¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

terça-feira, novembro 30, 2010
 
INTERNET CASHER,
CENSURA JUDAICA


Comentei, no início do ano, um tratado teológico-culinário, do rabino Ezra Dayan, Casher na prática. O bom rabino considerava que “a dieta alimentar judaica não só preserva o corpo e alma do judeu, mas também lhe serve como documento de identidade. A kashrut (cozinha judaica) é algo que une o povo... Ao comer casher, estaremos unindo os integrantes do povo judeu e, quem sabe, aproximando a vinda do Mashiach”.

Que a kashrut apresse a vinda do Messias não é fácil de entender. Mas teria por função a elevação espiritual do ser humano: “aquele que ingere alimentos proibidos, está prejudicando a si mesmo e ao mundo, pois acaba causando estragos em sua alma e no mundo todo, sem levar em conta o fato de ter perdido a oportunidade de se elevar e estar mais próximo de sua meta. Nossos sábios comentam que aquele que ingere alimentos proibidos cria uma crosta em torno de seu coração, isolando-o das boas influências e de bons ensinamentos”.

Ou seja, leitor: eu, tu e todos nós, que não comemos casher, temos uma crosta no coração, prejudicamos a nós e ao mundo, causamos estragos em nossa alma e no mundo todo, estamos afastados das boas influências e de bons ensinamentos. Só pode elevar-se espiritualmente quem é judeu e segue as prescrições da kashrut. Nós, goyim, somos uns brutos irremediáveis.

Casher é o alimento judaico preparado de acordo com a Torá. Quer dizer “permitido”, “próprio” ou “bom”. As leis judaicas só permitem o consumo de carne de animais ruminantes e com casco fendido, considerados mais limpos. Não permitem a carne de porco, que não é ruminante. Lacticínios não podem ser ingeridos com carne, porque lá no Êxodo disse Moisés: “Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. Judeu não come picanha. Porque lá no Gênesis, Jacó lutou com Deus até o romper do dia. Quando Deus viu que não prevalecia contra ele, tocou-lhe a juntura da coxa e a deslocou. Então, picanha não se come.

E por aí vai. E vai longe. As regras judaicas de alimentação são extremamente complexas e têm implicações nos instrumentos de cozinha, na ocasião de comer e até no abastecimento dos produtos alimentares. Carne só é casher quando benzida por um rabino. Até aí, problema deles. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. Azar dos judeus, cuja ortodoxia os priva de não poucos prazeres da cozinha.

Daí a uma internet casher vai uma longa distância. Por insólito que pareça, ela é defendida por ortodoxos. O que era uma prescrição alimentar, pelo jeito está sendo transporta à internet. Edmund Sanders escreve no Los Angeles Times sobre o novo tabu. Os rabinos ultraortodoxos consideram a internet a maior ameaça para o judaísmo, comparando-a a comer carne de porco e considerando-a "mil vezes pior" do que a TV. Com a difusão da tecnologia, os rabinos abrandaram sua postura, e em 2005 permitiram um uso limitado da internet para fins de trabalho.

"Num escritório cinzento da cidadela de judeus ultraortodoxos chamada Bnei Berek, três jovens devotas com o rosto colado num computador procuram na internet pornografia, mexericos sobre celebridades e uma lista de sites proibidos pelos rabinos.

"É um trabalho estranho para moças que se vestem modestamente e usam perucas em obediência às suas crenças. Mas esta é sua função na primeira provedora de internet ultraortodoxa de Israel, a Nativ, que tenta lançar um produto capaz de transformar a comunidade tradicionalmente resguardada do mundo: a internet kasher.

"Como imagens ousadas de mulheres são o conteúdo ofensivo mais comum, a companhia concluiu que seria menos reprovável contratar mulheres para vasculhar a web para que clientes ultraortodoxos, ou haredi, surfem sem preocupação. Lea Bernat, 22, ex-professora de jardim da infância, clica diariamente em centenas de páginas. "Se estiver limpo, nós o divulgamos", afirmou. "Se é impróprio, dizemos ao cliente que o site não foi aprovado".

Edmund Sanders nos fala ainda do Koogle, um motor de busca inspirado no Google de empresas kasher que oferecem, por exemplo, pechinchas como "modestos" vestidos de noiva. Muitos rabinos se mostram céticos quanto ao YouTube, então o Yideotube oferece uma "fonte diária online de vídeos cuidadosamente avaliados", que variam de caricaturas de ativistas contrários à guerra a dicas para comprar um traje "kittel" cerimonial.

Há também um software para não infringir as proibições do trabalho no Sabbath, que permite aos sites bloquear o acesso aos usuários, conforme a hora, entre sexta-feira e sábado à noite. Um grupo de apoio online, o GuardYourEyes.org, ajudar os judeus ortodoxos a romper a "dependência da luxúria" na internet. Além dos costumeiros programas em 12 passos e dos "edificantes" e-mails diários, o grupo oferece dicas para reduzir as visitas inadequadas. Inclusive com um software que envia listas dos sites visitados à esposa ou ao rabino.

Sempre me perguntei para que serve um rabino. A meu ver, só servem para benzer carnes, cortar prepúcios e produzir teologia. Parece que o ócio é grande no rabinato, a tal ponto que agora pretendem aplicar prescrições originalmente alimentares à rede de computadores. A Torá conta um conto e os rabinos acrescentam vários pontos.

Em seu livro La Loi de Moïse, o diplomata Jean Soler se perguntava: pode um vinho ser casher? Pode. Mas que é um vinho casher, se entre uva e uva não existe distinção alguma? Se você pergunta a um enólogo israelita qual é sua definição de vinho casher, você arrisca de metê-lo em apuros. Ele lhe responderá sem dúvida, de forma evasiva, que não há verdadeiros critérios. Sabendo que a noção de vinho casher é desconhecida da Bíblia, você pensará talvez que seu embaraço provém disto. Mas se você insiste, ele dirá: “vinho casher é um vinho que foi feito, do começo ao fim, por judeus”.

Que é a internet kasher? No fundo, é o que um rabino decide que é internet kasher. Na verdade, um pretexto teológico-religioso para censurar os conteúdos da rede. Ortodoxia nunca suportou liberdade de pensamento.

segunda-feira, novembro 29, 2010
 
HABEAS FELICITATEM?


Primeiro, foi o Butão, aquele pequeno país isolado no Himalaia, cujo rei, Sua Majestade Jigme Singye Wangchuck – o primeiro marajá da dinastia dos Wangchuk a auto-intitular-se rei – decidiu abandonar os obsoletos índices de Produto Interno Bruto e substitui-lo por um índice de Felicidade Interna Bruta. Abaixo o PIB, viva a FIB. Sua jogada de marketing parece ter agradado às eternas e azedas esquerdas, que acham que PIB não quer dizer nada. Não que acreditem nisso, mas como o PIB das nações capitalistas sempre foi superior ao das socialistas, então o PIB “é do mal”.

Segundo pesquisa feita há quatro anos pelo economista britânico Richard Layard, em Happiness: Lessons From a New Science, a felicidade residiria no reino budista do Butão. Segundo Jigme Singye Wangchuck, quanto mais uma pessoa assiste televisão, menos feliz ela é. A solução então é simples: retire a televisão da sala e suas chances de ser feliz aumentarão. Sua Majestade parece ter conseguido vender ao Ocidente a idéia de que, para a felicidade geral das nações, é melhor renunciar ao presente e encerrar-se nas trevas do passado. Sob o repúdio à televisão, o livro esconde uma tese safada: informação é infelicidade. O PT, penhorado, agradece.

Agora é o Reino Unido, que pretende criar um índice que determinará o maior ou menor grau de felicidade dos súditos de Sua Majestade. Quinta-feira passada, foi lançada uma consulta pública para definir como fazer uma pesquisa para medir o grau de felicidade. O governo quer saber o que torna felizes os cidadãos britânicos. Dinheiro, emprego, saúde, bom relacionamento com amigos e parentes, sensação de que vive num lugar seguro, atividades culturais, meio ambiente preservado...

A universidade de Leicester já havia elaborado, há quatro anos, o que seria o primeiro mapa mundial da felicidade, em um estudo que reuniu 177 países. Segundo este, os dinamarqueses e os suíços são os mais felizes. Depois destes, vêm os cidadãos da Áustria, Islândia, Bahamas, Finlândia e Suécia. Zimbabuanos e burundineses estão nos postos mais baixos e os brasileiros em 81º lugar. Dentro de meu conceito, já não digo de felicidade, que é muito relativo, mas de bem-estar, parece-me um mapa sensato. Que a vida é agradável na Dinamarca e Suíça, disto estou ciente. Que deve ser dura no Zimbábue e Burundi, disto também estou ciente, mesmo sem jamais ter postos os pés naquelas plagas.

Por outro lado, a New Economics Foundation e a ONG Friends of Earth criaram o Happy Planet Index, segundo o qual a felicidade teria estabelecido sua morada no arquipélago de Vanuatu – 83 ilhas no Pacífico, com 209 mil habitantes, na maioria pescadores e agricultores que vivem numa economia pouco além do nível da subsistência. Os vanuatuenses tiveram a melhor média de três indicadores básicos: esperança de vida ao nascer, bem-estar humano e nível dos danos ambientais causados ao país.

Nesse índice, o Brasil ficou em 65º lugar, atrás da Colômbia, da Argentina, do Chile e do Paraguai – até de Bangladesh. Os Estados Unidos ficaram com o 150º lugar, um dos últimos entre 178 países. O Happy Planet Index quer evidenciar que "não é necessário esgotar os recursos naturais da Terra para se ter uma vida relativamente longa e feliz". Seus critérios são, no fundo, um panfleto contra tudo o que de bom o Ocidente oferece.

Os britânicos estão querendo medir o imensurável. Ora, tudo depende de ambições. Certa vez, eu conversava com uma balconista que servia cafezinho no terminal de Cumbica, na Praça da República. É um trabalho duro, oito ou mais horas em pé, no espaço exíguo da cafeteria. Ela estava feliz. “Adoro trabalhar aqui. Se não tivesse este trabalho, estaria no cabo da enxada, na roça”. É o tipo de trabalho que não me faria feliz, e muito menos o leitor. Para ela, era o paraíso.

Minha idéia de felicidade é um pouco mais ampla. Eu me sentiria terrivelmente deprimido se não pudesse ir a Paris quando quero ir a Paris. Conheço não pouca gente que se deprime por muito menos. Porque não tem casa na praia, porque não tem o carro do ano, Com perdão pela obviedade, felicidade é algo muito relativo.

Há quem seja feliz com muito pouco. Há muitos anos, aqui em São Paulo, numa fria madrugada de agosto, vi um mendigo que ria sozinho, atirado na rua, apoiado em uma garrafa de cachaça. “Como eu sou feliz”, dizia. E não seria eu quem duvidaria de que ele fosse feliz. Há quem se sinta desgraçado quando seu time perde um campeonato. E isto ocorre até mesmo com pessoas sem nenhum problema econômico. FIB é relativa. Enquanto que o velho PIB é objetivo e nos dá bons indícios da FIB.

Diria que os britânicos seriam bem mais precisos se medissem os índices de infelicidade. Ser infeliz é algo bem mais preciso. É infeliz toda pessoa que porta doença grave, que está num hospital ou que perdeu amigos ou parentes. Ou que não tem emprego, ou vive acossad por dívidas, ou tem um filho drogado ou criminoso. Isso sem falar que felicidade ou infelicidade são estados cambiantes. Se hoje estou feliz, posso estar profundamente infeliz amanhã. Isso nem depende de condições econômicas, como de fatos totalmente aleatórios, como um acidente ou morte em família. Uma crise econômica pode tornar todo um país infeliz do dia para a noite. Que sentido tem então medir o que muda com os ventos?

A moda, pelo jeito, veio para ficar. Segundo os jornais, a idéia foi sugerida pelo Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que diz que os países precisam colocar menos ênfase em números de indústria e comércio e mais no efeito que isso provoca na sociedade. França e Canadá também estudam seu índice da felicidade. No Brasil, fomos mais longe.

Tramita no Congresso uma proposta de emenda constitucional criando nada menos que o direito à felicidade, do senador Cristovam Buarque. O ócio é a mãe de todos os vícios, dizem as gentes. Tivessem os senadores trabalho com que se ocupar, certamente não estariam propondo bobagens.

Se o direito à felicidade é algo garantido por lei, que recursos serão concedidos ao cidadão infeliz? Poderá entrar com um habeas felicitatem contra o Estado?

domingo, novembro 28, 2010
 
QUE TAL NAPALM?


- A que ponto chegamos... – me dizia um companheiro de boteco, a propósito dos recentes acontecimentos no Rio. Não me parece que seja o comentário mais pertinente. A meu ver, uma pergunta se impõe: como é que chegamos a esse ponto? E a resposta não me parece exigir argúcias de sociólogo ou urbanista.

Há um erro fundamental na concepção do Rio. Normalmente, os pontos mais privilegiados de uma geografia são de uso exclusivo dos ricos. Não sei se por falta de visão, ou talvez por preguiça, o carioca não quis subir o morro. Entregou-o às favelas. Que ficaram numa posição estratégica para atacar a cidade.

Todo brasileiro que um dia passou pela Costa Amalfitana, na Itália, terá tido uma estranha sensação de déjà-vu. Amalfi, Positano, Maiori, Minori, Ravello, nos remetem imediatamente aos morros cariocas. Com pelo menos duas diferenças. Para começar, quem os ocupa não é uma massa de miseráveis, mas uma elite endinheirada. Continuando, são cidades de lazer e trabalho, e não bantustões onde impera o tráfico de drogas.

O Rio nasceu errado. Não bastasse nascer errada, a cidade continuou torta existência afora. Lá surgiu, mais do que em nenhuma outra cidade do Brasil, uma convivência amistosa entre o lícito e o ilícito, entre a vida honesta e a criminalidade. O bicheiro é um personagem folclórico, que merece um tapinha nas costas, e os barões do bicho são personagens beneméritos que patrocinam desfiles de carnaval. Os traficantes assumiram brechas deixadas pelo Estado ou pela sociedade organizada e até mesmo a distribuição de luz ou gás nas favelas.

Tudo isso contribui para um exótico modus vivendi, onde uma tênue fímbria separa o mundo do trabalho do mundo do crime. Para encanto dos europeus. Para um francês ou italiano, vir ao Brasil e não visitar a favela é como ir a Roma e não ver o papa. A bandidagem sabe disso e criou corredores especiais para uso de turistas. Quem organiza o turismo no morro não é o Estado, mas o tráfico. A polícia, particularmente durante o governo Brizola, participou de um afável acordo não de cavaleiros, mas de bandoleiros. Eu finjo que reprimo o tráfico, você finge que não vende drogas. Por favor, seja discreto na hora de entregar a muamba. No Rio, até o Cristo faz que não vê o que acontece sob seu olhar complacente.

Os grandes conflitos no Rio, de modo geral, não ocorrem entre polícia e bandidos, como seria a ordem natural das coisas, mas entre bandidos e bandidos, pela conquista de territórios. Em um país em que o desarmamento é imposição legal, os soldados do tráfico desfilam com a nonchalance dos justos, armados de fuzis que nem a polícia possui. Vai daí que um dia o Estado inventa de retomar o poder que deveria exercer e nunca exerceu. Tarde demais. A bandidagem reivindica usucapião.

Durante muito tempo se discutiu se o poder paralelo das favelas deveria ser combatido pelas Forças Armadas. E durante muito tempo a resposta foi não. Não é função das Forças Armadas. A função das Forças Armadas é combater o inimigo externo. No Haiti, sim. Lá o Exército Nacional colabora voluntariamente na repressão ao crime. No Brasil, não é sua função. Talvez tenha sido esta intervenção no Haiti o que levou, finalmente, nossas autoridades militares a olhar para o descalabro dos morros.

Outro argumento é que soldados não estão preparados para combater o tráfico e podem ser contaminados pelo mesmo. Se assim se pensava ano passado, hoje assim não se pensa mais. Se estão ou não preparados, se serão ou não contaminados, só o futuro dirá. O que está acontecendo hoje no Rio é mais ou menos o que aconteceu na casbá de Argel, no final dos 50. Por razões diferentes, é claro. Estamos em plena guerrilha urbana e, cá com meus botões, me pergunto se guerrilha urbana se combate com tanques. O que as Forças Armadas têm feito por enquanto é expulsar a bandidagem de uma favela para outra. Segundo os jornais, há hoje seiscentos traficantes encurralados no morro do Alemão. Serão presos esses seiscentos? Me permito duvidar.

Outra peculiaridade nossa é que os generais do tráfico comandam a guerrilha de dentro... dos presídios. As ordens para ataques criminosos partiram dos traficantes Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, de dentro do presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR), afirma a Justiça do Rio. Os generais do tráfico sequer correm o risco de seus soldados. O estado maior está protegido em presídios de segurança máxima. Os soldados estão sujeitos a chuvas (de bala) e trovoadas.

Seus ordenanças são advogados, normalmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil. Que esperança de vitória pode alimentar o Estado quando advogados são estafetas do alto comando da droga?

Jornais e televisão estão saudando a investida das Forças Armadas como o dia D da guerra contra o tráfico, numa alusão ao desembarque das tropas aliadas na Normandia. Santa ilusão. Um batalhão de bandidos foi expulso de um morro para o outro e há centenas de morros no Rio, todos dominados pelo tráfico. Ficarão os militares permanentemente nos morros que estão ocupando? Claro que não ficarão. Quando saírem, a turma volta.

Mal o Estado marca um mísero pontinho na luta contra o tráfego, os incondicionais defensores dos tais de direitos humanos saem de suas confortáveis tocas. A Anistia Internacional criticou ontem em nota a atuação da polícia no Rio. Disse que a reação aos ataques do tráfico está colocando comunidades em risco e pode acabar em carnificina. Sob o título "violência no Rio de Janeiro condenada", a nota clama para que "as autoridades brasileiras ajam dentro da lei na resposta à onda de violência".

O guerrilheiro nada como um peixe no mar do povo, dizia Mao. Parafraseando o Grande Timoneiro: o traficante nada como um peixe no mar da favela. Há solução para o problema no tráfico no Rio? Eu diria que há, e são duas. A primeira é elementar. Legaliza-se de vez a droga e, no dia seguinte, sem um tiro sequer, não existe tráfico algum no país. A outra é um pouco mais polêmica: napalm.

Mas aí a Anistia Internacional vai chiar.

sábado, novembro 27, 2010
 
QUANDO OVERBOOKING É BEM-VINDO


Se algo um dia vai me roubar a vontade de viajar, acho que são os aeroportos. Se tornaram verdadeiras cidades, onde a locomoção é desconfortável. Alguns são inteligentes, como o Charles De Gaulle, em Paris. O avião atraca a poucos metros da saída. Outros são abomináveis, como o Heathrow, em Londres. Andamos quilômetros por esteiras e quando pensamos ter chegado ao terminal de embarque, descobrimos que temos de tomar um ônibus ou metrô que nos levará a outro terminal, vários quilômetros adiante. Você pensa que chegou? Não chegou não. Terá de recomeçar o calvário das escadas rolantes. Estou indo para Londres nos próximos dias. Mas decidi aterrissar em Paris, depois tomo um trem para lá. Fica mais perto e é mais rápido.

Isso que nunca enfrentei um overbooking. Não é nada agradável você comprar um bilhete com meses de antecedência e, na hora de partir, descobrir que não pode partir, porque um outro passageiro ocupa seu lugar. A meu ver, é uma ofensa ao consumidor. O mesmo não pensa a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Segunda-feira passada, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) anunciou o veto à venda de passagens além da capacidade das companhias como forma de evitar um caos aéreo. Na Iata, a decisão não foi bem recebida. Martine Ohayon, porta-voz da associação, explicou ontem que a entidade não tem uma política única e insiste que as empresas aéreas devem seguir as regras estabelecidas pelos governos onde operam.

Mas declarou que se trata de uma prática necessária para o setor aéreo garantir a rentabilidade. "Caso contrário, assentos nos aviões não seriam usados completamente." Para a entidade, a solução não é acabar com o overbooking, mas investir em infraestrutura e estabelecer uma estratégia. As queixas quanto ao pacote de fim de ano se somam a várias situações que têm deixado a Iata irritada com o governo, azedando a relação entre a associação que reúne as 220 maiores empresas do setor e o Brasil. Podemos até levar conta as ponderações da Iata. Mas quem deixa de voar na data prevista, deve ser regiamente recompensado.

Contei há alguns anos o caso de um auditor fiscal paulistano que foi para o Canadá, com mulher e dois filhos. Na volta, houve um problema de overbooking em seu vôo e a empresa - a já falecida Canadian Airlines - levou a família para um hotel e a embarcou no dia seguinte. Se a história terminasse aqui, tudo ficaria por conta do respeito da empresa ao consumidor.

Mas a história ainda não tinha terminado. Uma vez em São Paulo, o auditor foi procurado pela Canadian Airlines. A empresa se desculpava e queria recompensar o cliente pelos transtornos ocorridos no Canadá. Ofereceu então - a ele, sua mulher e dois filhos - mais uma passagem de ida-e-volta, para onde quer que a empresa voasse.

Se a história terminasse aqui, já teria um final feliz e tanto. Mas ainda não termina. O auditor fiscal, carcamano de boa cepa, alegou talvez não poder aceitar a cortesia, afinal tinha um terceiro filho e desta vez havia prometido ao menino que não viajava sem ele. Quem não chora não mama: ganhou cinco passagens.

Assim, eu também quero overbooking. De preferência, a cada viagem que faço. Conheço um outro caso, não de overbooking, mas de cortesia extraordinária de uma empresa. Um companheiro meu de boteco, professor de matemática no Mackenzie, foi à China com sua mulher. Mal chegou em Pequim, quebrou um pé. Permaneceu hospitalizado o tempo todo de sua viagem e voltou ao Brasil.

Mas a história também não termina aqui. A empresa pela qual viajou procurou-o para dizer-lhe que lamentava ele não ter podido aproveitar sua viagem. Para compensá-lo de alguma forma, lhe oferecia mais duas passagens de ida-e-volta. Bem entendido, a empresa - cujo nome agora não lembro - nada tinha a ver com o acidente com o pé. O professor não pensou duas vezes, e quem pensaria? É espantoso ver em um país comunista esta atenção ao cliente, que duvido que ocorra no bom sistema capitalista.

O problema não é exatamente overbooking, mas respeito ao passageiro. Se em função da boa operação de uma empresa o overbooking for inevitável, até que passa. Desde que a empresa me gratifique com prazeres inefáveis pelo meu desconforto.

sexta-feira, novembro 26, 2010
 
UM HEREGE NO VATICANO?


Escrevi sábado passado que o papa Bento XVI havia aceito o uso de preservativos no caso de relações com prostitutas. Segundo as últimas da imprensa, não teria sido bem assim. Sua Santidade teria aceito apenas o uso de preservativos nas relações com prostitutos. O erro decorreu da tradução do texto original do alemão para o italiano. Para prostitutas, salvo melhor juízo, a camisinha continua proibido. Pelo jeito, Sua Santidade estaria preocupada apenas com a saúde de seus cardeais.

Mas parece que também não é bem assim. Se a fala do Sumo Pontífice suscitou uma controvérsia sobre se ele tratara de "prostitutas" ou "prostitutos", Federico Lombardi, o porta-voz do Vaticano, apressou-se em dirimir as dúvidas. "Perguntei ao papa se há distinção entre homem e mulher, e ele afirmou que não. A questão é que a camisinha deve ser o primeiro passo para a responsabilidade com o risco à vida do outro. Se é um homem, uma mulher ou ainda transexual, não há diferença."

Ah bom! Então tá!

A entrevista papal, concedida a um jornalista alemão, foi saudada pela ONU e OMS como um avanço do Vaticano. Margaret Chan, diretora-geral da OMS, elogiou na segunda-feira passada o fato de o Papa Bento XVI ter admitido a utilização de preservativos em certos casos para reduzir o risco de transmissão do vírus da Aids. "Saúdo essa posição. Pela primeira vez, a utilização de preservativos em certas circunstâncias é admitia pelo Vaticano. É uma boa notícia e um bom começo", afirmou Chan, em Berlim, onde apresentou o relatório anual de sua organização.

Para Michel Sidibé, diretor do programa Unaids, criado pela ONU para combater a propagação do vírus da Aids, a declaração é um "passo adiante significativo e positivo do Vaticano".

Ora, o passo é tão tímido que sequer pode ser considerado passo. Tanto que o sempre solícito Federico Lombardi se apressou em declarar que "no raciocínio do Papa está claro que não pode ser definido uma mudança revolucionária". Perguntado sobre sexualidade, Bento XVI diz no livro que se basear só no preservativo significa banalizar a sexualidade e isso faz com que muitas pessoas não vejam nela a expressão do amor, "mas uma espécie de droga, que fornecem a si mesmos". Mas acrescenta: "Podem ter alguns casos em que se justifique o uso do preservativo, quando, por exemplo, uma prostituta utiliza um profilático. Isso pode ser o primeiro passo em direção a uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade, consciente de que nem tudo é permitido e não se pode fazer tudo o que se quer", afirma.

Que história é essa de que “nem tudo é permitido e não se pode fazer tudo o que se quer"? Seria interessante salientar: se você não estiver infringindo a lei. Fora essa hipótese, tudo é permitido e posso sim fazer tudo o que quero. Ao lado da lei, existe a ética, é claro. Mas ética não é coercitiva e cada um tem a sua. Se não firo a lei, posso fazer o que quero, sim senhor! Só é crime o que a lei define como tal.

Verdade que a Igreja não liga para o conceito de crime e empunha o de pecado. Crimes são julgados – e absolvidos ou não – por júris ou juízes singulares. Pecado é mais fácil. O pecador confessa, faz um ato de contrição e está perdoado. É bem mais confortável, para os padres pedófilos, lidar com o conceito de pecado do que com o de crime.

Mas o problema do preservativo não diz respeito apenas ao HIV, e sim a todas as demais doenças sexuais transmissíveis. E não só a estas, mas a algo bem mais importante, o controle de natalidade. A Igreja não aceita a idéia de que sexo seja feito apenas por prazer. Se não tiver como finalidade a procriação, é pecado. Se por um lado a Igreja foi responsável por genocídios na África ao condenar os preservativos, continua ainda sendo responsável pela miséria no Terceiro Mundo, ao não aceitar o controle da natalidade.

A entrevista papal está sendo saudada como um avanço. Mas o Vaticano pariu um rato. Isso sem falar que Bento, muito inábil, está se dirigindo a um público errado. Que preocupações tem com o que o papa pensa quem freqüenta prostitutas? No fundo, é como se estivesse pregando a muçulmanos.

Mas não foi este pronunciamento do Bento o mais insólito em sua entrevista. E sim o fato de considerar errado afirmar que os Papas são infalíveis, "já que um Pontífice também erra. Obviamente, o Papa pode se equivocar, ser Papa não significa se considerar um soberano cheio de glória, mas alguém que dá testemunho de Cristo crucificado".

Há horas venho afirmando que Sua Santidade anda precisando de umas aulinhas, não só de Bíblia, como também de teologia. De fato, papas também erram. Mas não quando falam ex-cathedra. A infalibilidade papal é um dogma da teologia católica. O papa, quando delibera e define solenemente algo em matéria de fé ou moral, ex-cathedra, está sempre correto. E por que? Porque goza de assistência sobrenatural do Espírito Santo, que o preserva de todo o erro.

A infalibilidade papal diz respeito apenas às questões e verdades relativas à fé e à moral. Uma vez proclamadas e definidas solenemente, estas matérias de fé e de moral transformam-se em dogmas, verdades imutáveis e infalíveis que qualquer católico deve aderir, aceitar e acreditar de uma maneira irrevogável. A infalibilidade por sua vez é também dogma, promulgado na quarta sessão do Concílio Vaticano I, em 18 de julho de 1870, pelo papa Pio X. Diz o documento:

"O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando no exercício de seu ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina de fé ou costumes que deve ser sustentada por toda a Igreja, possui, pela assistência divina que lhe foi prometida pelo bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse a sua Igreja na definição da doutrina de fé e costumes. Por isto, ditas definições do Romano Pontífice são em si mesmas, e não pelo consentimento da Igreja, irreformáveis".

Nenhum papa pode negar este privilégio seu, sob pena de heresia. Ao deliberar sobre o uso de preservativo, Sua Santidade estava tratando de questões de costumes. Terá Bento feito gazeta nas aulas de Direito Canônico?

Ou estamos diante de um herege sentado na cadeira de Pedro?

quinta-feira, novembro 25, 2010
 
SOBRE MINHA OJERIZA


Meu caro professor Vinicius,

Discordar faz parte da vida. O mundo seria monótono se não houvesse quem discordasse. Não diria exatamente que somos de gerações diferentes, afinal convivemos na mesma época. O conceito de gerações é algo bastante relativo. Por outro lado, estou com sessenta. Leio depoimentos de outros sexagenários que se espantam pelo fato de eu não ter curtido rock. Que posso fazer? O rock não passou por minha juventude. Me falas para ligar o rádio.

Eis a questão: nunca tive rádio. Até que tenho hoje, veio acoplado no DVD. Mas jamais o liguei. Escutei rádio quando vivia no campo, era o único meio de comunicação que tínhamos com o mundo. Depois, nunca mais. Televisão, muito menos. Minha primeira televisão, eu a comprei aos 30 anos, em 77. Estava em Paris e me pareceu ser interessante ter uma TV para habituar-me ao francês e conhecer melhor o país em que passei a viver. Hoje, tenho uma, mas quase não a ligo. E quando a ligo, não é para ver televisão, mas filmes ou DVDs. Essa terá sido uma de nossas diferenças.

Se conheceste filosofia e literatura só na faculdade, eu as conheci antes. Quando fiz o vestibular para Filosofia, já havia lido Platão, Descartes, Montaigne e Cervantes. Y algunas cositas más. Eu comecei pelo livro e vivi mais ou menos afastado do mundo audiovisual.

Vamos por partes. Achas que revoluções se fazem com slogans. Nada disso. Slogans são para os panacas que seguem os que pensam. Quem pensa, escreve livros. Não há revoluções sem livros nem pensamento. Para o povão, se joga algumas pílulas e a massa ignara vai atrás. “Proletários de todo mundo, uni-vos” é a síntese panfletária de uma obra de quatro tomos. Não se faz revolução sem um monte de idiotas seguindo atrás. Marx que o diga. Eu também uso o Twitter. Mas não me sinto regredindo aos grunhidos dos quais fala o Saramago. Em meus twits, remeto a crônicas que são bem mais que um grunhido.

É curioso observar que quase sempre se associa a palavra revolução a acontecimentos políticos ou sociais, e se deixa de lado revoluções silenciosas bem mais profundas, como a do vidro, do carro ou dos chips. Estas sim, transformaram o mundo. Sem sangue nem massacres. Sempre se vê Marx como um revolucionário. Mas quem transformou mesmo o mundo foi Ford. O mundo proposto por Marx morreu. Ford, sem ter escrito sequer um livro, modificou definitivamente a geografia do planeta.

Sim, eu conheço esse anexo que me envias. Os gêneros são tantos que para conhecê-los todos se exige uma erudição que nem se pede para conhecer ópera, que existe há quatro séculos. O que só comprova o que afirmei, que rock é palavra-ônibus. A palavrinha vende bem e cada banda foi chamando de rock qualquer coisa que produzisse.

Não odeio rock. Aliás, não odeio nada. Ódio é sentimento que não cultivo. Mas tenho profunda repulsa a multidões. Se um dia for ver uma ópera e encontrar cinqüenta mil pessoas pela frente, dou meia volta. Boa música não é para multidões. Exige pequenos espaços, silêncio, acústica. Ora, dirás que milhões de pessoas curtem ópera através dos séculos. De fato. Mas atenção: através dos séculos. Público de ópera é no máximo de três mil pessoas. E já é demais. Quando os “três tenores” saíram a cantar em estádios, desvalorizaram o gênero e perderam o respeito do mundo operístico.

Disse que rock é sinônimo de droga. Isso não quer dizer que todo mundo que curte rock é drogado. Conheço muita gente que gosta do gênero e nada têm a ver com drogas. Mas não podes negar que a droga consumiu não poucos roqueiros, nem que show de rock seja a festa do tráfico. Quando uma estrela assume a droga, por um mimetismo qualquer, seus fanzocas também a assumem. Fala quem entende do assunto, Keith Richards, o guitarrista dos Rollings Stones: “Se não existissem drogas, não existiria o rock’n’roll. Isso é fato”.

Quando afirmei que pais que fumam têm filhos que fumam, isso é a probabilidade maior. Não quer dizer que todos os filhos fumem. Sei muito bem disso. Meu pai era fumante, toda minha família fumava e eu nunca fumei. Mas hás de convir de que o comportamento paterno influencia muito a vida dos filhos. Sabes muito bem disso. Não foi por acaso que tua filha, em seus sete anos, pôs em pânico uma professora quando disse, alto e bom som: Deus não existe.

Se tuas alunas de periferia não conheceram os Beatles nem Elvis Presley, cá entre nós, meu querido Vinicius, não perderam nada. Eu também não os conheci e não sinto lacuna nenhuma em minha vida. Mais grave, isto sim, é elas não conhecerem – como certamente não conhecem – Platão, Cervantes, Swift, Dostoievski ou Orwell. Beatles ou Presley não são instrumentos pedagógicos. Não fazem falta alguma na educação de ninguém. Por outro lado, não vejo rock como contracultura. Que contracultura é essa que uniformiza milhões e torna milionários seus cultores? Rock, hoje, é stablishment puro. Ai de quem diga algo contra. Por exemplo, eu.

Não, não conheço a Academia Sibelius. Mas conheço Sibelius, aliás já visitei o soberbo monumento a ele dedicado em Helsinki. O coitado deve estar se revirando em sua tumba. Como dizia Nietzsche, de nada adianta cercar uma boa doutrina. Os porcos criam asas. A Filarmônica de Berlim gravou com roqueiros? Pode ser. Eu a preferia quando gravava com Karajan e Anne-Sophie Mutter.

Bono Vox para o Nobel da Paz? Roqueiros fazendo campanhas pela paz são oportunistas que só faturam com tais shows. Não vão ao front, não combatem e ganham fábulas com isso, no conforto de seus camarotes. Mesmo que nada cobrem por um concerto, ganham milhões de volta em prestígio e vendas. Mais ou menos como a Lady Di, em sua campanha anti-minas. Nunca desarmou mina alguma, nunca esteve em um campo minado, mas ganhou prestígio posando ao lado de meninos aleijados pelas minas. Quanto aos profissionais que arriscam suas vidas o tempo todo desarmando minas, estes jamais merecem manchetes.

Ou o papa. A cada ano se repete uma manchete nos jornais: “Papa faz apelo pela paz”, seja qual papa for. Ora, apelos pela paz eu também faço. Desde que isso não mexa em minha rotina. Por outro lado, prêmio Nobel da Paz é coisa concedida a vigaristas, embusteiros e terroristas. Vamos lá: Arafat, Dalai Lama, Luther King, Rigoberta Menchú, madre Tereza de Calcutá.

Prêmio Nobel da Paz nunca foi critério para mim. E muito menos condecorações da família real britânica, uma estirpe de parasitas que não governa e só serve para achacar o Estado. Alguma concessão há de fazer a rainha ao gosto popular, que mais não seja para fazer um afago aos contribuintes. O casamento do príncipe William, em abril próximo, vai custar aos cofres públicos nada menos que 5,8 bilhões de euros. Ou seja, 13,3 bilhões de reais. Para que serve um príncipe? Que me conste, para posar para cartões postais. Me espanta que para ti uma honraria concedida por uma monarquia decadente possa significar algo.

É possível que, nessa geléia geral que se convencionou chamar de rock, alguma coisa tenha algum valor. Mas não vou procurá-las. Para criticar é preciso conhecer? Ora, não sou crítico musical e não conheço quase nada do universo do rock. Mas não teci críticas ao rock, e sim ao comportamento de rebanho de seus adeptos. E isto eu conheço bem. Está nos jornais, na televisão.

Seja como for, não vou sair a pesquisar tudo para saber o que nesse tudo há de valioso. Não vou ler Harry Potter para saber se gosto ou não de Harry Potter. Não penso visitar o Quirguistão para saber se gosto ou não do Quirguistão. Eliminei de minhas viagens boa parte do mundo, sem ter ido a tais partes. Da mesma forma, não vou pesquisar bandas para saber se gosto ou não delas. Mas não me recusaria a dar uma olhadela em Monteverdi, por exemplo, para saber se gosto ou não de Monteverdi.

Sigo pelas trilhas que me agradam. São tantas que mal consigo percorrê-las. Perde-se muito tempo na vida querendo olhar o todo para se saber de que parte desse todo se gosta. Ora, a vida é curta. Sem falar que meu tempo escasseia.

Minha ojeriza ao rock é a mesma que nutro por futebol. Nunca entrei num estádio, não suporto estádios. Nem multidões. É a mesma ojeriza que tenho por best-sellers. Dizes que pessoas tapadas não conhecem nada de rock. Ora, eu nada conheço e de modo algum me considero tapado. Tu me conheces e sabes que não sou tapado.

E nisto estamos, meu caro professor Vinicius. Discordar é salutar. Esteja a gosto. Se alguém concorda com tudo que afirmo, não estou conversando, mas produzindo eco. Não gosto de rock, nem das multidões que o curtem. Isso não quer dizer que não goste de quem gosta de rock. Minha filha é roqueira, a mãe dela também. Gosto delas. Como também de ti.

Mas não do rock. Abraço.

quarta-feira, novembro 24, 2010
 
MENSAGEM DO VINICIUS


Já vai longe esta discussão sobre o rock, mas não posso deixar de registrar esta mensagem do professor Vinicius Ramon Fontanela, bom amigo com quem confraternizei em Cascavel. Respondo amanhã. La voilà:

Querido Janer,

você sabe o tamanho do apreço e admiração que lhe guardo. E nós dois temos aversão a fanáticos. Pois bem, penso que se eu concordasse sempre com você seria um fanático. Por isso, volta e meia me dou ao luxo de discordar.

Não concordo quando você diz que textos pequenos, músicas, frases de efeito não provocam revolução, que isso se faz com livros. E aí vejo, inclusive, um conflito de geração. É inegável que as gerações anteriores liam mais, até porque não tinham muitas outras coisas a fazer, digo, não havia video-games, computadores, redes sociais virtuais etc... Coisas com as quais os adolescentes perdem muito tempo. A geração criada sempre com muito estímulo – visual, auditivo, tátil – já não se empolga muito com sentar, ficar paradinho lendo um livro porque isso se faz “longe do estéril turbilhão da rua”. Estudos recentes mostram que o tempo de concentração em uma coisa só diminuiu nos mais novos. Eu fui um jovem criado pela TV e pelo video-game, conheci literatura e filosofia só na faculdade.

Sobre as frases pequenas que mudam comportamento, pergunte aos publicitários que não têm muito tempo para passar suas mensagens. Será que os esquerdossauros leram todos “O Capital” ou ficaram empolgados com a propaganda e as frases de efeito “Proletários do mundo, uni-vos!”? Toda revolução precisa de gente e ao povão a grande literatura não chega, a grande filosofia passa longe. E não preciso parar por aí, prefixos há um monte “Lula lá”, “Yes, we can”. Outra coisa que mostra a tendência de que estou falando é o sucesso do twitter. São 140 caracteres. Hoje há muita informação e bom é aquele que sabe filtrar o que lhe interessa. Saramago disse que estamos regredindo ao grunhido. Regressão ou não, é isso que está acontecendo.

Crítica bem feita é crítica ao que se conhece. Você bem disse que rock é uma palavra ônibus, pois ela abrange estilos musicais muito diferentes. Pois bem, veja você mesmo a extensão do que estamos falando: (Coloquei anexo no final).

Já fiz o teste, com meu pai, que dizia odiar rock, gosta apenas de modas de viola, sentei quinze minutos com ele e descobri que de alguns tipos ele gostava. Apenas não conhecia. Ainda prefere a viola, mas reconheceu que há rocks de que ele gosta. Minha mãe, preocupada com as drogas no rock, preferia que eu estivesse escutando louvores evangélicos. Dez minutos ouvindo rock, ela gostou de muita coisa. Fechou o bico.

Detalhe, nunca usei nenhum tipo de droga ilícita. Nem experimentei. Hoje festa de traficante é festa rave. Digo porque freqüento shows de rock. E o Reggae com sua apologia aberta à maconha? Seu principal expoente, Bob Marley, até criou uma religião – na qual a maconha era ritual. Quando morreu, dezenas de espécies de piolhos foram encontrados em sua cabeleira, alguns nunca antes estudados.

Há outra coisa com a qual você se engana, meu pai fumava, eu não, meus pais são religiosos, eu sou ateu, meus pais não curtem rock. Eu escuto o tempo todo. Determinismo, Janer? Sua filha gosta de ópera? Escuta todos os dias?

Não estou ignorando a possibilidade de você vir a não gostar de nenhuma das dezenas de estilos e milhares de grupos que você ainda não conhece, é possível. Mas, de novo, é bom conhecer aquilo que se critica.

Janer, você erra feio ao dizer que o rock tradicional é “mainstream”, mas muito feio. Você é uma grande exceção, mas pode comprovar que pessoas medianamente cultas conhecem rock. Pessoas tapadas não conhecem nada. Tive alunas da periferia que nem sabiam o que era Beatles. Elvis Presley, só tinham ouvido falar. Não porque foram criadas pela ópera e música clássica – seu caso - mas pelo funk carioca e música pop – e não porque os pais dela gostavam! Para se ter uma idéia, abro o site da maior rádio jovem do Brasil, a Jovem Pan, e vejo as mais pedidas, as sete melhores e não há nenhum, nenhum rock dos bons. Da Transamérica, pior ainda!

Você não vê isso, Janer, porque não escuta rádio, não vê programas de domingo da TV aberta (ainda bem), mas não veria o bom e velho rock 'n roll nesses programas. Sabe por quê? Por que o rock não é para todo o mundo. Para ser rockeiro o indivíduo não pode apenas saber batucar e rebolar – aliás, ninguém rebola no rock. Tem de ter estudado música – anos a fio para tocar algumas de suas variedades, tal a exigência de habilidade – por isso muitos músicos vêm sabe de onde? De orquestras! Ou você não sabia que há estilos de rock que se misturam com elementos de ópera? Há uma banda de rock composta por três violoncelistas (nenhum guitarrista), todos formados pela Academia Sibelius de Helsinki que você deve conhecer.

Aliás, a orquestra filarmônica de Berlim, gravou com o grupo Scorpions, se gravou é porque respeita. Outra coisa é que na Europa se escuta muito mais rock do que aqui, mas muito mais. Principalmente os estilos mais pesados – o metal – um amigo meu, depois de batalhar anos com sua banda aqui se mudou para Bulgária, está bem lá. Para gostar de rock tem de se ter identificação com o movimento – que não é mainstream, é contracultura!

Paul McCartney - que ganhou o título de maior honra da família real britânica – tem grande público aqui porque a última vez que veio foi em 1993. E sabe por quê? Porque aqui não é o país do rock. Ligue o rádio e veja você mesmo. Só escutará o bom rock em rádios especializadas, em casas especializadas, nas para o público geral, não toca. O povão não entende rock. Vá aos camelôs em que se vendem os sucessos, verá forró, música sertaneja, funk, não encontrará o rock de que te falo. Aqui na minha cidade pululam casas de música sertaneja. Rock? Há uma especializada, vou sempre, é muito elitizada e nunca vi consumo de drogas. Aliás, nessas casas onde vou, nunca espero na fila – não moro em país socialista – nem pago milhares de doletas. Nessa eu não caio!

Sobre os maus exemplos no rock, você citou Bono Vox, mas não falou que ele foi indicado ao prêmio Nobel da paz por campanha de ajuda humanitária na África, por ajudar a mediar o conflito entre Irlanda e Irlanda do Norte e muito mais.

Janer, não pretendo que você venha a gostar de rock, longe de mim. Tudo bem não gostar, mas ninguém é mais ou menos ridículo porque escuta ou toca rock, independente da idade.

Veja que não estou indo contra você, mas com essa sua opinião, não posso concordar.

terça-feira, novembro 23, 2010
 
ARMADILHAS DO CONSUMO


Comentei ontem que pelos 1400 dólares que fanáticos pagam para ver, por 50 minutos, o ajuste de sons do McCartney, eu pagaria passagem de ida-e-volta a Paris. Perdão, leitores, me enganei. Vou pagar 1220 dólares. 2.100 reais na cotação de hoje. Haja falta de noção do que é bem bom na vida em pais que pagam 1400 dólares para seus filhos assistirem a uma bobagem. Por apenas um pouco mais de grana, poderiam proporcionar aos rebentos uma semana em Paris.

Paris é arquitetura, história, artes, gastronomia. Sena, Boul’Mich, Notre Dame, Saint Chapelle, Montparnasse, Montmartre, Champs Élysées, Louvre, Carnavalet, Eiffel, Pompidou, Deux Magots, Café de Flore, Chez Lipp, e aqui não relaciono sequer um por cento do que Paris oferece. Relaciono apenas o que se pode ver em uma semana. Isso sem falar do que o contato com uma outra cultura proporciona. Trocar isto por um ajuste de sons de uma banda? Me parece insano.

Em uma sociedade consumista, as pessoas são atraídas por tentações imediatas e esquecem – ou ignoram – o que de melhor poderiam ter pelo mesmo que pagam por futilidades. O sommelier da loja onde me abasteço me oferece vinhos de 500 ou mais reais. Ora, companheiro, por quatro garrafas dessas estou em Paris ou Madri, tomando in loco estes mesmos vinhos, por um terço ou menos deste preço. Isso sem falar na solenidade dos restaurantes. Certa vez, em Verona, vi um vinho exposto numa mesa por 11 mil dólares. Ora, por 11 mil dólares eu passo quinze dias na Europa, comendo e bebendo bem. Com uma amiga a tiracolo.

Suponho que nenhum italiano seria suficientemente estúpido para consumir aquele vinho. A meu ver, a garrafa estava ali por uma questão de status. Quem freqüentasse o restaurante poderia dizer aos seus: “estive num restaurante onde um vinho custava 11 mil dólares”. Claro que nunca faltará um americano nouveau riche para pagar por aquela garrafa.

Comentei há pouco o que paguei por duas taças de café com leite mais um sanduichinho numa lanchonete aqui na esquina de casa: 27 reais. 11,56 euros, na cotação de hoje. Ora, dez euros é o que se paga, tanto em Madri como em Paris, por menus executivos em centenas de restaurantes. Entrada, prato principal e sobremesa. Eventualmente, mais meia jarra de vinho. Conforme a casa, o vinho pode ser muito bom. Na rede Museo del Jamón, na Espanha, estes almoços costumam ser ótimos. Se você não conhece o pedaço, pode até se dar mal. Conhecendo um pouco, pode comer muito bem. Dez euros, hoje, igual a 23,34. Menos que o mísero sanduíche e os dois cafés que tomei na madrugada em meu bairro.

Ano passado, almocei em um restaurante de luxo aqui em São Paulo, o D.O.M. Não fui lá de moto próprio, bem entendido. Fui a convite de uma amiga que vive em Berlim e queria oferecer um almoço, a mim e a uma amiga comum, soprano. Quando vi o nome do restaurante, alertei: acho que vais te arrepender amargamente. Se se arrependeu, não sei.

Degustamos uma cozinha artificial, de laboratório, no estilo do Ferran Adriá, que aliás acaba de fechar seu restaurante chiquésimo na Catalunha por falta de clientes. O chef, pura simpatia. Também! Por aqueles preços, ser simpático era obrigação. A cada prato, vinha nos explicar do que se tratava, pois não dava para entender a olho nu o que se comia. Não olhei a conta. Mas pelo que vi no cardápio, aquele almocinho para três custou mais de uma viagem de ida-e-volta à Europa. O restaurante, lotado. Foi necessário reservar mesas com dois dias de antecipação.

Que me perdoem os paulistanos, mas quem freqüenta tais restaurantes não prima pela inteligência. Ora, direis, vai ver que são pessoas que vão a Paris a toda hora. Pode ser. Mas se vou a Paris a toda hora, é claro que não vou aceitar os preços absurdos de um restaurante paulistano. Se lá posso comer por muito menos – e muito menos, mesmo – porque jogar dinheiro fora em um restaurante em São Paulo, onde as pessoas vão não para comer, mas para serem vistas?

Confesso que tenho vida folgada. Mas também tenho noção do que valem as coisas. Salvo se convidado, jamais vou a essas passarelas de exibição. Estive em um outro restaurante metido a besta, muito freqüentado pelos Sarneys, Delfins Nettos e Zé Dirceus da vida, o Massimo. É o que chamo de restaurantes para pessoas jurídicas. Ninguém paga do próprio bolso, mas com verbas de representação. Um amigo havia tido bons lucros na Bolsa e convidou-me. Foi a única vez em São Paulo que devolvi um prato. Pedi um coelho e veio um coelho roxo, com consistência de borracha. Fora isto, tenho freqüentado restaurantes mais caros que os de Paris, que fazer se não estou em Paris? Mas não caio na armadilha das vitrines.

Mês que vem, estarei comendo bem e barato. Lá. Verdade que a sobrevalorização do real nos permite tais mordomias. Os exportadores se queixam. Mas eu não sou exportador e vou aproveitar esta janela.

segunda-feira, novembro 22, 2010
 
FANATISMO VIRA VALOR


Há mais de uma década a cidade de São Paulo não via dias como esses: um fim de semana inteiro - e a segunda-feira também - dedicados ao rock. E com atrações que agradam tanto aos "oldies" quanto aos "indies". Quem afirma isto não sou eu. Mas um repórter do Estadão. Ontem, se apresentou no Morumbi o grande apologista das drogas, o tal de McCartney. Que tem repeteco hoje.

A maratona roqueira começou ontem, às 16 horas, com o Festival Planeta Terra, no Playcenter, zona oeste – continua o repórter -. Os palcos receberam desde o rock alternativo da década de 1990 dos Smashing Pumpkins aos moderninhos do Of Montreal, passando pela extravagante dupla australiana Empire of the Sun e os franceses do Phoenix. Ontem também foi a vez de o cantor e guitarrista Lou Reed, ex-Velvet Underground, apresentar-se no Sesc Pinheiros. E do Creedence Clearwater Revisited lembrar clássicos no Via Funchal, na zona sul. E não é só: ao longo da semana, São Paulo ainda vai receber shows dos americanos Scissor Sisters (amanhã), da banda alemã Tokio Hotel (terça) e do guitarrista Jeff Beck (quinta-feira).

Tá tudo dominado. Durante uma semana, a cidade estará infestada pelo rock. Como se não existissem outros gêneros musicais no mundo. Ao que tudo indica, os roqueiros gringos descobriram o mercado ideal de panacas para venderem seus peixes podres. Como aqueles chefs franceses que têm seus restaurantes às moscas em Paris e descobriram aqui o mapa da mina. Isto é aculturamento, submissão à indústria do rock, espírito de rebanho, fanatismo, falta de personalidade.

Teve gente esperando 72 horas na fila para ver o beatle. Mais ainda, uma platéia de 200 bobalhões pagou 1.400 dólares para assistir à tal de passagem de som. Ora, por 1.400 dólares pago uma outra passagem, de ida-e-volta a Paris, onde posso ver coisas bem mais interessantes. Haja fanatismo. Quem diz isso não sou eu. Mas uma mãe cujos dois filhos mais velhos foram atrás das entradas. Ela reconhece que a despesa pesa no orçamento familiar, mas ressalva que “vale a pena pelo fanatismo”. De repente, fanatismo virou valor. Devo confessar que essa eu ainda não tinha ouvido.

Interlocutores me afirmaram, em função destas crônicas, que o rock atravessa gerações, tanto que atrai macróbios como seus filhos e netos. Em outra reportagem, leio declarações de uma mãe, cujos três filhos, de 18, 15 e 13 anos foram com ela ao Morumbi. Segundo ela, ninguém trouxe ninguém ao show, “todos resolveram vir”. Os pais eram fãs e isso passou para os filhos. É óbvio. Pais que fumam têm filhos que fumam. Pais que lêem têm filhos que lêem. Pais que curtem óperas têm filhos que curtem óperas, ora bolas.

Você já viu uma grande cidade no mundo dominada pelo rock no espaço de uma semana? Só no país dos botocudos mesmo. Estou cercado pelo rock. No fundo, não posso queixar-me. São Paulo é grande e não ouvirei uma única estridência dos roqueiros. Em meu bairro não ouço nem carnaval. Mas é triste ver uma cidade que se pretende culta prestando culto ao show business.

Vontade de fugir. Mas toda vez acomete esta vontade, lembro de um antigo filme, cujo título já não recordo. Alienígenas invadem a terra e começam a tomar o corpo dos terráqueos. O herói se insurge contra a invasão, mas não consegue contê-la. Quando o planeta está totalmente dominado, ele diz à sua companheira: "Vamos fugir para algum lugar onde eles não tenham chegado". Ela, já com a voz rouca dos contaminados, pergunta: "Para onde?"

Para onde já sei. Vou lá para as plagas de onde eles vieram. Se estão aqui, é porque não estão lá. Com aqueles 1.400 dólares que os fanáticos pagaram para assistir à tal de passagem de som, vou para Paris. Pagando ida-e-volta, bem entendido. De Paris, vou pegar a Primeira-Namorada em Londres, um dos centros emissores da peste. De Londres, seguimos para Dublim. Segundo eruditos do gênero, o berço do tal de U2. Que seja. Não é atrás deles que vou, mas em busca dos bons botecos da Irlanda.

“Não poderias ir a Dublim sem pelo menos ouvir algo do U2!”, escreve-me uma amiga. Posso sim. Assim como não tinha idéia do que fosse o tal de U2, tampouco tinha idéia de que fossem de Dublim. É espantoso o que há de coisas no mundo que desconheces, diz-me um outro interlocutor. Tem toda a razão. Mas o universo das coisas que desconheço é muito maior do que ele imagina. Só conheço o que me interessa. Nestes dias de massificação, é muito pouco o que me interessa. Dublim, para mim, é a cidade de Swift, Oscar Wilde e – vá lá! – James Joyce. Ainda não conheço Dublim. Mas quem me conhece e conhece a cidade, diz que vamos nos apaixonar.

De Dublim, seguimos para Berlim. Faz vinte anos que não a visito. Estive lá em 90, para quebrar alguns cacos do muro. De 90 para cá, morto o comunismo e reunificada a Alemanha, Berlim se transfigurou. Esta cidade nova, ainda não conheço.

De Berlim volto pra Paris, que ninguém é de ferro. Vou rever meus botecos diletos, amigos e amigas. Há muitas coisas mais interessantes a se fazer no mundo com 1.400 dólares do que ouvir uma hora de ensaio de uma banda. Claro que a viagem sairá bem mais cara. Mas por 1.400 já atravessei o oceano.

domingo, novembro 21, 2010
 
VIDA SEXUAL DOS PAPAS


De um bom amigo, recebi esta sinopse, feita por Rosa Ramos, do livro do jornalista italiano Eric Frattini:


São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos papas da Igreja Católica. O livro do jornalista Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar "escândalo". Apenas "promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos".

No livro Os Papas e o Sexo há de tudo. Desde papas violadores e zoofílicos a papas homossexuais e fetichistas, além de santos padres incestuosos, pedófilos ou sádicos, passando por papas filhos de papas e papas filhos de padres.

Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória.

Bonifácio IX deixou 34 filhos, a que chamava, carinhosamente, de "adoráveis sobrinhos". Martinho V encomendava contos eróticos, que gostava de ler no recolhimento do seu quarto.

Paulo II era homossexual e Listo IV, que cometeu incesto com os sobrinhos, bissexual. Inocêncio VIII reconheceu todos os filhos que fez e levou-os para a Santa Sé. Um deles tornou-se violador. João XI (931-936) cometeu incesto com a própria mãe, violava fiéis e organizava orgias com rapazes.

Sérgio III teve o infortúnio de se apaixonar por mãe e filha e não esteve com meias medidas: rendeu-se à prática da ménage à trois. Bento V só esteve no Governo da Igreja 29 dias, por terdesonrado uma rapariga de 14 anos durante a confissão. Depois de ser considerado culpado, fugiu e levou boa parte do tesouro papal consigo.

João XIII era servido por um batalhão de virgens, desonrou a concubina do pai e uma sobrinha e comia em pratos de ouro enquanto assistia a danças de bailarinas orientais. Os bailes acabaram quando foi assassinado pelo marido de uma amante em pleno acto sexual. Silvestre II fez um pacto com o diabo. Praticava magia. Acabou envenenado.

Dâmaso I, que a Igreja canonizou, promovia homens no ciclo eclesiástico, sendo a moeda de troca poder dormir com as respectivas mulheres. Já o Papa Anastácio, que tinha escravas, teve um filho com uma nobre romana, que se viria a tornar no Papa Inocêncio I (famoso pelo seu séquito de raparigas jovens). Pai e filho acabaram canonizados.

Leão I era convidado para as orgias do Imperador, mas sempre se defendeu, dizendo que ficava só a assistir. Mesmo assim, engravidou uma rapariga de 14 anos, que mandou encerrar num convento para o resto da vida. Bento VIII morreu com sífilis e Bento IX era zoófilo. Urbano II criou uma lei que permitia aos padres terem amantes, desde que pagassem um imposto.

Alexandre III fazia sexo com as fiéis a troco de perdões e deixou 62 filhos. Foi expulso, mas a Igreja teve de lhe conceder uma pensão vitalícia, para poder sustentar a criançada.

Gregório I gostava de punir as mulheres pecadoras, despindo-as e dando-lhes açoites. Bonifácio VI rezava missas privadas só para mulheres e João XI violou, durante quatro dias, uma mãe e duas filhas. Ao mesmo tempo.



1. João Paulo II
Acusado de ter um filha secreta

Em 1995, o norte-americano Leon Hayblum escrevia um livro polémico, em que dizia ser pai da neta de João Paulo II. Durante a oupação nazi da Polónia, Wojtyla terá casado, secretamente, com uma judia. Do enlace nasceu uma rapariga, que o próprio pai entregou, com seis semanas, a um convento local. No seu pontificado especulou-se muito sobre as namoradas que teve antes do sacerdócio. O papa admitiu algumas, mas garantiu nunca ter tido sexo. No Vaticano, fazia-se acompanhar por uma filósofa norte-americana, Anna Teresa Tymieniecka, com quem escreveu a sua maior obra filósofica. Acabaram zangados um com o outro, supostamente por ciúmes.

2. Paulo VI
Homossexual?

Assim que chegou ao Vaticano, Paulo VI mostrou-se muito conservador em relação às matérias ligadas à sexualidade. Em 1976, indignado com as declarações homofóbicas de Paulo VI, um historiador e diplomata francês, Roger Peyrefitte, contou ao mundo que, afinal, o Papa era homossexual e manteve uma relação com um actor conhecido. O escândalo foi tremendo: Paulo VI negou tudo e o Vaticano chegou a pedir orações ao fiéis do mundo inteiro pelas injúrias proferidas contra o Papa. Paulo VI morreu em 1978, aos 81 anos, depois de 15 pontificado, vítima de um edema pulmonar causado, em boa parte parte, pelos dois maços de cigarros que fumava por dia.

3. Inocêncio X
Amante da cunhada

Eleito no conclave de 1644, Inocêncio X manteve uma relação com Olímpia Maidalchini, viúva do seu irmão mais velho – facto que lhe rendeu o escárnio das cortes da Europa. Inocêncio X não era, aliás, grande defensor do celibato. Olímpia exercia grande influência na Santa Sé e chegou a assinar decretos papais. A dada altura, o papa apaixonou-se por outra nobre, Cornélia, o que enfureceu Olímpia. Mesmo assim, foi a cunhada quem lhe valeu na hora da morte e quem assegurou o funcionamento do Vaticano quando Inocêncio estava moribundo. Quando morreu, em 1655, Olímpia levou tudo o que pôde da Santa Sé para o seu palácio em Roma, com medo de que o novo Papa não a deixasse ficar com nada.

4. Leão X
Morreu de sífilis

Foi de maca para a própria coroação, por causa dos seus excessos sexuais. Depois de Júlio II ter morrido de sífilis, em 1513 chega a papa Leão X, que gostava de organizar bailes, onde os convidados eram somente cardeais e onde jovens de ambos os sexos apareciam com a cara coberta e o corpo despido. O papa gostava de rapazes novos, às vezes vestia-se de mulher e adorava álcool. “Quando foi eleito tinha dificuldade em sentar-se no trono, devido às graves úlceras anais de que sofria, após longos anos de sodomia”, escreve Frattini. Estes e outros excessos levaram Lutero a afixar as suas 95 teses – que lhe garantiram a excomunhão em 1521. Leão X morreu com sífilis aos 46 anos.

5. Alexandre VI
O insaciável

Gostava de orgias e obrigou um jovem de 15 anos a ter sexo com ele sete vezes no espaço de uma hora, até o rapaz morrer de cansaço. Teve vários filhos, que nomeou cardeais. Assim que chegou ao Papado, em 1431, trocou a amante por uma mais nova, Giulia. Ela tinha 15 anos, ele 58. Foi Alexandre VI quem criou a célebre Competição das Rameiras. No concurso, o papa oferecia um prémio em moedas de ouro ao participante que conseguisse ter o maior número de relações sexuais com prostitutas numa só noite. Depois de morrer, o Vaticano ordenou que o nome de Alexandre VI fosse banido da história da Igreja e os seus aposentos no Vaticano foram selados até meados do século XIX.

6. João XXIII
Violou irmãs e 300 freiras

Não aparece na lista oficial de papas e acabou preso em 1415. O antipapa conseguia dinheiro a recomendar virgens de famílias abastadas a conventos importantes. Mas violava-as antes de irem. Tinha um séquito de 200 mulheres, muitas delas freiras. Criou um imposto especial para as prostitutas de Bolonha. Tinha sexo com duas das suas irmãs. Defendia-se, dizendo que não as penetrava na vagina e que por isso não cometia nenhum pecado. Foi julgado, acusado de 70 crimes de pirataria, assassinato, violação, sodomia e incesto. Entre outros factos, o tribunal deu como provado que o Papa teve sexo com 300 freiras e violou três das suas irmãs. Foi deposto do cargo e preso. Voltou ao Vaticano, anos mais tarde, como cardeal.

7. Bento IX
Sodomizava animais

Chegou a papa em 1032 com 11 anos. Bissexual, sodomizava animais e foi acusado de feitiçaria, satanismo e violações. Invocava espíritos malignos e sacrificava virgens. Tinha um harém e praticava sexo com a irmã de 15 anos. Gostava, aliás, de a ver na cama com outros homens. “Gostava de a observar quando praticava sexo com até nove companheiros, enquanto abençoava a união”, escreve Eric Frattini. Convidava nobres, soldados e vagabundos para orgias. Dante Alighieri considerou que o pontificado de Bento IX foi a época em que o papado atingiu o nível mais baixo de degradação. Bento IX cansou-se de tanta missa e renunciou ao cargo para casar com uma prima – que o abandonaria mais tarde.

8. Clemente VI
Comprou bordel

Em 1342, com Clemente VI chega também à Igreja Joana de Nápoles, a sua amante favorita. O papa comprou um “bordel respeitável” só para os membros da cúria – um negócio, segundo os documentos da época, feito “por bem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Tornou-se proxeneta das prostitutas de Avinhão (a quem cobrava um imposto especial) e teve a ideia de conceder, duas vezes por semana, audiências exclusivamente a mulheres. Recebia as amantes numa sala a poucos metros dos espaços em que os verdugos da Inquisição faziam o seu trabalho. No seu funeral, em Avinhão, foi distribuído um panfleto em que o diabo em pessoa agradecia ao Papa Clemente VI porque, com o seu mau exemplo, “povoara o inferno de almas”.

9. Xisto III
Violou freira e foi canonizado

Obcecado por mulheres mais novas, foi acusado de violar uma freira numa visita a um convento próximo de Roma. Enquanto orava na capela, o papa, eleito em 432, pediu assistência a duas noviças. Violou uma, mas a segunda escapou e denunciou-o. Em tribunal, Xisto III defendeu-se, recordando a história bíblica da mulher que foi apanhada em adultério. Perante isso, os altos membros eclesiásticos reunidos para condenar o papa-violador não se atreveram a “atirar a primeira pedra” e o assunto foi encerrado. Xisto III foi, aliás, canonizado depois de morrer. Seguiu-se-lhe Leão I, que também gostava de mulheres mais novas e que mandou encarcerar uma rapariga de 14 anos num convento, depois de a engravidar.

10. João XII
Morto pelo marido da amante

sábado, novembro 20, 2010
 
BENTO MUDA COM OS VENTOS


Leio na Folha de São Paulo de hoje, que o papa Bento XVI defende agora o uso da camisinha em casos de prostituição. Num livro de entrevistas que será lançado na terça-feira próxima, Sua Santidade afirma que o uso de preservativos por prostitutas pode ser aceito para evitar a disseminação do vírus da Aids. O livro, que tem como título Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo, é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald.

Quem diria! Ainda há pouco, o Vaticano tinha como norma a proibição do uso de qualquer forma de contracepção, mesmo como forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis. Em março do ano passado, Bento provocou revolta internacional em março de 2009 durante uma visita à África, ao afirmar à imprensa que a doença era uma tragédia que não podia ser combatida com a distribuição de preservativos, que na opinião dele até agravava o problema. Nos países católicos da África, centenas de milhares de pessoas morreram aos magotes. O que levou inclusive muitos padres da Santa Madre a fazerem uma opção preferencial pelas freiras, para evitar a contaminação das prostitutas.

Ora, se bem entendo de lógica, ao aceitar preservativos para prostitutas, Sua Santidade está ratificando a prostituição. Antes tarde do que nunca. Durante vários séculos, as prostitutas saciaram o desejo dos papas e cardeais. Este período, inaugurado pelo papa Sérgio III (904-911), foi chamado pelos historiadores de pornocracia, como também de “reinado das prostitutas”. Sérgio III foi o pai do papa João XI com Marozia. A partir daí sucederam-se não poucos papas que eram chegados ao bom esporte, entre eles João X, João XII (acusado de ter transformado a Basílica de São João de Latrão em bordel), Bento IX (acusado de sodomia, bestialidade e de ter patrocinado orgias).

Uma das cortesãs mais famosas da pornocracia foi Teodora, mãe de Marozia com o papa João X, a quem deu a cadeira de São Pedro. Segundo Brenda Ralph Lewis, em A História Secreta dos Papas, “uma de suas preferências eram os papas com temperamento ameno, pois dessa forma podia comandá-los, como fez com Bento IV. Por outro lado, tinha uma queda pelos libertinos e devassos, como Lando I, que ocupou o papado por sete meses, entre 913 até 914. Pouco se sabe sobre Lando, apenas algumas informações espantosas. Acredita-se que ele passou grande parte de sua vida entre mulheres indecentes e, segundo os críticos medievais, foi finalmente consumido”.

A pornocracia encerra-se com Rodrigo de Bórgia, eleito em 1492 e mais conhecido como papa Alexandre VI. A cortesã mais famosa do Vaticano foi certamente Lucrécia Bórgia, amante do pai, o Alexandre VI, e também de seu irmão, o cardeal César Bórgia. Este papa, eleito graças à compra dos votos dos cardeais, foi quem patrocinou o famoso baile das castanhas, em que sessenta prostitutas nuas dançaram para os cardeais no Vaticano. Foram jogadas castanhas ao chão, e as bailarinas tinham de apanhá-las. Mas não com as mãos, diga-se de passagem. Foram concedidos prêmios aos homens que copulassem com mais mulheres naquela noite memorável.

Se o leitor quiser uma abordagem ficcional sobre Alexandre VI, pode procurar nas locadoras o belíssimo filme Contos Imorais, de 1974, do cineasta polonês Walerian Borowczyk. Enquanto Savonarola queima na fogueira, por ter denunciado os hábitos libertinos do Vaticano, uma Lucrécia nua (interpretada pela radiante Florence Bellamy), espichada sobre um corrimão do Vaticano, atende ao mesmo tempo o papa e o cardeal - seu pai e seu irmão -, estes devidamente paramentados com as vestes eclesiásticas. Tudo muito sacro e solene.

Ao reconhecer a prostituição – de outra forma não consigo ver a liberação de preservativos para as prostitutas – Bento XVI parece estar se dobrando aos ventos da História. Ao mesmo tempo, faz uma justa embora tardia homenagem àquelas bravas e árdegas moças que não pouparam esforços para tornar aprazíveis os dias dos ministros de Deus na terra.

sexta-feira, novembro 19, 2010
 
BONECAS REAGEM


Quem me acompanha talvez estranhe o título, já que sempre tive respeito pelos homossexuais. Convivi serenamente com eles – e ainda convivo – desde meus tempos de ginásio. Acontece que homossexualismo está virando religião, cujos dogmas não podem ser contestados. Ativistas estão querendo passar no Congresso a tal de Lei da Homofobia, que tipifica como crime qualquer crítica ao homossexualismo. Você pode criticar qualquer comportamento sexual, menos o dos homossexuais. Anátema seja.

Leio que a Universidade Presbiteriana Mackenzie divulgou em seu site, na última semana, uma nota em que se dizia contra a Lei da Homofobia. De acordo com o comunicado, assinado pelo chanceler [reitor] Augustus Nicodemus Lopes, “ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos.” A lei torna crime manifestações contrárias aos homossexuais. O texto do reitor segue abaixo.

Pra quê, meu Deus! A nota indignou grupos de defesa de direitos dos homossexuais e especialistas na área. Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB Jayme Asfora, a postura do Mackenzie lembra tempos da Idade Média. A universidade está formando seus alunos na base do preconceito, da discriminação, indo de encontro à Constituição Federal. Ela prega, como um dos seus maiores princípios, a isonomia, a igualdade. Todos são iguais perante a lei”, afirma.

Ora, o reitor está seguindo estritamente a religião que professa. O cristianismo proíbe o homossexualismo masculino. Moisés, ou quem quer que tenha escrito o Levítico, é claro: “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”. Será que os advogados da OAB vão dizer que a Bíblia está formando seus leitores na base do preconceito, da discriminação, indo de encontro à Constituição Federal?

O reitor do Mackenzie está tecendo críticas a tal de lei de homofobia, direito de qualquer cidadão neste país. Projetos de lei existem para ser discutidos, ou alguém pretende que qualquer projeto apresentado ao Legislativo tem de ser automaticamente aprovado? Se eu nada tenho contra o comportamento homossexual, conheço um monte de gente que tem. Por razões religiosas, educacionais ou mesmo psicológicas. O advogado da OAB lembra a Inquisição. Mas não é também inquisitorial a postura de quem proíbe criticar uma prática sexual? Sem falar que o reitor não está pedindo a fogueira para ninguém. Está apenas defendendo sua fé.

O reitor, intimidado com as reações dos ativistas homossexuais, acabou retirando o texto do site. É uma pena. Abdicou de sua independência intelectual e da liberdade de expressão para ceder à histeria das bonecas. Sim, bonecas. Porque tal censura não é atitude de pessoa que respeite a opinião alheia.

Para o presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia), Marcelo Cerqueira, essa é uma postura “esperada” do Mackenzie. “É uma questão de consciência. O que move essa questão do Mackenzie é uma posição reacionária”, afirma. No comunicado, a universidade utiliza o termo “homossexualismo”, que deixou de ser usado por se referir à homossexualidade como doença.

Negro já não se pode chamar de negro, nem bugre de bugre. Agora, pretende-se proibir uma palavra que desde um século atrás define as pessoas que preferem relacionar-se com outras do mesmo sexo. (Segundo o Larrousse, foi cunhada em 1907). No ritmo em que vão as coisas, qualquer dia será proibido chamar comunista de comunista, roqueiro de roqueiro, maconheiro de maconheiro.

Este impasse, eu o vinha anunciando desde há muito. Aprovada a tal de lei, ler a Bíblia em uma escola ou templo passará a ser crime de homofobia. Quem vai ganhar este cabo-de-guerra? De minha parte, duvido que os ditos gays, por mais aguerridos que sejam. Seja como for, a eles resta uma brecha.

A Bíblia não diz nada contra o homossexualismo feminino.

 
O MANIFESTO DO REITOR


“Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.

Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “. . . desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo.

Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie

quinta-feira, novembro 18, 2010
 
UMA RAMBLA PARA OS NÓIAS


Um dos encantos de Barcelona são as Ramblas, uma espécie de calçadão para pedestres, margeadas por vias onde os carros passam, que vai da praça Catalunha até o porto. Em seu entorno estão o Barrio Gotico e restaurantes soberbos, como o Caracoles e Mi Burrito y Yo. Ou o Bosc de les Fades, exótico café onde você entra em uma floresta encantada. Isso sem falar no Mercat de la Boqueria, uma festa para os olhos. É certamente a avenida mais viva da cidade, tomada por cafés com mesas nas calçadas, quiosques de jornais, de flores e de passarinhos. Mais o show das estátuas vivas que, cá entre nós, já está exagerado. É o que chamo de uma das esquinas do mundo. Quem for a Barcelona não escapa das Ramblas. É um belo início de exploração da cidade.

Descendo da praça Catalunha, chega-se ao monumento a Cristóvão Colombo e ao porto. Do alto de uma torre, o navegador aponta para a América. Você pode rumar à direita e tomar um teleférico até Montjuic, morro de onde se tem uma visão gloriosa da cidade. Nada mais divino como tomar uma cerveja numa manhã de sol, no alto de Montjuic, contemplando o porto e a cidade, as Ramblas e a Sagrada Família. No horizonte, o Tibidabo. É um dos grandes momentos na vida de um viajor.

Para a esquerda, você pode tomar o belíssimo Paseo de Colón, bordejado por marinas. Boa ocasião para beber outra cerveja em um veleiro lá ancorado, contemplando a dança dos mastros dos demais veleiros ao sabor das brisas marinhas. Se continuar pelo Paseo e dobrar de novo à esquerda, você vai cair na Barceloneta, na praia e no Paseo Marítimo. Em meio ao Paseo, você pode fazer uma pausa no Salamanca, o melhor e mais charmoso restaurante de frutos do mar da Catalunha. Continue após o almoço. Sairá da Barcelona antiga e cairá na magnífica Vila Olímpica de Poblenou, construída para as Olímpiadas de 1992.

Deliro. Volto ao real, a São Paulo. Já falei sobre os zumbis da Guaianases, a rua que mais concentra drogados em São Paulo. A Guaianases fica na chamada Cracolândia, nas imediações da Estação da Luz, onde está a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a sala São Paulo, uma belíssima sala de concertos que nada fica a dever para as congêneres de Paris ou Londres. É algo assustador. Centenas de mortos-vivos, crianças e adultos, homens e mulheres, enrolados em cobertores e capuzes, cachimbando crack, estão deitados na rua ou por ela perambulam em busca de droga. Nenhum taxista ousa entrar no pedaço. Tudo isto no centro da mais imponente capital do continente.

Pois não é que os urbanistas da Paulicéia querem transformar em Ramblas a Cracolândia? Há anos a Prefeitura insiste que a Cracolândia não mais existe, e sim a Nova Luz. Mas os zumbis que deram nome ao bairro continuam zanzando, trôpegos, pelas ruas. O prefeito jura que não há mais drogados na Cracolândia e os jornais nos mostram centenas deles perambulando pelas ruas, à luz do dia. E fumando crack. E ainda há bobalhões lutando pela liberação das drogas no país.

Leio no Estadão que a rua Vitória, uma das ruas mais degradadas de São Paulo, “será o eixo principal da Nova Luz, espécie de boulevard no qual está previsto calçadão arborizado de 800 metros na faixa central e circulação de veículos em uma ou duas faixas - no projeto, a via é comparada à principal Rambla de Barcelona, rua turística da cidade espanhola. Em toda a área, são 6 quilômetros de vias em que pedestres serão priorizados”.

Os urbanistas vão adiante: “além das ramblas de Barcelona, outros projetos internacionais inspiraram a Nova Luz. O setor cultural e de entretenimento da região - no entorno da Estação da Luz, onde estão a sala São Paulo e a Pinacoteca do Estado e ficará o futuro Teatro da Dança - é inspirado no Campo Santa Margherita, em Veneza, na Itália”.

A sala São Paulo e a Pinacoteca do Estado são duas belas instalações de São Paulo, onde você vai durante o dia com temor e durante a noite com pavor. Os brilhantes administradores da City – como um jornal já chamou São Paulo – ergueram casas dedicadas às artes em pleno mar de drogas. A administração quer recuperar a Cracolândia e está demolindo prédios e planejando uma outra arquitetura. O projeto é louvável. Croquis delirantes nos mostram as ruas da Cracolândia hoje e as ruas futuras, cheias de árvores, bancos e pessoas lindas.

Só tem um detalhe: nada está sendo feito para resolver o problema de viciados em drogas e moradores de rua. Considera-se que isto não é uma questão de polícia, mas de saúde pública. Que os zumbis continuem zanzando pelas ruas. Prestimosos assistentes sociais irão até lá perguntar a eles se querem tratar-se. Se não quiserem, tudo bem. A Constituição garante o sagrado direito de ir-e-vir.

Os brilhantes urbanistas da Paulicéia querem transformar em Ramblas um território de drogados. Mania de imitar Primeiro Mundo, sem perceber o absurdo de tal propósito. No fundo, vão urbanizar um espaço degradado para mais conforto dos nóias.

Porque para ter Ramblas, é necessário uma Barcelona em torno.

quarta-feira, novembro 17, 2010
 
PAÍS FECHA PORTOS
PARA A BOA MÚSICA



Grato, Quaglio,

pelas ponderações. Entendeste o que quis dizer. Afinal, durmo com o inimigo. A Primeira-Namorada é – ou talvez era, não sei – guitarreira. Ano passado, se apresentou aqui em São Paulo uma banda, a tal de Radiohead. Segundo ela, um tipo de rock do qual eu gostaria. Fez um CD e deixou comigo. Ok! Não era aquela pauleira que costumamos associar a rock. Mas continuo preferindo música renascentista, fados, flamencos, cante hondo. Valeu a intenção. Mas não me converteu. Continuo ateu.

O gosto musical, como o literário ou culinário, depende de educação. Eu me criei ouvindo Teixeirinha e Pedro Raimundo, Luiz Gonzaga e irmãos Bertussi. Vivia no campo, este era meu universo. Existia ainda a Inesita Barroso, que até hoje ainda curto, é a meu ver o grande expoente da música folclórica no Brasil. De vez em quando a encontro em meus botecos, solene e sozinha, mas sempre acompanhada pela “marvada pinga”.

Na cidade, minha sensibilidade mudou. Acho que no ginásio ainda continuava nesse universo primevo. Minha aproximação com a grande música surgiu no período universitário. Meu curso de Direito, eu o fiz um pouco por influência de Bach, Beethoven, Scriabin, Scarlatti, Vivaldi. Explico. Fiz vestibular para Filosofia, em Porto Alegre, e para Direito, em Santa Maria. Pretendia optar por um dos cursos, e minha preferência era Filosofia. Mas ninguém é dono de seu destino. Através de um colega pianista da Filosofia, conheci uma celista de Santa Maria. Enamorado, decidi fazer também Direito. Era um pretexto para ter um pé em Santa Maria.

Durante cinco anos, fiz um curso, não de Direito, mas de música erudita. A celista tinha uma irmã, flautista. Ficávamos curtindo música, madrugada adentro, eu, o pianista, a flautista e a celista. Lá pelas cinco da matina, eu voltava para casa, dava uma rápida trecheada nos tomos de Direito e às oito horas já estava fazendo exames. Após o último exame, em gesto simbólico, ao voltar para Porto Alegre, joguei meus tratados jurídicos no rio Guaíba.

Mas o mundo gira. O pianista continua pianista. A flautista se revelou tangueira, reencontrei-a em Paris dançando em milongas. E, para minha surpresa, reencontrei a celista em Florianópolis curtindo Chavela Vargas. Mas não abandonou o celo. Ainda há pouco, me mandou um vídeo no qual executa Prokofiev.

Meu encontro com a ópera foi tardio. O mundo operístico no Rio Grande do Sul era muito pobre e tinha uma soprano-pra-toda-obra, a Eny Camargo. A mulher era rotunda. Quando Don José a apunhalava, ela fazia um estrondo no palco ao cair. Detestei ópera em minhas universidades. A obra mostrava uma cigana jovem e sensual e eu via uma velhota gorda e sem graça. Só fui reconciliar-me com o gênero aos 30 anos, em Paris, quando assisti a uma Carmen com a Berganza. Se apenas ouço a ópera, não me importa quem a cante. Mas se a assisto, exijo physique du rôle. Vou mais longe. Acho que uma Carmen tem de ter cara de puta. Essa é uma das razões pelas quais adoro a interpretação da Julia Migenes, no filme de Rosi.

Me falas de espetáculos de música erudita (outra "expressão-ônibus") que atraíram multidões, como em apresentações de músicos mais populares, como Pavarotti. Sim, música erudita também é uma expressão-ônibus. Seja como for, não é para multidões. Se eu antes gostava de Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti, estes senhores caíram em meu conceito quando começaram a cantar em estádios. Não só em meu conceito, mas no conceito de todo músico que se preze. Ópera não é para multidões. Ópera em estádio vira rock. Certa vez, a convite de uma amiga harpista, fui ver a Orquestra Sinfônica de Nova York no Ibirapuera. Horror! Como ouvir boa música ao som de cachorros latindo e pipoqueiros batendo matracas?

Depois que os “três tenores” começaram a cantar em estádios, deles tomei distância. Ora, direis, é uma tentativa de levar a boa música ao povo. Não é. Boa música não é para multidões. É algo camerístico. Boa música exige sala, silêncio, boa acústica. Houve época, no Brasil, em que pianistas se apresentavam em praças públicas, executando clássicos em meio ao ruído do trânsito. Isso não é arte. Mas corrupção, financiada com o dinheiro do contribuinte.

Pelo rock, passei batido. E por razões não exatamente musicais. É que detesto multidões ululantes. Se vejo 50 mil pessoas indo para o norte, eu rumo ao sul, mesmo que no sul esteja chovendo canivetes. O rock é indústria tirânica e predatória, abafa as demais expressões musicais. Música francesa, italiana, alemã ou grega não chega ao Brasil. Você conhece algum cantor sueco? (Não estou me referindo aos Abba, é claro). Algum cantor russo ou finlandês? Tente comprar tarantelas, csárdás ou bouzoukis em uma loja qualquer. Não vai encontrar. Cante hondo, zarzuelas, sevillanas? Ni pensar.

O mundo é rico em sons e do Exterior recebemos toneladas de rock. Fechamos os portos para a boa música que se faz no estrangeiro. Ópera chega, é verdade, mas a conta-gotas. Vá numa grande loja como a Fnac e procure a estante de óperas. É uma vergonha o que se encontra lá. Em compensação, você arrisca encontrar uma estante inteira – já vi, juro que vi – com DVDs do tal de André Rieu, um canastrão da música erudita que vende como pão quente.

O gosto musical, como disse, é como culinária: só se refina com educação e tempo. Ofereça ostras a um jovem. A menos que tenha nascido comendo ostras, ele vai torcer o nariz. Em um país onde cultura é moeda rara, é normal que milhões de jovens engulam sem estrilar o que as gravadoras ianques lhes empurram goela abaixo.

Diga-se o mesmo em relação ao cinema. Fica para outro dia.

 
ROCK, PALAVRA-ÔNIBUS


Caro Janer,

Cordiais saudações!

Tenho acompanhado sua recente polêmica com os roqueiros e fãs do rock. Fico tentado a dar minha opinião. Eu concordo com você, em certa medida, que talvez seja possível dizer algo sobre a capacidade intelectual de uma pessoa pelo seu gosto musical. Levo até em consideração aquele famoso dito de Schopenhauer que você já mencionou em seu blog. Mas não acho que isto seja algo absoluto, como se fosse uma fórmula do tipo "ouvinte de óperas = inteligente / ouvinte de forró = burro" (apesar de ser tentador pensar na fórmula "ouvinte de funk = retardado" como um axioma).

Há duas ideias que você expôs em sua polêmica com o rock que me motivam a escrever este e-mail. Uma é a da atração do homem-massa pelas multidões (você me inspirou a ler o Ortega y Gasset, leitura que apreciei muito). A outra é a transformação do rock em "palavra-ônibus", como você mencionou.

Eu sou indiferente aos Beatles. Não gosto nem desgosto, como se diz. Mas, quando você criticou, no mesmo contexto, um gosto musical pelo rock com aquilo que parece ser um gosto por multidão revelado por muitos amantes do rock, eu não pude deixar de pensar em outros eventos que atraem multidões e nas distinções que devemos fazer entre as duas coisas. Há certamente milhões que freqüentam espetáculos de rock e apreciam tanto o barulho quanto a multidão (para não falar das drogas).

Mas há pessoas que se dispõem a enfrentar uma multidão não por gostar da multidão, mas por gostar do espetáculo. Não pude deixar de pensar nas diversas ocasiões em que espetáculos de música erudita (outra "expressão-ônibus") atraíram multidões, como em apresentações de músicos mais populares, como Pavarotti. Não creio que em tais espetáculos havia apenas homens-massa na multidão. Penso que havia muita gente que estava ali apenas por causa da música, a despeito da multidão. Então, o fato de uma pessoa se dispor a enfrentar uma multidão não faz dela automaticamente um homem-massa.

Isto me leva à outra constatação sua, qual seja, a da transformação do termo rock em "palavra-ônibus". Concordo integralmente. Chamam igualmente de rock coisas tão distintas quanto as cançonetas (como você as chama) dos Beatles, as composições de um David Gilmour ou o ruído horroroso de algumas bandas que se limitam a gritar e fazer barulho. É por isso que acho que seus textos causaram tantas reações. Se o rock é "palavra-ônibus", e se designa coisas muito distintas entre si, então é natural que seus leitores que apreciam boa música rock se sintam incomodados ao serem colocados na mesma categoria de apreciadores de porcarias também chamadas de rock.

Eu mesmo posso dar um exemplo: gosto muito de algumas músicas do Pink Floyd, adoro a voz de Harriet Wheeler (da banda The Sundays), e sei que, se um hipotético extraterrestre ouvisse uma canção destes grupos que mencionei e depois ouvisse o ruído produzido por outras bandas, acharia espantoso que nós humanos designássemos ambos os sons pelo mesmo nome. Eu tenho horror a multidões, mas penso em eventos que as atraem em termos da relação custo/benefício. Eu não enfrentaria uma multidão para ver os remanescentes dos Beatles, pois a música não me daria um prazer que compensasse o sacrifício de estar em um lugar cheio de gente. Mas já encarei multidão em um espetáculo de rock que compensou o aborrecimento. Eu estava ali pela música, e não pela multidão.

Como você disse, rock é palavra-ônibus. Quando você ouvir alguma barulheira que costuma ser chamada de rock, não associe o ruído ao gosto musical de seus leitores. Provavelmente não é este tipo de rock que seus leitores apreciam. Se eles gostam de ler seus textos, acho difícil que gostem de rock porcaria, de rock barulheira, de rock para imbecis. Ouso dizer que talvez você seria até capaz de gostar de algumas das músicas que seus leitores gostam.

Um grande abraço,

Humberto Quaglio

terça-feira, novembro 16, 2010
 
ROCK SALVA HUMANIDADE
DE UMA TERCEIRA GUERRA



Que nojo de mim me fica,
ao olhar para o que faço.
Minha alma é límpida e rica
E eu sou um mar de sargaços.


O poema é de Pessoa. Decididamente, este que vos escreve é um poço de amargor e ressentimentos. Imerso em mim mesmo, afundado em meu solipsismo atroz, tenho uma visão negativa do mundo e descreio das mais nobres intenções da humanidade. Transudo ódio. Isso ficou claro no amontoado de bobagens que escrevi sobre rock, esse sublime gênero musical, e sobre roqueiros, esses abnegados humanistas que revolucionaram o século XX.

O ressentimento me acompanha por onde vou. De que vale a um homem beber nos bons restaurantes de Paris, Madri ou Roma, se leva sempre em sua alma o nojo de si mesmo? De que lhe serve singrar mares, se é incapaz de valorizar um show de rock? De que lhe adianta conhecer Verdi, Vivaldi, Mozart, se não consegue valorizar o trabalho de seus contemporâneos? De que lhe serve ter uma farta biblioteca em casa, se empunha seus livros para insultar o que de melhor a humanidade produziu?

No fundo, tenho de concordar com alguns de meus leitores: sou um fracassado, eternamente descontente comigo mesmo, incapaz de reconhecer o talento alheio. Meu fracasso, eu o carrego em minhas viagens, como um notebook.

Tive hoje esta brutal percepção ao ler nos jornais que um roqueiro britânico salvou o planeta do apocalipse. James Blunt relatou em um programa de rádio neste domingo passado como teria evitado a 3ª Guerra Mundial ao rejeitar uma ordem do general americano Wesley Clark de remover à força os soldados russos que tomaram o aeroporto de Pristina, capital do Kosovo, em 1999.

Segundo a rádio BBC, Blunt, que dirigia o batalhão britânico que se deslocou ao aeroporto, afirmou que se tivesse atacado os russos, teria desencadeado um conflito mundial e que por isso rejeitou a ordem de um superior mesmo tendo consciência de que poderia enfrentar um julgamento militar. Felizmente, o cantor teve o apoio imediato do general britânico Mike Jackson, que afirmou pessoalmente que não iria transformar seus soldados em responsáveis pelo início da 3ª Guerra Mundial.

Por amor à humanidade, o roqueiro arriscou uma corte marcial para nos salvar da Terceira. Só eu que não consigo enxergar a influência civilizadora do rock. "Recebi ordem direta de render pela força os aproximadamente 200 russos que estavam lá. Eram soldados do Regimento de Pára-quedistas, portanto obviamente estavam preparados para lutar. A ordem direta veio do general Wesley Clark. Tínhamos que rendê-los pela força e foram utilizadas palavras às quais não estávamos acostumados, como destruir", afirmou Blunt, que deixou o Exército após conquistar a fama mundial com sua canção "You're beautiful", em 2002.

E este cronista infame achando que o rock destruía vidas através da apologia das drogas! Longe disso. O rock salva vidas. Blunt salvou a humanidade. Nada menos que isso. Verdade que por enquanto só Blunt sabe que Blunt salvou a humanidade. Mas esta é a sina dos grandes homens. Só a posteridade os reconhece.

Decididamente, sou um mar de sargaços. Perdão, leitores.

segunda-feira, novembro 15, 2010
 
SUÉCIA JOGA A TOALHA


Meu caro Paulo,

As travessias de Estocolmo a Helsinki ou cruzeiros pelo Báltico fazem parte do modus vivendi sueco. Agências de viagens organizam rápidos tours marítimos até a capital finlandesa ou até alguma ilha do arquipélago. O importante é que o barco saía de um país e pelo menos atraque no porto de um outro. Porque em águas internacionais, as bebidas são skattefria, isto é, livre de impostos. Svensson bebe quanto pode e jamais lhe passará pela cabeça descer em terra durante a rápida - e meramente formal - atracagem do barco. Navegar é preciso, chegar não é preciso.

São navios soberbos, de linhas de navegação costeira, embora os grandes transatlânticos também operem por lá. Cada viagem é um festival de consumo. Há diversas boates, bares, teatros e shoppings, onde as mercadorias são também livres de imposto. Mais que viagem, é uma festa. Apesar da curta duração do percurso, os Svenssons sempre levam grandes malas. Que vão vazias e voltam cheias.

Em meus primeiros dias de Estocolmo, fiz uma navegação dessas. Não pelo álcool, afinal desconhecia tais vantagens marinhas. Queria em verdade conhecer uma ilha qualquer, enfim, sentir que punha os pés em território finlandês. Não lembro hoje para onde fui. Creio que para as ilhas do arquipélago Åland. Só lembro que, ao atracar o barco, o único ingênuo a descer fui eu. O porto era uma desolação só. Envergonhado até a medula, voltei ao navio. Há dois anos, fiz de novo este cruzeiro. Mas já sabia do que se tratava. Quando o navio atracou, fiquei dormindo. Detalhe: o vinho já nem era skkatefri. Era dos melhores e estava incluído no pacote.

Quanto ao mais, a Suécia, desde os anos 30, se pauta pela social-democracia. As esquerdas pretenderam associar social-democracia com socialismo, para daí deduzir que boa parte da Europa é socialista. Não é. Social-democracia é capitalismo.

Quanto a atos de intolerância em relação a imigrantes, isso é desinformação de jornalistas de esquerda. Os comunistas não conseguiram destruir a Europa com o marxismo, tentam destruí-la agora apoiando a imigração. A Suécia é hoje certamente o país da Europa que mais benefícios concede aos imigrantes. Particularmente aos negros e árabes, leia-se muçulmanos. O que trouxe ao país conseqüências desastrosas. Há uns bons dez anos, comentei manchete que me surpreendeu no Aftonbladet:

Stockholmarnas farligaste gator

Ou seja, as ruas mais perigosas de Estocolmo. Ora, quando vivi lá, em 71/72, não havia uma única rua perigosa na cidade. Eu vagava de ilha em ilha, nas noites brancas dos hiperbóreos, sem sensação alguma de perigo. Há alguns anos, o Aftonbladet listava mais de cem ruas perigosas. Que ocorrera de lá para cá? A invasão muçulmana.

Ainda em agosto passado, comentei o espantoso número de estupros na Suécia, que coloca o país apenas abaixo do Lesotho, na África, no que diz respeito a estes crimes. Em 1988, o total de crimes denunciados na Suécia era de 1.086.211. Em 2009, subiu para 1.405.626. A incidência de crimes sexuais, nos mesmos anos, é respectivamente, 5.269 e 15.693. Isto, enquanto a criminalidade em geral aumentou em 29%, os crimes sexuais aumentaram em quase 200%.

Segundo as estatísticas, a proporção de estupradores nascidos no estrangeiro é quatro vezes maior se comparada às pessoas nascidas na Suécia. Estrangeiros residentes da Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia dominam o grupo de suspeitos de violação. Quase metade destes criminosos é composta por imigrantes. Na Noruega e Dinamarca, sabe-se que os imigrantes não-ocidentais, o que freqüentemente significa muçulmanos, são largamente representados nas estatísticas de estupro. Em Oslo, em 2001, imigrantes estavam envolvidos em dois em cada três casos de estupro. Os números na Dinamarca são idênticos, e maiores ainda em Copenhague, com três imigrantes em cada quatro casos. Segundo Ann Christine Hjelm, advogada que investiga crimes na Suprema Corte sueca, 85% dos estupradores condenados no país nasceram em solo estrangeiro ou são filhos de pais estrangeiros.

A situação é tão grave que algumas suecas estão reinventando um cinto da castidade às avessas, isto é, cinto que é controlado por seu usuário em vez de ser controlado por outra pessoa. O aparelho exige duas mãos para ser removido e espera-se que dissuada os estupradores. Segundo uma pesquisa on line do Aftonbladet, 82% das mulheres têm medo de sair ao escurecer. Outro esporte dos imigrantes é apunhalar suecas em discotecas.

Um mufti declarou em Copenhague que mulheres que não portam véus estão “pedindo para serem estupradas”. Para estes pobres diabos, uma mulher sueca independente não é uma mulher sueca independente. É apenas uma “puta sueca”. E como tal pode ser tranqüilamente estuprada. Se for árabe, não. Pois não é o mesmo violentar uma sueca e uma árabe. “A sueca recebe um monte de ajuda depois, além disso já foi fodida” – afirma Hamid, participante de uma gangue de violadores. - “Mas a árabe têm problemas com sua família. Para ela, é uma grande vergonha ser violentada. Para ela, é importante ser virgem quando casar”.

Se uma mesquita foi apedrejada duas vezes em Malmö, por suecos não terá sido. Sueco não apedreja templos. Provavelmente foi apedrejada pelos próprios muçulmanos, para posarem de vítimas. A atitude dos Svenssons é outra. Cinco mil suecos já abandonaram Malmö, por não suportarem a violência dos imigrantes.

Dói na alma de quem gosta da Suécia o que está acontecendo na Suécia. Aliás, em quase toda Europa. O velho continente está se entregando à barbárie islâmica e, a meu ver, a batalha já está perdida. Ainda bem que meus anos a viver são curtos e não verei a consumação deste desastre.

Abraço.