¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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Janer Cristaldo escreve no Ebooks Brasil Arquivos outubro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 junho 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 fevereiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 junho 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 outubro 2013 novembro 2013 dezembro 2013 janeiro 2014 fevereiro 2014 março 2014 abril 2014 maio 2014 junho 2014 julho 2014 agosto 2014 setembro 2014 novembro 2014 |
sexta-feira, janeiro 31, 2014
PANCADA DE AMOR NÃO DÓI (I) Quem vos viu e quem vos vê! Ontem, inimigos figadais, um pronto a saltar na jugular do outro. Hoje, amigos cordiais, trovando maviosamente. Era rusga de namorados. O Desespero de Olavo por Rodrigo Constantino Bateu desespero em Olavo de Carvalho. Depois que eu provei que ele mentiu – ou criticou meu artigo sem nem ter lido, restou ao "filósofo" um ataque desesperado, uma ameaça de uso do Estado como coerção. Tirando os milhões na conta, não resta mais diferença entre Olavo e Bispo Macedo, cuja Igreja Universal tenta apelar para os mesmos artifícios para calar a crítica da mídia. Onde já se viu um filósofo ameaçar usar a lei para impedir que os outros critiquem suas crenças religiosas? Eis o que Olavo escreveu: "O artigo 208 do Código Penal pune com detenção e multa os atos de 'escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa' e 'vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso'. Os srs. Rodrigo Constantino, Janer Cristaldo e Anselmo Heydrich já cometeram esse crime tantas vezes, que o simples fato de eu me contentar em xingar esses bandidinhos, em vez de denunciá-los à polícia, deveria ser considerado um exagero de caridade. Com bandido não se discute. Lugar de criminoso é na cadeia. Admito, porém, que não é a caridade, e sim a mera distância geográfica, que me impede de tomar contra os referidos as providências judiciais cabíveis." Fico constrangido e ao mesmo tempo com muita pena do "filósofo". Ele deve estar mesmo em pânico para ter de apelar desse jeito. Logo ele, que xinga tudo e todos, que não respeita a crença de ninguém. Mas fica a pergunta: os não-crentes podem processar os crentes quando estes chamam de idiotas todos os ateus? Quando um crente jura que o ateu vai passar a eternidade no inferno, ele pode ser processado por danos morais? Se Olavo "vilipendiar publicamente objeto de culto religioso" de uma seita diferente, como a cientologia, ele vai se entregar à polícia? Olavo quer me colocar na cadeia por questionar a sua crença religiosa. Para ele, sou um bandido, um criminoso, pois questiono suas crenças. Como eu disse, o sonho dele era viver na Idade Média, e me mandar para a roda ou fogueira. Ainda bem que tivemos o Iluminismo para colocar uma focinheira em tipos como este. Conservadores fanáticos não odeiam o Estado coisa alguma, nem querem reduzir seu poder. Querem apenas se apossar dele, e ai de quem divergir de suas crenças! A dúvida é: será que Olavo vai respeitar a lei quando ela condenar a homofobia? Parece que Olavo ficou muito irritado de ser chamado de astrólogo também. Vejamos: "Quanto à insistência obsessiva desses canalhas em me chamar de 'astrólogo', com a ênfase que a palavra tem quando associada a tipos como Walter Mercado, é fácil notar que nenhum dos três jamais examinou criticamente e nem mesmo citou de passagem qualquer escrito meu sobre a questão da astrologia. [...] O intuito deliberado de falsificar para melhor difamar não poderia ser mais evidente, e a eventual desculpa de que foi ofensa proferida impensadamente no calor da discussão já está impugnada antecipadamente pelo número de vezes que a ofensa se repetiu." Mas Olavo não disse o que importa: era ou não um astrólogo? Ainda acredita na astrologia? Fazia ou não mapa-astral? Chamar um astrólogo de astrólogo agora é ofensa? Ora, ofensa é um sujeito que se diz católico ser astrólogo também! O que a Bíblia diz sobre a astrologia? Mas vejamos o que o próprio Olavo disse numa entrevista, quando Roberta Tórtora perguntou como a astrologia contribuiu para sua formação: "Muito. Não existe possibilidade alguma de entendimento de qualquer civilização antiga sem o conhecimento da Astrologia. O modelo de visão do mundo baseado nos ciclos planetários e nas esferas esteve em vigor durante milênios e isto continua a estar, de certo modo, no 'inconsciente' das pessoas. Apesar de algumas deficiências no modelo astrológico, foi ele quem estruturou a humanidade pelo menos a partir do império egípcio-babilônico, o que significa, no mínimo, cinco mil anos de história. A Astrologia é um elemento obrigatório, por isto quem não a estudou, não estudou nada, é um analfabeto, um estúpido." Não creio que seja necessário fazer qualquer comentário. Melhor voltarmos ao tema das tradições, onde Olavo insiste em ignorar o que eu realmente escrevi. Eis o que ele disse depois que provei sua mentira: "Constantino reduz o conceito de 'tradição' ao de 'repetição mecanizada', opondo-o ao do exame racional maduro, mas linhas adiante reconhece que 'há tradições boas'. Então é claro que, no seu entender, elas não são boas por ser tradições, mas pela coincidência casual do seu conteúdo com algo que o exame racional, feito por ele, aprova." Será possível que Olavo ainda não tenha entendido mesmo? Sim, para mim uma tradição não é boa apenas por ser tradição. Por isso devemos questionar as tradições! É justamente o "exame racional maduro", ao invés de uma repetição mecanizada. Ora, como Olavo faz para saber quais tradições seguir? Escolhe aleatoriamente, joga um dardo, verifica no seu mapa-astral? Eu não. Eu prefiro justamente questionar se faz mesmo sentido adotar uma tradição. É o julgamento de um costume através da nossa razão, coisa que você vem condenando. Veja meu exemplo de noivas casando de branco: uma tradição. Para Olavo, tradições nunca são repetidas mecanicamente, mas sim compreendidas. As católicas sabem mesmo porque se casam de branco? Quantas podem seguir esta tradição honestamente? Em resumo, eu quero simplesmente questionar racionalmente qualquer costume ou tradição, algo que fez Olavo de Carvalho perder a linha e partir para as agressões. Não deixo nada acima da minha razão, nem as tradições nem a autoridade de algum filósofo. Meu instrumento epistemológico para tentar compreender o mundo em que vivo é a razão. Mas o ódio de alguns "filósofos" à razão é mesmo algo incrível. Não satisfeito, Olavo fez uma análise psicológica de minha pessoa, não sei com quais credenciais. De astrólogo para comunista, depois filósofo conservador, crente católico e agora psicólogo também. O homem entende de tudo mesmo! Depois, num típico ataque de vaidade megalomaníaca, ele concluiu que tudo que eu escrevo é para "parasitar seus temas e referências". Segundo ele, passei a citar Ortega y Gasset e Viktor Frankl graças aos seus escritos. Não passa por sua cabeça narcisista que eu possa ter lido sobre Frankl no famoso livro de Steven Covey, Os 7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes, ou ter descoberto Ortega y Gasset, autor renomado mundialmente, por qualquer outra fonte. Não! Tudo que escrevo, até mesmo sobre o multiculturalismo, é para copiar o grande filósofo. O mundo não gira mais em torno da Terra, como os crentes achavam. Gira em torno de Olavo! E um sujeito desses acha que pode dar um diagnóstico psicológico de alguém. Para Olavo, minhas "investidas polêmicas" são um "longo e reiterado pedido de socorro". Olavo deve escrever essas besteiras todas diante de um espelho, só pode! Quando escrevi meu artigo provando as mentiras de Olavo, algumas pessoas me mandaram a seguinte resposta: "Nunca discuta com um tolo; eles podem não saber a diferença". Eu concordo com o alerta, mas explico que não discuto com Olavo. Se fosse apenas nós dois numa sala fechada, meu tempo seria mais bem gasto lendo gibis da Turma da Mônica. O problema é que Olavo ainda conquista seguidores desavisados. Cada vez menos, é verdade. Mas faz-se necessário desmascarar o embuste. Rebato as mentiras e falácias de Olavo como faço com Verissimo, Sader ou qualquer outro do tipo. Sei que, à exceção dos desesperados que ainda levam Olavo a sério, quase ninguém mais o enxerga como um debatedor honesto, mesmo entre seus pares conservadores. Mas sempre existe um ou outro que ainda pode acordar do entorpecimento da erudição de Olavo. Escrevo para eles. E por falar nos seguidores de Olavo, nada mais lamentável que ver a bajulação em sua comunidade do Orkut. Os comentários são todos do tipo: "Perfeito, professor", "Muito bom!", "Perfeito!", "Excelentes comentários, Olavo!". Olavo criou uma seita, explorando o desespero dos outros, tal como Bispo Macedo fez. Vaidoso, ele busca puxa-sacos que não questionam, mas apenas aplaudem como focas. A falta de argumentos é diretamente proporcional aos elogios feitos ao "mestre". Olavo, ao comentar a obra de Schopenhauer, Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão, assimilou muito bem todos os estratagemas de erística, que ele usa e abusa. Mas, uma vez desmascarado, entrou em desespero. A ameaça de processo foi a gota d'água, o ato desesperado de alguém que sabe não ter mais argumentos para rebater as críticas que recebe. Como disse Ayn Rand, "o argumento pela intimidação é uma confissão de impotência intelectual". Olavo acaba de confessar a sua. PANCADA DE AMOR NÃO DÓI (II) Olavo de Carvalho Rodrigo Constantino, que ignora tudo da história da Igreja, bem como da história da Filosofia, e tenta compensar seu vácuo de conhecimentos ciscando às pressas informações numa fonte tão incerta quanto a Wikipedia, não tem nenhum direito à minha atenção ou à atenção de qualquer leitor sério ao opinar sobre essas matérias. Não o reconheço como interlocutor, não o considero qualificado nem mesmo para ser meu aluno, de vez que lhe faltam o senso da sua própria ignorância e o simples pressentimento de que os assuntos em que opina têm atrás de si uma tradição milenar de estudos, sem o acesso à qual é impossível até mesmo a informação perfunctória sobre o “satus quaestionis”. Não acredito que ele seja totalmente desonesto, apenas monstruosamente inculto e presunçoso. O único direito que lhe reconheço nesta questão é o de calar a boca antes de se expor a uma humilhação completa que talvez ele não seja capaz de aproveitar como lição útil. (...) Quando Rodrigo Constantino menciona entre as "críticas embasadas" que encontrou do livro de Voltaire a afirmativa de que "os judeus são um povo de ladrões" ou de que o objetivo de todos os grandes santos, místicos e profetas fundadores de religiões é "dominar e enriquecer quanto puderem", ele chafurda na mais baixa irracionalidade no instante mesmo em que imagina personificar a razão e a ciência. A miséria da sua falta de consciência de si é tão deplorável, tão patética, que eu preferiria nada dizer a respeito, só consentindo em dizer alguma coisa porque sei que essa miséria é contagiosa e temo pelo futuro de seus leitores. (...) Humilhado e enraivecido, ele agora apela ao expediente supremamente calhorda de fingir que não argumentei contra suas asneiras presunçosas, mas contra “a ciência”. Em matéria de disfarce, o sr. Constantino não é um lobo em pele de cordeiro. É um mico em pele de jumento. (...) O raciocínio de Rodrigo Constantino, em suma, é infernalmente circular, fechado e imune a qualquer possibilidade de discussão racional, sendo por isso mesmo tanto mais levianamente proclamado a epítome da racionalidade científica, já que não tem nenhuma satisfação a prestar ao esclarecimento crítico dos conceitos e termos que emprega nem muito menos ao exame dos critérios estereotipados de veracidade em que confia cegamente. Justamente por ser um obscurantismo total, a cosmovisão constantínica pode imbuir-se daquela integral confiança em si mesma que lhe permite continuar esperneando e cantando vitória mesmo quando, no curso do debate, todos os espectadores em volta já perceberam o ridículo pueril das suas pretensões e sua recusa obstinada ao confronto sistemático de argumentos. Não tenho a menor dúvida de que a forma mentis desse menino, descontada qualquer patologia pessoal, é o produto acabado dessa fábrica de monstrinhos que é a seita de Ayn Rand, uma das mais mesquinhas, fanáticas, estúpidas e cegas que o mundo já conheceu, e que infelizmente continua sendo bem tolerada nos meios liberais pelo simples fato de que aprova a economia de mercado, como se idéias sensatas não pudessem ser defendidas também por motivos absurdos e extravagantes. Como lembrava Spinoza, um louco que em pleno dia sai gritando “É dia!” não se torna só por isso um homem sensato. (...) O evidente despreparo do atacante contrastava de maneira tão patética com a sua afetação de onipotência, que a provocação – ou intimação – para um debate, vindo de tal pessoa, me pareceu, mais que um acinte, um blefe descarado num jogo sem propósito. Totalmente sem propósito. O debate com o ignorante é um dos exercícios mais árduos e estéreis da arte dialética. A cada passo, junto com os argumentos, você tem de fornecer ao desafiante os conhecimentos que lhe faltam para o debate, e ele, de maneira quase infalível, tomará essas informações como novos argumentos, colocando-os em discussão junto com os primeiros, e assim por diante infindavelmente. Sem um núcleo de conhecimentos admitidos em comum, nenhum debate frutífero é possível. Quando os disponíveis a uma das partes são mínimos, a outra pode, por amabilidade, concordar em esquecer o que sabe e raciocinar só com base nas informações de que o interlocutor dispõe. Mas se este desconhece ou não compreende o seu próprio material, se seu domínio do assunto está abaixo do mínimo requerido até para sustentar suas próprias opiniões, se a cada passo ele se equivoca no manejo dos seus próprios termos e não dá sinal de captar as implicações mais óbvias e imediatas do que ele mesmo diz, então a situação é francamente desesperadora, e o melhor que você pode fazer é mandar o cidadão passear. Foi o que sucedeu neste caso. Informei ao distinto que ele era apenas um merdinha intrometido, achando que, impressionado com a minha falta de polidez, ele iria embora batendo pezinho e não me incomodaria mais. quinta-feira, janeiro 30, 2014
QUANDO CITAR OFENDE Até hoje ainda não decidi o que é pior, se mexer em vespeiros ou em dogmas, sejam eles religiosos ou científicos. Já perdi um excelente amigo de longa data por afirmar que a teoria da relatividade Einstein é na verdade um plágio de Poincaré. Não que eu entenda de teoria da relatividade. Mas português eu entendo. A glória de Poincaré foi salva por seu amigo holandês Hendrik Antoon Lorentz, prêmio Nobel de Física (1902). Em 1921, após o triunfo do eclipse do sol de 1919, o comitê Nobel se reuniu com um primeiro pensamento: "Nós devemos dar o prêmio Nobel a Einstein, pela relatividade". Lorentz protestou: "Não é justo!". E publicou um ensaio sobre a vida de Poincaré que ele havia escrito em 1914. "Poincaré obteve uma invariante perfeita das equações da eletrodinâmica e formulou o 'postulado da relatividade', termos que ele foi o primeiro a empregar". Constrangido, o comitê Nobel pensou melhor e, após alguns meses de reflexão, decidiu dar o prêmio Nobel a Einstein, não pela relatividade... mas pelo efeito fotoelétrico. Marchal não cede: Poincaré é o pai do princípio da relatividade e o fundador da relatividade restrita. Um prêmio Nobel de Física recomenda ao comitê Nobel não conceder o prêmio a Einstein pela teoria da relatividade e o comitê acata sua sugestão. Isto é perfeitamente inteligível, basta saber ler. Por ter citado este episódio, lá se foi um bom amigo. Mais ou menos como nos anos 60, quando amizades no Brasil eram desfeitas por acontecimentos no longínquo Vietnã. Sobre a crônica em que comento a retratação de Hawking a respeito dos buracos negros, recebi esta mensagem de Arnaldo Sisson, cheia de bile e insultos pessoas, como se eu tivesse posto em jogo a honra de sua mãe: "O Janer entende de buracos negros. De física quântica também, daquela física quântica que trata do microscópico(!?). Mesmo usando a torção de palavras, coisa característica deste tipo de idiota, não dá pra sustentar que essa parte da física trata do microscópico. Talvez esse exator de exatidões não tenha ainda percebido que existe uma enorme diferença entre microscópico e sub microscópico. Só para explicitar que esse cara não sabe o que escreve, embora escreva bem. É um ficcionista como um desses que escreve livros do gênero "O Código Da Vinci" só que sem sucesso. Inveja qualquer que seja mais lido que ele. Na ordem natural das coisas ele, que monta nu (o cavalo também), sabe. Astrofísica inclusive. " Não tenho notícia de um bobalhão maior. Se se pode contrariar a besteira de que a teoria dos buracos negros surgiu com Hawking: "A idéia de um corpo maciço que nada pode escapar foi formado primeiro pelo geólogo John Michell em uma carta escrita para Henry Cavendish em 1783 para a Royal Society" (google). Dai para frente, muito chão, muito pensamento, coisa que evidentemente esse luminar desconsidera e afirma "textualmente" a mentira que a idéia é do início do século vinte, expondo claramente que não sabe do que fala. Qualquer texto desse falhado é bem escrito, mas sempre tolo e pretensioso. Que o clima está mudando qualquer um com mais de vinte anos sabe de ver e sentir, mas caras desse tipo sempre são do contra. Se a mídia fala em aquecimento então é coisa de comunista... " Não cara. Coisa, isso sim, de colunista sem mercado, sem trabalho, só pensão. Pego pesado porque esse é um cretino. Como ele, que outro haverá? Certa vez, pretenso intelectual, afirmou que a Rússia jamais teve Nobel de literatura (está em texto publicado). Não sabe nada de nada, sabe que não sabe, mas como todos dizem bobagem, ele também. A propósito: um exame mais apurado do que o Hawking disse, aponta que o que ele afirmou foi que os buracos negros teriam um natureza diferente daquela que ele afirmou antes, jamais disse que não existem. Os caras bons também erram e admitem. O Janer não, mas o Janer não é bom, é só pretensioso." Antes de ir adiante, desfaço uma afirmação falsa do leitor. Sisson, que pelo jeito é meu fiel leitor, parece costumar ler os textos em transversal. E que transversais! Chegou a pular três longos parágrafos de minha crônica. Nunca afirmei que a Rússia jamais tivesse tido um prêmio Nobel. Pelo contrário, afirmei que um de seus nobéis foi fruto de uma fraude. Y a las pruebas me remito. Há sete anos, escrevi: Em 1965, no auge da Guerra Fria, o escritor russo Mikahil Aleksandrovich Sholokhov recebeu o Nobel de Literatura por sua obra Don Silencioso, epopéia em torno à vida, aspirações e tragédia dos cossacos do Don durante a guerra e a revolução. E aqui começam os problemas. Considerada uma das obras primas da literatura universal, Don Silencioso é um romance telúrico que exige um vasto conhecimento de sua geografia, de seu povo e de sua história. Foi publicado em 1928 e logo traduzido a todas as línguas de cultura do mundo. “O autor conhece a fundo a história dos cossacos do Don – escreve o dissidente russo Roy Medvedev, em Qui a écrit le “Don Paisible”? – em particular o final do século XIX e o início do XX. Tudo o que se refere à participação dos cossacos nos combates da primeira guerra mundial revela uma notável compreensão da situação estratégica e do desenvolvimento das operações. Quanto à guerra civil sobre o Don e, particularmente a insurreição de Viochenskaïa, o autor demonstra dispor de informações que nem os historiadores soviéticos dos anos 20 dispunham. (...) O autor conhece enfim à perfeição não somente o mapa das cidades mais importantes (Moscou, Petrogrado, Novotcherkassk, Rostov) mas também a exata topografia da região do Don, com todas suas aldeias, stanitsas e suas pequenas estações”. Detalhe: Sholokhov nascera em 1905. Não era cossaco, tinha escassa instrução e pouco conhecia a região do Don. No momento da concessão do prêmio, a ninguém ocorreu que um jovem de 23 anos não poderia ter acumulado a necessária bagagem de cultura cossaca exigida para tal empreitada. O livro de Medvedev, que só pôde ser publicado na França, demonstra definitivamente o que até então apenas se murmurava no fechado universo soviético. O livro foi publicado em 1975, coincidentemente o mesmo ano em que Sholokhov, cercado de glórias, comemorava na ex-URSS seu septuagésimo aniversário. O autor do Don foi em verdade o escritor Fédor Dimitrievitch Krioukov, diretor do jornal Donskié Viédomosti, com o qual colaborava Sholokhov. Cossaco de origem e de coração, Krioukov esteve no front nas épocas descritas no romance, juntou-se à contra-revolução e conheceu de perto seus chefes. Seus manuscritos desapareceram com sua morte, por tifo, em 1920. Na ocasião, estava acompanhado por Piotr Gromoslavski, futuro sogro de Sholokhov, cuja atividade literária tem início quando começa a freqüentar a casa do sogro. Krioukov, obviamente, foi banido dos anais da literatura russa. Sholokhov é hoje conhecido como o primeiro grande escritor russo a ter introduzido o tema dos cossacos na literatura. Em dezembro de 1965, recebeu das mãos do rei Gustavo Adolfo a láurea máxima da literatura ocidental. Voltando aos buracos negros. A teoria foi esboçada há muito, mas só tomou corpo e ganhou difusão com o físico britânico. Ao contrário do que pressupõe Sisson, cada vez que comento o assunto, começo alertando que nada entendo de Física. Mas, como disse, de português eu entendo. A afirmação de que a idéia é do início do século XX, como também as menções ao mundo microscópico, não são minhas, mas da reportagem do Estadão que se reporta ao artigo original da Nature. Como também a afirmação de que sua existência - a dos buracos negros - só pôde ser confirmada a partir da Teoria da Relatividade Geral, que Albert Einstein elaborou em 1915. Ou seja, no fundo, a retratação de Hawking está pondo em xeque a própria teoria da relatividade. Eles, que são físicos, que se entendam. Apenas transcrevo suas declarações. E isso de afirmar que “que os buracos negros teriam uma natureza diferente daquela que ele afirmou antes”, é uma forma desenxavida de dizer: “eu não tinha razão mas continuo tendo”. Já recebi muitos ataques, não por ter feito afirmações sobre ciência ou religião, mas principalmente por ter citado literalmente cientistas e textos bíblicos. Citar certos textos ofende. Daí a me insultar como invejoso, bobalhão, falhado, tolo e pretensioso, isto já me parece mais perturbação mental. Ou talvez religiosa. quarta-feira, janeiro 29, 2014
MORRE MAIS UMA BOBAGEM COM FOROS DE CIÊNCIA Não acredito em Deus nem em ponto G, costumo afirmar. Muito menos no aquecimento global. É sintomático que, como a histeria em torno ao racismo, a idéia de aquecimento global tomou força após a queda do Muro e o desmoronamento do comunismo. Urge encontrar novos pretextos para lutar contra o capitalismo. Já escrevi sobre o assunto. Mentira morta, mentira posta. A grande ameaça deixou de ser o capital. Passou a ser o aquecimento global. O que no fundo dava no mesmo. Era a sociedade capitalista, com seus índices de consumo, o fator maior de aquecimento. Nem as vacas – que produzem carne, este luxo capitalista – foram poupadas. Suas flatulências destruíam a camada de ozônio. Por trás da nova denúncia, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática, ligado à ONU). O IPCC foi desmascarado em 2009, quando o famoso climatologista Phil Jones, diretor da Unidade de Investigação do Clima da Universidade de East Anglia, foi acusado de haver manipulado dados para exagerar os efeitos da mudança climática. Ele renunciou depois que foram divulgadas na internet mensagens que supostamente demonstrariam a fraude. Em um dos e-mails invadidos por hackers, Jones menciona um "truque" empregado para maquiar as estatísticas de temperatura para "ocultar uma redução". A teoria do aquecimento global teve seu guru precursor, James Lovelock, inventor do Electron Capture Detector, aparelho que ajudou a detectar o (suposto) buraco crescente na camada de ozônio e outros nano-poluentes, considerado “uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade”, é o criador da chamada Hipótese Gaia, que vê a Terra como um organismo vivo. Não há de novo sob o sol. Aliás, desde o Qohelet não havia. Já comentei há alguns anos. Lovelock chegou à conclusão que a raça humana está condenada. Que mais de seis bilhões de pessoas morrerão neste século. Enquanto caminhava em um parque em Oslo, declarou ao escritor americano Jeff Goodel: - Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. “Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria”, sentencia Lovelock. “O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável.” Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes – Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica. Em entrevista para a Veja, em 2006, falando sobre seu livro A Vingança de Gaia, lançado naquele ano na Inglaterra, Lovelock brandia o apocalipse. O repórter, não por acaso um dos crentes no efeito estufa, queria saber quando o aquecimento global chegaria a um ponto sem volta. Respondeu o guru, com a convicção dos profetas: - Já passamos desse ponto há muito tempo. Os efeitos visíveis da mudança climática, no entanto, só agora estão aparecendo para a maioria das pessoas. Pelas minhas estimativas, a situação se tornará insuportável antes mesmo da metade do século, lá pelo ano 2040. - O que o faz pensar que já não há mais volta? - Por modelos matemáticos, descobre-se que o clima está a ponto de fazer um salto abrupto para um novo estágio de aquecimento. Mudanças geológicas normalmente levam milhares de anos para acontecer. As transformações atuais estão ocorrendo em intervalos de poucos anos. É um erro acreditar que podemos evitar o fenômeno apenas reduzindo a queima de combustíveis fósseis. O maior vilão do aquecimento é o uso de uma grande porção do planeta para produzir comida. As áreas de cultivo e de criação de gado ocupam o lugar da cobertura florestal que antes tinha a tarefa de regular o clima, mantendo a Terra em uma temperatura confortável. Essa substituição serviu para alimentar o crescimento populacional. Se houvesse um bilhão de pessoas no mundo, e não seis bilhões, como temos hoje, a situação seria outra. Agora não há mais volta. - O senhor vê o aquecimento global como a comprovação de que sua teoria está certa? - O aquecimento global pode ser analisado com base na Hipótese Gaia, e, por isso, muitos cientistas agora estão se vendo obrigados a aceitar minha teoria. Quem se viu obrigado a fazer meia-volta – quem diria? – e negar sua própria teoria, foi Lovelock. Como o planeta teimava em não aquecer-se, Lovelock confessou em abril de 2012 ter sido alarmista: "cometi um erro". - O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo. Pensávamos que sabíamos nos últimos vinte anos. Isto levou a alguns livros alarmistas – o meu inclusive – porque parecia óbvio, mas isto não aconteceu. O clima está fazendo seus truques usuais. Não há nada realmente acontecendo ainda. Já era para estarmos a meio caminho de um mundo tórrido. O mundo não aqueceu muito desde a virada do milênio. Doze anos é um tempo razoável... a temperatura permaneceu quase constante, enquanto devia ter-se elevado. O dióxido de carbono está aumentando, não há dúvida quanto a isso. Lovelock arrebanhou milhares de malucos no mundo todo que saíram a fazer campanhas para impedir a construção de barragens e hidrelétricas. Isso sem falar nos que condenavam a pecuária brandindo a flatulência das vacas como fator de aquecimento do planeta. Era tudo alarme falso. A retratação de Lovelock ocorreu há dois anos. Mas até hoje não falta jornal que recidive, propositadamente ignorando a retratação do autor da teoria. Outra de minhas descrenças era em torno dos tais de buracos negros, teoria criada pelo físico inglês Stephen Hawking, da Universidade de Cambridge. Verdade que, bem antes de Hawking, Carlos Duccati, do curso de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já me falara sobre o assunto. Figura muito popular em Porto Alegre nos anos 60, Duccati não é terráqueo, mas orionino. Isto é, vem da galáxia de Orion e se encontra em missão na Terra. Hawking tornou pública sua teoria em 1974. Uns cinco anos antes, Duccati já me falava dos buracos negros. Ele os conhecia muito antes do físico inglês. O viajante astral andava em busca de Galactus, ser galático que odiava a vida e se alimentava de planetas. Galactus fora, inicialmente, uma ilação teórica. Com o correr do tempo, sua existência passou a ser um imperativo de ordem conceitual, única explicação plausível para o desaparecimento de civilizações cósmicas multimilenares. Sempre achei que tanto Duccati como Hawking andavam lendo muito histórias em quadrinhos. A idéia de um buraco que devora galáxias – como também a idéia de Deus - é por demais inverossímil para ser aceita pelo intelecto. Não sei o que pensa hoje o orionino. Em entrevista para a revista científica Nature, Hawking acaba de se retratar. "Não existem buracos negros" - disse. A declaração tenta colocar um ponto final em uma discussão que se arrasta há décadas – diz a revista - e que, em última instância, está na base de um dos principais desafios da Física: unificar a Teoria da Relatividade (que explica o mundo macroscópico) com a Mecânica Quântica (que explica o mundo microscópico). A idéia de buraco negro - um objeto cosmológico resultante do colapso de uma estrela, cuja massa gigantesca (que pode ser milhões de vezes maior que o Sol) é condensada em um único ponto, com tamanha força gravitacional que suga tudo o que está a sua volta, até mesmo a luz -- vem do início do século 20. Sem nada entender de Física, sempre vi Hawkings como uma espécie de vigarista talentoso. Explico. Há muito anos, o vi dando uma entrevista em sua cadeira cheia de recursos tecnológicos. Com o único dedo que podia mover, o físico digitava as respostas e um processador transformava o texto em voz. Só havia um problema, para processar uma frase eram necessários longos minutos, muito mais que o tempo exigido para digitar. Pergunta-se: por que a enfermeira que o acompanhava não lia o texto? Seria bem mais prático. Sua postura era de uma arrogância tecnológica semelhante a de Miguel Nicolelis, este senhor que aspira ser o primeiro Nobel brasileiro, trabalhando em um pesado, complexo e caríssimo exoesqueleto para paraplégicos, quando existe um atalho bem mais singelo, prático e barato, a cadeira de rodas. Me lembra conto que li quando jovem, sobre pesquisadores que queriam criar uma laranja e acabaram chegando à conclusão que plantar uma laranjeira era bem mais prático. Pergunta que se impõe: como ficam os institutos e autoridades científicas que publicaram centenas de fotos de algo que não existe, os buracos negros? terça-feira, janeiro 28, 2014
DONA DILMA PROMOVE DITADOR RAÚL CASTRO A PRESIDENTE Se a mentira tem pernas curtas, quando o governo mente, a mentira vira perneta. Dona Dilma e sua comitiva, em vilegiatura entre Genebra e Havana, resolveram fazer uma discreta perna em Lisboa, no sábado passado. A hospedagem em Portugal não estava prevista na agenda oficial divulgada pela assessoria da Presidência da República na última sexta. Só na tarde de domingo, depois de a passagem da presidente por Lisboa ter sido noticiada por veículos de imprensa brasileiros, o Palácio do Planalto resolveu divulgar uma alteração da agenda presidencial, incluindo a estada em Portugal no roteiro. Inicialmente, se pretendeu que a escala havia sido decidida na hora. Como se fosse possível reservar hotéis e restaurante, do dia para a noite, para uma comitiva que ocupou 45 quartos. Pelo jeito, a presidente e seus assessores tomam o público nacional como uma malta de pacóvios que engolem qualquer potoca. Ao dar-se conta da mancada, no final da tarde de domingo, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota em que nega que a escala da comitiva presidencial em Lisboa tenha sido “desnecessária.” De acordo com a nota, a parada era “obrigatória” porque a aeronave oficial, um jato Airbus A319, não tem autonomia para um voo entre Zurique e Havana. “Dependendo de condições climáticas, o Airbus 319 presidencial tem autonomia média em torno de 9 horas e 45 minutos, tempo insuficiente para um voo direto entre Zurique e Havana. A opção por Lisboa foi a mais adequada, já que se trata do aeroporto mais a oeste no continente europeu com possibilidades de escala técnica”, diz. Ah, bom! Então era uma escala técnica necessária? Por que então sigilos de encontros de amantes? Pela versão oficial, o plano era sair da Suíça no sábado, parar nos Estados Unidos para abastecer as duas aeronaves oficiais e chegar a Cuba no domingo. Mas o mau tempo teria obrigado a comitiva a mudar de planos na véspera e desembarcar em Lisboa. Ocorre que, segundo os jornais, desde quinta-feira, o diretor do cerimonial do governo de Portugal, embaixador Almeida Lima, estava escalado para recepcionar Dilma e sua comitiva no fim de semana. Joachim Koerper, chef do restaurante Eleven, onde Dilma jantou com ministros e assessores, recebeu pedidos de reserva na quinta-feira. O engodo durou menos do que o que duram as rosas. Durante a estada, Dilma e sua comitiva ocuparam 30 quartos de dois hotéis da cidade, o Ritz e o Tivoli. (Segundo outros jornais, foram 45 quartos). A presidente se hospedou em uma suíte presidencial do Ritz, ao custo de 8 mil euros por dia, o equivalente a R$ 26,2 mil. Quem pode, pode. Quem não pode, paga a conta da presidente e seu séquito. Dona Dilma e sua comitiva jantaram no restaurante Eleven, um dos raros de Lisboa a merecer estrela no Guide Michelin. Segundo o ministro das Relações Exteriores, cada um dos integrantes da comitiva presidencial que jantaram no Eleven pagou sua própria despesa. "Cada um pagou o seu e a presidenta, o dela, como ocorre em todas as viagens. Foi com cartão pessoal." Se a presidente e sua comitiva tentaram fazer passar a mentira maior, a de que a estada havia sido decidida no sábado, quem vai acreditar que cada membro do séquito um pagou suas contas, inclusive Dona Dilma? Mas a mentira – ou safadeza – maior, não é nem esta, e sim uma outra, de responsabilidade não da assessoria da Presidência, mas sim da imprensa. Uma das características da ditadura de Fidel Castro é que ela não se exerceu sobre Cuba, mas sobre toda a América Latina. Houve anos aqui no Brasil em que um jornalista se suicidava profissionalmente se escrevesse que Castro era ditador. Aconteceu comigo. Anos 80. Eu lecionava em Santa Catarina. Um jornalista gaúcho, que estava organizando o lançamento do Diário Catarinense, convidou-me para escrever uma crônica para o número zero do jornal. Era uma espécie de teste para escolher o cronista. Escrevi duas. Em uma delas, eu dizia que as esquerdas deviam rezar pela saúde de Stroessner e Pinochet. Não que eu tivesse maior apreço por estes senhores. Ocorre que, uma vez mortos, Castro seria o último ditador do continente. A crônica entrou nos computadores e provocou um motim na redação. Que eu não poderia ser o cronista do jornal, de forma alguma. Que até poderia ter razão. Mas que aquilo não podia ser publicado. O editor não ousou bancar meu nome.E assim, lá do distante Caribe, Fidel roubou-me um emprego em Florianópolis. No início dos 90, ainda não se podia chamar Castro de ditador na imprensa brasileira. Eu trabalhava na Folha de São Paulo e tive homéricas discussões com meu editor, quando tinha de escrever presidente Fidel Castro. Ele alegava que Castro fora eleito e se as eleições eram ou não eram livres, a nós não cabia julgar. Oficialmente, era presidente e fim de papo. Mas a queda do muro foi-se espalhando em ondas concêntricas e se tornou impossível não chamá-lo pelo que realmente era. Ditador Fidel Castro, portanto. Com a doença de Fidel e a entronização do delfim, seu mano Raúl, não dava para chamar Raúl de presidente. Ditador nomeando presidente? Não cola. Como Fidel continuava governando na sombra, convencionou-se falar na ditadura dos irmãos Castro. Com a ida de Dona Dilma a Cuba, para visitar o porto que nós, brasileiros, financiamos à revelia, não ficava bem falar no encontro da presidente com o ditador. A imprensa toda, subserviente, passou a falar em presidente Raúl: Estadão: Na abertura da Segunda Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o presidente de Cuba, Raúl Castro, criticou o "crescimento desmedido" dos lucros das empresas multinacionais que, no seu diagnóstico, têm impacto sobre a balança de pagamento dos países da região. UOL: O presidente de Cuba, Raúl Castro, e Dilma Rousseff, inauguraram nesta segunda-feira o primeiro megaporto da ilha caribenha, construído e financiado pelo Brasil, na presença de outros cinco governantes, no marco da cúpula da Celac. Terra: A presidente Dilma Rousseff e o presidente de Cuba, Raúl Castro, inauguraram nesta segunda-feira a primeira fase do porto de Mariel, oeste da ilha, que contou com financiamento brasileiro. Ao referir-se ao encontro de dona Dilma com Fidel, jornal nenhum fala em ex-ditador. Mas singelamente em Fidel Castro. A visita da presidente teve o condão de transformar um ditador em presidente. Só falta agora a Veja falar em presidente Raúl. quarta-feira, janeiro 22, 2014
MÃE DE AFRODESCENDENTINHO HOMOAFETIVO DESMENTE ROSÁRIO Comentei há pouco o caso do tal de Kaique, adolescente que se suicidou no centro de São Paulo e foi logo tido, pela secretária nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, como vítima de “mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia”. Por ser negro e homossexual, logo ganhou a primeira página dos jornais. Fosse branco – e ainda por cima hetero – não mereceria sequer uma linha. Os jornais têm como política não noticiar suicídios, para evitar a emulação. Mas fugiram à regra no caso. Afinal, se era negro e homossexual, só podia ser vítima de homofobia. Isso que esta figura jurídica sequer existe no Código Penal. Imagine quando existir. De Florianópolis, me escreve um leitor: “Aqui na UFSC (tua velha conhecida) um aluno gay suicidou-se no campus essa semana e um tal de núcleo ou sei lá o que de "gênero" está propondo mil e uma medidas por conta da culpa da sociedade pela morte desse rapaz. SC e RS são os estados do Brasil com mais suicídios (causa ainda desconhecida) mas quando se trata dos muitos suicídios de heterossexuais ninguém culpa a sociedade, na maior parte das vezes é depressão, algum outro problema psíquico etc... Agora porque é gay não pode ser deprimido? A culpa é minha e sua?” Claro que é, meu caro. Assim como os ricos são culpados da miséria dos pobres, assim como a Europa é causa da miséria da África, é óbvio que nós brancos heterossexuais somos a causa da violência contra os negros homossexuais. Ou afrodescendentinhos homoafetivos, em linguagem contemporânea. Pelo menos assim entendem as altas instâncias de Brasília. Você lembra, por acaso, da ex-ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir)? Em 2008, flagrada pelo uso indevido dos tais de cartões corporativos – um convite praticamente irresistível à corrupção - dona Matilde já foi exibindo a cor da pele. Em entrevista coletiva, questionada se via preconceito na cobertura da imprensa sobre o uso irregular de seu cartão, ela disse que "o histórico do Brasil não permitiu que fosse reconhecido o peso da escravidão e o peso da não inclusão de negros e negras. Isso vale para a sociedade como um todo". Se Dona Matilde prevaricou, claro que a culpa é da elite branca. Gastou à tripa forra em transporte e restaurantes de luxo. Só em 2007, torrou R$ 171,5 mil em viagens, todas pagas com o cartão corporativo. O que corresponde a R$ 14,3 mil mensais, valor superior ao seu salário, que era de R$ 10,7 mil. Dona Matilde encontrou uma maneira confortabilíssima de mais que duplicar seu salário. O curioso em tudo isto é que este despilfarro – como dizem os espanhóis – parece não ter causado espécie aos catões do Planalto. O que escandalizou foi uma continha de 461 merrecas em um free shop. Argent de poche. Lula não hesitou em endossar a defesa da secretária. Disse que ela fez "um trabalho extraordinário" à frente da pasta e declarou conhecer as "imensas dificuldades, arraigadas por séculos de preconceito, que Vossa Excelência teve de enfrentar". Foram, obviamente, os séculos de preonceito que levaram Dona Matilde a pôr a mão no Erário. Já que estamos relembrando, se alguém não mais lembra, foi esta senhora que, em 2007, declarou considerar natural a discriminação dos negros contra os brancos. Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pelo Império Britânico, ela disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou", afirmou na ocasião. Na época, a frase caiu pesada nos meios de comunicação. Como era proferida por uma negra, ficou por isso mesmo. Negro pode insultar branco à vontade, não é racismo. Branco também pode acusar branco, até de assassinato, mesmo se crime algum tiver ocorrido. Ninguém imagine que Maria do Rosário vai desculpar-se pela calúnia aos brancos e heteros. Em um ambiente em que negros começam a invadir shoppings para depois denunciá-los por racismo, a secretária jogou gasolina na fogueira. Mas tampouco será responsabilizado por isso. Muito menos demitida, como deveria ter sido, em país decente. Mas se um branco dissesse o inverso, seria imediatamente enquadrado por crime de racismo. De minha parte, até que concordo com um trecho da afirmação de Dona Matilde. Não vejo porque negros tenham de gostar de conviver com brancos. Mas também não vejo porque brancos tenham de gostar de conviver com negros. O gostar não pode ser obrigatório. Respeito, sim. Mais do que isso é dogma de papistas. Uma das frases mais abomináveis da História que conheço é o “amai-vos uns aos outros”. Eu amo quem acho amável, ora bolas. E a verdade é que o mundo está cheio de pessoas detestáveis. A mãe do afrodescendentinho homoafetivo reconheceu ontem que o filho se suicidou. A hipótese, segundo ela, foi reforçada pelas investigações da polícia e as mensagens de despedida encontradas no diário apreendido na casa do rapaz de 17 anos. Inicialmente, a mãe em assassinato. Já correm boatos que a família foi comprada para confirmar o suicídio. Os jornais, desenxavidamente, noticiaram a declaração da mãe. Mas nenhum jornal fez um mea culpa por ter noticiado a versão anterior. segunda-feira, janeiro 20, 2014
OS "JOVENS" E OS “EVENTOS” Leio na Folha de São Paulo de hoje: ASSOCIAÇÃO DE LOJISTAS RELATA PREJUÍZOS E MEDO DE CONSUMIDORES COM EVENTOS Alshop quer que o governo se reúna com líderes e negocie o fim dos eventos, que já ocorrem em todo o país. Como os eventos deixaram as fronteiras de São Paulo, a associação teme o aumento dos prejuízos. Os centros de compras têm optado por fechar as portas para impedir a realização dos "rolezinhos". Na avaliação da associação, os eventos também levam insegurança e perturbam os consumidores. Os jovens que promovem os eventos pelas redes sociais dizem que só querem se divertir, dançar, namorar e passear dentro das instalações. "Vamos entrar em contato com a Presidência [da República] para tentar uma reunião. A Dilma [Rousseff], que chamou as lideranças das manifestações do ano passado, tem de chamar as lideranças desses eventos também", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop. Após ação policial em um "rolezinho" no shopping Metrô Itaquera, no começo do mês, com bombas de gás e balas de borracha, movimentos sociais como o dos sem-teto passaram a apoiar e a promoverem também eventos dentro de centros de compra. Em apenas uma reportagem, o jornal repete sete vezes a palavra eventos. A rigor, está correta. Evento é algo que acontece, tanto um comício como um jogo de futebol. A própria Folha organiza eventos em seu teatro no shopping Higienópolis. Mas o que está acontecendo, antes de ser evento, é baderna, invasão de um espaço público. Não sei se o leitor notou, mas quando a polícia sobe o morro em busca de drogas ou traficantes, os jornais não dizem em suas manchetes que a polícia busca drogas ou traficantes. Mas que a polícia invadiu a favela. Como invadiu? Favela – perdão, comunidade – é por acaso território estrangeiro, área diplomática, onde a polícia nacional não pode entrar? A polícia está exercendo seu dever de combater o crime, nada mais que isso. No entanto, pelo jornais, a polícia invade. Diga-se o mesmo das invasões do MST. Não são invasões. São ocupações. Invasão é palavra feia, até parece crime. Ocupação soa melhor. Soa até como um direito. A própria palavra rolezinho é safada. O diminutivo dá a aparência de algo banal, inocente, quase simpático. Ninguém promove uma baderna, principalmente os baderneiros. Dar um rolê foi expressão que significava dar um giro, um passeio. De rolê a rolezinho foi um passo. Mas parece que a palavrinha que já se desgastou. Melhor eventos. E quem são os responsáveis pelos “eventos”? Os “jovens”, é claro. Você não vai chamar um jovem de invasor ou baderneiro. Jovem não faz isso. Invasão e baderna são palavras mais adequadas a adultos. Nem nisto a imprensa nossa é original. Na França, não são os árabes que queimam carros. Mas “les jeunes”. O ataque a shoppings era previsível. É o local ideal para destilar o ressentimento das periferias. Criou-se a imagem de templos de consumo, como se consumo fosse pecado ou crime, ainda mais em um governo que facilita o crédito para que até mesmo os “excluídos” – outro eufemismo dos bons - tenham carro próprio. De cambulhada, ressuscitou uma palavrinha já soterrada, pela história. "Alerta, alerta, alerta à burguesia. Ou deixa o rolezinho ou vai ter ato todo dia". "Ei, burguês, a culpa é de vocês". Nos estertores do século passado, os petistas ainda cantavam: Ai, quem diria? Ai, quem diria? O proletário derrotando a burguesia. A burguesia fede fede fede Mais um pouco e chegamos no século passado. Tampouco a idéia de hostilizar shoppings é nova. Talvez ninguém mais lembre, mas nasceu em São Paulo. O “evento” ocorreu em 2011, quando os “jovens” promoveram uma churrascada frente ao shopping Higienópolis. Higienópolis – ou Idischienópolis, como preferem certas línguas – é um dos bons bairros para se viver em São Paulo. Há quem diga que é o melhor. Não é exatamente meu bairro ideal. Arquitetura vertical me desagrada, achata muito o ser humano. Prefiro aquelas cidades baixas, tipo Paris, Madri ou Lisboa. Mas não me queixo do pedaço. Tem cerca de 35 mil habitantes, é relativamente calmo e oferece pelo menos uma meia centena de restaurantes abordáveis. A quinze minutos a pé de onde moro, há uma praça agradável, a Vilaboim, onde geralmente costumo almoçar. Em apenas uma quadra, tem uns dez ou mais restaurantes com cozinha para todos os paladares: francesa, japonesa, alemã, italiana, árabe, mexicana, brasileira e tem também uma coisa ianque que serve sanduíches tão ao gosto de quem gosta de comer mal. É o que em Paris se chamaria de village, uma espécie de ilha nesta cidade desvairada. Surgiu naqueles dias uma polêmica que assumiu dimensões nacionais. Pretende-se – ou se pretendia – criar uma estação de metrô na avenida Angélica, principal artéria do bairro. Um grupo de higienopolitanos fez um manifesto contra a estação. O governo recuou e a transferiu para mais adiante. Por que não se quer uma estação de metrô no bairro? Porque bocas de metrô atraem camelôs, mendigos e mesmo assaltantes. Há dois metrôs a uns 500 metros de distância de onde moro. Um deles, o Santa Cecília, até poucos anos atrás, era um pátio de milagres, com dezenas de mendigos atirados na calçada, fedendo a urina e fezes. Impediam até mesmo a limpeza da praça. Quando chegavam os carros da Prefeitura, defensores dos tais de direitos humanos é o que não faltava para se jogar na frente das mangueiras de água e impedir a limpeza. Na ocasião, cheguei a protestar junto a Prefeitura. O alcaide era o Maluf. Recebi minha carta de volta, com mais de uma dezena de pareceres e carimbos de diversas repartições e a conclusão final: que qualquer solução era inviável. A Prefeitura acabou encontrando um remendo, entregou o espaço aos camelôs. Que fizeram o que a polícia não conseguiu: expulsaram os molambentos do pedaço. Mas tomaram conta da praça. Quanto ao cidadão que paga honestamente IPTU, este foi expulso do largo. Alguns palhaços planejaram um churrasco de protesto em frente ao shopping Higienópolis, que depois teria sido transferido para a praça Vilaboim. (Sempre em lugares agradáveis, onde quem trabalha e ganha honestamente seu sustento vai espairecer). A baderna ocorreu finalmente frente ao shopping, interditando a avenida Higienópolis. A alegação era que os residentes do bairro não queriam pessoas pobres por perto. No fundo, petistas que queriam desgastar o governo estadual. Eram as viúvas do Kremlin que queriam ressuscitar em meu bairro a finada luta de classes. Prova disto foi a declaração do cacique do partido. Disse Lula na ocasião: “Eu acho um absurdo, porque isso demonstra um preconceito enorme contra o povo que anda de transporte coletivo neste País”. O petista acusou os moradores que protestaram contra o metrô de tentar impedir a circulação de pobres no bairro de alto padrão. “Sinceramente, não posso conceber que uma pessoa que estudou e tem posses seja tão preconceituosa e queira evitar que as pessoas mais humildes possam transitar no bairro onde mora”. Como se algum dia, algum pobre, negro ou mendigo fossem proibidos de circular no bairro. O PT é exímio em criar argumentos inexistentes para melhor atacá-los. Não vai demorar muito para que os “jovens” promovam um “evento” no shopping Higienópolis. Aliás, me espanta que ainda não o tenham feito. Nem só a imprensa, mas também as autoridades têm sido lenientes. Não se pode proibir reuniões ou a livre expressão dos “jovens”. Mas baderna, invasão, pode sim senhor. Por isso os jornais estão procurando – com a Folha à frente – dar novos nomes a coisas antigas. Ainda há pouco, eu parafraseava o Discurso da Desigualdade, de Rousseau: O primeiro homem que deitou na calçada e disse ser isto um direito seu e encontrou pessoas que acreditaram nele foi o fundador da desordem urbana. Daí vieram muitos assaltos e roubos, insegurança social e lixo humano, que poderiam ter sido evitados se alguém tivesse arrancado fora os colchões e papéis que lhes servem de cama e alertado para que ninguém aceitasse este impostor. Não podemos esquecer que as ruas pertencem a todos nós e a cidade também. A batalha foi perdida no primeiro dia em que as autoridades deixaram um único homem morar na rua, como se rua residência fosse. Os “eventos” vão se espalhar pelos grandes centros e com eles o cidadão urbano terá de conviver. sábado, janeiro 18, 2014
CADÁVER DE NEGRO HOMOSSEXUAL VALE OURO PARA AS ESQUERDAS De repente, não mais que de repente, vejo no Globo News manchete falando na morte de um tal de Kaique, como se fosse um personagem que a ninguém é dado desconhecer. Imaginei que fosse uma dessas tantas celebridades que surgem da noite para o dia, e que geralmente desconheço. O nome soava a jogador de futebol, motivo a mais para eu desconhecer. Não era. E sim um jovem gay – pelo menos assim a imprensa insiste em caracterizá-lo – que aparentemente se suicidou jogando-se de um viaduto. O rapaz alimentava inclusive uma espécie de diário, onde escreveu que tomaria "uma atitude, uma decisão" até segunda-feira (13). Deixou também um “adeus às pessoas que amo". Parentes e amigos não acreditam em suicídio e suspeitam que o jovem tenha sido vítima de crime de homofobia. Negro e homossexual, só podia ter sido vítima desse crime que ainda não existe em nosso Código Penal. Contrariando a perícia policial, a secretária nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, do PT, emitiu nota oficial denunciando o crime. “As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia” – diz a nota expedida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Depois da queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, cadáver de negro homossexual vale ouro para as esquerdas. Particularmente nestes dias, em que outra celerada, a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros – não por acaso também do PT - acusa a polícia e os freqüentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos ditos "rolezinhos". Como se negros um dia tivessem sido proibidos de entrar em shoppings. Luta de classes mortas, luta racial posta, costumo afirmar há mais de dez anos. E luta racial é mais consistente. Se as classes se diluem ou se mesclam, o mesmo não acontece com a cor. Negro nasce negro e morre negro, branco nasce branco e morre branco. É um projeto para a eternidade. O lobo jamais come o cordeiro sem antes fazer um discurso. Quem sabia muito bem disto era Swift, que escreveu há três séculos As Viagens de Gulliver. Na viagem a Lilipute, uma autoridade explica ao capitão Lemuel como se divide sua sociedade: — Embora o nosso Estado pareça florescente aos olhos do estrangeiro, o que é certo é que temos dois grandes males a debelar: de dentro, uma poderosa facção; de fora, a invasão de que estamos ameaçados por um formidável inimigo. Com respeito ao primeiro, preciso é que saiba que há setenta luas existem dois partidos contrários neste império, sob os nomes de Tramecksan e Slamecksan, termos derivados de altos e baixos tacões dos seus sapatos, pelos quais se distinguem. Não falta quem seja de opinião, é fato, que dependem da coroa. Pode mesmo verificar que os tacões de Sua Majestade imperial são, pelo menos, mais baixos um drurr do que os de qualquer outra pessoa da corte. (O drurr é aproximadamente a décima quarta parte de uma polegada). O ódio dos dois partidos — continuou Keldersal — estão em tal grau, que não comem, não bebem juntos, nem se falam. Temos quase que a certeza de que os Tramecksans ou tacões altos são em maior número do que nós; a autoridade, porém, está na nossa mão. Contudo, andamos suspeitosos de que sua alteza imperial, o presuntivo herdeiro da coroa, tem alguma inclinação para os tacões altos; pelo menos tivemos ocasião de ver que um dos tacões é mais alto do que outro, o que o faz coxear um pouco. Mas os Tramecksan não constituem a única ameaça ao poder: - Ora, no meio destas dissensões intestinas, estamos ameaçados de uma invasão pelo lado da ilha de Blefuscu, que é outro grande império do universo, quase tão grande e tão poderoso como este, porque, segundo temos ouvido dizer, há outros impérios, reinos e Estados no mundo, habitados por criaturas humanas tão grandes e tão altas como vós; os nossos filósofos, porém, põem suas dúvidas e preferem conjecturar que caístes da lua ou de alguma estrela, porque o que é fato é que meia dúzia de mortais do vosso tamanho consumiria em pouco tempo toda a fruta e todo o gado dos Estados de Sua Majestade imperial. Demais, os nossos historiógrafos, há seis mil luas, não fazem referência a outras regiões senão aos dois grandes impérios de Lilipute e de Blefuscu. - Mas o avô de Sua Majestade imperial, em criança, estando para comer um ovo, teve a infelicidade de cortar um dedo, o que deu motivo a que o imperador, seu pai, lavrasse um decreto, em que ordenava aos seus súditos, sob graves penas, que partissem os ovos pela extremidade mais delgada. Este decreto irritou tanto o povo, que consoante narram os nossos cronistas, houve por essa época seis revoltas, em uma das quais um imperador perdeu a coroa. Estas questiúnculas intestinas foram sempre fomentadas pelos soberanos de Blefuscu e, quando as sublevações foram sufocadas, os culpados refugiaram-se neste império. Pelas estatísticas que se fizeram, onze mil homens, em diversas épocas, preferiram morrer a submeter-se ao decreto de partir os ovos pela extremidade mais delgada. Foram escritas e publicadas centenas de volumosos livros acerca deste assunto; mas os livros que defendiam o modo de partir os ovos pela extremidade mais grossa foram proibidos desde logo, e todo o seu partido foi declarado incapaz de exercer qualquer função pública. Durante a ininterrupta série daqueles motins, os imperadores de Blefuscu fizeram freqüentes recriminações por intermédio dos seus embaixadores, acusando-nos de praticar um crime, violando um preceito fundamental do nosso grande profeta Lustrogg, no quinquagésimo quarto capítulo de Blundecral (que é o seu Corão). - Isto, porém, foi considerado como uma simples interpretação do sentido do texto, cujos termos eram: que todos os fiéis quebrarão os ovos pela extremidade mais cômoda. Na minha opinião, deve deixar-se à consciência de cada um a resolução de qual seja a extremidade mais cômoda, ou pelo menos, é à autoridade do soberano magistrado que compete resolver. Ora, os partidários da extremidade mais grossa, que se encontravam exilados, viram tanta deferência na corte do imperador de Blefuscu e tanto auxílio e apoio no nosso próprio país, que se seguiu uma guerra sanguinolenta entre os dois impérios, guerra que durou trinta e seis luas, com vário êxito para cada uma das partes. Nesta guerra perdemos quarenta naus de linha e um grande número de navios com trinta mil dos nossos mais valentes marinheiros e soldados; dá-se como certo que a perda sofrida pelo nosso inimigo não foi inferior. Seja como for, o que é fato é que os de Blefuscu preparam agora uma temível esquadra, para operar um desembarque nas costas do nosso império. Salto alto ou salto baixo, ponta grossa ou ponta fina, o ser humano sempre encontrará razões para lutar contra alguém. As esquerdas encontraram um imenso filão de ouro na luta racial. Se a luta um dia foi entre burgueses e proletários, hoje decreta-se que é entre brancos e negros. Com uma imprensa cúmplice, nunca foi tão fácil fabricar uma guerra. sexta-feira, janeiro 17, 2014
VIÚVAS SAUDOSAS DO KREMLIN SONHAM RESSUSCITAR FINADA LUTA DE CLASSES A respeito de minha crônica sobre a nova praga urbana, me escreve um leitor: “Que artigo absurdamente preconceituoso, elitista e raso. Por favor, os jovens que estão fazendo o chamado rolezinho não estão protestando contra o consumo,pelo contrário, estão justamente tentando interagir com as melhores lojas, que vendem as marcas que eles cobiçam. Colocar acima de tudo a balança comercial e o sossego das classes mais favorecidas é seguir com a política de ignorar a desigualdade e a injustiça social do nosso país. Todos têm o direito de frequentar um local público, mas é mais fácil deixar os pobres, os feios, escondidos nas favelas. Ok, depois não reclame quando encontrar um deles no sinal. Não existe a conotação de guerra ao consumo, novamente digo, pelo contrário, eles estão indo ao shopping com suas melhores roupas, tentando mostrar poder de consumo, algo que lhes é renegado desde sempre. Ainda bem que o senhor pertence a uma geração em extinção, pois este tipo de pensamento é justamente o que impede que tenhamos uma real critica e evolução em relação aos nossos problemas sociais. Na minha opinião, vergonhosa manifestação a sua, com todo respeito". Ora, nunca foi proibida a entrada de pobres num shopping. Podem entrar, sair, passear e comprar o que quiserem, se tiverem dinheiro para tanto. O que não podem é fazer arruaça, e é o que estão fazendo. A imprensa tem sido cúmplice nos tais de rolezinhos, passando a mão na nuca dos “jovens”. Eles encontraram uma fórmula eficaz para fazer baderna, que não será fácil contornar. “Eles estão indo ao shopping com suas melhores roupas, tentando mostrar poder de consumo, algo que lhes é renegado (sic!) desde sempre”. Acho que você quis dizer negado. Poder de consumo não se nega. Se tem ou não se tem. Tem poder de consumo quem trabalha e ganha pelo menos razoavelmente. Ou o leitor pretende que as roupas de grife caiam dos céus? As justificativas para a baderna estão sendo assumidas pelas esquerdas, e só podem ser assumidas a partir de uma mentira, a de que negros são barrados nos shoppings. Vejo negros entrando e saindo dos shoppings, outros trabalhando nesses, e nunca tive notícias de qualquer proibição à entrada de negros. Só agora, com o surgimento das badernas, negros estão sendo interpelados. Afinal, quem atesta que negros constituem boa parte dos bagunceiros, é nada menos que o prefeito petista, Fernando Haddad. Que escalou o secretário da Igualdade Racial, Netinho de Paula, para dialogar com organizadores dos eventos nos shoppings. Luciana Genro, saudosa dos bons tempos da URSS, ressuscita a luta contra o capitalismo: “Eu detesto shopping. Só vou por causa dos cinemas. Não é por uma questão ideológica, eu simplesmente me sinto mal com aquele apelo ao consumo desenfreado, inclusive dos vendedores que sempre querem te empurrar alguma coisa mais, desesperados para aumentar seu mísero salário com as comissões de venda. E o shopping é o templo do capitalismo, justamente por causa deste apelo. Consumir é vital, pois no capitalismo tudo é mercadoria (inclusive a força de trabalho do ser humano). Mas é somente na troca (compra e venda) que o valor das mercadorias se realiza. Paradas elas não valem nada. Por isso a busca permanente por criar novidades e gerar necessidades. O que temos tem que se tornar obsoleto para que sejamos compelidos a consumir, realizar o valor das mercadorias, e assim fornecer combustível para o capitalismo”. Para a agitprop do PSOL, paradas as mercadorias não valem nada. “Por isso a busca permanente por criar novidades e gerar necessidades”. E gerar empregos, esqueceu a moça. Por supérflua que seja uma necessidade, na outra ponta gera trabalho. Perturbar o comércio dos shoppings é ameaçar o emprego de milhares de pessoas que neles encontram seu sustento. “Mas para que a troca seja possível é preciso a igualdade jurídica. No escravismo, por exemplo, a troca era algo excepcional e a desigualdade entre os indivíduos era parte essencial das relações sociais. Não era preciso igualdade, ao contrário, a sociedade era movida a chibatadas. Neste sentido o capitalismo foi uma evolução tremenda. Com a generalização da troca a igualdade tornou-se um imperativo, pois é necessário que eu reconheça no outro um igual para que possa com ele trocar”. Como se um lojista precisasse reconhecer alguém como igual para vender-lhe algo. Comerciante vende para quem puder pagar, seja rico, seja pobre. Dinheiro não tem cor nem cheiro. Jamais tive notícias de alguém se recusando a vender a um pobre. E consumir é vital, sim senhora! Ou Luciana ainda não recebeu notícias do desmoronamento daqueles regimes onde o consumo praticamente inexistia, devido à falta de dinheiro ou de objetos de consumo? Outra a mentir descaradamente foi a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), que acusa a polícia e os frequentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos "rolezinhos". "As manifestações são pacíficas. Os problemas são derivados da reação de pessoas brancas que frequentam esses lugares e se assustam com a presença dos jovens." Para ela, a liminar que autorizou os shoppings a barrar clientes "consagra a segregação racial" e dá respaldo ao que a PM "faz cotidianamente": associar negros ao crime. Como se a liminar - que aliás restará inútil – interditasse a entrada de negros em qualquer shopping. Acusasse alguém os negros que ora invadem shoppings, seria imediatamente processado como racista. Dona Luiza acusa tranquila – e impunemente - os brancos. Diga-se de passagem, não é de hoje que o PT manifesta uma postura racista. Em outubro de 2011, Marta Suplicy, ministra da Cultura, lançou editais para beneficiar apenas produtores e criadores negros. "É para negros serem prestigiados na criação, e não apenas na temática. É para premiar o criador negro, seja como ator, seja como diretor ou como dançarino", disse então a ministra à Folha de São Paulo. A decisão foi tomada em reunião em Brasília com esta mesma senhora, a ministra Luiza Bairros. Estranha igualdade racial que excluí brancos e mulatos da participação nos editais e agora defende as bagunças de negros nos shoppings. Não me confunda o leitor com racistas como Haddad ou a Bairros. Quem está definindo as invasões como sendo de negros, são estes dois próceres do PT. Pelo que vejo na imprensa, brancos também participam das invasões. Nada de espantar, afinal o racismo foi oficializado dia 26 de abril daquele ano, seis meses antes dos editais do Minc, quando a suprema corte judiciária do país o legalizou, por unanimidade, no país. Naquela data, o STF revogou, com a tranqüilidade dos justos, o art. 5º da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. A partir de então, tornou-se legal a prática perversa instituída por várias universidades, de considerar que negros valem mais do que um branco na hora do vestibular. Parafraseando Pessoa: constituições são papéis pintados com tinta. Que podem ser rasgados ao sabor das ideologias. Alvíssaras! Ainda há esperanças. Os velhos – e jovens – comunossauros continuam sonhando com aquela sociedade onde não há consumo. Nem empregos. quarta-feira, janeiro 15, 2014
ASTRÓLOGO MORRE PELA BOCA Aiatolavo perdeu qualquer senso de coerência que um dia pudesse ter tido. Escreveu hoje em sua página no FaceBook, na qual estou bloqueado. Recebi suas sandices através de um leitor. “Janer Cristaldo mente como um Ghiraldelli de saias fofocando num salão de beleza. Ele diz que foi censurado no Mídia Sem Máscara só pela inofensiva heresia de escrever que Jesus nascera em Nazaré, não em Belém. Pobre vítima inocente do meu autoritarismo inflexível, não é? Pois não foi nada disso. Ele foi EXPULSO do quadro de redatores daquele jornal eletrônico a pedido de organizações judaicas inconformadas com o conteúdo inconformadas com o conteúdo ostensivamente anti-semita dos seus artigos. Durante meses eu havia tolerado aqueles abusos, limitando-me a reclamar por escrito na própria página do MSM, mas, quando o jornal, graças aos artigos dele, foi parar numa lista de publicações denunciadas como anti-semitas por um site de Israel, tive de botar o sujeito para fora. Ele diz que saiu por vontade própria. Sim, deu uma violenta bundada no meu pé". Não vou contestar o Dostoievski campineiro. Prefiro que ele mesmo se conteste. Em janeiro de 2008, escrevia o astrólogo: O sr. Janer Cristaldo jamais foi censurado no Mídia Sem Máscara. Foi expulso, a pedido de leitores judeus, por ser mais anti-semita do que poderia justificar mediante a exibição de um mero atestado de insanidade mental. Escrevia o astrólogo em 06 janeiro 2006: Louvando a franqueza e o vigor da minha resposta ao artigo anti-semita de Janer Cristaldo, nossos amigos do De Olho na Mídia protestam que ela não foi suficiente; que, não removido o artigo da página nem excluído o articulista do nosso quadro de colaboradores, "a nódoa ficou". Têm razão: ficou mesmo. Não tentei apagá-la; apenas admitir sua existência e chamá-la pelo nome. O Mídia Sem Máscara não é puro e inatacável como a Folha, o Globo e tantos outros monumentos de santidade jornalística. Enquanto essas publicações jamais pecam, jamais têm culpas morais, no máximo deslizes técnicos cometidos com intenções insuperavelmente éticas e elevadas, nós aqui assumimos a plena responsabilidade moral do que publicamos, e não nos sentimos isentos de culpa pelo que Janer Cristaldo escreveu. Ao contrário, assumimos essa culpa - não por concordarmos com uma só palavra do que ele disse, mas porque, quando um homem não sente vergonha do mal que comete, não resta alternativa aos seus colegas e amigos senão senti-la em lugar dele. Por isso não procurei limpar a nódoa, mas mostrá-la aos olhos de todos. Achei que isso seria suficiente para alertar o colunista e demovê-lo da sua loucura. Não fiz isso para puni-lo, mas para avisá-lo de que entrou por um caminho errado e deve sair dele o mais que depressa. Por isso mesmo não o excluí do quadro de nossos articulistas. Expulsá-lo seria carimbá-lo para sempre com um rótulo que, a meu ver, ele só merece a título provisório. Não posso exterminar a reputação de um colaborador quando espero ganhá-lo de volta para as boas causas. No fundo, não acredito na seriedade do anti-cristianismo nem do anti-judaísmo de Janer Cristaldo. E ainda há um monte de pamonhas que conferem credibilidade a este Paracelso contemporâneo. terça-feira, janeiro 14, 2014
TORQUEMADA TROPICAL PROMOVEU 1ª FOGUEIRA DIGITAL NO BRASIL Prezado Sr. Janer, o tal jornalista Sebastião Nery não é aquele que defendia com unhas e dentes o então Presidente Collor ao qual vivia grudado? Sócrates era filósofo? Em que faculdade se formou? Será que eu perdi o decreto que obriga os filósofos a terem diploma específico? Não vamos confundir "professor de filosofia" (comentador da obra alheia) com filósofo. Aliás, quem seria um genuíno filósofo brasileiro? (não vale citar o Millôr). Tenho lido com certa frequência o que escreve o Olavo. Não encontrei até agora racismo algum em suas opiniões. Quanto à verdadeira filosofia é melhor seguir a máxima de um "grande filósofo brasileiro" formado, como ele mesmo dizia, na Universidade do Meyer. É de Millôr Fernandes a frase: "Livre pensar é só pensar. Grande abraço e seu blog é muito bom. Visito-o todos os dias. Antonio Carlos Mascaro, -------- Meu caro Mascaro: hoje até o Lula é amiguinho do Collor. Sarney também, a quem Collor chamava de marajá. Por que condenar logo o Nery? Ele pelo menos nunca traiu o amigo. De fato, Sócrates não se formou, como tampouco Platão ou Aristóteles, como também praticamente todos os filósofos de lá para cá. Mas está tramitando na Câmara um Projeto de Lei do deputado Giovani Cherini (PDT-RS), que regulamenta o exercício da profissão de filósofo em todo o País. Em 2012 estava tramitando em regime conclusivo e tinhas boas chances de ser aprovado pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público, e de Constituição e Justiça. Se aprovado, iria imediatamente ao Senado – sem que o plenário se manifestasse. Se foi, não sei. Não ouvi falar mais sobre o assunto. Se passar, tanto Platão como Aristóteles, Kant como Descartes, não poderiam reivindicar a condição de filósofo neste país incrível. Filósofo, só com carteirinha de filósofo. Mas o melhor vem agora. Lê-se no projeto: “De acordo com a proposta, órgãos públicos da administração direta e indireta ou entidades privadas, quando encarregados de projetos socioeconômicos em nível global, regional ou setorial, deverão manter filósofos legalmente habilitados em seu quadro de pessoal ou em regime de contrato para prestação de serviços”. O texto estabelece que só poderão exercer a profissão os bacharéis em Filosofia. Ou seja, se um Estado quer construir uma ponte, um aeroporto, uma ferrovia, uma estrada, que empregue antes de mais nada um filósofo legalmente habilitado para dar palpites sobre a obra. Sempre entendi como filósofo o homem que desenvolve um sistema filosófico. Que traz alguma resposta às questões que as épocas impõem. Se não trouxer resposta alguma, é mero solipsista. Filósofos, para mim, são Platão, Aristóteles, Hume, Bergson, Descartes, Kant, Hegel. Nietzsche, eu o situo mais como poeta. Marx nunca foi filósofo, como pretendem os marxistas. Era jornalista e economista. Hoje, filósofo é qualquer professorzinho de filosofia. A filosofia estilhaçou-se em mil pedaços e hoje duvido que alguém saiba definir, com precisão, em que consiste a filosofia. Pelo que vejo, filósofo é qualquer acadêmico que fala de maneira obscura sobre o homem e o mundo. O Brasil está cheio deles, todo santo dia surge nos jornais alguém se intitulando filósofo. Em meus dias de Florianópolis, li uma ementa do curso de Filosofia da UFSC: História da Filosofia Catarinense. Sou um desinformado. Em nem sabia que existiam filósofos em Santa Catarina, quando na verdade já existia, pujante e fecunda, uma história da filosofia catarinense. A UFSC, se alguém não a conhece, é aquela universidade que conferiu um título de Dr. Honoris Causa a Fidel Ruz Castro. Dr. Fidel, portanto. Mas Nery levanta outro lebre, está sim pertinente: 2. Em que Universidade Olavo estudou Filosofia, para ensinar filosofia em Universidade? 3. O Ministério da Educação permite ser professor sem diploma? Isso tem nome: falsidade ideológica. E está no Código Penal – conclui o jornalista. Ser filósofo não exige diploma. Ser professor de Filosofia são outros quinhentos. Seja como for, a valiosa contribuição do “Dostoievski de Campinas” de nada valeu para impedir o descredenciamento do curso. Aiatolavo segue percurso semelhante ao de outro vigarista, Darcy Ribeiro, que foi reitor da UnB sem ter curso superior reconhecido pelo MEC. Mas parece ter-se desviado de sua vocação inicial. Leio na Wikipedia, em verbete que não foi contestado: “Colaborou no primeiro curso de extensão universitária em astrologia na PUC de São Paulo, para os formandos em psicologia em 1979. Aproximadamente na mesma época, realizava consultas astrológicas e lecionou na Escola Júpiter, escola de astrologia em São Paulo que chegou a receber 140 alunos”. Pelo que se depreende do verbete, Aiatolavo garantia o leite das criancinhas fazendo mapa astral, no melhor estilo de Walter Mercado. Pelo que sei, teve quatro livros de astrologia publicados. Mas o grande feito do astrólogo não foi sua obra sobre a influência dos astros em nossas vidas. E sim a primeira fogueira digital no País. Convidado para participar da equipe do MSM, aceitei o convite com entusiasmo. Sempre procurei desmascarar a imprensa nossa. Escrevi por alguns anos, quando um de meus artigos, dos mais inofensivos, foi censurado. Minha heresia, parece, foi escrever que Cristo nascera em Nazaré, não em Belém, questão que não constitui dogma e foi definitivamente demonstrada em La Vie de Jesus, por Renan. Respondi ao editor que não aceitava censura, ainda mais quando não recebia nada pelo que escrevia. Não fui expulso, como Aiatolavo andou propagando. Sai por decisão minha. Meus artigos foram todos deletados, como também os dos demais excluídos do MSM, entre eles Rodrigo Constantino, Anselmo Heidrich e um advogado carioca, articulista lúcido, cujo nome me escapa. Qual um Torquemada tropical, Aiatolavo destruiu a memória do jornal que dirigia e falseou sua história. Deve ser reflexo de seus dias de comunista, quando incensava Stalin, que adorava modificar a história a seu talante. Abraço de volta. MEC FECHA UNIVERSIDADE ONDE LECIONAVA AIATOLAVO, POR BAIXA QUALIDADE DE ENSINO MEC fecha Universidade Gama Filho e UniverCidade, no Rio Ministério lançará edital convocando outras instituições para receber alunos. Avaliação constatou baixa qualidade, problema financeiro e oferta precária. Felipe Néri Do G1, em Brasília O Ministério da Educação descredenciou nesta segunda-feira (13) a Universidade Gama Filho e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), ambos no Rio de Janeiro, por decisão do colegiado Superior da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior. As duas instituições já estavam com o vestibular suspenso pelo ministério e, agora, não podem ser reabertas. A Galileo Educacional, que controla as faculdades, informou que vai recorrer da decisão. A assessoria de imprensa do Ministério da Educação (MEC) informou, por meio de nota, que os motivos para o descredenciamento foram "a baixa qualidade acadêmica, o grave comprometimento da situação econômico-financeira da mantenedora [das instituições] e a falta de um plano viável para superar o problema, além da crescente precarização da oferta da educação superior". --------------- O "filósofo" Olavo de Carvalho, por Sebastião Nery O veterano jornalista Sebastião Nery, da Tribuna da Imprensa, comenta algumas das bobagens que o pretenso "filósofo" Olavo de Carvalho escreve em sua coluna em O Globo. Sebastião Nery - 09 de junho de 2003: Filósofo Pé-rapado Na "Globo", com a desenvolta arrogância de sempre, o misterioso e audacioso Olavo de Carvalho desanca o presidente: "De seus discursos em português nada (sic) sobra, exceto os erros de gramática. É um profeta (sic) intelectual com gostos aristocráticos. Há muitos estilos de um pé-rapado (sic) subir na vida". Antes de exibir seu congênito e hidrófobo racismo, Olavo de Carvalho devia primeiro explicar três coisas bem simples, bem pé-rapadas, que seus alunos na "UniverCidade" vivem tentando saber e jamais conseguiram: 1. Com base em que diploma Olavo se assina "filósofo"? 2. Em que Universidade Olavo estudou Filosofia, para ensinar filosofia em Universidade? 3. O Ministério da Educação permite ser professor sem diploma? Isso tem nome: falsidade ideológica. E está no Código Penal http://www.tribuna.inf.br/anteriores/2003/junho/09/coluna.asp?coluna=nery segunda-feira, janeiro 13, 2014
CAVACOS DO OFÍCIO Um amigo me pergunta sobre o que seria necessário para ser um bom jornalista. Em verdade, nunca pensei no assunto e minha resposta é mais ou menos aleatória. Enumero então alguns quesitos que me parecem fundamentais, sem pretender que sejam definitivos. O jornalista deve ter uma qualidade que deveria ser inerente a todo ser humano. Jornalista que vende sua capacitação para ideologias ou partidos não passa de um venal. Conheço não poucos colegas que, em épocas de eleição, aproveitam para faturar alto. Prestam assessorias a partidos. Quem presta assessoria a um partido, seja lá qual partido for, é pessoa que vendeu sua independência e só escreve o que patrão manda. Ser chapa branca não é crime. Mas nada tem de ético. O jornalista chapa-branca – aquele que vende seu talento para o poder ou para partidos – sempre empunha o famoso argumento do leite das criancinhas. Não convence. A meu ver, uma vez que optou pela prostituição, deveria ser sumariamente excluído, e para sempre, das redações de jornal. Existe aliás uma tese de que a um jornalista não deveria ser permitido votar. É de se pensar no assunto. Ora, direis, jornalista sempre tem patrão. De fato. Mas quando o dono de um jornal exige que seus redatores escrevam em franca oposição aos fatos, esse jornal não vai longe. Pode manter-se em ditaduras, onde os jornais são financiados pelo Estado. Em regime democrático, esse jornal morre. Neste sentido, a primeira qualidade de um jornalista deveria ser a mesma de todo cidadão decente: honestidade. Dito isto, vamos a algumas qualificações específicas. Neste nosso mundinho globalizado, jornalista que não dominar pelo menos três línguas além da própria, nem deveria candidatar-se ao ofício. No caso do Brasil, considero o conhecimento do espanhol obrigatório. Do inglês, imprescindível. E do francês, muito oportuno. Conhecessem os jornalistas um mínimo de francês, não escreveriam bobagens com “um affaire” ou “um fondue”. Nem traduziriam – como invariavelmente traduzem – l’Arche de la Défense como o Arco de la Défense. Cada língua que dominamos é uma janela aberta para o mundo. Quanto mais janelas, melhor se vê. Jornalista que hoje conhecer o russo, árabe ou chinês, está muito bem qualificado para entender política internacional. O Brasil jamais produziu sinólogos ou kremlinólogos. Os grandes jornais americanos e europeus sempre têm um profissional que tenha acesso a esses universos. O Brasil, que se nutre das agências de notícia, em geral não exige tais conhecimentos. Passa então a comer milho na mão das agências. O Monde, por exemplo, quando manda um correspondente ao Irã, envia alguém que saiba falar farsi. Os jornais brasileiros se contentam com alguém que arranhe o inglês. Não posso deixar de lembrar uma correspondente internacional da Folha de São Paulo, que mandou um despacho de Zagreb, noticiando que a marinha croata estava bombardeando Dubrovnik. Ela via emissões da TV iugoslava e nada entendia do que ouvia. Ora, a Croácia jamais teve Marinha, pelo menos nos dias de Iugoslávia, e jamais um militar croata bombardearia a mais linda cidade croata. É bom que o jornalista viaje. Quanto mais países conhecer, mais apto estará para o ofício. Todo jornalista deveria saber que o Irã não é país árabe e que mulheres árabes não usam chador. No entanto, lemos todos os dias que as árabes portam chador. Viajar também nos ajuda a conhecer nosso próprio país. O homem não conhece apenas vendo. Conhece comparando. Gosto muito de repetir uma frase de Chesterton: “não se conhece uma catedral permanecendo dentro dela”. Se alguém que jamais saiu do Brasil me diz conhecer o Brasil, não acredito. O país em que nascemos, só o conhecemos mesmo olhando de longe. Vivemos dentro de uma cultura cristã. Para entendê-la, deve o jornalista ter sólidos conhecimentos do cristianismo. Não deposito muita confiança em jornalista que não saiba percorrer com segurança a Bíblia. Nem entendo como pessoa culta quem não a tenha lido. (Não estou falando, é claro, da leitura fanática dos crentes). Queiramos ou não, neste livro estão as bases da cultura ocidental, seus mitos e crendices, seus dogmas e ideais, seus horrores e suas virtudes. Conhecessem os jornalistas, já não digo a Bíblia, mas pelo menos os Evangelhos, não repetiriam essa solene bobagem que se repete – invariavelmente – em todos os natais e em todos os jornais do mundo, a crença absurda de que Cristo nasceu em Belém. Certa vez, escrevi que os católicos, ao beber o vinho consagrado na Eucaristia, não estão bebendo um símbolo do sangue de Cristo, mas o próprio sangue. E ao ingerir a obréia de pão ázimo, não estão ingerindo um símbolo da carne de Cristo, mas a própria carne. Fui visto como demente. Ocorre que assim são os dogmas. Jornalista que não os conhece não entende nem mesmo uma missa, este ofício celebrado e repetido todos os dias, desde séculos. Diga-se de passagem, raríssimos são os católicos que entendem uma missa. Estamos saindo de um século que foi dominado, de ponta a ponta, pelo marxismo. Não digo que seja necessário a um jornalista ter lido O Capital. Mas se não tiver boas noções da doutrina de Marx e – principalmente – se não conhecer a história do comunismo no século XX, não terá nem idéia do mundo em que vive. Aliás, se não conhecer a história do comunismo, não conhecerá nem mesmo o século XX. As redações estão cheias de jornalistas que são comunistas sem terem a mínima idéia de que o são. A universidade e a imprensa brasileira estão profundamente impregnadas de marxismo. Se o profissional não souber separar ideologia de informação, estará fazendo inocentemente o jogo da pior ditadura do século passado. Quando um maoísta histórico como Tarso Genro afirma que direito adquirido é um arcaísmo e a imprensa não reage, isto significa que os jornalistas engolem qualquer besteira que um ministro qualquer afirma. É bom que o jornalista tenha razoáveis noções de Direito, principalmente de Direito Constitucional. Nestes dias em que o Congresso rasga a Constituição como quem rasga papel higiênico e os jornalistas aceitam a ruptura da Constituição com a mesma indiferença com que aceitam a ruptura de papel higiênico, não se pode apostar um vintém na confiabilidade da imprensa. O jornalista há de ter coragem. Coragem é uma virtude sem a qual todas as demais perdem o sentido. Me dói o estômago quando vejo repórteres ouvindo mentiras óbvias e respostas incoerentes de autoridades, sem ao menos adverti-las que ultrapassaram todos os limites da boa lógica. Quando um presidente ou ministro diz uma besteira, que código de ética impõe ao jornalista o silêncio? Nenhum. Se o jornalista não pede explicações sobre uma impropriedade, é porque teme o poder. Se teme o poder, melhor faria que escolhesse outra profissão, para o bem geral da nação. Um estudante de jornalismo pode achar que estou exigindo qualificações sobre-humanas de um comunicador. Nada disso. Estas qualificações necessárias a um jornalista em nada diferem das que julgo inerentes a um homem razoavelmente esclarecido. São matérias que um curso universitário não ensina. Por estas razões, em todos os países do Ocidente, é jornalista quem retira a maior parte de seus proventos do jornalismo. Ponto final. Só neste nosso país incrível, graças ao corporativismo de uma guilda corrompida, só é jornalista quem faz curso de jornalismo. Para concluir, o jornalista tem de escrever com correção, clareza e precisão. Isto tampouco se aprende na escola. Escrever bem faz parte dos atributos de quem pensa com correção. Quem escreve mal não pensa bem. E mais uma vez o jornalista se confunde com o homem esclarecido. Last but not least, boas noções de grego e latim. domingo, janeiro 12, 2014
A NOVA PRAGA URBANA De uma boa amiga, leio no Facebook: “Sou do tempo em que não havia shoping em Floripa, continuo sem saber do que se trata...Ouço e leio sobre os Rolezinhos não entendi o propósito. Realmente sou da antigas, onde dar uma banda ou um roler , era ir até o Parque da Luz curtir o por do sol. Sou do tempo em que não havia shoping em Floripa, continuo sem saber do que se trata...Ouço e leio sobre os Rolezinhos não entendi o propósito. Realmente sou da antigas, onde dar uma banda ou um roler, era ir até o Parque da Luz curtir o por do sol”. Bom, sou mais antigo. Sou de 47. E só fui entrar em um shopping 53 anos depois. É que antes os shoppings eram longe dos centros. Dependiam em geral de automóvel. Em 2000 foi instalado um shopping a uma quadra de onde moro, e seria preconceito nele não entrar. No mínimo, falta de curiosidade. Aos poucos, fui me habituando. O shopping é um dos mais solenes de São Paulo. Tem o básico para a sobrevivência: bares, cervejaria e farmácia. E ar condicionado. Como vai de uma rua a outra, nos dias em que “tá sol” – como dizem os paulistanos – é um refrigério para atravessar a quadra. Tem uma das mais fartas e simpáticas livrarias da cidade, com cerca de100 mil títulos, a Livraria da Vila. É ainda um território muito freqüentado por mulheres cheias de charme. Não há como não entrar. Há os que compram. Como também os que não podem comprar e se comprazem só em olhar. É o que chamo de lambedores de vitrine, que abundam nos fins de semana e viram praga no Natal. Enfim, sonhar também é bom. Em suma: pelo menos aqui, é ambiente muito sofisticado, com balconistas elegantes e sempre afáveis. É o meu shopping, o único em que entrei na vida. Há quem se espante quando falo em meu shopping. Ora, se dizemos meu bar, minha rua, por que não meu shopping? Acresce ainda que, ao lado da farmácia – cheguei àquela idade em que os farmacêuticos se tornam íntimos – há uma desgraça para o bolso, uma loja Fast. Desde o tempo que moro aqui, é nela que atualizo meus computadores. Nestes 23 anos, já terão sido uns cinco. Sou da época dos PCs esteatopígicos. Meu primeiro computador, comprei em 90, quando vivia em Curitiba. Tinha – juro – 40Mb de memória, e me custou quatro mil dólares. Isso que foi “importado” do Paraguai, onde os computadores eram bem mais baratos do que aqui. Ainda nesta semana, fui tomado de amores por uma máquina que, a meu ver, está se aproximando do computador ideal, arquetípico, aquele que ainda paira no mundo platônico das idéias, antes de o demiurgo decidir criar as coisas a partir das mesmas. Para Platão, no mundo existem diversos tipos de cães – grandes, pequenos, claros, escuros, etc — mas apesar das diferenças, todos eles são cães, ou seja, todos têm em si a essência do que é um cão. Mas não são o cão, aquele que só existe no mundo perfeito das idéias, ao lado da Verdade, do Bem, do Humano. É um Lenovo, Yoga 11, doublê de tablet e computador. Sem drive para DVDs, este achado tão recente e que já está se tornando obsoleto. Teclado confortável, pesa 1,3 k. Para minha surpresa, descobri que era chinês. A Lenovo está em terceiro lugar no ranking de vendas, ameaçando a Apple e a Samsung. Admirável China nova. Ontem comunista e atrasada, hoje competindo firme com o mundo capitalista. Fosse consumista, teria aderido imediatamente ao Yoga. Mas estou bem servido com dois HPs, um de mesa e um notebook. Fica pra daqui a um ano ou mais, quando os chineses talvez tenham chegado ao computador que paira no eidos, o mundo das idéias. Por enquanto, vou continuar navegando no mundo da caverna e das sombras. Mas falava de shoppings. Minha amiga diz não entender o propósito da nova moda, os ditos rolês. Eu entendo. São rescaldos da gloriosa Revolução de Junho de 2013, aquela que Veja comparava à queda do muro de Berlim e a invasão da Áustria pelos húngaros em 89. “Esqueçamos os vândalos e os anarquistas, gente que não estava lutando por um governo melhor, mas por governo nenhum. A revolução verdadeira foi a que começou a ser feita pelos brasileiros que foram às ruas protestar por estar sendo mal governados” – escrevia a revista, para bem salientar que de revolução se trata. Qualquer dia o redator vira editor, como aconteceu com Eurípides Alcântara, quando caiu no conto do boimate. Os desocupados – que são milhares no país – descobriram que é fácil perturbar a vida das cidades e de quem trabalha e, de inhapa, ganhar a simpatia de jornalistas que têm o coração à esquerda. Invadir um shopping é atacar o capital e o consumo, esse mesmo consumo que, por supérfluo que seja, espalha dinheiro por vasos capilares, que chegam até o mais humilde dos cidadãos. O sonho não morreu. Cuba e Coréia do Norte ainda desfraldam a bandeira do mundo sem desigualdades, ao menos para ingênuos verem. Os rolezinhos – que estão sendo comparados a inofensivas e mesmo criativas flash mobs – vão continuar, com a complacência das autoridades ante os “jovens”. Alguns shoppings já conseguiram liminar na Justiça paulista que autoriza a proibição de tais arruaças, convocadas através da internet, quer em sua parte interna ou externa, sob pena de incorrer cada manifestante identificado na multa de R$ 10 mil por dia. Pago para ver. Enquanto os “jovens” não forem em cana, a vida das cidades continuará sendo perturbada. Os shoppings, locais públicos, aos quais tem acesso uma cllentela minimamente endinheirada, são o alvo ideal. Declarando guerra ao consumo, os “jovens” – como a imprensa gosta de dizer – aproveitam o azo para saquear lojas. As capitais do país – ninguém duvide que o movimento vai se espalhar – terão de conviver pelos próximos anos com esta nova praga urbana. sábado, janeiro 11, 2014
IMIGRANTE NÃO SE ENGANA Ano passado, me escrevia um leitor: “às vezes dá vontade de ir embora deste país. Afinal, Janer, se você pôde viver em Paris, Madri e Estocolmo, por que decidiu voltar para esta terra de apedeutas, comunistas, fanáticos, et caterva?" Expus minhas razões. Saí para não voltar. Não fui expulso do Brasil. Saí e voltei pela porta da frente. O que me irritava era aquela imagem de país do carnaval e do futebol. Em Ponche Verde, narro, em tom de ficção, minha resposta ao policial que me ofereceu asilo na Suécia: - Ah! Então o senhor quer asilo político? - Oh não, jag ska tacka nej, como pode muito bem ver Herr Konstapel, nesse formulário peço apenas uma permissão de estada, agradeço a generosa oferta, que aliás é pertinente. Meu país vive uma ditadura, sei disso, os dias não são os melhores para quem pensa e escreve o que pensa. Mas antes de fugir de ditaduras, Herr Konstapel, estou fugindo do país todo, fujo exatamente daquilo que para vossos patrícios é sinônimo de charme e exotismo, fujo do carnaval e do futebol, do samba e da miséria, da indigência mental e da corrupção, quero tirar umas férias do subdesenvolvimento, viver em um território onde o homem sofre os problemas da condição humana e não os da condição animal. Muito antes de os militares tomarem o poder, min Herr, eu já não suportava os civis. - Veja o Sr., meu povo morre de fome e todos sorriem felizes e desdentados quando um time de futebol bate outro, se bem que a coisa não é assim tão tétrica como a pinto, veja bem, lá também existe luxo, requinte, hotéis que talvez fizessem inveja aos de vosso rico país, mansões de sonho isoladas da miséria que as envolve por arames farpados, guardas e cães, há cronistas sociais que acendem charutos com notas de cem dólares e homens catando no lixo restos de podridão para comer. E não fujo só do Brasil, Sr. Policial Superdesenvolvido, fujo também de minha condição de jornalista, pertenço a uma classe que se pretende de esquerda e entorpece multidões com doses cavalares de ... futebol. - Em minha cidade - não sei se o chateio com estes dados - há questão de uma década um sociólogo calculou em trinta mil o número de prostitutas, só não sei se havia repertoriado em suas estatísticas meus colegas de ofício. Penso até mesmo que a profissional de calçada tem mais dignidade, ela aluga por instantes o corpo, mantendo o espírito livre, enquanto nós vendemos corpo, alma e opiniões, o mais livre dos jornalistas não é livre coisa alguma, o jornal pertence ao chefe, nossos pensamentos também, os mais nobres ele os joga na cesta de lixo, publica os lugares comuns humanísticos na página dos editoriais e posa de liberal. Sim, sei que isto não vem caso neste pedido de permissão de estada, bosätningstillstand como dizem os senhores, é que para expor minhas razões tenho de dar-lhe uma idéia do Brasil, pretensão aliás inviável, já que nem eu entendo aquele país. Acabei voltando, apesar do carnaval, copa e miséria. Em primeiro lugar, havia uma mulher que me chamava poderosamente no Brasil. Ela valia mais, para mim, que a Europa toda. Há quem troque uma pessoa querida por um país. Eu não troco. Em segundo, os suecos me queriam para trabalho de imigrante, o que meu orgulho me impedia. Não lavo pratos nem em minha casa, não iria lavar pratos para o Primeiro Mundo. Disputei uma vaga como jornalista na Sveriges Radio. Tinha dois cursos universitários, dois anos de trabalho em jornal. A vaga é minha, pensei. Não era. Eu não era de esquerda. Se não conseguia trabalhar em profissão decente, melhor voltar. Considero que ganhar pouco no Brasil em um trabalho compatível com as próprias capacidades é bem melhor - e mais digno - do que fazer tarefa de imigrante no estrangeiro, mesmo ganhando mais. Há quem prefira ganhar mais. Não é meu caso. Em terceiro, em país estrangeiro, você será sempre um cidadão de segunda categoria, ainda que viva melhor que no Brasil. Sempre que criticar o país – e críticas, você sempre as terá – poderá ouvir de bate-pronto: por que então você não volta para seu país? Havia uma outra razão, e das mais estranhas. Era como se eu necessitasse, naquele país habitado por deusas, de um pouco de feiura e imperfeição. Saudades de uma negra gorda carregando um balaio na cabeça. Nem sempre são inteligíveis os ímpetos que acometem um ser humano. O Estadão de hoje afirma em manchete: MORAR NO BRASIL É SONHO INTERNACIONAL Segundo uma série de pesquisas feitas em 65 nações pelo WIN - coletivo dos principais institutos de pesquisa do mundo -, o Brasil é um dos 12 países mais cobiçados para se morar. O crescimento econômico na última década, aliado à boa imagem cultural do País no exterior, fizeram com que o Brasil fosse citado como destino dos sonhos por moradores de dois em cada três países onde foi feito o estudo. Desde há muito afirmo que imigrante não se engana. Mesmo em meus dias de jovem, eram centenas de milhares, se não milhões, os estrangeiros que escolhiam o Brasil para morar. Ou seja, havia países em que era pior viver. São Pauo é boa mostra disto. Foi a cidade escolhida por grandes contingentes de japoneses, chineses, coreanos e, em menos escala, árabes e judeus. Ninguém sai do barro para cair no lodaçal. Continua o Estadão: “se esse desejo virasse realidade, o Brasil receberia em torno de 78 milhões de imigrantes nesse cenário hipotético. Mas, em um mundo sem fronteiras, a população do País diminuiria - 94 milhões de brasileiros se mudariam para outras nações, se pudessem. Ainda assim, 53% dos brasileiros não desejam emigrar, porcentual acima da media mundial”. Quem mais tem vontade de vir para o Brasil são os argentinos: 6% se mudariam para cá se tivessem a chance. O Brasil também está entre os cinco mais cobiçados por peruanos e mexicanos. Mas não são apenas latinos que gostariam de viver aqui. Os portugueses acham o Brasil mais atrativo do que a Alemanha, os italianos o preferem à França, os australianos o consideram o segundo país mais desejável, os libaneses o colocam em posição tão alta quanto a Suíça e até no longínquo Azerbaijão o Brasil aparece entre os quatro destinos mais sonhados, na frente até dos Estados Unidos. Que na Argentina da Kirchner haja quem prefira o Brasil é perfeitamente inteligível. Nuestros vecinos estão vivendo hoje uma situação mais dura que o Brasil dos anos 70. Peruanos e mexicanos terão suas razões, assim como bolivianos e paraguaios há muito descobriram o Brasil. Em uma Europa em crise, é normal que europeus procurem um lugar ao sol fora do continente. Aqui é viável viver, costumo afirmar. Apesar do governo, das falcatruas e da violência. O Brasil é um arquipélago coalhado de ilhas prósperas. Basta encontrar a ilha que mais lhe convém. Não estamos mais nos anos 60, em que até refil de caneta-tinteiro eu tinha de buscar na Europa. Favor não confundir minha afirmação com loas ao governo. O governo mais atrapalha que administra. Mais subtrai que acrescenta. O que torna o Brasil viável são as pessoas que dão duro no dia-a-dia, desde o taxista ao padeiro, desde o industrial ao empresário. Você vai ao supermercado e tem papel higiênico. Você vai à padaria e tem pães em profusão. Você levanta o braço e pára um táxi. Você pode achar pouco. Mas isto não existia nos paraísos socialistas e nem existe em seus últimos remanescentes. Em suma, não é uma Brastemp. Mas dá pra viver. Os migrantes que o digam. |
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