como la Cardinale. Em 1968, Pier Paolo Pasolini faz mais uma investida contra a fortaleza assediada. Em Teorema, um estranho se hospeda na mansão do dono de uma fábrica e seduz a mãe, o pai, a filha, o filho e nem a empregada consegue escapar de seu fascínio. Em 71, Visconti ataca de novo com A Morte em Veneza, onde narra a paixão senil do compositor Gustav Von Aschenbach pelo belo e quase imberbe Tadzio. O filme era baseado no livro homônimo de Thomas Mann, de 1912, mesmo ano em que se situa a trama de Jules et Jim. Em 76, Nagisha Oshima mostra, em O Império dos Sentidos - com direito a detalhes - o que Louis Malle apenas insinuara em Os Amantes. Proibido no Japão, o filme muito deve ter contribuído para a indústria turística... francesa. Excursões de japoneses - e japonesas, principalmente - invadiam Paris para ver o filme de Oshima. Eu o assisti em uma sala da Champs Élysées, em meio aos risos histéricos dos japas. Não que o filme fosse divertido. Rir, no Japão, é uma forma de expressar nervosismo.

No Ocidente, respirava-se bastante bem naqueles dias. Estes filmes não provocaram escândalo, mas apenas o burburinho que um bom filme provocava então. A família não morreu, como temiam os puritanos da época. Apenas tornou-se mais aberta ao prazer. As esposas haviam perdido seus resquícios de pudor no tálamo conjugal, como diziam os juristas. Naqueles tempos, ter um filho homossexual era uma desgraça. Hoje, um pai ou mãe respiram aliviados se o filho não tem Aids.

Os universitários de hoje talvez nem saibam mais quem foi Hermann Hesse. Autores fundamentais desaparecem dos catálogos da livrarias. Hoje, para encontrá-los, só fuçando em sebos. Nos dias de minhas universidades, o escritor alemão foi uma espécie de guru. Para aqueles em fuga para o Oriente, Sidarta. Para os que queriam o melhor do Ocidente, O Lobo da Estepe. Para quem preferia especulações metafísicas, O Jogo das Pérolas de Vidro.

Harry Haller, o personagem central de O Lobo da Estepe, em princípio nada tem de atraente. É um pacato burguês que vive enclausurado em uma rotina absoluta. Até o dia em que encontra um teatro "só para loucos" e sua vida se transforma. O romance começa a tornar-se interessante. Hermínia, Maria e Pablo o conduzem a uma outra vida e Harry Haller aprende a dançar, passa a conhecer o universo feminino e o mundo dos bares e restaurantes. O lobo arisco e solitário se torna bicho humano.

Uma pequena frase de Hesse foi uma bandeira para minha geração. Lá pelas tantas, Haller se interessa por "alegres jogos amorosos em três ou quatro". Na época se lia muito Henry Miller - outro desaparecido dos catálogos - e em Paris os échangistes estavam em alta. Recém se havia descoberto a pílula e a Aids ainda não despontara no horizonte. Foi um interregno - como direi? - paradisíaco. Haller dava vazão à sua sensualidade adormecida por séculos de moral cristã. Hesse nos apontava um rumo, o do prazer sem peias. Em verdade, não era o primeiro a desfraldar esta bandeira. Nem seria o último.

Avanço cinco décadas após Os Amantes e a Turma do Apito. Isto é, meio século. Estamos em 2006. Uma universitária de 24 anos, estudante de Direito em Marília, no interior de São Paulo, teve de ser retirada de dentro da sala de aula pela Polícia Militar, por motivo de segurança, depois que fotos íntimas dela foram divulgadas na internet. A moça, que certamente jamais leu Herman Hesse, teria se entregado a um alegre folguedo em três. Àquele mesmo folguedo que em Jules et Jim nos soava a saudável utopia. A moça nega, diz que tudo foi montagem. Segundo o delegado Valter Bettio, responsável pelo inquérito, no depoimento a estudante disse que as roupas, acessórios e calçados que aparecem nas fotos não são dela, assim como o corpo é diferente do seu. Isto não importa. O que importa é a reação de seus colegas.

Ao chegar à faculdade onde estuda, foi ameaçada por alunos de vários cursos. Com ofensas e gritaria, os bravos guardiões da moral cristã formaram grupos do lado de fora da sala de aula onde ela estudava. Um dos professores trancou a moça na sala para protegê-la e chamou a polícia. Os PMs foram obrigados a usar gás de pimenta para desfazer o tumulto e retirar a garota da faculdade. É o que contam os jornais.

A universidade já foi arejada. Os tempos passados, também. Ao que tudo indica, estamos voltando à caça às bruxas e às trevas da Idade Média. Universitários, que constituem as futuras elites da nação, violaram a privacidade de uma colega e a agridem como a uma criminosa. Pior ainda, universitários de Direito, justo os que por ofício deveriam proteger a privacidade dos cidadãos. Como se uma boa partouse fosse prática tipificada como crime em nosso Código Penal. O ódio ao prazer, que havia sido conjurado nos anos 60, volta a imperar. Que se pode esperar no futuro desses brutos que pretendem proibir a uma menina a livre fruição de seu corpo?

Fosse um universitário flagrado com duas meninas, seria saudado como campeão. No Brasil, ao contrário da lei de Lavoisier, se nada se cria, tudo se perde e nada se transforma.

sábado, abril 22, 2006
 
AUDAZ CARDEAL ESCLARECE


Despachos mais detalhados esclarecem melhor a posição do cardeal Martini sobre os preservativos: "Sem dúvida, o uso do preservativo pode constituir, em certas situações, um mal menor, por exemplo, no caso de um dos cônjuges ter aids. Este é obrigado a proteger o outro, e deve poder se proteger." Melhorou, mas não muito. O preservativo continua sendo um mal, embora menor.

Os jornalistas classificam o pronunciamento do cardeal como ousado. Como se fosse necessário audácia para tomar uma medida profilática necessária e fundamental à preservação de vidas! Mais um pouco e os jornalistas entrevistarão um teólogo para saber se é permissível usar álcool para aplicar uma injeção.

sexta-feira, abril 21, 2006
 
OS FUNDAMENTOS DO MATRIMÔNIO, SEGUNDO O CARDEAL MARTINI



A notícia vem de Roma. Um dos mais proeminentes purpurados da Igreja Católica, o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo aposentado de Milão, defendeu em um artigo publicado nesta sexta-feira na Itália o uso de preservativos por casais casados como forma de prevenção à contaminação pelo vírus da Aids. O pronunciamento do cardeal é visto como uma abertura dentro dos círculos vaticanos.

Pode ser visto também sob outro aspecto. Se parceiros casados precisam usar preservativos, o cardeal está afirmando que a mentira é o fundamento do matrimônio.

terça-feira, abril 18, 2006
 
EXPLICADOR-GERAL DA REPÚBLICA EXPLICA


Que o MST invade propriedades impunemente, ocupa prédios públicos impunemente, depreda laboratórios impunemente, isto não é novidade alguma nem característica do atual governo. Esta leniência com o crime organizado data do governo Fernando Henrique. Se as altas cúpulas do PT acabam de ser denunciadas como quadrilha, para Tarso Genro, a guerrilha católico-marxista é algo perfeitamente legítimo. Deve ser "tratado dentro da lei. O MST é um movimento social. Ninguém, nenhum partido, tem controle sobre o MST", disse o explicador-geral da República, vulgo ministro das Relações Institucionais.

A bem da verdade, nem o governo tem controle. O ministério que Genro ocupa, em falta de atribuições específicas, melhor seria definido se fosse nominado como ministério do Gogó.

Em visita à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, o explicador-geral da República e ministro do Gogó ainda reiterou: "O País está com todas as instituições funcionando. Os Poderes Judiciário, Executivo, Legislativo, as estruturas de poder dissuasório, policial. Movimento social tem que ser tratado como movimento social. Tratado dentro da lei, da ordem jurídica, da ordem constitucional. Isso faz parte da democracia".

Ou seja, a guerrilha recebeu carta branca do governo para continuar invadindo propriedades, ocupando prédios públicos e depredando laboratórios impunemente. Continuará também recebendo auxílios governamentais - sem falar dos financiamentos de entidades católicas européias - para continuar invadindo, ocupando e depredando.

Segundo avaliações do governo, apesar das críticas do MST ao governo, o movimento não vai atrapalhar a campanha do Supremo Apedeuta à reeleição. Ora, podemos acusar o MST de tudo. Menos de ingratidão. Burro nenhum esquece onde come o milho.

segunda-feira, abril 17, 2006
 
O SUPREMO APEDEUTA



Estamos vivendo dias de madalenas arrependidas. Os jornais têm as páginas tomadas por críticos ferrenhos do PT. Olhamos suas biografias e... surpresa! São membros fundadores do PT, ativistas cujas barbas embranqueceram na militância, políticos que foram eleitos pela legenda do PT. Os ratos estão dando no pé, sinal inequívoco de que o barco está afundando. Que o diga a revista Veja, que na edição desta semana faz uma verdadeira necropsia do Partido dos Trabalhadores, aquele que se julgava o único portador autorizada da bandeira da ética.

- É que o partido, ao tomar o poder, mudou - gemem as madalenas. Mudou coisa nenhuma. Desde suas origens abrangeu um vasto leque de salafrários, que vai desde piedosos católicos a trotskistas, passando por marxistas soviéticos, maoístas, polpotistas, castristas, enfim, o rebotalho todo do século passado. A união de celerados de tão diferente extração só podia ocorrer em função de um objetivo único, a posse do poder. Eles chegaram lá. Encurralados, hoje não se pejam de acionar a máquina colossal do Estado para esmagar um coitado, que teve a desgraça de ser testemunha das reuniões da Máfia petista. O PT chegou ao poder e tudo fará para não largá-lo.

- Fomos enganados - lamuriam-se as carpideiras. Foram porque quiseram ser enganados. Votaram em um desqualificado, que passou boa parte de sua vida sustentado por um empresário, que como paga recebia favores das prefeituras petistas. Ninguém ignorava isto. Ninguém ignorava que o candidato à Suprema Magistratura da nação morava em uma cobertura, sem ter condições para tanto. Todos os eleitores de Lula fizeram ouvidos moucos às denúncias que salpicavam as páginas dos jornais. O resultado aí está: antes de terminar seu primeiro mandato, o Supremo Mandatário está indiciado como chefe de uma quadrilha jamais vista na História do país, a quadrilha do PT. A denúncia do procurador-geral da República pode não citar Lula nominalmente. Mas o indica em todas suas páginas.

Eu não fui enganado. Antes de o PT existir, eu já o denunciava. Explico. Em meus dias de jornalista em Porto Alegre, em meados dos anos 70, quando cronicava na extinta Folha da Manhã, dediquei não poucas linhas a comunistas como Marco Aurélio Garcia, Luís Fernando Verissimo, Pila Vares, Flávio Koutzi, Tarso Genro. O que escrevi contra este último senhor daria uma pequena antologia. Em 80, como bons comunistas sedentos de poder, eles se aglutinaram no sedizente Partido dos Trabalhadores. Salvo engano, fui pioneiro nas denúncias contra o partido quadrilheiro. A serpente, eu a denunciei ainda no ovo.

Há outras madalenas carpindo cadáveres, que não as petistas. São pessoas de minha geração que hoje atacam o marxismo com fúria. Basta uma olhadela em suas biografias e lá está: eram aguerridos militantes do Partido. Ocorre que pessoa de minha idade, se um dia foi comunista, não pode alegar que se enganou. As primeiras denúncias da tirania soviética surgiram em 1929, com Panaïti Istrati. Continuaram nos anos 30, com Koestler, Orwell, Camus, Gide, Sábato, Ignazio Silone, Richard Wright, Louis Fischer, Stephen Spender e outros tantos, que foram imediatamente denunciados pelos comunistas como agentes do imperialismo. A denúncia maior ocorreu em 1949, com a affaire Kravchenko. Em 1956, há precisos 50 anos, tivemos o relatório Kruschev. Donde concluímos que os comunistas de minha idade, em suas juventudes foram pessoas cegas ao óbvio ou agiram com dolo. Outra hipótese não há.

Em meus 15 ou 16 anos, tendo recém abandonado o catolicismo, fui cercado por comunistas, que queriam ganhar o ex-crente para a causa. Puseram em minhas mãos um novo catecismo, o Curso de Filosofia - Princípios Fundamentais, de Georges Politzer. Em verdade, com filosofia nada tinha a ver, era um manual de marxismo. Nele vi uma doutrina filosoficamente muito tosca e naqueles dias mesmo recusei a doutrina. Só mais tarde fui tomar conhecimento das denúncias que acima citei. De qualquer forma, já estava vacinado.

Volto ao PT. O que melhor demonstra a ausência de escrúpulo dos petistas é o fato de, sendo composto majoritariamente por universitários, ter escolhido como líder um operário analfabeto. A escolha não é gratuita. Desde fins do século XIX vinha sendo criado o mito de uma classe operária redentora. Mitos são fortes. Os europeus sempre gostaram da idéia de um operário no poder. Longe deles, é claro. Là bas! Na América Latina, por exemplo. E manifestaram entusiasmo com a candidatura de Lula. Povos distantes são sempre ótimos laboratórios para experimentos sociais.

O sumo analfabeto, com o apoio da Igreja Católica e da universidade, acabou sendo eleito. No ano mesmo de sua eleição, em crônica intitulada Eu sou o que sou, publicada no Baguete Diário, jornal eletrônico de Porto Alegre (29/03/2002), pareceu-me oportuno qualificá-lo como apedeuta: "Até hoje as esquerdas são pródigas em contar piadas sobre a falta de cultura de Costa e Silva. Mas Costa e Silva fez Escola Militar, cujo acesso não é para qualquer apedeuta".

Em 19 de agosto do mesmo ano, no mesmo jornal, na crônica intitulada O neoaparatchik,voltei ao tema: "Existe uma raça de apedeutas que se sentem muito eruditos quando usam proparoxítonas ou quadrissílabos. No debate organizado pela Folha de São Paulo, na segunda feira-passada, ele se superou. Lá pelas tantas, arrotou erudição: 'Entretanto, há coisas a serem feitas concomitantemente'. Embriagado pelo próprio verbo, feliz pelo heptassílabo, perguntou ao interlocutor: 'Gostou do concomitantemente?'"

Em 17 de março de 2003, no artigo Armadilha para negros, publicado no MSM, escrevi: "O atual presidente da República está longe de ser o primeiro apedeuta a assumir o poder neste país. Câmara e Senado estão repletos de analfabetos jurídicos, que nada entendem da confecção de leis nem sabem sequer distinguir lei maior de lei menor". Na tradução do artigo para o inglês, publicada na revista Brazzil, de Los Angeles, o tradutor teve um feliz achado: First Ignoramus.

Em Fala, ó metamorfose ambulante, publicado também no MSM, em 20 de setembro de 2004, lá está: "Durante solenidade em Brasília, o Supremo Apedeuta disse que 'o ser humano não tem que ter medo de ser uma eterna metamorfose ambulante', fazendo referência a um dos sublimes autores que embasam sua erudição". Na Brazzil, a expressão foi traduzida como Supreme Ignoramus. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar nos arquivos do MSM, verá que, de 2003 para cá, escrevi pelo menos 21 crônicas, onde uso as expressões apedeuta ou Supremo Apedeuta.

Em suma, para meu prazer, a expressão foi fazendo fortuna na mídia eletrônica. Tanto o Supremo Apedeuta como o Supreme Ignoramus. Nada lisonjeia tanto um jornalista como ver seus achados correndo mundo. Outro dia, lendo ao azar a revista Primeira Leitura, vi que um jornalista tucano chapa-branca a empregava várias vezes. Maravilha, pensei, minha trouvaille já é de conhecimento dos partidos de oposição. Ocorre que, conversando com outros jornalistas, fiquei sabendo que o autor do artigo está reivindicando a autoria da expressão.

Alto lá, senhor Reinaldo Azevedo. Supremo Apedeuta é cria minha, e isto qualquer pesquisa rápida no Google pode comprovar. Use e abuse da expressão, quantas vezes quiser, divulgue-a aos quatro ventos, isto só me faz feliz. Mas não pretenda tê-la criado. Isto é muito feio para um jornalista. Ou, para usarmos uma palavra da moda, é antiético. E não fica bem para o porta-voz de um partido que pretende dar um banho de ética no partido que se dizia dono da ética tomar atitudes assim antiéticas.

O Supremo Apedeuta é meu.

sexta-feira, abril 14, 2006
 
A GRAVE QUESTÃO DOS PENTELHOS DE CRISTO



Corria o ano da graça de 1351. Uma grave discussão tomou conta das mentes da época, o prepúcio de Cristo. A discussão de fundo, em verdade, era outra. Em Barcelona, um guardião franciscano levantou a tese, em um sermão público, que o sangue versado pelo Cristo durante a Paixão havia perdido toda divindade, havia se separado do Verbo e ficado na terra. A proposição era nova e de difícil demonstração, Nicolas Roselli, inquisidor de Aragon, aproveitou a vaza para atacar os franciscanos, que detestava, e a transmitiu a Roma. O cardeal de Sainte-Sabine, sob as ordens de Clemente VI, escreveu que o papa havia recebido com horror esta odiosa asserção. Sua Santidade, tendo reunido uma assembléia de teólogos, combateu em pessoa esta doutrina e conseguiu que fosse condenada. Os inquisidores receberam em todos os lugares a ordem de abrir os procedimentos contra aqueles que tivessem a audácia de sustentar esta heresia. O triunfo de Roselli foi completo. O infeliz franciscano barceloneta teve de negar sua tese, do alto da mesma cátedra em que a havia proferido.

Restou o problema do prepúcio. Segundo os franciscanos, o sangue do Cristo podia ter ficado na terra, pois o prepúcio extirpado durante a circuncisão havia sido conservado na igreja de Latrão e era venerado como uma relíquia sob os olhos do próprio papa e do cardeal. Um século transcorreu quando, em 1448, o franciscano Jean Bretonelle, professor de teologia da Universidade de Paris, submeteu a affaire à faculdade. Uma comissão de teólogos foi nomeada. Após sérios debates, tomou uma decisão solene, declarando não ser contrário à fé crer que o sangue vertido durante a Paixão tivesse ficado na terra. De inhapa, estava resolvida também a questão do prepúcio.

Neste ano da graça de 2006 - 655 anos depois da grave questão do prepúcio - surge em Mauá, na Grande São Paulo, a grave questão dos pentelhos do Cristo. Depois que a Igreja elegeu como ícone o crucificado com uma sumária tanguinha, mais dia menos dia, no decorrer dos séculos, os pêlos viriam inelutavelmente à tona. Quem nos conta é o Estadão de hoje. A encenação da Paixão na cidade está sendo anunciada com a reprodução da pintura Nihil Obstat, do artista plástico Antônio Valentim Nino, na divulgação da peça Os Caminhos de Jesus. Na pintura, o Cristo é retratado na cruz, de terno e gravata, com os pêlos pubianos à mostra.

Heresia. Em sessão extraordinária, a bancada evangélica da Câmara Municipal exigiu de Carriel a retirada de circulação do material e explicações quanto ao conteúdo do espetáculo. O vereador Diniz Lopes dos Santos, presidente da Câmara, classificou como absurda a escolha da pintura para divulgar a peça. "Fiquei estarrecido com o que vi, assim como a maioria da população de Mauá", disse.

Seria o Cristo glabro? Não pode um deus encarnado ter pentelhos? Com a palavra, os teólogos.

 
O CERÉBRO ELÁSTICO DO ASTRONAUTA

Leio nos jornais:

Pontes lamenta por não ter jogado futebol no espaço

CIDADE DAS ESTRELAS (Rússia) - Marcos Pontes, o primeiro astronauta do Brasil, lamentou ontem não ter jogado futebol durante sua permanência na Estação Espacial Internacional (ISS). Por outro lado, comemorou por ter cumprido todo o programa da Missão Centenário.

"Levei uma bola de futebol ao espaço, mas infelizmente não pude jogar por causa da ausência de gravidade", disse um sorridente Pontes na primeira entrevista coletiva após sua ida ao espaço, um marco para o programa espacial do Brasil.


Se o cérebro do coronel Pontes fosse elástico, não daria pra fazer um par de suspensórios para periquitos. E ainda há quem considere este senhor um cientista.

quinta-feira, abril 13, 2006
 
PASTOR ALEMÃO COMEÇA MAL



O pastor alemão está começando mal seu pontificado. Leio nos jornais de hoje:

Em sua homilia sobre o amor de Deus pelo homem, o papa citou o apóstolo Judas Iscariotes como o exemplo do "homem imundo", para quem o dinheiro, o poder e o sucesso são mais importantes do que o amor. Afirmando que o apóstolo não teve dúvidas ao vender Jesus, Bento XVI referiu-se indiretamente ao Evangelho de Judas, que, segundo estudos da National Geographic Society, divulgados na semana passada, é um documento autêntico. Pelo documento, Jesus teria pedido a Judas que o traísse, para que ele pudesse cumprir com sua missão de salvar a humanidade.

Independentemente do novo documento, fica claro nos Evangelhos que:
1º - Judas é peça fundamental na História da Salvação.
2º - Judas não traiu Cristo por dinheiro. Ofereceu-o aos judeus sem nada pedir em troca. A oferta de dinheiro é posterior.

Acho que Sua Santidade teria muito a crescer em graça e sabedoria se lesse os Evangelhos com mais atenção.

 
LULA LÁ E OS QUARENTA LADRÕES


Ironias da História. O procurador-geral da República arrolou exatos 40 quadrilheiros do PT em sua denúncia. Brasília está vivendo em clima de mil-e-uma-noites.

Quarenta por enquanto. O chefe mesmo da quadrilha não foi denunciado. Tampouco o ramo mafioso de Ribeirão Preto. Curtos são os dias e grande é a messe.

 
QUE LINDINHO...



...o Tarso Genro. O governo está afundando, o PT está sendo denunciado por formação de quadrilha, e o ministro das tais de Relações Institucionais - pasta que não se sabe para que serve, a não ser para dar emprego a políticos rejeitados nas urnas - vem a público dizer que o que importa "é que as instituições estão funcionando".

Haja cara-de-pau!

quarta-feira, abril 12, 2006
 
NOVA FIGURA PENAL: FORMAÇÃO DE ORGANOGRAMA


O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, em denúncia enviada ontem ao STF, apontou três ex-dirigentes petistas como integrantes do "núcleo principal da quadrilha". Na hora de referir-se ao principal acusado, o ex-ministro José Dirceu, preferiu falar em "chefe do organograma delituoso". Teremos agora uma nova figura penal?

 
FALTA DE TATO


Folha de São Paulo, hoje. A primeira página traz uma foto com funcionários da Varig protestando em frente à empresa. Um deles empunha um cartaz no mínimo contraproducente, que em nada auxília o movimento dos funcionários.

LULA: SE A VARIG FECHAR VOCÊ PERDERÁ 100.000 VOTOS.

Traduzamos a frase: se o presidente analfabeto, incompetente e conivente com a corrupção fizer um aporte de dinheiro público - isto é, dinheiro do contribuinte - nós, funcionários da Varig, ajudaremos a reeleger o presidente analfabeto, incompetente e conivente com a corrupção.

terça-feira, abril 11, 2006
 
GENERALIDADES PLANALTINAS


Na versão do advogado criminalista Arnaldo Malheiros, que se reuniu no dia 23 de março na casa do ex-ministro Antonio Palloci, com o também advogado criminalista e ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, houve apenas uma "discussão genérica", sem entrar em detalhes, sobre o crime de violação de sigilo.

Seria um interessante exercício de lógica imaginar o diálogo daquela noite no Planalto.

Palloci - O que acha, sr. Ministro, em termos genéricos, é claro, da violação de sigilo desse rapaz?

Bastos - Ora, sr. Ministro, sempre falando em termos genéricos, acho que Sua Excelência deveria deixar o cargo.

Palloci - Ainda genericamente, Ministro, sem entrarmos em detalhes, que tal oferecer um milhão de reais a quem assumisse a quebra de sigilo?

Bastos - Do ponto de vista genérico, Ministro, se alguém se dispusesse a assumir, com alguma sobrevida Sua Excelência poderia contar.

Palloci - Sempre sem entrar em maiores detalhes, Ministro, que poderia ocorrer se não encontrássemos esse alguém?

Bastos - De um ponto de vista genérico, Ministro, acho que Vossa Excelência está fodido.

domingo, abril 09, 2006
 
QUEM TRAIU QUEM?



Justo no dia em que o presidente da CPI dos Correios, o senador petista Delcídio Amaral entrou com duas representações contra o deputado, também petista, Jorge Bittar, por ter sido chamado de Judas e traidor, entre outras delicadezas, as agências internacionais anunciaram a publicação, nos Estados Unidos, da tradução de mais um evangelho apócrifo, denominado O Evangelho de Judas. O texto original teria sido escrito há 17 séculos e está em copta, língua falada pelos egípcios no começo da era cristã. Segundo um dos especialistas que examinam o documento, ele seria por sua vez tradução de um original grego da metade do século II D.C.

Na esteira de bestsellers tipo O Código da Vinci, os jornais do mundo todo estão anunciando uma suposta novidade, a de que Judas teria um papel fundamental na lenda cristã da História da Salvação. Digo suposta novidade, pois todo leitor atento dos Evangelhos percebe que, sem Judas, nem a crucificação nem o suposto sacrifício do Cristo pela redenção dos pecadores teriam sentido. Sacrifício que a parte interessada - os pecadores - jamais pediu. Pode-se até falar em traidor, mas a traição era imprescindível no projeto divino.

Segundo o recém-traduzido evangelho, enquanto os outros apóstolos são retratados como obtusos e incapazes de compreender o sacrifício de Cristo, Judas recebe instruções secretas e a ordem para trair Jesus. "Mas a todos excederás. Porque tu sacrificarás o homem que me reveste", diz Cristo no texto. Se Judas recebeu ordens do deus emergente para traí-lo e as cumpriu, não mais podemos considerá-lo como traidor e sim como santo. A representação do senador Delcídio, pelo menos no que a Judas se refere, fica prejudicada. Mais apropriado seria conferir a comenda a Delúbio Soares, que exercia junto ao PT a mesma função de Judas junto aos apóstolos, a de tesoureiro. E que, segundo João, roubava a caixa comum.

A idéia de Judas como santo não era estranha aos homens do medievo. Em 1387, o inquisidor Nicolas Eymeric pediu a cabeça de São Vicente Ferrer, por este ter afirmado que o arrependimento de Judas fora sincero e salutar. Como, devido à multidão, não pudera se aproximar de Cristo para pedir seu perdão, teria se enforcado e obtido, no Céu, a remissão de seus pecados. São Vicente só não foi para a fogueira por ter a proteção de Pedro de Luna, então cardeal de Aragon. Em 1394, uma vez eleito papa, sob o nome de Bento XIII, Pedro de Luna exigiu de Eymeric a entrega do dossiê e o queimou sem mais cerimônias. Por vias outras que não o arrependimento, Judas começa a fazer carreira como eleito do Senhor.

Nestes dias da Paixão, convido o leitor a apreciar a prata de casa. Judas, traidor ou traído (1968, Gráfica Record Editora, Rio) é um desses raros estudos bíblicos de valor de autoria de um brasileiro. Seu autor, Danillo Nunes, cidadão de Santa Maria (RS) não é nenhum teólogo ou historiador de religiões. Foi ministro do Tribunal de Contas, general-de-divisão R1 e professor de História Militar, Blindados e Tática Geral na Escola de Estado-Maior do Exército. Segundo o autor, se houve um traidor naqueles dias dramáticos, este não foi Judas. E se houve algum herói, este não foi o Cristo.

Diz Lucas (22:22): "Porque, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!" Para Danillo Nunes, fica claro nesta sentença contraditória, que Judas é um instrumento da vontade divina. Muito antes da tradução do Evangelho de Judas, este versículo não deixa "a quem é cristão outra alternativa senão a de considerar que Judas, cumprindo seu destino por desígnio de Deus, contribuiu com seu gesto para a glória de Jesus, o Cristo".

O autor nos mostra um Judas gradativamente decepcionado com o Cristo. Começa quando, na segunda-feira, 11 do Nisã, Cristo expulsa os camelôs do templo e instiga os mendigos ao saque generalizado. Para Judas, Cristo passou a ser um mistificador que se apresentava como Messias, um homem perigoso que incitava os miseráveis ao motim e à baderna e os deixava entregues à própria sorte. Sua conduta atrasaria de muito o irromper da Revolução, pois não só desencantaria as massas populares, que não mais creriam nele, como acenderia a desconfiança da classe dirigente, pronta, a partir daquele momento, a reprimir qualquer veleidade de insurreição.

Ao fugir para Betânia com os seus, Cristo teve uma frase infeliz: "Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não será deixada aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada". Segundo Mateus, duas testemunhas assim depuseram: "Este disse: - Posso destruir o Templo de Deus e reedificá-lo em três dias". É possível que o Cristo estivesse usando uma linguagem metafórica, escreve Nunes. Mas Judas interpretou a afirmação do Mestre em seu sentido literal e horrorizou-se, porque constituía imperdoável blasfêmia. Nunes lembra que Estevão, ao ser julgado pelo Sinédrio, dezoito dias após a crucificação do Cristo, atacou o Templo e o culto que nele celebravam. A indignação foi tão grande que a multidão o arrebatou e o levou para fora da cidade, matando-o a pedradas (Atos 7:54,60). A ofensa do Cristo fora bem mais grave.

A gota d'água para Judas seria o momento em que Cristo, interrogado se era ou não lícito pagar tributos a César, diz: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Ora, o que o povo mais odiava era a obrigação de pagamentos de impostos aos imperadores romanos. Não somente por serem extorsivos e permitirem os maiores abusos por parte dos publicanos, mas ainda por representarem o símbolo da escravização de Israel. Ao reconhecer a validade do imposto a César, Jesus se tornava um colaboracionista. Neste momento, Judas teria tomado sua resolução. Seu rompimento com o Cristo estava consumado.

Observemos a cronologia. Na segunda-feira, 11 do Nisã, Cristo havia bagunçado o Templo. Na terça-feira, 12, ocorre o episódio dos tributos a César. Dia seguinte, quarta-feira, 13 do Nisã, Judas se oferece para entregar o Mestre. O imaginário popular pretende que Judas teria entregue o Cristo por trinta dinheiros. Não é verdade. Marcos relata que Judas "foi ter com os principais sacerdotes para lhes entregar Jesus e eles, ouvindo-o, alegraram-se e prometeram-lhe dinheiro". A motivação inicial de Judas era outra que não dinheiro.

Por outro lado, o famoso beijo de Judas não teria a intenção de indicar o Cristo. Não seria difícil para os romanos reconhecerem quem havia depredado o Templo poucos dias atrás. O beijo seria para determinar o melhor momento para prender o Cristo sem provocar revolta popular. Judas era zelota, facção de nacionalismo extremado. Segundo Danillo Nunes, aos olhos de Judas, Cristo não passava de um embusteiro que, em nome de Deus, percorrera a Palestina arregimentando o povo para um levante, despertando na massa humilde a esperança, para depois desertar, deixando-a mergulhada na frustração. O inútil motim do 11 de Nizã, no Átrio dos Gentios, do qual resultara um massacre popular, trouxera descrédito à causa nacionalista. As heresias pronunciadas contra o Templo, de que poderia destruí-lo e reerguê-lo em três dias, mostravam o Cristo como um louco ou elemento perigoso. E o reconhecimento expresso de que os romanos tinham o direito de cobrar impostos, revelavam-no um traidor. Jesus - como disse Jacques Isorni, em Le Vrai Procès de Jésus - não seria um patriota, mas um apátrida de raça judia.

Para o autor, o gesto de Judas foi consciente. Quis não só punir Jesus por julgá-lo culpado de impostura, mas porque o julgava prejudicial à causa nacionalista. Se Cristo não tivesse sido condenado, provavelmente Judas o teria matado. Se conhecesse o juízo milenar e unânime da posteridade a seu respeito - conclui Danillo Nunes - quem sabe, tomado de horror, não exclamaria:

- Meu Deus, eles julgam-me um traidor!

quinta-feira, abril 06, 2006
 
ANALFABETISMO + COVARDIA = PALÓSSI


Alguém pronuncia Falassi ao ler Oriana Fallaci? Suponho que ninguém, particularmente na área do jornalismo. Dizemos Falatchi. Mas Palocci, no rádio e na televisão, virou Palóssi. Como jornalista não é, em princípio, analfabeto, só vejo uma explicação para o caso: uma combinação do analfabetismo de Lula com a covardia dos jornalistas.

Lula e os petistas de Ribeirão Preto sempre pronunciaram Palóssi. Seria bastante desconfortável, para um jornalista cheio de medo, pronunciar Palotchi logo após o Supremo Apedeuta ter dito Palóssi.

Agora que o ex-todo-poderoso ministro voltou à sua condição normal de delinqüente, tão cedo o Supremo não voltará a pronunciar seu nome. Bem que os jornalistas podiam voltar à pronúncia correta em vez de continuar disseminando analfabetismo pelo país todo.

segunda-feira, abril 03, 2006
 
FALSÁRIO DEFENDE MINISTRO


03/04/2006 - 19h59
Tarso Genro diz que governo confia no ministro da Justiça

PATRÍCIA ZIMMERMANN
da Folha Online, em Brasília

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o novo ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, saíram hoje em defesa ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Tarso diz que o governo confia integralmente em Bastos.

"Não há nenhuma preocupação do governo em relação a isso, e há uma integral confiança do governo do ministro da Justiça", disse Tarso Genro.

 
AINDA A CENSURA STALINISTA



Bom dia, Janer!

Já é de bom tempo que venho acompanhando as matérias editadas no MSM, e lendo a sua, sobre o tema acima, não pude deixar de me lembrar que, algum tempo atrás, assisti ao dvd do filme/desenho MADAGASCAR, e me chamou atenção ao fato que, na versão traduzida do audio para português, no final da história, os 3 bichos/atores estão discutindo sobre qual destino poderiam tomar, viajando pelo navio, e a girafa sugere Cuba, pois lá há remédios de graça (afinal, no filme, é uma girafa paranóica com doenças e vive cheia de remédios), e tenho por hábito, algumas vezes, assistir o mesmo filme, com o audio original, em inglês, para treinar o conhecimento adquirido. Interessante que essa parte, no original, a girafa se refira ao Canadá, pois lá os remédios são mais baratos. Eis uma pequena amostra de como se edita material, inclusive infantil, para que se fixe na mente das pessoas, uma referência ainda que indireta. Isso é possível de confirmar em qualquer dvd, do filme, feito no Brasil.

Espero que essa dica possa ser útil em alguma matéria futura, mas sem referências à minha pessoa.

Agradeço pela atenção.

 
AS CONVICÇÕES DE SÃO DALLARI



Que o ex-todo-poderoso ex-ministro Antonio Palocci foi quem exigiu a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo, isto não mais se discute. Disto foram testemunhas dois assessores do ministério da Justiça, mais o próprio presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que entregou em mãos do ministro o extrato da conta do caseiro. Sabe-se inclusive que Lula tinha ciência do crime cometido pelo ministro uma semana antes de tê-lo demitido. O que resta a esclarecer é a participação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Palloci e seus asseclas estão hoje indiciados em vários crimes, entre eles o de violação de sigilo bancário. Para escapar de um depoimento na Polícia Federal, o ex-ministro não hesitou em apelar ao vulgar recurso do atestado médico.

Até aqui, nada de novo. Estes fatos já fazem parte da crônica policial do Planalto. O que me causou espécie foi a entrevista concedida ontem ao Estado de São Paulo, por um dos santos tutelares do PT, o jurista Dalmo de Abreu Dallari. O jurista, reputado como uma das reservas éticas das esquerdas - se é que esquerdas têm ética - goza da fama de isenção em seus julgamentos, principalmente por não ter assinado ficha no PT, partido que defende incondicionalmente. Duas semanas após a revelação diária das trapalhadas do ministro nos jornais, o impoluto jurista declara:

- Estou convencido de que não houve participação do ex-ministro mandando obter dados.

É este o santo homem que os petistas respeitam, reverenciam e cultuam? Será que o PT não tem um campeão melhor para trazer à liça? Ao proferir tal despautério, Dalmo de Abreu Dallari demonstra ter perdido inclusive o respeito por si mesmo.

domingo, abril 02, 2006
 
1º DE ABRIL



Há turistas e turistas. Eu, que já residi bom tempo na Europa, não resisto a turismos ocasionais. Turismo é bom. As preocupações de um turista são o terrível dilema de em qual restaurante comer, qual ópera assistir, qual museu visitar e assim por diante. Ao voltar, volta com uma visão idílica do país visitado. Já o residente tem outros problemas, tipo encontrar apartamento para alugar, pagar taxas inerentes à residência, renovar visto de residente na polícia, enfim, uma série de pequenos aborrecimentos dos quais o turista está isento. A visão do residente sobre o país em que reside é sempre menos deslumbrada que a do turista do país em que visita. Residir tem seus desconfortos.

Morei na Europa e também fiz muito turismo por lá. Em geral, conciliando passeio com trabalho. Nos últimos anos, tenho me dado ao luxo de passear sem trabalhar. Já fui pago por Estados e instituições, sempre estrangeiras, insisto em salientar, pois do Brasil jamais recebi um vintém. Se já viajei como jornalista, bolsista ou convidado de colóquios ou festivais, hoje pago minhas viagens com meus dinheiros. Quando fui à Rússia em 2001, a agência de turismo com a qual negociava ofereceu-me vôos espaciais. Nada de estações orbitais, bem entendido, mas eu poderia dar-me ao luxo de "pilotar" MIGs (23, 25 ou 29, à minha escolha) ou de experimentar as sensações de gravidade zero, por vinte minutos, tudo isso por módicos 15 ou 20 mil dólares. Decolando de Baikonur. Com sua indústria espacial estagnada, a ex-todo poderosa Rússia resolveu reciclar em turismo sua sucata tecnológica.

Declinei da oferta. Quinze ou 20 mil dólares me parecem muita grana para meia hora de lazer. Não pensa o mesmo o governo brasileiro, ao pagar dez milhões de dólares para mandar um garoto-propaganda ao espaço. O coronel Marcos César Pontes, nova estrela de uma mídia deslumbrada com futilidades, ficará oito dias em órbita. Ou seja, 1,25 milhão de dólares por dia de hospedagem. Confesso que jamais me ocorreu reservar hotel tão caro. Primeiro, porque não teria como pagar nem mesmo um dia. Se convidado fosse pelo rico e generoso Estado brasileiro, sentir-me-ia constrangido ao contemplar, em órbita, o traçado das favelas que o rico e generoso Estado brasileiro não consegue coibir e nem mesmo controlar. A título de comparação, uma noite no Burj Al Arab, no Dubai, talvez o hotel mais sofisticado do mundo, está custando a bagatela de 1.325 dólares. O Brasil está pagando, aproximadamente, mais de 7.500 noites num Burj Al Arab ao coronel Pontes.

Há quem tenha vaidade suficiente para tanto. Dois milionários, o americano Dennis Tito e o sul-africano Mark Shuttleworth, desembolsaram 20 milhões de dólares cada um à Agência Espacial Russa para passar uma semana em órbita. Com duas ou três diferenças. Pagaram de seu próprio bolso, sem onerar seus Estados. Não serviram de garotos-propaganda para presidentes com ambições de reeleição. Nem voltaram como heróis. Apenas como milionários extravagantes, cuja fortuna lhes permitia tais luxos.

A velha Rússia comunista revelou-se exímia na busca de dinheiro privado para suas aventuras espaciais. Em 2000, da mesma Baikonur de onde decolou o coronel Pontes, subiu ao espaço uma Soyuz com propaganda de uma rede de pizzarias e usou seus cosmonautas - russo não é astronauta, é cosmonauta - para divulgar máquinas fotográficas. Mas tampouco recusa dinheiro público, preferentemente se não sair do falido Estado russo. O Brasil, esta esplêndida e próspera nação governada pelo PT, teve um desconto de camarada para camarada.

O tour - que poderia muito bem se chamar Cosmos Maravilhoso - ficou pela metade do preço, mas a Rússia levou um troco de não se jogar fora, a utilização da base de Alcântara para lançamentos espaciais. Cientistas que trabalham na incipiente indústria espacial brasileira estão estrilando, e com razão. Os dez milhões de dólares que seriam muito oportunos à pesquisa, estão sendo volatilizados para que o novo "herói" da pátria amada faça um aceno eleitoral ao Supremo Apedeuta da nação. Ora, direis, se o governo paga, que mal tem? Ocorre que governo não paga nada. Quem paga é o contribuinte.

Pontes voltará às terras de Pindorama como astronauta e herói. Não é nenhum dos dois. Ser astronauta é profissão, não turismo financiado por contribuintes. Astronauta é quem fica seis meses em órbita, com todos os riscos de vida e saúde inerentes à prolongada exposição à gravidade zero. O turista tupiniquim curtirá as emoções da viagem. Voltará com uma visão idílica do espaço. Dos desconfortos do residir, nem pensar.

Herói muito menos, ou teríamos de conferir o título a todo turista. (A imprensa brasileira tem fome de heróis. Até uma cadela, a Catita, já foi entronizada como heroína). A melhor definição para nosso subsidiado passageiro vem da ficção científica. Está mais para alien. Pegou carona numa nave de outra civilização, invadiu uma estação orbital sem ter porquê e logo será ejetado para não atrapalhar a vida a bordo.

Assim, leitor, quando assistir às imagens do coronel Pontes em gravidade zero, sinta também os dólares decolando de seu bolso rumo ao espaço sideral para financiar este turismo estúpido. Que só serve para inflar a vaidade fátua de um país que não consegue mandar ao espaço e trazer de volta viva nem mesmo uma pulga. Mas astronauta nós já temos.

Quiseram os deuses do Acaso que nosso privilegiado turista espacial entrasse na estação orbital em uma data emblemática: 1° de abril. Dia dos bobos, espécimes que proliferam cada vez mais aceleradamente no Brasil. Nas últimas eleições, já eram 53 milhões.