¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, junho 30, 2006
 
DEUS TE OIÇA!


O ex-jogador Pelé admitiu que está com um mau pressentimento para as quartas-de-final da Copa 2006. Segundo ele, a França deverá vencer neste sábado o confronto contra a Seleção Brasileira, em Frankfurt.

quinta-feira, junho 29, 2006
 
RICOS E GENEROSOS VERSUS POBRES E MALANDROS


Neste Brasil em que ser milionário é pecado mortal, as grandes fortunas do mundo são vistas como algo demoníaco. Imagine então ser bilionário. Ocorre que nem todos os bilionários são mesquinhos como os milionários Maluf ou Pitta, que correm a proteger seus milhões em bancos cúmplices no Exterior. Bill Gates, por exemplo, é visto entre nós como um reles vilão, criador de um soft proprietário, que seria imposto ditatorialmente a todos os usuários da Internet. Os jornais brasileiros são avaros em notícias sobre a fundação Bill e Melinda Gates, dirigida pelo próprio e sua mulher. Que acaba de receber um aporte de 24 bilhões de euro do também bilionário Warren Buffet. A notícia, encontrei-a em um editorial do jornal espanhol El País. A fundação Gates dispõe agora de 48 bilhões de euro para ações sociais no mundo todo. A cifra equivale, mais ou menos, ao que os Estados Unidos destinam anualmente aos países subdesenvolvidos. Entre os principais propósitos da fundação estão a redução da pobreza, a luta contra as doenças, particularmente a Aids e a poliomielite, o apoio à planificação familiar no Terceiro Mundo, a defesa do aborto e a oposição à proliferação do armamento nuclear. Claro que alguns desses itens não agradarão à Igreja Católica, que prefere ver milhões de indianos, africanos e latino-americanos chafurdando na miséria mas prolíficos, aidéticos mas sem preservativos. Segundo o jornal sueco Aftonbladet, já há padres chamando Warren Buffet de "Dr. Mengele filantrópico".

Ao contrário do que se poderia esperar destes magnatas do capitalismo, eles se opõem à isenção tributária sobre as heranças e são partidários da meritocracia. As estimativas, diz o jornal espanhol, situam em mais de 250 bilhões de dólares o que cidadãos e instituições privadas doam anualmente nos Estados Unidos sob o conceito genérico de filantropia e obras de caridade.

Aqui no Brasil, um presidente da República, inculto mas malandro, usa dinheiro público para reeleger-se. O programa social do governo extorque do contribuinte 62 reais por mês, em média, para dar esmolas a 21% dos domicílios brasileiros. A três meses das eleições, o Supremo Apedeuta, aumentou no último mês em 1,8 milhão o número de famílias beneficiárias do Bolsa-Família, que melhor seria chamado de Bolsa-Reeleição. Até 2005, o programa contemplava 8,7 milhões de pedintes. Este ano, será estendido à pior praga urbana que empesta as grandes cidades. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, até 15 mil moradores de rua receberão o benefício. Não será de espantar que, nos próximos anos, vejamos multidões optando por morar na rua para receber o Bolsa-Reeleição. "Fazer política para pobre é uma coisa muito prazerosa", disse Lula. Particularmente quando esta política é feita com os sofridos ganhos do contribuinte.

Esta demagogia caudilhesca trará danos letais ao futuro do país. Daqui para frente, qualquer político que tenha em seus planos acabar com esta esmola nociva e humilhante, jamais será eleito. A esmola estatal veio para ficar.

terça-feira, junho 27, 2006
 
SOBRE AS TRÊS VIAS



Sílvia Alves - Adorei a sua resposta à questão porque não leciona. É, há muito tempo saiu algo semelhante no jornal da Associação Médica Brasileira. O rapaz fez curso no exterior, em alguma especialidade médica e não conseguia clinicar aqui. Digo, fez a pós, não a graduação que foi entre os brasileiros mesmos que o invejaram depois. Seu depoimento, diferente do seu, era cheio de perplexidade e dor. É que medicina, em geral , não permite alternativas, e ele só podia praticar o que aprendera.

Bom, dai perguntaria porque você ainda fica num país como este em que o presidente tem tanta cultura ... de peão e pra todo lado é esta mesma mediocridade e visão curtíssima. Mas há muito tempo respondeu-me. O Cláudio de Moura Castro parece ser muito interessante, mas apenas uma única vez tive oportunidade de ouvi-lo falar sobre educação. Um abraço.

Gustavo Tagliassuchi - Sou um leitor de suas colunas no Baguete, sempre que possível, e também me arrisco a escrever no mesmo veículo, mas nem de perto com a magia que você emana dos seus textos, que são fantásticos na minha opinião.

Mas escrevo este para dizer que esse último texto publicado, reflete bem a realidade da nossa universidade. Eu a pau e corda me formei Tecnólogo em Processamento de Dados (porque não agüentava mais o curso de Informática) e no próximo mês finalizo minha primeira pós-graduação em Desenvolvimento de Software para Web. Nem sei porque ao certo.

Mas o certo é que já é difícil encontrar profissionais de gabarito e com conteúdo como você, e ainda, quem avalia isso se utilizam meios duvidosos para se avaliar a capacidade alheia (seria uma limitação pessoal de cada um?). Confesso que fiquei desestimulado de um dia tentar transmitir o meu limitado conhecimento técnico em alguma universidade, pois pelo visto, que chance terei?

Se você e o Cláudio de Moura Castro tiveram esse tipo de dificuldade, o que sobra para os demais? Será que chegou a hora da verdade? O conhecimento nada vale? É mais bonito ser semi-analfabeto e desconhecer os caminhos que levam à universidade? Eta país esse... Desculpe o desabafo, mas vou tomar um comprimido para prevenir a resfeber. Grande abraço.

segunda-feira, junho 26, 2006
 
AS TRÊS VIAS DE ACESSO



Após ler minha crônica sobre os cavacos do ofício do jornalismo, uma amiga me pergunta porque não estou lecionando numa universidade. Coincidentemente, a resposta está no artigo de Cláudio de Moura Castro, na Veja da semana passada:

"Na UFRJ, um aluno brilhante de física foi mandado para o MIT antes de completar sua graduação. Lá chegando, foi guindado diretamente ao doutorado. Com seu reluzente Ph.D., ele voltou ao Brasil. Mas sua candidatura a professor foi recusada pela UFRJ, pois ele não tinha diploma de graduação. Luiz Laboriou foi um eminente botânico brasileiro, com Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e membro da Academia Brasileira de Ciências. Mas não pôde ensinar na USP, pois não tinha graduação".

Estas peripécias, eu as conheço de perto. Começo pelo início. Nunca me ocorreu lecionar na universidade. Eu voltara da Suécia, cronicava em Porto Alegre e fui tomado pela resfeber, doença nórdica que contraí na Escandinávia. Traduzindo: febre de viagens. Li nos jornais que estavam abertas inscrições para bolsas na França e me ocorreu passar alguns anos em Paris. A condição era desenvolver uma tese? Tudo bem. Paris vale bem uma tese. Tese em que área? Busquei algo que me agradasse. Na época, me fascinava a literatura de Ernesto Sábato. Vamos então a Paris estudar Sábato.

Mas eu não tinha o curso de Letras. O cônsul francês, ao me encontrar na rua, perguntou-me se eu não podia postular algo em outra área. Em Direito havia mais oferta de bolsas. Poder, podia. Eu cursara Direito. Mas do Direito só queria distância. Mantive minha postulação em Letras. Para minha surpresa, recebi a bolsa. A França me aceitava, em função de meu currículo, para um mestrado em Letras, curso que eu jamais havia feito. Nenhuma universidade brasileira teria essa abertura. Aliás, os componentes brasileiros da comissão franco-brasileira que examinava as candidaturas, tentaram barrar a minha. Fui salvo pelos franceses.

Fui, vi e fiz. Em função de meu currículo, aceito para mestrado, fui guindado diretamente ao doutorado. Tive o mesmo reconhecimento que o aluno do MIT. Acabei defendendo tese em Letras Francesas e Comparadas. Menção: Très bien. Não me movera nenhuma pretensão acadêmica, apenas o desejo de curtir Paris, suas ruelas, vinhos, queijos e mulheres. A tese não passou de diletantismo. De Paris, eu escrevia diariamente uma crônica para a Folha da Manhã, de Porto Alegre. Salário mais bolsa me propiciaram belos dias na França. Foi quando minha empresa faliu. Conversando com colegas, fiquei sabendo que um doutorado servia para lecionar. Voltei e enviei meu currículo para três universidades. Sei lá que loucura me havia acometido na época: um dos currículos enviei para o curso de Letras da Universidade de Brasília.

Fui a Brasília acompanhar meu currículo. Procurei o chefe do Departamento de Letras. Ele me cobriu de elogios, o que só ativou meu sistema de alarme. Que minha tese era brilhante, que meu currículo era excelente, que era um jovem doutor com um futuro pela frente. Etc. Mas... eu tinha apenas os cursos de Direito e Filosofia, não tinha o de Letras. Me sugeria enviar meu currículo ao Departamento de Filosofia, já que a tese tinha alguns componentes filosóficos.

Ingênuo, fui até o Departamento de Filosofia. O coordenador me recebeu muito bem, analisou minha tese, cobriu-a de elogios. Mas... eu não tinha o Doutorado em Filosofia. Apenas o curso. Considerando o grande número de artigos publicados em jornal, sugeria que eu fosse ao Departamento de Comunicações. Besta atroz, fui até lá. O coordenador considerou que meu currículo como jornalista era excelente. Mas... eu não tinha o Curso de Jornalismo.

Na Universidade Federal de Santa Catarina abriu um concurso para professor de Francês. Já que eu era Doutor em Letras Francesas, me pareceu que a ocasião era aquela. Duas vagas, dois candidatos. Fui solenemente reprovado. Uma das alegações foi que eu falava francês como um parisiense, e a universidade não precisava disso. A outra, e decisiva, era a de que eu tinha doutorado em Letras Francesas, mas não tinha curso de Letras.

Já estava desistindo de procurar emprego na área, quando fui convidado para lecionar Literatura Brasileira, na mesma UFSC que me recusara como professor de francês. Convidado como professor visitante, o que dispensa concurso. Mas o contrato é por prazo determinado, dois anos. O curso precisava de doutores para orientar teses e eu estava ali por perto, doutor fresquinho, recém-titulado e livre de laços com outra universidade. Fui contratado.

Acabei lecionando quatro anos, na graduação e pós-graduação. Findo meu contrato, foi aberto um concurso para professor de Literatura Brasileira. Me inscrevi imediatamente. Uma vaga, um candidato. Me pareceram favas contadas. Ledo engano. Eu não tinha o curso de Letras. Fui de novo solenemente reprovado.

Na mesma época, abriu um concurso na mesma universidade para professor de espanhol. Ora, eu já havia traduzido doze obras dos melhores autores da América Latina e Espanha (Borges, Sábato, Bioy Casares, Robert Arlt, José Donoso, Camilo José Cela). Vou tentar, pensei. Tentei. Na banca, não havia um só professor que tivesse doutorado. Pelo que me consta, jamais haviam traduzido nem mesmo bula de remédio. Mais ainda: não tinham uma linha sequer publicada. Novamente reprovado. Minhas traduções poderiam ser brilhantes. Mas eu jamais havia feito um curso de espanhol.

Melhor voltar ao jornalismo. Foi o que fiz. Anos mais tarde, já em São Paulo, por duas vezes fui convidado para participar de uma banca na Universidade Federal de São Carlos, pelo professor Deonísio da Silva, então chefe de Departamento do Curso de Letras. Uma das bancas era para escolher uma professora de Literatura Espanhola, outra uma professora de Literatura Brasileira. Deonísio sugeriu-me participar, como candidato, de um futuro concurso. Impossível, eu não tinha o curso de Letras. Quanto a julgar a candidatura de um professor de Letras, isto me era plenamente permissível.

Por estas e por outras - e as outras são também importantes, mas agora não interessam - não estou lecionando. Diz a lenda que na universidade da Basiléia havia um dístico no pórtico, indicando as três vias de acesso à universidade: per bucam, per anum, per vaginam. Lenda ou não, o dístico é emblemático. A universidade brasileira, particularmente, é visceralmente endogâmica. Professores se acasalam com professoras e geram professorinhos e para estes sempre se encontra um jeito de integrá-los a universidade. A maior parte dos concursos são farsas com cartas marcadas. Pelo menos na área humanística. As exceções ocorrem na área tecnológica, onde muitas vezes a guilda não tem um membro com capacitação mínima para proteger. Contou-me uma professora da Universidade de Brasília: "eu tive muita sorte, os dez pontos da prova oral coincidiam com os dez capítulos de minha tese". O marido dela era um dos componentes da banca. A ingênua atroz - ou talvez cínica - falava de coincidência.

Na universidade brasileira, nem um Cervantes seria aceito como professor de Letras, afinal só teria em seu currículo o ofício de soldado e coletor de impostos. Um Platão seria barrado no magistério de Filosofia e um Albert Camus jamais teria acesso a um curso de Jornalismo. No fundo, a universidade ainda vive no tempo das guildas medievais, que cercavam as profissões como quem cerca um couto de caça privado. Na Espanha e na França, desde há muito se discute publicamente a endogamia universitária. Aqui, nem um pio sobre o assunto. E ainda há quem se queixe quando os melhores cérebros nacionais buscam reconhecimento no Exterior.

sexta-feira, junho 23, 2006
 
COMUNISTAS FORTALECEM GUILDAS



A guilda da mandioca está prestes a empurrar farinha de mandioca goela abaixo do país todo. Na próxima semana, será votada por uma comissão da Câmara dos Deputados uma proposta que torna obrigatória a mistura de derivados de mandioca à farinha de trigo. O projeto foi apresentado, obviamente, por um deputado comunista, o camarada Aldo Rebelo. Em nome dos interesses do produtores de mandioca, o pão que comemos todos os dias não mais será de trigo puro. O trigo tem 10% a 12% de proteína. A mandioca, de 1% a 2%. Se o país já engoliu a adição de álcool à gasolina, por que não iria engolir agora farinha de mandioca?

Em Porto Alegre, outra máfia marcou pontos. Desta vez, foi a guilda dos plásticos, esses senhores que, em nome da cultura, enfeiam largos e praças com suas esculturas horrendas e sem sentido. Os novos edifícios que forem construídos a partir de agora na capital gaúcha terão de exibir obras de arte como pinturas e esculturas na fachada ou no pátio. As obras devem ser originais, de artistas cadastrados na guilda, digo, na Prefeitura. Para entrar em vigor, a mumunha - já aprovada - depende de sanção do prefeito comunista José Fogaça. Como não poderia deixar de ser, o projeto de extorsão, digo, de lei, é de autoria do vereador comunista Raul Carrion.

Deve ter ocorrido uma falha qualquer na rede de informações no Brasil. Há gente que ainda não sabe que o muro de Berlim caiu há 17 anos.

quarta-feira, junho 21, 2006
 
FATOR 2


Os leitores de best-sellers, estes cidadãos que sempre buscam comprar os livros anunciados como mais vendidos nas revistas e jornais, estão sendo duplamente esbulhados. O primeiro esbulho é o fato de comprarem obras feitas de encomenda para o mercado. O segundo é que os mais vendidos não são assim tão vendidos. A diretora editorial Luciana Villas-Boas traz à tona, em entrevista à Folha de São Paulo, este segredo de polichinelo:

"Quando comecei a trabalhar na Record, em 1995, via que apareciam na imprensa números de venda de nossos livros muito diferentes daqueles que eu conhecia internamente. Fui indagar, e me disseram: 'Você não sabe do fator 2? É usado por toda a indústria editorial'. E isso significava duplicar todos os números para efeito de divulgação. Naquela época, particularmente, os números da indústria editorial eram melancólicos", conta Villas-Boas. "Pedi que isso não fosse mais feito, o que aconteceu".

Ou seja, os paulos coelhos e verissimos da vida certamente vendem muito, mas não tanto quanto dizem. Outros editores entrevistados pelo jornal dizem, pudorosamente, jamais ter ouvido falar - ou apenas ter ouvido falar - da malandragem. É curioso que ainda não tenha ocorrido aos auditores fiscais da Receita Federal confrontar declarações de renda de escritores com as tiragens declaradas. Tampouco ocorreu aos jornalistas questionar essas edições fantásticas e seus autores maravilhosos.

segunda-feira, junho 19, 2006
 
CAVACOS DO OFÍCIO


Um amigo me pergunta sobre o que seria necessário para ser um bom jornalista. Em verdade, nunca pensei no assunto e minha resposta é mais ou menos aleatória. Enumero então alguns quesitos que me parecem fundamentais, sem pretender que sejam definitivos.

O jornalista deve ter uma qualidade que deveria ser inerente a todo ser humano. Jornalista que vende sua capacitação para ideologias ou partidos não passa de um venal. Conheço não poucos colegas que, em épocas de eleição, aproveitam para faturar alto. Prestam assessorias a partidos. Quem presta assessoria a um partido, seja lá qual partido for, é pessoa que vendeu sua independência e só escreve o que patrão manda. Ser chapa-branca não é crime. Mas nada tem de ético. O jornalista chapa-branca - aquele que vende seu talento para o poder ou para partidos - sempre empunha o famoso argumento do leite das criancinhas. Não convence. A meu ver, uma vez que optou pela prostituição, deveria ser sumariamente excluído, e para sempre, das redações de jornal. Existe aliás uma tese de que a um jornalista não deveria ser permitido votar. É de se pensar no assunto.

Ora, direis, jornalista sempre tem patrão. De fato. Mas quando o dono de um jornal exige que seus redatores escrevam em franca oposição aos fatos, esse jornal não vai longe. Pode manter-se em ditaduras, onde os jornais são financiados pelo Estado. Em regime democrático, esse jornal morre. Neste sentido, a primeira qualidade de um jornalista deveria ser a mesma de todo cidadão decente: honestidade.

Dito isto, vamos a algumas qualificações específicas. Neste nosso mundinho globalizado, jornalista que não dominar pelo menos três línguas além da própria, nem deveria candidatar-se ao ofício. No caso do Brasil, considero o conhecimento do espanhol obrigatório. Do inglês, imprescindível. E do francês, muito oportuno. Conhecessem os jornalistas um mínimo de francês, não escreveriam bobagens com "um affaire" ou "um fondue". Nem traduziriam - como invariavelmente traduzem - l'Arche de la Défense como o Arco de la Défense. Cada língua que dominamos é uma janela aberta para o mundo. Quanto mais janelas, melhor se vê.

Jornalista que hoje conhecer o russo, árabe ou chinês, está muito bem qualificado para entender política internacional. O Brasil jamais produziu sinólogos ou kremlinólogos. Os grandes jornais americanos e europeus sempre têm um profissional que tenha acesso a esses universos. O Brasil, que se nutre das agências de notícia, em geral não exige tais conhecimentos. Passa então a comer milho na mão das agências. O Monde, por exemplo, quando manda um correspondente ao Irã, envia alguém que saiba falar farsi. Os jornais brasileiros se contentam com alguém que arranhe o inglês. Não posso deixar de lembrar uma correspondente internacional da Folha de São Paulo, que mandou um despacho de Zagreb, noticiando que a marinha croata estava bombardeando Dubrovnik. Ela via emissões da TV iugoslava e nada entendia do que ouvia. Ora, a Croácia jamais teve Marinha, pelo menos nos dias de Iugoslávia, e jamais um militar croata bombardearia a mais linda cidade croata.

É bom que o jornalista viaje. Quanto mais países conhecer, mais apto estará para o ofício. Todo jornalista deveria saber que o Irã não é país árabe e que mulheres árabes não usam chador. No entanto, lemos todos os dias que as árabes portam chador. Viajar também nos ajuda a conhecer nosso próprio país. O homem não conhece apenas vendo. Conhece comparando. Gosto muito de repetir uma frase de Chesterton: "não se conhece uma catedral permanecendo dentro dela". Se alguém que jamais saiu do Brasil me diz conhecer o Brasil, não acredito. O país em que nascemos, só o conhecemos mesmo olhando de longe.

Vivemos dentro de uma cultura cristã. Para entendê-la, deve o jornalista ter sólidos conhecimentos do cristianismo. Não deposito muita confiança em jornalista que não saiba percorrer com segurança a Bíblia. Nem entendo como pessoa culta quem não a tenha lido. (Não estou falando, é claro, da leitura fanática dos crentes). Queiramos ou não, neste livro estão as bases da cultura ocidental, seus mitos e crendices, seus dogmas e ideais, seus horrores e suas virtudes. Conhecessem os jornalistas, já não digo a Bíblia, mas pelo menos os Evangelhos, não repetiriam essa solene bobagem que se repete em todos os natais e em todos os jornais do mundo, a crença absurda de que Cristo nasceu em Belém.

Certa vez, escrevi que os católicos, ao beber o vinho consagrado na Eucaristia, não estão bebendo um símbolo do sangue de Cristo, mas o próprio sangue. E ao ingerir a obreia de pão ázimo, não estão ingerindo um símbolo da carne de Cristo, mas a própria carne. Fui visto como demente. Ocorre que assim são os dogmas. Jornalista que não os conhece não entende nem mesmo uma missa, este ofício celebrado e repetido todos os dias, desde séculos. Diga-se de passagem, raríssimos são os católicos que entendem uma missa.

Estamos saindo de um século que foi dominado, de ponta a ponta, pelo marxismo. Não digo que seja necessário a um jornalista ter lido O Capital. Mas se não tiver boas noções da doutrina de Marx e - principalmente - se não conhecer a história do comunismo no século XX, não terá nem idéia do mundo em que vive. Aliás, se não conhecer a história do comunismo, não conhecerá nem mesmo o século XX. As redações estão cheias de jornalistas que são comunistas sem terem a mínima idéia de que o são. A universidade e a imprensa brasileira estão profundamente impregnadas de marxismo. Se o profissional não souber separar ideologia de informação, estará fazendo inocentemente o jogo da pior ditadura do século passado. Quando um maoísta histórico como Tarso Genro afirma que direito adquirido é um arcaísmo e a imprensa não reage, isto significa que os jornalistas engolem qualquer besteira que um ministro qualquer afirma.

É bom que o jornalista tenha razoáveis noções de Direito, principalmente de Direito Constitucional. Nestes dias em que o Congresso rasga a Constituição como quem rasga papel higiênico e os jornalistas aceitam a ruptura da Constituição com a mesma indiferença com que aceitam a ruptura de papel higiênico, não se pode apostar um vintém na confiabilidade da imprensa.

O jornalista há de ter coragem. Coragem é uma virtude sem a qual todas as demais perdem o sentido. Me dói o estômago quando vejo repórteres ouvindo mentiras óbvias e respostas incoerentes de autoridades, sem ao menos adverti-las que ultrapassaram todos os limites da boa lógica. Quando um presidente ou ministro diz uma besteira, que código de ética impõe ao jornalista o silêncio? Nenhum. Se o jornalista não pede explicações sobre uma impropriedade, é porque teme o poder. Se teme o poder, melhor faria que escolhesse outra profissão, para o bem geral da nação.

Um estudante de jornalismo pode achar que estou exigindo qualificações sobre-humanas de um comunicador. Nada disso. Estas qualificações necessárias a um jornalista em nada diferem das que julgo inerentes a um homem razoavelmente esclarecido. São matérias que um curso universitário não ensina. Por estas razões, em todos os países do Ocidente, é jornalista quem retira a maior parte de seus proventos do jornalismo. Ponto final. Só neste nosso país incrível, graças ao corporativismo de uma guilda corrompida, só é jornalista quem faz curso de jornalismo.

Para concluir, o jornalista tem de escrever com correção, clareza e precisão. Isto tampouco se aprende na escola. Escrever bem faz parte dos atributos de quem pensa com correção. Quem escreve mal não pensa bem. E mais uma vez o jornalista se confunde com o homem esclarecido.

Last but not least, boas noções de grego e latim não fazem mal a ninguém. As novas gerações talvez não saibam, mas latim e grego, no Brasil, já fizeram parte do currículo do secundário.

quinta-feira, junho 15, 2006
 
CONTRA A MULTIDÃO


"Rejubilante e aprovativa como estava a multidão, regorgitou em uma tempestade de aplausos e gritos. Mas notei que, aqui e ali, entre os aplausos, alguns mantinham, insubmissos, as mãos imóveis. Mil pessoas batem palmas e duas ficam imóveis - e então estas duas são mais importantes que as mil".

Karin Boye, Kalocaína

terça-feira, junho 13, 2006
 
NÃO ESTAMOS SÓS


Quando me perguntava se não seria o único soldado de passo certo - ou errado, conforme a ótica - nestes dias de histeria futebolística, tive a grata surpresa de receber, em menos de 24 horas, dezenas de mails de apoio à minha última crônica. Não resisto à tentação de publicar alguns deles. Bom saber que não estou só. Saibam também os leitores que tampouco estão sós.

Luiz Falcão - Caro Janer, eu não tenho por hábito escrever para quem não conheço, apesar de acompanhar seus artigos no Mídia Sem Máscara, quase sempre polêmicos, mas muito bem escritos. Entretanto eu não poderia deixar de fazer um elogio ao teu último artigo, "Saudades do Obdulio", que eu achei sensacional, não desmerecendo todos os demais artigos, obviamente. A tua abordagem é, no mínimo, muito apropriada, e é muito bom saber que nem todo mundo perde tempo com o tal do futebol. Eu gostaria de ter escrito tal texto. Parabéns pelo teu trabalho.
PS - Quero ainda parabenizá-lo, antes tarde do que nunca, pelo termo que você
usa quando se refere ao cangaceiro mór, Apedeuta...


Érika Bento Gonçalves - Olá, meu nome é Érika Bento Gonçalves, sou jornalista e, lendo o site Mídia sem Máscara, encontrei seu artigo sobre o brasileiro e o sentimento "verde e amarelo" em torno da Copa do Mundo.
Compartilho da mesma síndrome de repulsa durante este período de falso patriotismo. Adorei o seu artigo e junto-me às suas maravilhosas palavras em meu artigo publicado semana passada no meu blog. Sem pedir-lhe autorização, inclui um link para o seu blog. Espero que não tenha problemas. Caso haja, por favor, comunique-me! Obrigada, abraços.
Visite meu blog - http://politicapoliticagem.blogspot.com


Newton Miralha - Genial, como sempre!


Fernando Antoniazzi - Êta, Janer !!!
Pelo menos alguém, além de minha mulher, concorda comigo. Fui batizado palmeirense, mas não sou praticante há muito tempo, desde que Olegário Tolói de Olveira era meio-campista do time. Sabe, já cheguei a ter esperanças de que o país fosse algo mais do que um time de futebol. Hoje não sei se a esperança vale a pena.

Carlos A. Dequique - Até que em fim, vejo que tem mais gente que pensa com eu!!!!!

Julio Nelson Scussel - Salve a lucidez, salve os cérebros que ainda não estão embriagados com tamanha ignorância que é a Copa do Mundo. Creio que uma medida razoável seria a de colocar a eleição presidencial a cada cinco anos para descolar essa vergonhosa e nojenta junção entre os malabarismos ronaldianos e as trapaças da Brasília.
Como isso é impossível, prolongar-se ia um mandato por cinco anos (um ano de presente) e depois os ciclos famosos de 4 + 4 para que, com um ano de defasagem as eleições não fossem poluídas com piruetas, tipo as do Vampeta, na rampa do palácio do planalto.

Andrea Pires Waldman - Bom dia!
Enfim encontrei um artigo que expressa um pensamento com o qual tenho afinidade, por isso venho lhe parabenizar. O seu artigo chegou em minhas mãos depois de um desabafo que fiz a um colega de trabalho ref ao ABSURDO FERIADO que será feito hoje: ponto facultativo, o comércio vai fechar em Porto Alegre/RS. E o senhor nem adivinharia o motivo disso. Não se trata de uma decisão importante tomada numa CPI, não se trata de um protesto devido ao fato de pessoas como meu marido estarem esperando há mais de um ano atendimento pelo SUS, trata-se do futebol. Sim! Fique pasmo! Devido ao futebol a cidade de Porto Alegre vai, praticamente, parar! Não tenho nada contra o esporte, apenas não concordo que escolas, industrias, comércio, rede pública não funcionem devido ao futebol. Já acho um desrespeito que num país dito laico as festividades cristãs virem feriados, enquanto as outras religiões que se danem se tem ou não uma atividade religiosa em determinado dia. Se é laico, é laico! Mas isso é outro assunto, não pretendo me estender.

Como forma de protesto permanecerei no trabalho hoje de tarde, e como forma de protesto convidei alguns colegas da filosofia para fazermos alguns estudos de texto para a faculdade. Ah, sou estudante de filosofia, na PUCRS.
PARABÉNS PELO SEU ARTIGO, ENCAMINHEI - COM OS DEVIDOS CRÉDITOS - AO MEU DIRETOR E COLEGAS DA EMPRESA, E ENCAMINHEI TAMBÉM PARA OS COLEGAS DE FILOSOFIA NA PUCRS.

Alessandro Treguer - Caro Janer,
Boa tarde! Um colega, também jornalista me indicou seu texto e gostaria de parabenizá-lo! Com sua experiência e seu português impecável, o senhor disse tudo o que eu sempre esperei ouvir. Pensei que eu era apenas um sonhador e nunca encontraria alguém que ficasse espantado com tanto falso nacionalismo brasileiro, principalmente em época de Copa do Mundo. Obrigado pela oportunidade de ler algo sensato em um momento tão escroto de nossa sociedade!


Francisco Pinheiro - Prezado Janer, sabia que um dia minha religião estaria bem no alvo de sua pena ferina. É o futebol. Reconheço todos os pecados que você citou e deles me penitencio. De todos, menos de um. Que as loucuras que fazemos são exclusividade do Brasil, lá isso não concordo não. Há, por exemplo, algo que se compare àquele maluco alemão que deu uma facada na Mônica Seles só por ela ser melhor que a Stefi Graf? E estamos falando do empolgante esporte do tênis. E falamos também da branca e heráldica Alemanha, cujos torcedores no estádio se divertem gritando, em coro, impropérios ao juiz e adversário. E o que dizer de outros esportes por demais empolgantes, que é o beisebol e o futebol americano, que chegam a parar literalmente o maior país do mundo em alguns eventos. Realmente, os civilizados europeus são adversários muito leais e educados. Falta apenas aprenderem a não jogar casca de banana no campo para lembrar a condição meio símia dos negros que fazem gols no seu clube. E o Reickjaard (?), da sofisticada e ultracivilizada Holanda, que nem se pejou de dar, ao vivo, uma sonora cusparada no rosto do Koeller (?).
E, pra finalizar, esta do Salgado da emergente e européia Espanha, que parece concordar contigo: os brasileiros fazem de tudo para ganhar uma copa. Ele, que quebrou em duas a perna de um jogador brasileiro pouco antes de uma copa, quis certamente dizer que, por ter um espírito superior e culto, vai à copa elogiar as jogadas dos adversários. Me engana que eu gosto. Um abraço.

Isac D. Santos - Boa tarde,Janer Cristaldo.
Gostaria de agradecer em nome da nação brasileira, dos brasileiros ainda que
tardia, sobre o artigo que você escreveu. Olhe meu amigo, eu penso da mesma
forma que você, porém não tenho o dom de transcrever... Aqui no meu trabalho,
somos 25 pessoas, eu e meu amigo Adilmar que estamos fazendo um curso de Pós-Graduação em Gestão de Assuntos Públicos PUC-PR (IPD), apenas nós dois, ou
melhor pensando bem, só eu não me deixei levar por essa lavagem cerebral que
estão fazendo com a nação. Nada contra o futebol, aliás, não tenho o que
falar, você transcreveu meus sentimentos. Apesar de ser filho de pescador, e
hoje com 44 anos ser servidor Público Municipal - Curitiba, sou uma pessoa
humilde, porém contra toda essa merda que nos empurram goela abaixo.
Agradeço a Deus imensamente, ter a oportunidade de ainda saber que existem
pessoas como você.

Dartagnan Zanela - Janer, suas palavras em seu último artigo no MSM refletem o sentimento deste seu leitor que toda Copa tem que explicar que mesmo não gostando de fut... continuaria a ser Br. Abraço e até.


Eduardo Scherer - Prezado Janer,
Hoje, depois que li seu artigo sobre o Brasil e o futebol, descobri que não sou o único a detestar esta mania brasileira de ter o coração e a mente neste esporte estúpido, esquecendo simplesmente do resto que está acontecendo. Realmente, o futebol é uma praga que carregamos, mesmo quando não queremos.
Também sou gaúcho, moro há pouco no Rio de Janeiro, onde trabalho na área de engenharia petroquímica. E como é difícil, especialmente neste estado, achar pessoas que tenham a cabeça voltada para coisas que realmente importam e poderiam fazer a diferença para o País.
A maioria da população, inculta e anestesiada, está simplesmente voltada, durante as próximas semanas, para a Copa do Mundo. Aguardam, talvez, que com mais um título, o grande Apedeuta venha os redimir de suas misérias. Se dedicassem 30% desta energia à memória (sim, pois qualquer analfabeto favelado sabe a escalação do "Framengo" no campeonato carioca de 1950), lembrariam dos políticos em que votaram e poderiam correr esta corja do poder e realmente mudar o Brasil. Ou, seguir votando no mais populista, o que também é uma possibilidade.
Infelizmente, vivemos num lugar em que não há continuidade e diretrizes claras do que se deve fazer, especialmente na área pública. As políticas são completamente populistas, navegam em qualquer direção a cada quatro anos, e vale mais parecer do que realmente fazer. Perdemos os valores morais e éticos, e cada vez mais me convenço de que, brevemente, não haverá mais retorno pacífico para o rumo do desenvolvimento. Estamos muito próximos de termos vergonha de sermos honestos e, por quê não dizer, de sermos brasileiros.
Estou tomando a liberdade de enviar seu artigo para amigos e conhecidos, e indicando o MSM para outros, buscando que opiniões fora da mídia de massa possam, quem sabe, criar uma massa crítica que venha a mudar o rumo dos acontecimentos. Até lá, torço (perdão pela palavra) que o anestésico atual passe rapidamente e que outubro chegue logo, para corrermos o absolutismo e ignorância do Planalto. E que a seleção venha com o rabo entre as pernas, quem sabe acordamos.

Gerson - Caro Janer Cristaldo
Sou leitor assíduo de Mídia sem Máscara e hoje fiquei surpreso ao ler um texto seu em relação ao "País do futebol". Digo surpreso porque em suas palavras, raras de serem lidas ou ouvidas nesse momento, você sintetizou exatamente aquilo que venho repetindo exaustivamente numa tentativa inútil de acordar algumas mentes que me são caras mas que, infelizmente como eu, orbitam feito zumbis esse mundo insólito chamado Brasil. Seu pensamento é pertubadoramente preciso e realista ao analisar a maneira de pensar daqueles que você apropriadamente chama de "povinho". Por mais otimista e religioso que seja, não consigo vislumbrar nas próximas três gerações alguma esperança de progresso mental das pessoas que aqui vivem. Isso sem falar no atraso a que seremos submetidos na ditadura Lula que se aproxima.

Assim como você torço diariamente para o retorno humilhante da seleção. É claro que isso custará uma overdose de notícias tentado explicar, justificar e culpar algumas almas. Hoje mesmo, assistindo compulsoriamente o jogo de estréia, naquilo que pouco entendo do esporte, observei uma atuação medíocre do único jogador que torcia para se dar bem: O Ronaldo. No momento de sua substituição cheguei a imaginar Lula se vangloriando em bom português: "Eu falei prosseis que o cara tava gordo!!" Quantos votos ganhou com isso?!

Finalizando, quero te agradecer pela coragem de andar na contramão da miséria, manifestando-se contra esse ópio que degrada ainda mais uma sociedade já tão dilacerada.

Marcelo Scotton - Prezado Janer Cristaldo,

Parabéns, o artigo "Saudades do Obdulio" está espetacular. Compartilho de sua opinião.


Paulo Silveira - Sr. Janer Cristaldo, boa noite.
Acabei de ler seu artigo, "Saudades do Obdulio", que por acaso descobri, folheando, ou melhor, navegando por alguns artigos do site midiasemmascara.com.br. Também há pouco, estive acompanhando a última partida do "escrete canarinho", convocado que fui pela empresa na qual trabalho.
Posso dizer que sou um apaixonado pelo esporte, como um todo, desde pequeno, paixão que recebi de meu pai, já falecido. Dele também recebi o bastão (ou talvez a sina) de ser torcedor do antes glorioso, hoje ultrajado, Corinthians paulista. Este é um capítulo à parte, que não vale a pena tratar neste momento.
Voltei do escritório, encontrei minha esposa, que tem pouco interesse pelos assuntos esportivos, e tentei verbalizar um sentimento que tomava, e ainda toma, conta de mim. Um sentimento de desconforto, de estupefação, talvez de incredulidade, não com o objeto em si, mas com a forma como as pessoas em geral, e o país inteiro em particular, se comportam em relação à Copa do Mundo.
Me senti sozinho, com minha esposa. Uma catarse coletiva, que acaba envolvendo tudo e todos, sem exceção. Confesso que senti uma certa repulsa. Nada pessoal, mas com o todo. Como podemos considerar que o país se resume a um time de futebol, a um torneio ou campeonato, a um acontecimento que ocorre de 4 em 4 anos. Como o povo pode rir e comemorar, num momento tão triste da história de nosso país, de tanto retrocesso, de valores jogados no lixo. E sem dúvida, a vitória da seleção de futebol, será associada com o governo.
Cochichei para minha esposa: "Estou torcendo para o Brasil não ganhar a Copa. Mas não conta pra ninguém, pois podemos ser taxados de preconceituosos, ou coisa pior". Foi muito bom ler seu artigo, tirou um peso de meus ombros, e agora, sem dúvida, conseguirei dormir um pouco mais tranqüilo. Obrigado.

Elda Longhi da Graça - Oi, Janer, tudo bem?
Aleluia, aleluia!!!! Finalmente consegui me sentir bem no dia de hoje, 1º jogo do Brasil, lendo a tua crônica. Eu tive q me cuidar para não gritar aos 4 ventos q esperava ver meu Brasil derrotado, ou, pelo menos, ter ficado em um empate. Apenas falei q não gosto mto de futebol, lembrei às pessoas com q falei q, enqto todos estão envolvidos com a Copa, o Supremo Apedeuta (não podias ter dado um apelido melhor) está lá, deitando e rolando, feliz com seu sucesso nas pesquisas. Aliás, ainda não acredito q ele esteja tão bem assim. Minha esperança é q as pesquisas estejam parecidas com aquela do desarmamento.
Não podias ter descrito melhor a situação do nosso pobre país. Por favor, continua escrevendo a respeito pq não dá para aguentar pensar no "molusco', cfe. um cronista tem chamado o Lullinha, na presidência outra vez. Um grande abraço.

JC - Excelente seu artigo de hoje no Midia Sem Máscara. Eu e minha família compartilhamos de sua opinião, principalmente eu. Desde 1998 torço pela derrota do país na copa do mundo. E se colocar isso em público corro o risco de tomar uma surra.

Sílvia Alves - Faço minhas quase todas suas palavras. Apenas não torço para que o país perca, mas acho bem pouco prudente entrar numa disputa em ritmo de comemoração vitoriosa. Conter-se é muito melhor, resultaria em mais vigor pra vencer. Este ano o verde e amarelo apareceram em toda e qualquer loja nas mercadorias, até nas elegantes. Fico abismada ao ver as pessoas largarem o serviço ao meio dia numa etapa inicial dos jogos. Se o Brasil ganhar hoje, duas grandes avenidas serão fechadas aqui em BH. É, eu também tenho vergonha de tudo isto. Não faz sentido, o que é aceitável para os dois últimos jogos acontecer no início.
É ótimo ser conhecido como o país do futebol, mas ao qual poderia acrescentar-se outros méritos (e que fossem maiores que este) além da nudez das mulheres nos desfiles de carnaval. O povo poderia ter orgulho de algumas outras coisas ainda que simples que se referissem ao seu caráter, que parece ser de uma frouxidão só.
Não tenho nenhuma vergonha de ser brasileira mas atualmente tá difícil ter grande orgulho. Não posso deixar de concordar inteiramente com a última frase do seu texto. Só não torço contra. Mesmo sem a euforia de uma possível vitória, a derrota na copa não conduz a maior reflexão para eleger um candidato. Acredito que há um obnubilamento geral: se perder, houve um erro, pois todos estão certos de que o país é o melhor com ou sem vitória nesta copa, e seu líder tem tal carisma que o povo parece confundir-se com ele em qualquer situação.

segunda-feira, junho 12, 2006
 
SAUDADES DO OBDULIO



Em 1971, residindo já há seis meses em Estocolmo, fui à polícia de Imigração renovar meu bosättningtillstånd. Melhor nem pronunciar a palavrinha, vai soar meio esquisito em português. Em todo caso, significa permissão de residência. Konstapel é o título que se dá ao policial. Registrei este momento em meu romance Ponche Verde.

- Nacionalidade?
- Brasileira.
- Ah! Então o senhor quer asilo político?
- Oh não, jag ska tacka nej, como pode muito bem ver Herr Konstapel, nesse formulário peço apenas uma permissão de estada, agradeço a generosa oferta, que aliás é pertinente. Meu país vive uma ditadura, sei disso, os dias não são os melhores para quem pensa e escreve o que pensa. Mas antes de fugir de ditaduras, Herr Konstapel, estou fugindo do país todo, fujo exatamente daquilo que para vossos patrícios é sinônimo de charme e exotismo, fujo do carnaval e do futebol, do samba e da miséria, da indigência mental e da corrupção, quero tirar umas férias do subdesenvolvimento, viver em um território onde o homem sofre os problemas da condição humana e não os da condição animal. Muito antes de os militares tomarem o poder, min Herr, eu já não suportava os civis. Veja o Sr., meu povo morre de fome e todos sorriem felizes e desdentados quando um time de futebol bate outro, se bem que a coisa não é assim tão tétrica como a pinto, veja bem, lá também existe luxo, requinte, hotéis que talvez fizessem inveja aos de vosso rico país, mansões de sonho isoladas da miséria que as envolve por arames farpados, guardas e cães, há cronistas sociais que acendem charutos com notas de cem dólares e homens catando no lixo restos de podridão para comer. E não fujo só do Brasil, Sr. Policial Superdesenvolvido, fujo também de minha condição de jornalista, pertenço a uma classe que se pretende de esquerda e entorpece multidões com doses cavalares de ... futebol.


Ou seja, não é de hoje que abomino o Brasil do futebol. Os suecos imaginavam que eu fugia do regime militar. Nada disso. Razões bem anteriores à ditadura me faziam detestar essa idiossincrasia de meu país. Em uma festa em Estocolmo, um Svenson puxou conversa comigo. Queria saber do Garincha, do Pelê, do Jairssinho. Disse-lhe que estava na Suécia exatamente para não ouvir falar dessa gente. "Então não temos mais nada a conversar", disse-me. Varsågod, min kära! Como queira, meu caro. E fui juntar-me às tjejers, elas pelo menos não estavam interessadas em futebol. Não era a ditadura que me afastava do país. Ditaduras passam. O futebol é eterno.

Em outras viagens, sempre perambulei com a praga pregada às costas. No aeroporto de Bucareste, um guarda de fronteira, mal viu meu passaporte, abriu em um sorriso afável sua cara de laje e disse: "Pelê". Ao entrar em Berlim oriental, outro cara de laje, após olhar um minuto para minha foto e mais um minuto para meu rosto (e aí você vê quanto custa a passar um minuto), também sorriu: "Pelê". Nas montanhas de El Hoggar, no Saara argelino, senti nos olhos de um funcionário embuçado um brilho alegre ao ver que meu passaporte era do país de Pelé. Todos os esforços do Brasil para constituir-se como nação, toda a história nacional, todas as instituições brasileiras resumiam-se a uma palavrinha de quatro letras. Pelé passou. Em minhas últimas viagens, tive de suportar outra: Ronaldinho.

Ora, direis, o cronista abomina o futebol. Nada disso. Considero o futebol um esporte muito plástico, bonito, inteligente e mesmo excitante. Joguei muito futebol em meus dias de guri. (Eu era bom. Certa vez, até mesmo fiz um gol). O que abomino é a passionalidade. Li em algum lugar que, no século passado, um time na Inglaterra aplaudiu uma jogada brilhante do adversário. Eu, que nunca em minha vida entrei em estádio algum, gostaria de estar lá nesse dia. Isto é civilização.

Mais que o fanatismo, abomino esta mania tupiniquim de associar o futebol à nação. Toda época de copa, vivo meus dias de nojo. Já não se pode ir a um restaurante sem ter de suportar os patrioteiros berrando a cada gol. O verde e amarelo torna-se emético. Pessoas aparentemente inteligentes viram de repente brutos fanatizados. Nem precisa o Brasil jogar. Qualquer jogo é aquecimento para o dia em que a pátria entrar de chuteiras no campo. E ai de você se pedir a um garçom para baixar o volume da TV. Passará por inimigo da nação. Isso se não for corrido do restaurante.

De uma forma que lógica alguma explica, cada vitória do Brasil é vista como uma vitória do governo no poder, seja lá qual governo for. Assim foi nos dias de Médici, assim é nestes dias do Supremo Apedeuta. É como se o presidente e seus ministros tivessem suado a camiseta nos estádios. Cientes deste vício deste povinho infame, os governantes se apressam em colar-se à seleção. A copa passa a ser um fator eleitoral. Nestes dias, ninguém mais lembrará que o PT montou a mais vasta quadrilha de toda a história do país, que o presidente acha algo perfeitamente normal o caixa dois, como nada vê de mal no fato de seus filhos enriquecerem com tráfico de influência. Ninguém mais lembrará dos assassinatos em série do PT, nem do financiamento estatal à guerrilha católico-marxista. Muito menos dos ministros escorraçados de seus ministérios por participação na quadrilha. Tudo será borrado da memória nacional. Depois da copa, começa-se de zero.

Pior é o espetáculo da imprensa. Jornalistas, que por questão de ofício deveriam ser profissionais lúcidos, transformam-se em palhaços abobalhados que só repetem lugares comuns e frases vazias. Passamos a viver em pleno império das nulidades. Os jornais passam a dedicar cadernos inteiros à crônica ... do nada. Rádio e televisão ministram todos os dias doses colossais de anestésicos. Em falta de assunto, criam-se tragédias em torno às bolhas no pé de uma vedete qualquer, à lesão no menisco de outro analfabeto. Saudades dos anos 50. Outro dia, pesquisando jornais da época, tive o grato prazer de constatar que, naqueles dias, futebol não entrava na primeira página dos jornais.

O que me afasta do futebol é o fanatismo do povinho, dizia. Paradoxalmente, nestes dias de copa viro torcedor. Desde que me conheço por gente, em todas as copas, sempre torci... pela derrota do Brasil. Torço especialmente nas oitavas, quando uma derrota significa exclusão da competição. Mas também não me desagrada ver o Brasil goleado em uma semifinal ou final. Assim sendo, ergo minhas preces neste início de campeonato pela vitória da Croácia. Hrvatska, em croata. País com um nome assim bem merece uma vitória. Além do mais é país de fraldas, tem pouco mais de dez anos de vida. Que viva a Hrvatska! Uma taça lhe viria bem para apresentar-se ao mundo. Se a Hrvatska não contiver o Brasil, deposito minhas esperanças nos demais adversários pela frente. Se, na pior das hipóteses, o Brasil chegar à final, rezo para que um Obdulio Varela ressurja das cinzas para terminar a copa com fecho de ouro. Nestes dias de tão raras boas notícias, peço aos deuses um presente para mim mesmo. Uma derrota, de preferência humilhante, de meu país. Se ela ocorrer, o leitor já pode imaginar meu sorriso imenso e feliz.

Você conhece algum país que faça feriado em dia de jogo de sua seleção? Se disser que conhece, vou dizer que você se engana. Esta vergonha é nossa e exclusivamente nossa.

Você quer torcer pelo Brasil? Torça. Mas quando estiver gritando "pra frente, Brasil!" preste atenção ao eco: "Lula 2006".

sexta-feira, junho 09, 2006
 
MAIS ABSOLVIÇÕES DO ALÉM


Googlando, uma leitora encontrou estas informações. Mais um pouco, e teremos jurisprudência firmada sobre depoimentos do Além. O autor é Valter da Rosa Borges e a íntegra está em http://www.parapsicologia.org.br/artigo15.htm.


O primeiro caso em que a Justiça brasileira foi chamada a decidir ocorreu no campo do Direito Civil, em 1944, quando a Sra. Catarina Vergolino de Campos, viúva do escritor Humberto de Campos, ingressou em juízo com uma ação declaratória contra a Federação Espírita Brasileira e o médium Francisco Cândido Xavier, exigindo o pagamento de direitos autorais sobre as obras psicografadas por aquele médium e atribuídas a seu falecido esposo. Pretendia a suplicante que se declarasse judicialmente se as obras eram da lavra do espírito de Humberto de Campos e, em caso afirmativo, a quem pertenciam os direitos autorais. Na hipótese contrária a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier deveriam ser passíveis de sanção penal e proibidos de usar o nome de Humberto de Campos em qualquer publicação literária estando ainda sujeitos ao pagamento por perdas e danos.

Como era de se esperar, a ação foi julgada improcedente por sentença prolatada pelo Juiz de Direito, Dr. João Frederico Mourão Russel, sob fundamento de que o Poder Judiciário não é órgão de consulta para decidir sobre a existência ou não de um fato e, na hipótese dos autos, sobre a atividade intelectual de um morto.


No nosso Direito Penal, há três casos cuja decisão judicial que se fundamentaram em comunicações mediúnicas psicografadas por Francisco Cândido Xavier nas quais os pretensos espíritos das vítimas de homicídio inocentaram os respectivos réus. Os casos são os seguintes:

a) crime de homicídio, ocorrido em Goiânia de Campina, Goiás, no dia 8 de maio de 1976, praticado por José Divino Gomes contra Maurício Garcez Henriques.

b) crime de homicídio, acorrido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 1º de março de 1980, praticado por José Francisco Marcondes de Deus contra a sua esposa Cleide Maria, ex-miss Campo Grande;

c) crime de homicídio, ocorrido na localidade de Mandaguari, Paraná, no dia 21 de outubro de 1982, praticado pelo soldado da Polícia Militar, Aparecido Andrade Branco, vulgo "Branquinho" contra o deputado federal Heitor Cavalcante de Alencar Furtado.

No primeiro caso, o Juiz de Direito da 6ª. Vara Criminal de Goiana, Dr. Orimar de Bastos, absolveu o réu, sob fundamento de que a mensagem psicografada de Francisco Cândido Xavier, anexada aos autos, merece credibilidade e nela "a vítima relata o fato e isenta de culpa o acusado".

Trata-se de uma sentença equivocada à luz do Direito e sem qualquer respaldo na Parapsicologia, por fundar-se numa hipótese extrajurídica e não-científica, visto que a existência do espírito e sua pretensa interferência no mundo dos vivos não constitui matéria atinente a estas duas ciências.

No segundo caso, o advogado do réu, devidamente autorizado pelo Juiz, entregou aos jurados cópias de três mensagens psicografadas por Francisco Cândido Xavier, onde o espírito da vítima afirmava que o seu esposo a matara acidentalmente. Por unanimidade, o tribunal do júri absolveu o réu, o qual, em nova julgamento, após cinco anos, foi, mais uma vez, absolvido.

No terceiro e último caso, embora admitida como prova a mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, na qual o espírito da vítima inocentava o réu pelo tiro que deste recebera, o tribunal do júri, por cinco votos a dois, o considerou culpado, tendo o Juiz de Direito, Dr. Miguel Tomás Pessoa Filho, condenado o réu a oito anos e vinte dias de reclusão.

 
NOTÍCIAS DA IDADE MÉDIA


Formoso foi papa desde 891 até sua morte em 896. Seu sucessor Estevão VI trouxe à tona o juízo de sua proclamação. Estevão acusava seu predecessor de haver ocupado o trono de Pedro ilegitimamente. Como Formoso havia falecido nove meses antes, foi preciso exumá-lo para que estivesse presente no processo que o condenou. Seu juízo póstumo passou a ser conhecido como o Concílio do Cadáver. Como Formoso não conseguiu negar as acusações, foi condenado. Cortaram-lhe os três dedos que havia usado em vida para bendizer e seus restos foram lançados ao Tibre.

terça-feira, junho 06, 2006
 
DISCOVERY CHANNEL E ESPÍRITOS


Do leitor Leandro Bergantim, recebo o seguinte mail:


No site Mídia sem máscara, o Sr. relata sobre um caso no RS, onde o réu é absolvido por causa de cartas psicografadas que a inocentavam. Senti um pouco de descrença, não sei se na fé espírita ou se na justiça ou ainda em ambos.Gostaria de chamar-lhe a atenção que no Discovery Channel, canal pago, já foi exibido documentários sobre crimes (nos EUA) que foram resolvidos com ajuda das respectivas vítimas então pertencentes ao Além.

Também acho interessante comentar, que quem lhe informou que pessoas do Além são desocupadas (ou pouco ocupadas) e que não costumam mentir, certamente é mais um daqueles que se auto-denominam espíritas mas certamente não o são. Afinal, pela doutrina espírita, as pessoas devem progredir por esforço próprio. Daí resulta que ir para o Além e automaticamente falar somente a verdade não faz sentido. Certamente, Marcola, Beira-Mar, entre outros não se tornarão "anjos" quando deixarem este mundo. Quanto a fazer pouco ou muito, depende de espírito para espírito. Se defendemos a idéia de indivíduos únicos com direitos individuais, não será no Além que estes direitos serão trocados por generalizações esquerdistas.

Tem gente no governo que rouba, mas não se pode chamar de ladrão todos que pertencem ao governo! Sou espírita, mas, antes de ser, li a obra de Kardec e avaliei os fatos de um espírita muito qualificado, chamado Sr. Jairo.

Abraços,
Leandro Coelho Bergantim

segunda-feira, junho 05, 2006
 
PIONEIRISMO NÃO É GAÚCHO

Do Cledson, leitor e amigo, recebo esta notícia:

Oi Janer,

Estas proezas são típicas de júri. O próprio texto dá a "deixa": os jurados não fundamentam seus votos.

Garanto-lhe que acontece cada uma em júri que aquela antiga tese de "matar em legítima defesa da honra" torna-se café pequeno.

Não bastasse, eis que boa parte da magistratura togada já se inclina em favor do espiritismo. Veja http://www.abrame.org.br/paginas/revista_materia.asp?id=30

O caso relatado em seu texto não é o primeiro. Os gaúchos não poderão invocar este pioneirismo! Houve um semelhante com o médium-mor Chico Xavier. O pior é que não faltarão outros, ainda mais com esta divulgação do fato.

Um abraço,

Cledson

 
LASCIATE OGNA SPERANZA


Não há pessoa de bom senso no Brasil que não estremeça ante a possibilidade de mais quatro anos de analfabetismo no poder. Para derrotar o Supremo Apedeuta, Geraldo Alckmin é o campeão que as oposições apresentam. Vejamos as leituras do candidato. Deu nas Páginas Amarelas da última Veja:

Veja - Um assessor seu contou que, diariamente, o senhor extrai de um livrinho frases para nortear seu dia.
Alckmin - Eu vario muito de livro. Andava com um que se chamava 30 Dias com Mahatma Gandhi. Tinha uma folha para cada dia do mês, cada uma com duas reflexões: uma para ler de manhã e outra para encerrar o dia. Minha irmã, todos os anos, me manda a Folhinha Salesiana, do Sagrado Coração de Maria. Você pendura na parede, destaca todo dia uma página e põe no bolso. Tem sempre uma frase bíblica e outra humanista para provocar a reflexão.

Veja - Haviam dito que o livro que o senhor usava era Caminho (de Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei).
Alckmin - Esse eu tenho também, ganhei do meu pai. Mas ultimamente não tenho lido, não.


Lasciate ogna speranza voi che entrate!

domingo, junho 04, 2006
 
TESTEMUNHA DO ALÉM ABSOLVE NA TERRA



Nunca convivi com espíritas. Só fui ver um há três anos. Quando morre alguém perto da gente, de onde mal se suspeita sempre salta um espírita vendendo suas muletas metafísicas. Minha mulher morrera há mais de mês e eu conversava com amigos comuns. Em dado momento, uma moça atalhou: "Eu conversei ontem com ela". Nessas ocasiões, tomo uma atitude de crédulo. Se a moça afirmava com tanta convicção ter conversado com minha mulher, não seria eu quem iria contestá-la. Perguntei apenas o que ela havia dito. Ela deixou uma mensagem, disse a moça: "seja feliz".

O que me lembrou a aparição de Maria aos três pastores em Fátima. Quando interrogada sobre quem era, teria dito a Virgem: "Eu sou a Nossa Senhora". Ora, sendo Maria mais que santa, semideusa, não é de supor-se que tivesse domínio tão precário do português. Se se dirigia aos três pastores, o correto seria: "Eu sou a Vossa Senhora". Por um descuido sintático do narrador, o milagre ficou prejudicado.

Da mesma forma, a mensagem de minha companheira. Éramos gaúchos. Depois de passarmos por Curitiba e São Paulo, ela passou a usar o você, mas apenas ao tratar com curitibanos e paulistanos. Jamais me trataria por você. Como a comunicação de Maria, a de minha mulher também ficou sob suspeita. Mas não neguei o testemunho da moça. Aproveitei o ensejo para pedir-lhe que, quando falasse de novo com ela, pedisse o código do celular, que eu havia ficado sem.

A moça entrou em pane, achava que não ia dar, códigos são coisas confidenciais, começou a perguntar que horas são e logo deu as de Vila Diogo. Contei a história mais tarde a professores universitários e um deles, também espírita, prometeu-me perguntar às instâncias do Além sobre o código do celular. Mas me alertou que o médium teria de ser muito poderoso para descobri-lo. Bem entendido, nunca mais me falou no assunto. Nem eu precisava do código, afinal sempre o tive e queria apenas divertir-me com a capacidade comunicativa dos tais de médiuns.

Talvez código de celular seja matéria de pouca monta. Assuntos de mais gravidade, como a absolvição de um crime, têm imediata atenção do Além. Aconteceu em Viamão, RS. Uma mulher de 63 anos, acusada de matar um tabelião, com dois tiros na cabeça, foi inocentada, por 5 votos a 2, da acusação de mandante de homicídio. Inocentada por quê? Porque uma carta psicografada da vítima declarava: "O que mais me pesa no coração é ver a Iara acusada desse jeito, por mentes ardilosas como as dos meus algozes (...). Um abraço fraterno do Ercy", leu o advogado de defesa, ouvido atentamente pelos sete jurados.

Vamos ao que diz a Folha de São Paulo sobre o fato:

Não consta das cartas, psicografadas pelo médium Jorge José Santa Maria, da Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz, a suposta real autoria do assassinato. O marido da ré, Alcides Chaves Barcelos, era amigo da vítima. A ele foi endereçada uma das cartas. A outra foi para a própria ré. Foi o marido quem buscou ajuda na sessão espírita. O advogado, que disse ter estudado a teoria espírita para a defesa (ele não professa a religião), define as cartas como "ponto de desequilíbrio do julgamento", atribuindo a elas valor fundamental para a absolvição. (...) Os jurados não fundamentam seus votos, o que dificulta uma avaliação sobre a influência dos textos na absolvição. Os documentos foram aceitos porque foram apresentados em tempo legal e a acusação não pediu a impugnação deles.

Curvem-se as nações mais uma vez ante este colosso, o Brasil. Glória ao Rio Grande do Sul, este Estado pioneiro em matéria de ciência jurídica. Viamão über alles. Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra, como diz o hino rio-grandense. Esta extraordinária inovação do tribunal do júri, verdadeiro ovo de Colombo ainda não intuído pelos sistemas judiciários dos demais países, dirime definitivamente quaisquer dúvidas que possam pairar sobre os veredictos dos jurados. Quem com mais autoridade para inocentar um réu senão a vítima? Está morta, é verdade. Mas se os espíritas consideram ser possível falar com os mortos, em nome do sagrado respeito a todas as profissões de fé, não seremos nós, ateus empedernidos, que contestaremos tal crença. Só nos resta esperar que este novo recurso jurídico se integre definitivamente ao Direito Processual e seja mais e mais utilizado pelos nossos tribunais.

Que estão esperando as autoridades que investigam os assassinatos dos prefeitos de Santo André e Campinas? Irão invocar os espíritos de Celso Daniel e Antonio da Costa Santos (o Toninho do PT) apenas ao final de algum júri, que só será realizado quando algum suspeito for indiciado? Por que não invocá-los já, na fase inicial do processo, para que determinem, com aquela veracidade que conferimos aos depoimentos de defuntos, quem de fato os assassinou? No caso do prefeito de Santo André, teríamos mais sete mortos a depor. Médiuns competentes bem que poderiam organizar uma coletiva no Além, invocando todos os espíritos na mesma data e hora. O que certamente não terá inconveniente algum, já que espíritos não devem ter agendas apertadas. Como é de supor-se que mortos não mintam e seus depoimentos sejam considerados de fé pública, os crimes seriam elucidados em um átimo.

Já que falamos de crimes momentosos, começa nesta semana o julgamento de Suzane von Richthofen e seus cúmplices no assassinato de seus pais, que tiveram seus crânios esfacelados com barras de ferro. Segundo os jornais, a acusação tentará provar que Suzane matou os pais para pôr as mãos na herança da família. Já a defesa pretende que a meiga Suzane era uma moça de conduta irretocável e temperamento doce, mas de cabeça virada por influência do rapaz que a iniciou na vida sexual e no uso de drogas. É espantoso que, tendo ciência do precedente de Viamão, o tribunal do júri ainda sequer tenha aventado a hipótese de invocar os espíritos de Manfred von Richthofen e particularmente o de sua mulher, Marísia. Quem sabe Suzane não era mesmo moça de conduta irretocável e temperamento doce. Coração de mãe nunca se engana.

Claro que problemas podem ocorrer. Digamos que haja divergências nos testemunhos do Além. Nada que não se resolva com a colaboração de um perito médium, que confrontará as afirmações dos protoplasmas. E se você, leitor, pelas circunstâncias da vida, algum dia se encontrar na condição de réu de homicídio, nem pense em advogados. Contrate logo um bom médium. Aliás, considerada a trouvaille gaúcha, está mais do que na hora de regulamentar a profissão.

quinta-feira, junho 01, 2006
 
PRIMÁRIO VOLVER, DEPUTADO!


Na Folha de São Paulo de hoje, lemos trechos inéditos de um diálogo
entre Leandro Lima de Carvalho, que seria um matador a serviço do PCC, e o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE). Em certo momento, diz o deputado: "Nós temos aqui os delegados, que foram ouvidos antes de ti.[...] Eles sabem todo o esquema, como é que funciona, onde é que tu fostes encontrado, como fostes encontrado".

Diz e repete: fostes. Bem que uma reciclagem do curso primário não faria mal ao deputado. É lá que se aprende a conjugar o verbo ir. Em tempo: o deputado Moroni Torgan é aquele mesmo que deu voz de prisão a um advogado quando este, em um momento de distração, ousou proferir uma verdade.