¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 30, 2005
 
FOLHA AINDA NÃO ACREDITA
Suposto é uma palavrinha tratada com muito carinho pelos jornalistas. Toda vez que um redator não quer comprometer-se - ou não quer comprometer o jornal - com uma afirmação, sempre pede socorro ao suposto. De onde deduzimos que a Folha de São Paulo ainda não acredita que exista realmente um mensalão. Só em uma página da edição de hoje (A 10), encontramos a oportuna palavrinha pelo menos sete vezes. A começar pelo título da matéria principal:

Líder petebista e José Genoino prestaram depoimentos divergentes sobre suposto auxílio financeiro ao PTB nas eleições de 2004


O presidente do PT, José Genoino, e o líder do PTB, deputado José Múcio (PE), prestaram depoimentos divergentes ontem, na Câmara, sobre o suposto auxílio financeiro do PT ao PTB nas eleições do ano passado.
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Genoino, que foi ouvido na comissão de sindicância na Corregedoria da Câmara, refutou a versão de acordo entre PT e PTB e negou a existência do "mensalão" - suposto pagamento de mesadas a parlamentares aliados do governo.
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Foi nessa ocasião, afirmou o petebista, que ele teve pela primeira vez a notícia de que uma primeira parcela do suposto acerto teria sido repassada pelo PT.
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Múcio afirmou que nunca a bancada federal foi informada do suposto repasse de R$ 4 milhões.
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Na entrevista, Jefferson citou pelo primeira vez o suposto "mensalão".
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Na sub à esquerda, intitulada PT atribui falta de petistas a mal-entendido, de novo a palavrinha:

A Direção Nacional do PT atribuiu ontem a um "mal-entendido" o não comparecimento dos dirigentes petistas na comissão de sindicância da Câmara, que apura o pagamento de propina nos Correios e as denúncias apresentadas pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) de um suposto esquema de "mensalão" na Câmara dos Deputados.



terça-feira, junho 28, 2005
 
SISTEMA REAGE


Deu no Estadão on-line:

Blogueiros lutam contra regulamentação federal nos EUA

Washington - Blogueiros que construíram suas audiências online com textos contra o establishment agora pedem ao establishment que os proteja da regulamentação federal. Alguns até contrataram advogados, relações-públicas e comitês políticos para ajudar. "Gosto de pensar que sou só um cara com um blog, mas é claro que 'só um cara com um blog' quer dizer outra coisa hoje do que há três anos", diz Markos Moulitsas Zuniga, fundador do blog www.DailyKos.com. "Um sinal é ter o governo querendo meter o dedo no que você faz".

segunda-feira, junho 27, 2005
 
SOLIDÁRIOS NA ESTUPIDEZ



Estranha vocação a da Casa Civil da República durante o governo do homem mais moral e ético do Brasil, conforme se autoproclama, modestamente, Luís Inácio Lula da Silva: "ninguém nesse país tem mais autoridade moral e ética do que eu". Das mãos do companheiro Daniel, passou para as mãos da camarada Estela. Ou das mãos do apparatchik Carlos Henrique às mãos da guerrilheira Vanda. Ou de Xexéu para Patrícia, como quisermos. Tudo codinome de dois mineiros, que em verdade se chamam Luiz Dirceu Oliveira e Silva e Dilma Roussef.

Como curta é memória das gentes, recordemos. José Dirceu é aquele senhor que, quando presidente do PT, recebeu uma indenização de 59,4 mil reais, concedida pela Comissão de Anistia, entidade criada no governo camarada do camarada Fernando Henrique Cardoso, com o intuito específico de recompensar regiamente os marxistas que um dia quiseram transformar o país em uma grande Cuba. O singelo mimo lhe foi conferido por ter sido obrigado a abandonar o País por onze anos, no regime militar. Esta foi a versão da Comissão.

Em verdade, o companheiro Daniel - ou Carlos Henrique - era membro do grupo terrorista MOLIPO (Movimento de Libertação Popular) e recebeu treinamento de guerrilha em Cuba. Não foi obrigado a sair do país. Saiu porque quis e à la française. Preso por sua participação em grupos de luta armada, foi trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick, seqüestrado por outro grupo terrorista, o MR-8.

O homem que o homem mais moral e ético do Brasil escolheu para chefiar a Casa Civil, além de escapar da prisão à qual fora legalmente condenado, mediante outro crime - um seqüestro - envolveu-se ano passado em um esquema de corrupção que gerou a chamada CPI dos Bingos, devidamente sepultada pelo fiel escudeiro José Sarney, ressuscitada na semana passada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e ressepultada na mesma semana por acordo de bancadas. Hoje, mesmo destituído de seu poder no Planalto, Zé Dirceu volta ao Congresso como deputado para gabar-se de jamais ter tido problemas com a Justiça.

Envolvido em escândalo ainda mais vultoso que o dos bingos, o escândalo do chamado mensalão, o companheiro Daniel foi destituído de seu cargo pelo homem mais moral e ético do Brasil. Este mesmo homem que, por ocasião das denúncias contra o ministro Romero Jucá, da Previdência, e contra Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, afirmava urbi et "globi" que não seria pautado por manchetes de jornais nem demitiria funcionários sem sentença passada em julgado. Mal eram decorridas 48 horas da ordem de Roberto Jefferson - "saí daí, Zé, rápido" - Zé já saía. Sair por quê? Afinal, não havia sequer sido indiciado por crime algum, nem havia sentença alguma passada em julgado.

Desta vez o caldo deve ter sido mais grosso. Sem provas nenhuma em mãos, o presidente do PTB acusou o chefe da Casa Civil de chefiar um esquema de corrupção. A cúpula do PT falou em denúncias vazias e acusações sem provas. Ora, se as denúncias eram vazias e as acusações sem provas, por que o homem mais moral e ético do Brasil aceitou rapidinho a demissão do homem mais poderoso de seu governo? Vai ver que provas existem.

Após entregar a cabeça do companheiro Daniel, que faz o homem mais moral e ético da nação? Chama para chefe da Casa Civil a companheira Vanda - ou Luísa, ou Patrícia, como quisermos -, portadora de folha corrida invejável. Ou, finalmente, Dilma Roussef.

Mineira de Belo Horizonte, Dilma nasceu em 1947 e passou a militar na organização marxista Polop (Política Operária) aos vinte anos. Confirmando minha tese de que as ideologias se transmitem por via uretral, foi recrutada pelo noivo e depois marido Cláudio Galeno de Magalhães Linhares. Com as primeiras prisões, do Polop foi para o Colina (Comando de Libertação Nacional), outra guerrilha marxista. Ensinou marxismo, participou na organização de três assaltos a banco e subiu para a direção do Colina. Dados os rachas típicos das organizações de esquerda, acabou passando a militar na VAR-Palmares, liderada pelo terrorista Carlos Lamarca.

Com o marido tendo de migrar para Cuba, em um vôo seqüestrado em 1970, tornou-se companheira de Carlos Franklin Paixão de Araújo, militante da VAR, advogado e ex-deputado estadual pelo PDT gaúcho. Foi presa em 1970 e só saiu da cadeia no final de 1973. Nestes dias em que folha corrida é sinônimo de currículo, não é de espantar que Dilma hoje tenha em mãos a condução do governo do homem mais moral e ético de toda a História do Brasil.

Nos dias de sua posse, a Folha de São Paulo publicou entrevista inédita, feita em 2003, na qual Dilma reconhece os erros da opção pela luta armada e relata sua experiência como torturada. Estranha forma de reconhecer erros, já que na entrevista a novel ministra diz orgulhar-se dos ideais da guerrilha. E é com indisfarçado orgulho que a ex-guerrilheira, torturada pelos militares, narra seus padecimentos. Foi submetida a socos, à palmatória, pau-de-arara, choques elétricos. Onde? - pergunta o repórter.

- Em tudo quanto é lugar. Nos pés, nas mãos, na parte interna das coxas, nas orelhas. Na cabeça, é um horror. No bico do seio. Botavam uma coisa assim, no bico do seio, era uma coisa que prendia, segurava. Aí cansavam de fazer isso, porque tinha que ter um envoltório, pra enrolar, e largava. Aí você se urina, você se caga todo, você...

Dilma se despe e se expõe ao olhar público, inter feces et urinam, nua, indefesa e degradada. Mas como tudo vale a pena se a alma não é pequena, conclui a ex-guerrilheira, hoje ministra:

- De toda forma, eu acho que a minha geração tem um grande mérito, que é o negócio da Var-Palmares: "Ousar Lutar, Ousar Vencer". Esse lado de uma certa ousadia. A gente tinha uma imensa generosidade e acreditávamos que era possível fazer um Brasil mais igual. Eu tenho orgulho da minha geração, de a gente ter lutado e de ter participado de todo um sonho de construir um Brasil melhor. Acho que aprendemos muito. Fizemos muita bobagem, mas não é isso que nos caracteriza. O que nós caracteriza é ter ousado querer um país melhor.

É a versão tupiniquim do cogito cartesiano. Penso, logo existo - formulou Descartes, como se fosse necessário recorrer a premissa tão simplória para concluir que existia. O cogito tupiniquim é mais sofisticado: fui torturada, logo tenho razão. Lutei a luta errada. Mas se fui torturada, a razão é minha. Ora, neste país em que le fond de l'air est rouge - como se dizia na grande partouse francesa que foi 68, este exótico silogismo pega e pega forte. O companheiro Daniel e a camarada Vanda, dois celerados que arriscaram suas vidas para transformar o Brasil num inferno socialista, são tidos hoje pela grande imprensa como dois heróis remanescentes do século passado. E se assim são tidos pela grande imprensa, assim são assimilados pelo grande público. Que mais não seja, foram designados para a Casa Civil pelo homem mais moral e ético da nação.

Durante as cerimônias de transmissão de cargo, Daniel e Vanda se jogaram flores a granel. "Camarada de armas" - saudou o companheiro Daniel. Camarada Vanda mandou o elevador de volta: "Conheci meu querido companheiro de lutas há 40 anos, como líder estudantil". Como se ambos algum dia tivessem pegado em armas para defender o que quer que fosse. Dirceu e Dilma fizeram treinamento de guerrilha, isto é verdade. Dirceu em Cuba e Dilma em país que prefere não revelar. Militaram em movimentos armados, é verdade. Mas não temos notícia nenhuma de que tenham participado de combates.

A prática de assumir diferentes identidades não é imune a certas distorções psíquicas. À força de assumir biografias diferentes, o guerrilheiro passa a acreditar nas vidas fictícias que construiu e acaba assumindo uma delas. Como mentalmente ainda vivem em época anterior à queda do Muro e à dissolução da União Soviética, Dirceu e Dilma ainda crêem que pegar em armas para lutar pelo comunismo é tarefa nobre. Ao saudar a "camarada de armas", Zé Dirceu não regrediu apenas os quarenta anos que nos separam de 64. Regrediu o século e mais alguns anos que nos separam das ideologias sanguinárias do século XIX. E o homem mais moral e ético de todos os tempos do Brasil afundou-se ainda mais em suas contradições.

"O mineiro só é solidário no câncer" - dizia Otto Lara Resende. Enganou-se. Otto, cidadão mineiro, não testemunhou os alvores do século XXI. Os mineiros são solidários também na estupidez. Ou, pelo menos, estes dois.

sábado, junho 25, 2005
 
FOLHA DE SÃO PAULO TAMBÉM
A Folha de São Paulo, edição de hoje, também embarcou no jornalismo ideologizado. No ímpeto de satanizar os militares, fez título que nada tem a ver com o texto. Como o Estadão, omitiu a denúncia do coronel Lício, da tortura, mutilação física e assassinato de um menino pelos guerrilheiros do grupo do atual presidente do PT, José Genoíno.
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Militar exalta tortura e ataca Genoino no plenário da Câmara

A AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A pedido de Jair Bolsonaro (PP-RJ), a Câmara realizou sessão solene em homenagem aos militares mortos no combate à guerrilha do Araguaia (1972-1974) marcada por uma série de ataques ao presidente do PT, José Genoino, e ao governo.
O plenário foi ocupado por cerca de 200 pessoas. Ao lado do filho Flávio, que é deputado estadual no Rio, Bolsonaro conduziu a sessão, basicamente tomada pelo depoimento do militar da reserva Lício Augusto Ribeiro, que chorou duas vezes na tribuna ao contar como prendeu Genoino e detalhar as operações contra os guerrilheiros do PC do B na região que hoje divide Tocantins, Pará e Maranhão. Ribeiro liderou o grupo que matou o guerrilheiro Zé Carlos, codinome de André Grabois, filho de Maurício Grabois, o mais alto comandante comunista em campo na época.
O ápice do pronunciamento aconteceu quando o militar afirmou se arrepender de "não ter dado uma bolacha" em Genoino, que, disse, entregou os companheiros da guerrilha sem ser torturado. "Genoino, olha no meu olho. Eu te prendi na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não te demos uma bolacha, coisa de que me arrependo hoje", disse, sob aplausos.
O presidente do PT disse ontem, na sede do PT, em São Paulo, que a sessão "foi um ato revanchista" e negou que tenha dado aos militares informações sobre os guerrilheiros na selva. Também negou conhecer os torturadores e interrogadores. "Quando eu era torturado, era com capuz. E um capuz que tinha um elástico no pescoço."
"No pau de arara, no choque elétrico, em todas aqueles suplícios, as paredes revestidas de eucatex não transmitiam para ninguém que eu não forneci nenhuma informação que prejudicasse a guerrilha", disse. Genoino completou dizendo que "quem defende a tortura, ou ela mata fisicamente ou psicologicamente. Nenhuma das duas aconteceu comigo".

 
ESTADÃO AMENIZA TÍTULO SAFADO
Comentei hoje na madrugada o título inadequado, completamente alheio ao texto, publicado ontem no Estadão on-line:
Bolsonaro comanda sessão de exaltação à tortura na Câmara
A notícia foi publicada às 20h36. A noite parece ser boa conselheira. Na edição em papel do jornal de hoje leio:
Sessão na Câmara exalta repressão no Araguaia


Melhorou um pouco. Mas não muito. O texto continua o mesmo, omitindo as acusações mais graves do Coronel Lício Augusto Maciel (que postei na mensagem anterior). E o título continua safado. Pois repressão é palavra que adquiriu conotação negativa, dada a influência das esquerdas na mídia. Repressão é quando um governo dito de direita reage com rigor a manifestações de rua ou movimentos armados. Se o atual governo, por exemplo, tivesse de reagir com rigor a manifestações de rua ou movimentos armados, jornalista algum da grande imprensa falaria em repressão. Teríamos, no máximo, títulos como:

Governo reage à desobediência civil

Ou ainda:

Governo controla desordem

Tudo, menos repressão. Governos de esquerda, por definição, não reprimem.

A jornalista Denise Madueño omite em sua matéria um grave caso de censura no Congresso, afinal governos de esquerda não censuram. O presidente da Câmara não permitiu, ontem, a exibição de um vídeo sobre o ex-deputado José Genoíno, o Geraldo da guerrilha do Araguaia. A intenção da proibição é óbvia. Não se pode permitir que o presidente do partido do homem mais ético do país seja visto como aquilo que Che Guevara chamava de "revolucionário de três tapas": um para falar, dois para calar a boca.

Para boa informação, eleja os bons blogs.


 
ESTADÃO FAZ JORNALISMO SAFADO (2)




(Trechos fundamentais do depoimento do Coronel Lício Augusto Maciel, suprimidos na reportagem de Denise Madueño)


Então, o Genoino foi mandado para Xambioá preso. A essa altura ele já deixou de ser detido para ser preso, e falou tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse: Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem. Ele disse: Eu falo. Eu disse: É bom você falar.Genoíno, olha no meu olho, você está me vendo. Eu te prendi na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não te demos uma facãozada, não te demos uma bolacha, coisa que me arrependo hoje. (Palmas.). Um elemento da minha equipe, fumador inveterado, abriu um pacote de cigarro, aproveitou aquele papel branco do verso, surgiu um toco de lápis não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar o que o Genoíno falava fluentemente nervoso como estava, começou a falar. Eu me levantei do chão, fui até o córrego meio próximo para beber um pouco dágua. Voltei, o papel estava cheio, toda composição da guerrilha nomes, locais, Grupo C ao sul, Grupo B da gameleira, perto de Santa Isabel, e Grupo A perto de Marabá. Eram os três grupos efetivos que eles presumiam completar trinta homens por grupamento e mais um grupo militar comandado por Maurício Grabois. Eu peguei aquele papel e ainda comentei com ele: pô, meu amigo, tu é um cara importante desse negócio aí, hein? E mandei o Geraldo para Xambioá.

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Triste notícia veio depois. O grupo do Genoíno prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde, que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a 100 km de São Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho que tinha a mesma idade. Então eu disse ao João: Não quero levar o seu filho. Eu sabia das implicações ou já desconfiava.
O pobre coitado do rapaz nos seguiu durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do José Genoíno pegaram o rapaz e o esquartejaram. Genoíno, aquele rapaz foi esquartejado, toda Xambioá sabe disso, todos os moradores de Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antonio Pereira, pai do João Pereira, e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma desculpa por terem esquartejado o rapaz. Cortaram primeiro uma orelha, na frente da família, no pátio da casa do Antonio Pereira. Cortaram a segunda orelha, o rapaz urrava de dor, e a mãe desmaiou. Eles continuaram, cortaram os dedos, as mãos e no final deram a facada que matou João Pereira.
Esse relatório está escrito no CIE, porque foi escrito por mim, e eles não abrem para os historiadores com medo que isso apareça. Pois bem. Eles fizeram isso porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas, a fim de servir de exemplo aos outros moradores para não terem contato com o pessoal do Exército, das Forças Armadas. Foi o crime mais hediondo que soube, nem na guerra da Coréia e do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só encontrei quando trucidaram o Tenente Alberto Mendes Júnior. O tenente se apresentou voluntariamente para substituir dois companheiros que estavam feridos, a turma do Lamarca pegou o rapaz trucidou, castrou e o obrigou a engolir os órgãos genitais.
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Quando me agachei ela me atirou à queima roupa. Me deu um tiro na mão e acertou na face, que atravessou o véu palatino e se encaixou atrás da coluna, e eu caí. O outro tiro que ela deu acertou o braço do Capital Curió, Subcomandante da minha equipe. O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira de bandida da Sônia, nome da guerrilheira.

Denise Madueño cita apenas as duas últimas frases. Escreve que a guerrilheira atirou, mas omite os ferimentos nos dois militares: ?Ele disse que, depois disso, ela recuperou a arma e atirou nele e no coronel Curió. "O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira da bandida Sônia, nome da guerrilheira", disse.
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Triste constatar que um jornal como o Estadão permite tais manipulações de notícias.

sexta-feira, junho 24, 2005
 
ESTADÃO FAZ JORNALISMO SAFADO
Aprenda a fazer jornalismo de esquerda, leitor. Principalmente se for estudante de jornalismo. Pode render-lhe um bom emprego nos grandes jornais nacionais. O texto abaixo foi extraído do Estadão on-line. Leia o título. E depois o texto, com atenção. Nele, você não encontrará nada que se refira à exaltação à tortura.
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Bolsonaro comanda sessão de exaltação à tortura na Câmara

Denise Madueño - A Câmara realizou hoje uma sessão solene, a pedido do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), de tributo aos militares que desmontaram a Guerrilha do Araguaia que mais se assemelhou a um filme de horror.
Depois de ter chamado o deputado José Dirceu (PT-SP) de terrorista dentro do plenário e de ter ofendido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, em outra sessão, Bolsonaro organizou um evento de pura provocação aos integrantes de movimentos políticos que combateram a ditadura militar. A realização da sessão foi autorizada pelo presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Bolsonaro levou como principal convidado o coronel Lício Augusto Maciel, chefe do Grupo de Combate e comandante das operações. Saudado por Bolsonaro como "herói do Araguaia", o coronel Lício ocupou a tribuna por uma hora fazendo um relato frio sobre a morte dos guerrilheiros e demonstrando orgulho da operação. Ele chorou por duas vezes ao falar de outros militares que também estiveram com ele na repressão da guerrilha.

Bolsonaro, que incluiu na sessão um toque de silêncio e uma canção militar, reclamou da falta de autoridades militares no evento e atacou o comandante do Exército, Francisco Albuquerque. "Lamento a ausência de qualquer representação de integrantes das Forças Armadas. Lamento também a negativa do Exército em nos conceder sua banda de música para abrilhantar o evento. Este é um fato ímpar nesta Casa. Senhor comandante do Exército, que muito estimo, a homenagem aqui é para homens", discursou Bolsonaro, sendo aplaudido.

O coronel Lício Maciel foi o grande homenageado da sessão. Responsável pela prisão do guerrilheiro José Genoino em 12 de abril de 1972, o coronel acusou o atual presidente do PT de ter entregue seus companheiros. Em um tom teatral, o coronel se referia diretamente a Genoino, como se ele estivesse assistindo à sessão, que é transmitida pela TV Câmara.

"Genoino, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha, coisa que me arrependo hoje", disse o coronel, sendo aplaudido pelo plenário, composto de militares e mulheres de militares.

Nos estertores da dor

Sem assumir que matou os guerrilheiros, o coronel contou que atirou em Lúcia Maria de Souza, conhecida por guerrilheira Sônia, na mata. "Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei: acertei a perna e ela caiu. E ela caiu feio. Não caiu, desmoronou. Ela deu um salto como se tivesse recebido uma patada de elefante. Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da dor, chorando e gritando", contou o coronel. Ele disse que, depois disso, ela recuperou a arma e atirou nele e no coronel Curió. "O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira da bandida Sônia, nome da guerrilheira", disse.

No relato da morte de André Grabois, o coronel disse que estava com a arma apontada para ele a uma distância de um metro e meio. O militar falou também do estado do guerrilheiro Nunes. "Nunes estava gravemente ferido, mal falava e quando fazia, o sangue escorria pela boca, mas conseguiu dizer a importância do grupo e citou nomes, não sei se nome ou codinome, de todos eles. E o Zequinha disse que aquele era o André Grabois. Não sei. Estava morto", relatou o coronel.

Ao contrário das demais sessões solenes, dessa vez nenhum partido destacou deputados para discursar. A sessão foi aberta pelo terceiro secretário, Eduardo Gomes (PSDB-TO), que depois de um rápido discurso passou a presidência a Bolsonaro e deixou o plenário.

O quarto-secretário, João Caldas (PL-AL), acompanhou a sessão e, além de Bolsonaro, apenas o deputado Elimar Dasmasceno (Prona-SP) discursou. Severino Cavalcanti estava cumprindo agenda em Pernambuco. A assessoria da presidência informou que não houve nada de irregular na sessão. De acordo com a assessoria, como de praxe, a presidência da sessão foi transferida para o autor do requerimento, no caso, o deputado Jair Bolsonaro. O presidente da sessão é soberano para comandar os trabalhos.

quarta-feira, junho 22, 2005
 
INTOLERÂNCIA LEGÍTIMA
Dia 25 do mês passado, foi lançado na Alemanha mais um desses livros que tão cedo - ou quem sabe nunca - não veremos editado no Brasil. Trata-se de Eu Acuso, mas nada tem a ver com Zola. É o depoimento de Ayaan Hirsi Ali, cidadã originalmente somali, hoje deputada do Parlamento holandês. Desta vez não é uma européia que enuncia a barbárie do Islã, mas uma africana ex-muçulmana. Ayaan foi também roteirista do curta-metragem Submissão - Parte I - rodado pelo cineasta holandês Theo van Gogh, que denunciava a opressão das mulheres do mundo muçulmano. Van Gogh, se alguém não lembra, foi assassinado por um terorista islâmico, em novembro de 2004, em Amsterdã. Antes de morrer, perguntou ao assassino: "Será que não podemos conversar?" Como resposta, teve a jugular cortada por uma faca de açougueiro. Com outra faca, o árabe espetou-lhe no peito uma carta de cinco páginas, com um recado para a deputada: "a próxima será você".

Neste filme, conta Aayan em entrevista para Veja, a câmera mostra o corpo da personagem Zainab - e aqui há uma homonímia inadmissível para um muçulmano, como veremos adiante - espancada pelo marido, coberto de hematomas, feridas e cicatrizes e pelos versos do Corão que autorizam o marido a espancar suas esposas. "Os fundamentalistas islâmicos ficaram irados ao ver os versos sagrados escritos no corpo de uma mulher. O resto, para eles, é normal".

Enquanto os intelectuais europeus se omitem e mesmo se rendem ao avanço do Islã, em nome de uma hipócrita tolerância com práticas de bárbaros, a defesa dos valores do velho continente parece ter ficado nas mãos de mulheres. Primeiro Oriana Fallaci, sobre a qual poderia pesar a suspeição de ser européia. Agora Ayaan, mais odiada porque africana. Pior ainda, ex-muçulmana. E igreja nenhuma, seja a católica, seja a comunista, seja a islamita, perdoa hereges. Os árabes sentem-se à vontade para matá-los em plena Europa.

A rendição definitiva da Europa tem suas origens em setembro de 1988, quando Shalman Rushdie publica no Ocidente seus Versos Satânicos. O título refere-se a trechos do Corão que mulá ou aiatolá algum quer ouvir, os versículos Gharanigh. Maomé, em sua ambição de construir uma religião monoteísta, para enfrentar a resistência da tribo dos Quoriche, que adoram as deusas pré-islâmicas Lat, Osa e Manat, ouve os conselhos de Satã: "esses ídolos são eminentes e sua intercessão está confirmada" (surata Nadjm, versículos 19 e 20). Quando assistem a veneração de seus deuses por Maomé, os Quoriche se rejubilam e prostram-se juntos ao profeta. Em seu oportunismo e afã de conquistar adeptos, Maomé ouviu Satã, seguiu suas diretrizes e cultuou ídolos pagãos.

Ao comentar estes versículos, Rushdie assinou sua sentença de morte. Em 14 de fevereiro de 1989, o aiatolá Khomeini proferiu uma fatwa (decreto religioso), oferecendo uma recompensa de 2,5 milhões de dólares a quem matasse o escritor, não importa em que país estivesse. Naquele momento, Khomeini afrontava a soberania de todo e qualquer país. Do alto de sua prepotência, o aiatolá ordenou:

Eu informo o orgulhoso povo muçulmano do mundo inteiro que o autor do livro Os Versículos Satânicos, que é contrário ao Islã, ao Profeta e ao Corão, assim como todos os implicados em sua publicação e que conhecem seu conteúdo são condenados à morte. (...) Apelo a todo muçulmano zeloso a executá-los rapidamente, onde quer que eles estejam. (...) Todo aquele que for morto nessa empreitada será considerado mártir.

Observe o leitor a sutileza do decreto, que abrange inclusive os "que conhecem seu conteúdo". O aiatolá condenou à morte até os leitores de Rushdie. A Europa não reagiu, afinal era um hindu. Verdade que tinha cidadania britânica, mas tratava-se de apenas um homem, e não vai se fazer guerra por um homem só. Ainda mais quando toda a Europa está atada por fortes laços econômicos com o Irã. Seria o bom momento de todas as democracias do Ocidente cortarem relações diplomáticas e econômicas com Teerã e deixar bem claro que não será um sacerdote persa insano quem irá impor sua vontade doentia a todos os países do globo. Nem Hitler ousou tanto.

A Europa calou-se e entregou Rushdie aos serviços de segurança britânicos. Ocorre que Khomeini morreu sem revogar sua fatwa.Que mais não fosse, o aiatolá Khamenei, sucessor de Khomeini, reiterou o decreto de morte. Todo fanático muçulmano passou a portar carteirinha de 007: com licença para matar. As primeiras vítimas da fatwa foram os tradutores dos Versículos, Ettore Capriolo (italiano) e Hitoshi Igarashi (japonês), atacados em julho de 1989. Igarashi morreu e Capriolo foi gravemente ferido. Rushdie ainda não está livre de receber uma punhalada em qualquer esquina do mundo. Uma tentação ambulante para qualquer candidato aos 2,5 milhões de dólares... ou às setenta virgens do paraíso.

Para matar van Gogh, não foi preciso nem fatwa. Todo muçulmano fundamentalista já se sente autorizado a "justiçar" qualquer herege. Vivesse Dante nestes dias, teria de esconder-se como Rushdie, pois colocou Maomé na nona fossa do oitavo círculo de seu inferno. Do jeito que o islamismo avança na Itália, não seria de espantar que em breve a Divina Comédia seja proibida ou pelo menos expurgada. E Voltaire, que considerava o Islã "o pesadelo da razão", seria extirpado da literatura francesa.

A bola da vez agora é Ayaan Hirsi Ali. Que ousa afirmar o que ninguém quer ouvir. Que Maomé seduziu e violou Zainab, a mulher de um pupilo. Que casou-se com Aisha, quando esta tinha nove anos. É espantoso observar que na atual Europa, obcecada pela pedofilia, tal personagem seja respeitado como um grande e excelso criador de religiões. Que doutrina pode-se esperar de tal celerado? Nada mais que um amontoado de asneiras, onde o assassinato e a violência contra a mulher são plenamente justificados. Isto é o Islã.

A escritora somali vai longe em suas denúncias. Que a maioria das mulheres muçulmanas sofre a excisão do clitóris quando criança, disto há muito se sabe. A própria Aayan foi submetida à mutilação aos cinco anos. Como no Islã as moças sem hímen são consideradas objetos usados, muitas delas, ao perder a virgindade, buscam a Europa para fazer cirurgias reparatórias. O que não se sabia é que, até pouco tempo, em respeito ao famigerado multiculturalismo, as imigrantes muçulmanas na Holanda era reembolsadas pela seguridade social pela restauração de hímen. Aliás, em nenhum país europeu falta médico que se habilite à prática infame da clitorectomia. Na Itália, chegou-se a propor uma solução intermediária: um pequeno corte simbólico, que manteria intacto o hímen, mas salvaria as sábias tradições islâmicas.

A deputada Aayan, como Rushdie, perdeu sua liberdade de flanar pelas ruelas das cidades da Europa e do mundo. (Aliás, depois da morte de van Gogh e das ameaças a Aayan, até os deputados holandeses renunciaram ao salutar hábito de ir ao Parlamento de bicicleta). Anda em um carro blindado, escoltada por seis guarda-costas. Corajosa e lúcida, afirma: 'Em teoria, nada diferencia um fanático cristão ou judeu de um fanático muçulmano. Na prática, eles se sentem mais à vontade no Islã".

Aayan está introduzindo na Europa um novo conceito, que deve estar arrepiando as esquerdas que saudaram Khomeiny como libertador e almejam o fim das liberdades na Europa, o conceito de intolerância legítima. "A democracia também inclui a noção de intolerância legítima. O intolerável não pode ser tolerado. Nós precisamos declarar guerra contra a propaganda islâmica".

A Europa, anestesiada por décadas de doutrinação marxista, entrega-se ao Islã como gado rumo ao matadouro. O velho continente, em ritmo de entropia, hoje tem sua mais entusiasta defensora em uma somali ex-muçulmana.

terça-feira, junho 21, 2005
 
SUPREMO APEDEUTA ARROTA ÉTICA


Se aposentou em plena força de trabalho e viveu duas décadas sem trabalhar. Durante este período, foi hospedado graciosamente por um empresário, e financiado pelo PT, aos moldes de um apparatchik do PC soviético. Nunca conseguiu explicar convincentemente a compra de uma cobertura no ABC paulista. Caloteia precatórios, inclusive precatórios alimentares, e compra - com o dinheiro do contribuinte, bem entendido - um avião ao estilo de um sultão do Brunei. Com o dinheiro devido aos cidadãos de seu país, seu partido compra deputados por atacado. Fez de tudo para impedir a atual CPI sobre a compra de deputados pelo PT, mas teve de dobrar-se à pressão da opinião pública.

Proferiu incongruências como:

"Banqueiro tem que ter medo do PT. Não é normal num país os bancos ganharem o que estão ganhando aqui". ( Caros Amigos, novembro de 2000).

'Tendo em vista os lucros que tiveram o Itaú, o Bradesco e os outros bancos, o Fernando Henrique Cardoso não é nem pai; ele é pai, mãe, avô, avó, tio, tia do sistema financeiro, que nunca ganhou tanto dinheiro como está ganhando agora". (Pasquim, fevereiro de 2002).

"Não podemos, não queremos e não devemos pagar a dívida externa". (Diário do Grande ABC, outubro de 2002).

"Recentemente, um banqueiro declarou a um jornal de São Paulo que o presidente argentino Fernando de la Rúa só chegou ao poder porque, desde o começo de sua campanha, garantiu que seguiria as instruções do FMI caso fosse eleito. É isso que queremos para o Brasil? Continuar sendo capacho dos investidores internacionais, que vão diminuir nosso conceito de B para C cada vez que abaixarmos os juros?" (artigo para o Diário do Grande ABC, julho de2000).

"O mesmo governo que tem o poder de elevar os juros de 19%para 49,5% tem o poder de baixar. O Fernando Henrique aumenta os juros, mas, na hora em que é para baixar, ele diz: 'O mercado é que vai decidir'. Eu acho que é uma decisão política". (Caros Amigos, novembro de 2000).

"O empresário tem que ter medo do PT, pessoas que degradam o meio ambiente têm que ter medo do PT, pessoas que praticam corrupção têm que ter medo do PT, aqueles que querem manter relações com o Estado entrando pela porta dos fundos têm que ter medo do PT". (Caros Amigos, novembro de 2000).

Estas citações estão reunidas no livro Frases de Lula e Cia. , compilação do jornalista Carlos Laranjeira, que recomendo a todos os fracos de memória. Hoje, 21 de junho de 2005, o Supremo Apedeuta arrota na imprensa:

"Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito neste país".

Modesto, o apedeuta. Ou melhor, cínico.

 
O GRANDE HUMANISTA
(in memoriam)
Se vivo estivesse, Jean-Paul Sartre comemoraria hoje cem anos. Segundo sua biógrafa Annie Cohen-Solal, em artigo no Le Monde, Sartre é hoje considerado na França um anátema, símbolo de impostor ou pensador antiquado, enquanto que em países como os EUA sua "mensagem continua sendo um instrumento de referência para decifrar sua época". Os franceses precisaram de um quarto de século após sua morte para perceber o grande embuste que exportaram ao mundo. Os ianques ainda não chegaram lá. O Brasil muito menos. Nossos jornais - sempre à reboque do que se pensa na Europa - dedicaram cadernos inteiros ao filósofo alcoólatra e defensor de massacres.
Em homenagem à data, reproduzo algumas frases do ilustre humanista.

"Um regime revolucionário tem de se desembaraçar de um certo número de indivíduos que o ameaçam, e não vejo outro meio de fazer isso senão a morte. Da prisão, sempre se pode sair. Os revolucionários de 1793 provavelmente não mataram o bastante".

"Abater um europeu é matar dois coelhos de uma só cajadada, suprimir ao mesmo tempo um opressor e um oprimido; restam um homem morto e um homem livre".

Em 1954, ao voltar de Moscou - onde tomou um porre que lhe valeu dez dias de hospital - o lúcido pensador declarou ao jornal parisiense Libération:
"A liberdade de crítica é total na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. E o cidadão soviético melhora sem cessar sua condição no seio de uma sociedade em progressão contínua. Exceto alguns, os russos não têm muita vontade de sair do país... não têm muita vontade de viajar neste momento. Têm outra coisa a fazer em casa".
"Lá por 1960, antes de 1965, se a França continua estagnada, o nível médio de vida na URSS será de 30 a 40% superior ao nosso. Qualquer que seja o caminho que a França deve seguir para sair de seu imobilismo, para recuperar ser atraso industrial, para se constituir como nação diferente da de hoje, ele não pode ser contrário ao da União Soviética".

sexta-feira, junho 17, 2005
 
HIRSI ALI E A ARROGÂNCIA MUÇULMANA
Se você quiser ter uma idéia do ponto a que está chegando o atrito entre muçulmanos e europeus, clique aqui:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2005/05/24/ult2682u28.jhtm, e leia a entrevista de Hirsi Ali, concedida ao jornal alemão Der Spiegel.

 
AOS POMBAIS AS POMBAS VOLTAM
(para entender o momento político)



As Pombas

Raimundo Correa

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüinea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

segunda-feira, junho 13, 2005
 
A QUE PONTO CHEGAMOS


All Financial Times News

Microsoft's new Chinese internet portal has banned the words "democracy" and "freedom" from parts of its website in an apparent effort to avoid offending Beijing's political censors.

Users of the joint-venture portal, formally launched last month, have been blocked from using a range of potentially sensitive words to label personal websites they create using its free online blog service, MSN Spaces.

 
AO LULA, COM GRATIDÃO
Nos anos 70, corria uma piada nos meios universitários. Que Stalin não quis a instauração do socialismo no Brasil para não desmoralizar o regime. Como piada não tinha muita graça, já que o socialismo fora desmoralizado muito antes, e definitivamente, pelo próprio Stalin. Diga-se de passagem, a desmoralização começou antes mesmo de Joseph Vissarionovitch Djugatchivili - que assim se chamava o monstro -, com Lênin. Vladimir Illitch até que não matou muitos, afinal teve pouco tempo de vida no poder. Mas não tenhamos dúvida alguma: se mais longevo fosse, mais russos mataria. Nenhuma ditadura se mantém no poder sem matanças.

Mesmo com Stalin desmascarado, as esquerdas durante muito tempo quiseram preservar a imagem de Lênin. Mas a história é implacável e não há crime que não venha à tona, mesmo que tenha permanecido impune. Hoje se tem documentos de Lênin autorizando o fuzilamento dos Romanoff. Mal assumiu o poder, já em 1920, Lênin tratou de destruir as aldeias dos cossacos e deportar os sobreviventes. Mais não matou porque desde 1922 estava fisicamente debilitado e morreu em 1924. No imaginário das esquerdas sobrou Trotski, que pouco matou porque não chegou a participar do poder. Mesmo assim, foi o responsável pelo massacre do Kronstadt.

Depois, tivemos Mao, o campeão (65 milhões de mortos) e os êmulos menores, Nicolau Ceaucescu, Envers Hodja, Pol Pot, Hoenecker. Mataram o que puderam. Ao custo de milhões de vítimas - mais precisamente cem milhões de cadáveres - o século XX entendeu que aquela doutrina romântica do alemão iracundo do século XIX só resultava em miséria, gulags, assassinatos em massa. Foram os líderes exponenciais do socialismo - não estou falando da social-democracia, bem entendido - que decretaram de uma vez por todas a morte da idéia socialista. Restam hoje os fantasmas ridículos de Castro e Kim Jong II, que embora tendo levado seus países à miséria, ainda contam com uma grande claque na imprensa internacional.

No Brasil, sempre na rabeira da História, os defensores destas idéias potencialmente assassinas do século XIX só chegaram ao poder ... no século XXI. Por duas vezes (em 35 e 64) tentaram chegar ao poder pelas armas. Nada conseguiram, foram repelidos por forças melhor armadas. Com mais de um século de atraso, o PT, em cujo DNA estão os genes de Marx, Lênin, Stalin, Mao et caterva, consegue assumir o governo através do voto. Mas até aí já havia caído o Muro, a URSS estava esfacelada, o socialismo (como sinônimo de comunismo) desmoralizado. Tarde demais para implantar ditaduras proletárias. Se fosse nos anos 80, quando o PT foi criado, quando a URSS arrotava e o planeta estremecia, talvez o continente todo hoje estivesse comunizado. Vinte anos depois, o PT não tinha mais cacife para fazer do Brasil uma imensa Cuba.

Gozando do clima de um país onde a História do comunismo havia sido habilmente escondida a seus cidadãos, o sedizente Partido dos Trabalhadores (criado não por trabalhadores, mas por sacerdotes católicos e intelectuais uspianos), conseguiu realizar o antigo sonho comunista, colocar um operário no poder. Operário mas não muito, já que o que menos fez em sua vida foi trabalhar. Mas tinha, pelo menos no início de sua trajetória, o perfil de um operário, e como operário continuou sendo considerado, mesmo após deixar de sê-lo. O Brasil estava salvo.
"Proletariado nosso que estás na terra, bendito seja teu nome, seja feita tua vontade, venha a nós o teu poder", dizia a prece revolucionária dos Construtores de Deus, movimento fundado por Gorki e Lunatcharski.
Mas os tempos eram outros. Já era um tanto démodé falar em proletariado ou luta de classes, burguesia ou socialismo. Lula, o eleito, teve um vislumbre de bom senso e traiu sua classe - o tal de proletariado - e mesmo sua biografia. Se antes combatia furiosamente o FMI, uma vez no poder passou a escorchar as classes média e baixa para aumentar o famigerado superávit primário, muito além do que o FMI esperava. Se antes manifestava com ira sagrada sua ojeriza a bancos e banqueiros, transformou seu governo em um paraíso inesperado para bancos e banqueiros, que hoje encontraram num país do Terceiro Mundo o melhor dos mundos para viver. Este nosso país incrível teve sorte. Foi preciso que a esperança dos proletários traísse o proletariado para que não caíssemos em uma economia miserável como a da Rússia, Cuba ou Albânia.

O Brasil teve sorte, mas apenas a sorte de não cair no abismo, o que não constitui avanço algum. Perspectiva nenhuma de afastar-se, um passo que fosse, do abismo. O grande mérito de Lula é não ter feito nada do que propunha em sua campanha. Pelo contrário, acelerou a política econômica escorchante de Fernando Henrique, enfiou mais fundo a mão no bolso do contribuinte, particularmente no bolso dos velhos e aposentados, que sequer têm a possibilidade de fazer greve para defender-se. Não bastasse isso, o PT montou o eficiente esquema de compra de deputados, hoje denunciado pela imprensa toda, em proporções jamais vistas na História deste ou de qualquer outro país.

Lula, como já se sabe através de inúmeros testemunhos, não ignorava esta corrupção generalizada de seu partido. Consciente dela, com sua inação deu aval para que continuasse. PC Farias - que deu origem ao impeachment de Collor - nunca meteu a mão no bolso do contribuinte. Coletava o dinheiro sujo junto a empresas, que naturalmente esperavam cortesias de volta. Delúbio Soares, o PC Farias do PT, compra deputados com dinheiro público e mais, com a conivência do presidente da República. Daquele que arrotava: em meu governo não se rouba nem se deixa roubar.

E aqui reside a grande contribuição de Lula e do PT ao país. Com a instituição do mensalão, estão desmoralizados de vez o partido e o presidente. O PT durou o que duram as rosas. Mal chegou à maioridade - e ao poder - mostrou ao que vinha: o saque da nação e a compra de consciências. Tudo isto muito coerente com as suas origens leninistas-stalinistas: os fins justificam os meios. Se é que o PT ainda tem como fim algo que não seja a manutenção indefinida do poder.

Segundo Delfim Netto, o PT precisava chegar ao poder para que o Brasil ficasse vacinado contra o PT. Chegamos à hora da vacina e a honra de ministrá-la coube ao primeiro - e esperamos que último - operário a tomar as rédeas do país. A administração de uma economia imensa e complexa, nestes dias em que vivemos, não é para o bico de um torneiro-mecânico malandro e sem maiores escrúpulos. Neste Brasil sempre na rabeira, coube a Lula a honra de pôr uma pá de cal nos ideais desvairados do século XIX. O PT, é verdade, já gerou um aborto, o PSOL. Talvez gere outros. Mas, no Brasil pelo menos, tais alucinados não conseguirão mais enganar o eleitor. (Eu, ateu, nestes momentos viro místico: que o bom Deus me ouça!) Quem votou no PT, a começar pelo funcionalismo público, hoje está se arrancando os cabelos. Só defende o PT, hoje, quem come milho em seu bornal.

A Lula, operoso coveiro do socialismo neste cantão da América Latina, meu eterno e comovido agradecimento

sexta-feira, junho 10, 2005
 
SINGULAR MAJESTÁTICO
Analfabeto, mas criou uma nova figura de estilo. Quando Lula diz que "cortaremos na própria carne", claro que da carne dele não se trata. Ele se refere à carne deles, do PT. Saúdo o Supremo Apedeuta como o criador de uma nova figura de estilo, o singular majestático.

quarta-feira, junho 08, 2005
 
O SERMÃO DO XEQUE MUDEIRIS
Tradução de Marcos Vasconcelos
Os Mulçumanos hão de dominar os Estados Unidos e a Inglaterra,
os judeus são um vírus semelhante ao da AIDS.

(Excertos do sermão do xeque Ibrahim Mudeiris, transmitido pela TV da Autoridade Palestina, em 13/05/05)

Ibrahim Mudeiris: Alá nos tem atormentado com "o povo mais hostil aos crentes": os judeus. "Tu descobrirás que o povo mais hostil aos crentes serão os judeus e os politeístas". Alá alertou o Seu amado Profeta Maomé contra os judeus, que assassinaram os seus próprios profetas, fraudaram o Torá e semearam a corrupção ao longo de toda a sua história.
Com o estabelecimento do Estado de Israel, a nação islâmica perdeu-se em sua totalidade, porque Israel é um câncer que se espalha por todo o corpo da nação islâmica e porque os judeus são um vírus semelhante ao da AIDS, da qual o mundo inteiro sofre as dores.

Vocês vão descobrir que os judeus estão por trás de todos os conflitos civis deste mundo. Os judeus estão por trás do sofrimento das nações.

Perguntem à Inglaterra o que ela fez aos judeus no final do século VI. Que fez ela aos judeus? Expulsou-os, torturou-os e os proibiu de entrar na Grã-bretanha por mais de 300 anos. Tudo isso pelo que os judeus fizeram na Inglaterra. Perguntem à França o que ela fez aos judeus. Ela os torturou, os expulsou e queimou o Talmude deles por causa dos conflitos civis que os judeus queriam desencadear na França nos dias de Luís XIX. Perguntem a Portugal o que fez ele aos judeus. Perguntem à Rússia Czarista, que dera guarida aos judeus, os quais conspiraram para matar o Czar - foi por isso ela os massacrou. Mas não perguntem a Alemanha o que ela fez aos judeus. Foram os judeus que promoveram o Nazismo que declarou guerra ao mundo inteiro, quando, valendo-se do movimento sionista levaram os outros paises a declararem guerra econômica à Alemanha e a boicotarem o comércio com ela; eles incitaram a Rússia, a Inglaterra, a França e a Itália. Isso despertou a ira dos alemães contra os judeus, desencadeando os eventos daqueles dias, os quais os judeus hoje rememoram.

Contudo eles estão fazendo coisas piores do que as que fizeram na guerra nazista. Sim, talvez alguns deles tenham sido mortos e alguns queimados, mas eles exageram isso para ganhar a atenção da mídia e a simpatia do mundo. Os piores crimes da história foram cometidos contra os judeus, tais crimes, no entanto, não são piores do que aqueles que os judeus estão perpetrando na Palestina. O que se fez aos judeus foi um crime, mas aquilo que os judeus estão fazendo hoje na Terra da Palestina não é um crime?!

Observe a história moderna. Onde foi parar a Grã-Bretanha? Que é feito da Rússia Czarista? Onde está a França? - a França que quase dominou o mundo inteiro. E a Alemanha nazista, que massacrou milhões e dominou o mundo, onde está ela? Que fim levaram todos aqueles superpoderes? Aquele que os fez sumir também fará desaparecer os Estados Unidos, se Deus quiser. Aquele que fez a Rússia desaparecer da noite para o dia também é capaz de fazer os Estados Unidos desaparecerem e caírem, que Alá o permita.

Nós já governamos o mundo antes, e por Alá, há de chegar o dia em que o dominaremos totalmente de novo. Há de chegar o dia em que dominaremos os Estados Unidos. Há de vir o dia em que governaremos a Inglaterra e o mundo todo - exceto para os judeus. Os judeus não gozarão de uma vida tranqüila debaixo do nosso domínio, porque são traiçoeiros por natureza, como têm sido por toda a história. Há de vir o dia em que todas as coisas ficarão livres dos judeus - até mesmo as pedras e as árvores que foram feridas por eles. Ouçam o Profeta Maomé que lhes fala sobre o maligno fim reservado para os judeus. As pedras e as árvores desejarão que os Muçulmanos exterminem todo judeu.
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Colaboração de Marcos Vasconcelos - (http://verbigratia.blogspot.com/).

 
HUMANISMO ISLÂMICO
Se você quiser ter uma idéia do humanismo islâmico, dê uma olhadela no sermão de sexta-feira do Sheik Ibrahim Mudeiris:
Muslims Will Rule America and Britain, Jews Are a Virus Resembling AIDS

terça-feira, junho 07, 2005
 
PERGUNTA PARA MEDITAÇÃO
Luís Ignacio Lula da Silva tem em mãos uma oportunidade única para realizar sua mais obsessiva ambição, reeleger-se em 2006. Bastaria demitir ministros e funcionários corruptos, apoiar a instalação da CPI dos Correios - e eventualmente a do "mensalão" - entregar a bandidagem à própria sorte e limpar seu nome e seu governo. Entraria na liça como um campeão da moralidade e poderia cantar vitória já no primeiro turno.
Por que não o faz? Não me parece que a resposta seja um enigma.

segunda-feira, junho 06, 2005
 
VERISSIMO MENTE
Convidado para uma feira de livros que se realiza em Montpellier todos os anos, junto com outros amigos do Rei (tais como Milton Hatoum, Chico Buarque, Tabajara Ruas, Charles Kieffer et caterva), Luis Fernando Verissimo, não satisfeito de enganar no Brasil, passou a enganar na França. Como fiel compagnon de route das viúvas de Moscou, repetiu pela milionésima vez a mentira criada pelos comunistas sobre o episódio ocorrido no dia 12 de outubro (Dia de la Raza) de 1936, na universidade de Salamanca, Espanha. Diga-se de passagem, a mesma mentira foi repetida em março passado por um outro velho marxista, Fernando Henrique Cardoso.

"Quando chegou a minha vez - escreve o filho do Erico Estadão de quinta-feira passada -, recorri àquele episódio da Guerra Civil Espanhola em que um general alucinado de Franco terminou um discurso que fazia na Universidade de Salamanca com um "Viva a morte, abaixo a inteligência!" e Miguel de Unamuno, reitor da universidade, respondeu com uma candente defesa da cultura e do espírito criador. Ali, naquela festa de livros, lembrando o martírio de Florence e de sua família, nós também estávamos, como Unamuno, respondendo à barbarie com um viva às palavras, às idéias e à inteligência e dizendo abaixo a guerra, abaixo o terror, abaixo a burrice. E fui me sentar, achando a ovação do público um pouco desproporcional à minha oratória improvisada e sem jeito. Foi quando descobri que o francês que fazia a tradução do discurso me entendera mal e em vez de "abaixo a burrice!" dissera "abaixo a polícia!". Com o que o povo de Montpellier concordara entusiasticamente".

O tradutor pode ter-se enganado na tradução e o público pode ter-se enganado na ovação. Mas não é este o problema. Tanto o tradutor como público deixaram passar erro maior, a versão do episódio do Día de la Raza. Cada vez que um velho comunista repete esta potoca, sinto-me no dever de desmenti-lo. Assim sendo, vou repetir, talvez pela décima vez, o que já escrevi sobre o assunto.

Em História Ilustrada de la Guerra Civil, Ricardo de Cierva considera o episódio maltratado pela propaganda, silenciado pelos testemunhas autênticos e tergiversado por comentaristas empenhados em com ele demonstrar uma ou várias teses preconcebidas.

"Celebrava-se no Paraninfo da Universidade de Salamanca a Fiesta de la Raza. Assistia o ato a esposa do recém-nomeado chefe de Estado, Dona Carmen Polo de Franco. Presidia a cerimônia o reitor da Universidade, don Miguel de Unamuno. Também estavam presentes, entre outras personalidades, José María Pemán e o general Millán Astray. Este último, em um breve discurso, intercalou um inciso inoportuno no qual confundiu regionalismo com separatismo. Invocou logo a Morte, noiva de sua Legião. Feito o silêncio, todos os olhares convergiram para don Miguel de Unamuno".

Millán Astray era um general de Infantaria, que havia participado das campanhas das Filipinas e Marrocos. Nesta última, perdera um olho e um braço. Julián Zugazagoitia o descreve como um "general recomposto com garfos, madeiras, cordas e vidros". Em sua alocução, falara dos dois cânceres que corroem a Espanha: País Basco e Catalunha. Unamuno, basco e iracundo, tomou a palavra.

- Calar, às vezes, significa mentir- disse o reitor com voz firme - porque o silêncio pode ser interpretado como aquiescência. Eu não poderia sobreviver a um divórcio entre minha consciência e minha palavra, que sempre formaram um excelente par. Serei breve. A verdade é mais verdade quando se manifesta desnuda, livre de adornos e palavrório. Gostaria de comentar o discurso - para chamá-lo de alguma forma - do general Millán Astray, que se encontra entre nós.

Segundo o relato de Luis Portillo, em Vida y martírio de don Miguel de Unamuno, o general tornou-se rígido.

- Deixemos de lado - continuou Unamuno - o insulto pessoal que supõe a repentina explosão de ofensas contra bascos e catalães. Eu nasci em Bilbao, em meio aos bombardeios da segunda guerra carlista. Mais adiante, me casei com esta cidade de Salamanca, tão querida, mas sem esquecer jamais minha cidade natal. O bispo, queira ou não, é catalão, nascido em Barcelona.

Após uma pausa em meio ao silêncio tenso, continuou:

- Acabo de ouvir o grito necrófilo e sem sentido de Viva a Morte! Isto me soa o mesmo que Morra a Vida! E eu, que passei toda minha vida criando paradoxos que provocaram o enfado dos que não os compreenderam, tenho de dizer-lhes, como autoridade na matéria, que este ridículo paradoxo me parece repelente. Posto que foi proclamado em homenagem ao último orador, entendo que foi dirigida a ele, se bem que de uma forma excessiva e tortuosa, como testemunho de que ele mesmo é o símbolo da morte. E outra coisa! O general Millán Astray é um inválido. Não é preciso dizê-lo em tom mais baixo. É um inválido de guerra. Também o foi Cervantes. Mas os extremos não servem como norma. Desgraçadamente, há hoje em dia inválidos demais na Espanha e logo haverá mais, se Deus não nos ajuda. Um inválido que careça da grandeza espiritual de Cervantes, que era um homem - não um super-homem - viril e completo apesar de suas mutilações, um inválido, como disse, que careça dessa superioridade do espírito, costuma sentir-se aliviado vendo como aumenta o número de mutilados em torno a si. O general Millán Astray gostaria de criar uma Espanha nova - criação negativa, sem dúvida - segundo sua própria imagem. E por isso desejaria ver uma Espanha mutilada, como inconscientemente deu a entender.

Astray não consegue conter-se e grita:
- Morra a inteligência!
José María Pemán corrige:
- Não! Viva a inteligência! Morram os maus intelectuais!

Há um alvoroço no Paraninfo, professores togados cercam Unamuno, os camisas azuis se juntam em torno a Astray. Unamuno retoma a palavra:

- Este é o templo da inteligência. E eu sou seu sumo sacerdote. Vós estais profanando seu recinto sagrado. Eu sempre fui, diga o que diga o provérbio, um profeta em meu próprio país. Vencereis mas não convencereis. Vencereis porque tendes sobrada força bruta. Mas não convencereis, porque convencer significa persuadir. E para persuadir, necessitais algo que vos falta: razão e direito de luta. Me parece inútil pedir-vos que penseis na Espanha. Tenho dito...

A esposa do general Franco, rodeada por sua escolta, toma Unamuno pelo braço e o conduz até a porta da Universidade, onde o esperava um carro do Quartel General. Mas a narração soa melhor aos ouvidos dos leitores - amestrados por um pensamento de esquerda - mostrando Astray como franquista, afinal era general. Unamuno, basco, filósofo e reitor de uma universidade, só poderia ser anti-franquista. Para vender, os jornais transmitem ao leitor o que o leitor gosta de comprar. A mentira impressa passa então a fundamentar teses e tende a fixar-se como História. Mas os fatos são teimosos e, mais dia menos dia, mostram sua verdadeira face.

O que tanto Fernando Henrique Cardoso e Luís Fernando Veríssimo omitiram é que, naquela solenidade, o generalíssimo Francisco Franco de Bahamonde - que salvou a Espanha e a Europa do totalitarismo soviético - era representado oficialmente pelo reitor Miguel de Unamuno. Mas tanto FHC como Verissimo jamais admitiriam tal fato. Seria renegar toda uma vida e biografia, montadas sobre mentiras.

A frase de Astray, proferida no ardor do debate, é de uma infelicidade extrema. Mas tanto Millán Astray como José Maria Pemán, naquele momento, representavam o pensamento do mesmo Francisco Franco que Unamuno representava oficialmente na cerimônia. Ambas as partes defendiam o mesmo lado. O qüiproquó era outro: o confronto entre os nacionalismos do galego - como Franco - Millán Astray e do basco Miguel de Unamuno.

Mas a vida é assim mesmo. Não se pode exigir honestidade intelectual das viúvas de Moscou.

 
FAMINTOS DE FOMENTOS
A imprensa nos traz armadilhas que nem todo leitor desprevenido consegue evitar. Uma delas são os passarinhos em extinção. Outra, os movimentos de apoio à cultura. Difícil saber qual o mais safado e mais prejudicial aos cofres públicos.

Nos dias em que vivi no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba. Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba. Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense.

Se os ongueiros conseguiram consumar o crime contra a cidade, não sei, pois acabei mudando de paragens. Mas toda vez que vejo a imagem de um adorável bichinho em extinção nos noticiários, fico com um pé atrás. Pois atrás do lindo animalzinho, há propósitos muito feios. O mesmo diga-se a respeito das comissões de intelectuais que procuram sensibilizar o governo em suas campanhas de "apoio à cultura".

Os mais useiros e vezeiros defensores da cultura são os cineastas e gente de teatro. Toda a vez que uma comissão destas máfias se reúne com autoridades governamentais, o fim é um só: pedir apoio para divulgarem suas artes. O governo, que não é bobo, sabe muito o que quer dizer apoio no jargão destes "artistas". Apoio é dinheiro público. Para o governo, que não produz dinheiro algum, tanto faz liberar alguns milhões para estes pedintes de elite. Passa por generoso, protetor da cultura e das artes, e abafa regougos de oposição nos jornais. Quem acaba apoiando a "cultura" - isto é, o dolce far niente dos artistas - é você, contribuinte. Que, se quiser assistir a alguma das "obras" que você mesmo financiou, tem de desembolsar mais alguns trocados de seu orçamento.

Ora, o rei financia só seus amigos e simpatizantes. Como os amigos do rei são sempre de esquerda, e sempre os mesmos, você acaba pagando para engolir panfletos - financiados por você mesmo, ainda que à sua revelia - que louvam doutrinas sanguinolentas e obsoletas do século XIX. Muitos filmes sequer encontram espaço para distribuição e vão direto para o pó dos arquivos. Mas produtores e diretores sempre levam o seu. Conseguem ainda uma graninha extra para propaganda no Exterior - sempre em nome da sacrossanta divulgação da cultura brasileira.

Se chegam a ser nomeados para algum prêmio internacional, é a glória. Mesmo sem levar prêmio algum, ajuntam a seus créditos: "selecionado para o Oscar", "selecionado para o Festival de Cannes", "selecionado para o Festival de Berlim", etc. Selecionado quer dizer que o filme não levou prêmio algum. Mas isto o leitor comum não percebe. Depois, é tratar de empurrar a "coisa" goela abaixo do público, através das cotas obrigatórias de exibição do cinema nacional.
Mesmo assim, as salas continuam vazias. Mas não o bolso dos produtores e diretores, que vivem e habitam como magnatas de Hollywood. Como? Graças à sua gentil e involuntária contribuição, caro leitor! Que atende pelo simpático pseudônimo de isenção fiscal para o fomento da cultura. São as leis Rouanet da vida, lei Sarney e quejandas. O governo isenta de imposto as empresas que financiam as ditas atividades culturais e depois tira de seu bolso o que deixou de receber das beneméritas empresas.

No caso do teatro, os pedintes são mais audazes e insistentes. Que eu saiba, hoje não se encena peça alguma no Brasil que seja financiada pela própria produção. Nossos homens de teatro, quais saúvas vorazes, se lançam com fúria à cata das magnânimas isenções, trate-se de uma produção de luxo ou de teatro mambembe. E ainda lhe cobram ingresso, quando a produção toda já foi paga por você mesmo. Se mesmo assim você ainda hesita em cair no engodo, promovem passeios turísticos às capitais, onde você tem direito a city tours, refeições em bons restaurantes, estada em hotéis de luxo... desde que vá assistir às "obras-primas" do bestunto nacional. O que explica a massa de caipiras engravatados do interior que você encontra nas salas de São Paulo, caso tenha tido a infeliz idéia de visitá-las. Claro que, para efeitos de isenção fiscal, tanto Xuxa quanto Gilberto Gil ou Julio Iglesias constituem cultura.

Não bastasse esta prática contumaz de assalto ao erário em nome da cultura, na semana passada um grupo de 600 artistas invadiu a Assembléia Legislativa de São Paulo, exigindo a votação de mais um projeto de lei que abriria caminho para a criação de mais um mecenato, o Fundo Estadual de Arte e Cultura. Os beneméritos artistas reivindicavam um orçamento de nada menos de R$ 115 milhões, para serem utilizados em três anos, que contemplariam nove áreas da produção artística. Como não o levaram, vaiaram os vereadores. Mas artista é paciente e infatigável. Mais ou cedo mais tarde, talvez mais perto de um período eleitoral, acabarão embolsando seus milhõezinhos.

Os escritores, praticantes de uma arte de produção mais barata, também nunca foram indiferentes a mordomias. É curioso ver a grande imprensa denunciar a corrupção vigente nos organismos estatais e jamais dizer uma palavrinha sobre a corrupção no mundo literário e nas universidades. Pois que outro nome poderia se usar para esta prática infame, a dos livros de leitura obrigatória, nas escolas e nos vestibulares, que só contemplam - e regiamente - os escritores amigos do poder? Já tivemos inclusive o caso de uma escritora - Lygia Fagundes Telles - participando de uma comissão que indicava tais livros e que não teve pejo algum de indicar um livro ... dela própria. Sua cotação no mercado editorial decolou em segundos.

Mas para os escritores, seres criativos por definição, corrupção pouca é bobagem. Ainda na semana passada, num salão de festas em São Paulo, empunhando Ezra Pound, quatro escritores defenderam a criação de mais um mecenato estatal: "Uma nação que negligencia as percepções de seus artistas entra em declínio. Depois de um certo tempo ela cessa de agir e apenas sobrevive". Com esta citação do escritor nazista americano, criaram o Movimento Literatura Urgente e redigiram o manifesto Temos Fome de Literatura. Que, assinado por 181 escritores famintos, foi encaminhado para o Coordenador do Programa Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas, Galeno Amorim. Não imagine o leitor que os escritores estivessem pedindo literatura para comer.

Nada disso. Querem é que o Fundo Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas, estudado pelo Ministério da Cultura, inclua uma pequena palavra em sua denominação - a palavrinha literatura - e, last but not least, destine 30% de seu orçamento para a criação literária. Famintos de fomentos, os escritores contemporâneos abdicam da independência intelectual (porque o Estado sempre cobra de volta) que sempre caracterizou a grande literatura, e se tornam reles mendigos que adoram viver da caridade pública. Mais um pouco e a palavra escritor vira palavrão - algo como prostituta das Letras - e entra na famigerada cartilha do Nilmário.

Atenção ao que lê, caro leitor. Quando ouvir falar de curiango-do-banhado, macuquinho-da-várzea, defesa do cinema nacional e fome de literatura, desconfie. Tem maracutaia atrás.

domingo, junho 05, 2005
 
AÇÃO SOCIAL DO GOVERNO
Governo na Daslu - Anunciada com pompa pela empresária Eliane Tranchesi, a Nova Daslu, reduto de luxo em São Paulo, teve apoio formal da União. O BNDES liberou R$ 30 milhões, com financiamento de longo prazo e juros baixos, para o empreendimento. O assunto vem sendo mantido em sigilo pelo baixo número de projetos sociais liberados pelo governo. (Revista Istoé Dinheiro, 03/06/2005) - www.istoe.com.br
Quanto aos precatórios da União, já transitados em julgado ... que Deus os pague. Pois está fora da cogitação deste governo pagar o que deve.

sábado, junho 04, 2005
 
ORIANA FALLACI
Aos leitores que eventualmente participam do Orkut, comunico que criei a comunidade Oriana Fallaci (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2369434), em homenagem a ùnica escritora européia a ter colhões para defender o Ocidente do fanatismo islâmico. Espero que o fórum seja um espaço para discutirmos as relações Islã/Ocidente e conto com a colaboração de todo orkutiano que nutre fascinação e carinho pelo velho continente. Em função da covardia editorial brasileira, os últimos e mais importantes livros da autora (La Rabia e l'Orgoglio, La Forza de la Raggione e Oriana Fallaci intervista Oriana Fallaci) ainda não foram traduzidos no Brasil.
Aos leitores que quiserem o texto jornalístico que originou La Rabia e l'Orgoglio: pedi e recebereis. Em inglês ou espanhol.

quarta-feira, junho 01, 2005
 
INFECÇÃO
A religião não se dissemina porque é útil. Ela salta de uma mente para a outra como uma infecção, ou como um vírus de computador, que só se propaga porque traz embutida uma instrução codificada: "Espalhe-me".
(Richard Dawkins, zoólogo britânico, em entrevista para Veja).